O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 12
Cumpro Minha Promessa


Notas iniciais do capítulo

oi de novo. esse tem natal e mais da Amanda. quero mais comentários!



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Depois de tomar banho e me vestir coloquei de volta tudo em seus devidos lugares: A gaita, a calculadora, minha carteira com as listas e o cartão do Banco do Olimpo, a máscara e a moto nos bolsos. A corrente e o anel no pescoço por baixo da blusa. A pulseira no pulso esquerdo. Vesti os coturnos. A adaga de Zeus presa á minha perna com apenas a empunhadura aparecendo por baixo do sapato. Coloquei o casaco de couro preto e o boné.

Pronto, pensei, hora de ir para casa.

Antes do Natal, afirmou, feliz, Vox.

Me despedi de Ártemis, Apolo e Ares e sai seguido de perto por Loki e Falcon a procura de um lugar para levantar vôo.

Depois de andar um pouco me deparei com o Salão de Festas. Ele estava impecável. A mesa principal inteira, as mesas em seus lugares nenhuma gota de sangue que eu ou Ares derramamos...

Algo me diz que Hera gosta de organizar coisas, pensei, E rápido!

Maluquinha aqui cá entre nós, disse Vox.

As únicas coisas fora do lugar eram as barracas.

Espere um minutinho, Barracas?

É. As barracas prateadas e brilhantes das Caçadoras inundavam o enorme salão como se fosse um campo para refugiados. Procurei, instintivamente, a barraca da Cruz Vermelha.  

– Que bom que esta bem – disse Atena atrás de mim.

Eu me virei para ela e me senti aliviado por ser ela, afinal, deuses lêem mentes e ela não deve gostar de Hera, não é mesmo?

– Você vai voltar dia 2 certo? – perguntou reprimindo um risinho.

– Sim, senhora.

– Argh! Não me chame de senhora, esta bem? Sinto-me velha desse jeito. Zeus pediu para avisar que é para você vir direto para cá.

– Esta bem. E daqui eu vou direto para o tal treinador imortal de trastes?

Ela fez muxoxo, mas assentiu.

– Vai. Apolo vai te levar até lá. Jack, você precisa entender uma coisa – assenti – Os monstros, nós deuses, ninfas e qualquer coisa do nosso mundo não podem ser atingidos por armas mortais. Só os semideuses podem ser feridos pelos dois.

“Existe um ferro que é muito raro tirado dessa montanha, as armas feitas dele são resfriadas no rio Lete o que o torna fatal para monstros. Se chama bronze celestial. Todas as armas do Olimpo ou do Colégio são feitos desse metal.”

Ela tirou um punhal na cintura e me entregou. Ótimo, era o mesmo material que compunham Kroboros, estava salvo, mas e a faca da velha?

– Sabe – disse ela me olhando nos olhos – eu estava pensando nisso ontem a noite e..., como você matou o Píton?

Boa pergunta, pensei, Como?

– Eu não sei muito bem. – então, ainda olhando naqueles olhos incrivelmente cinzas e assustadores, contei tudo que me lembrava sobre a faca e a velha.

Atena mordeu a parte de dentro da bochecha distraidamente enquanto pensava o que fazia um biquinho de lado muito fofo aparecer. Também linda.

– Um ferro negro equivale a ferro estígio – refletiu –, mas nem Hades nem Perséfone forram até lá. Zeus estava observando tudo. – ela abriu um sorriso debochado – Só poderia ser... – ela deixou o sorriso desaparecer e me encarou, me analisando como se eu de repente tivesse começado a ser realmente interessante – Impossível.

Depois de me encarar por um tempo ela quicou para frente e me deu um beijo na bochecha.

É impossível. Não se preocupe. Boa viajem – então saiu correndo por onde eu entrara.

Nem um pouco bizarro, pensei tocando o lugar onde ela beijara.

O que será impossível?,perguntou Vox, E por que ela nos beijou? Quero saber por que assim podemos fazer seja lá o que for de novo.

Balancei a cabeça. E suspirei.

– Loki, estamos indo.

O enorme cão infernal se endireitou e a sela negra surgiu em suas costas. Na lateral da sela tinha um compartimento e eu coloquei a mochila dentro. Ajeitei o boné que Ares me dera no aeroporto e subi. Falcon voava do meu lado.

Bati de leve com os joelhos em Loki, ele correu até a sacada e levantamos vôo. Nós voamos o dia inteiro na maior velocidade de Loki, que era muita para Falcon então o coloquei entre meu peito e o casaco. Ele dormiu a viajem inteira.

Quando chegamos já eram quase duas horas da manhã no Brasil. Loki e eu estávamos exaustos, Falcon por outro lado parecia que tinha tomado um energético porque voou a nossa volta feliz da vida quando pousamos no quintal.

Loki desabou no chão mesmo, Falcon pousou no telhado e observou a paisagem e eu me arrastei até a porta e a abri silenciosamente. Todos estavam dormindo. A casa fora enfeitada pro Natal então tudo brilhava um pouco.

Eu me deitei na minha cama relaxando os músculos rígidos da viagem.

Perfeito, pensei.

Dormi um sono sem sonho algum só desmaiei muito feliz por cima dos lençóis sem nem trocar de roupa ou tirar os sapatos.

– Jack! – exclamou uma voz familiar que parecia muito distante.

Eu sentia como se tivesse levado um choque, quando percebi estava de pé, longe da cama e abraçando minha mãe. Não me pergunte como eu cheguei lá, mas era realmente bom. 

– Filho – disse meu pai passando os braços longos entorno de nós – O que aconteceu? Como foi a votação? O que vai acontecer agora?

Eu suspirei e eles me levaram até a sala para que eu contasse tudo. E eu contei cada coisa e, acredite ou não, a parte mais difícil não foi explicar sobre Loki e Falcon.

– Quer dizer que nós só vamos ver você no Natal e no Ano Novo? – perguntou meu pai, enquanto minha mãe fitava o vazio.

– É. – respondi com os olhos indo de um para outro – Pelo menos Hera pediu para Zeus me deixar ficar esse tempo, senão, nem isso. Mas pelo lado positivo eu vou sair daquela escola infernal.

– E não vai entrar em nenhuma outra – afirmou minha mãe.

Bati com as unhas na mesa, desconfortável.

– É. Mas, pessoal, é necessário. Eu preciso aprender a lutar e não posso quebrar a promessa que fiz ao Estige, sabe; ele cobra e vai ser péssimo se eu quebrar o juramento. Se não fosse por essa promessa eu não estaria aqui, respirando.

Os dois pareceram pensar naquilo então minha mãe me puxou para outro abraço apertado. Ela concordava mesmo que isso fosse a coisa mais triste que já ouvira. Papai passou a mão por minhas costas e suspirou; também concordava

Nos dois dias seguintes nos conversamos sobre tudo menos o Olimpo, o que foi bom porque e não precisei ver minha mãe ficar mais abatia do que parecia.

Eu um dos dias eu fui de Harley (foi muito bom escrever isso, só para constar) para ver o túmulo de Amanda. Ele era cinza, de granito. Um vasinho de barro igualzinho ao que nós pintamos no Dia das Mães para dar de presente as mães estava cheio de violetas mortas.

Tive vontade de socar alguma coisa, provavelmente a mim mesmo. Por que não me lembrei das flores?

Eu me acalmei e me concentrei no túmulo, tanto tempo depois e eu ainda acho estranho me referir ao local onde minha Amanda esta como um túmulo. Estranho como nossa mente funciona. 

Tentei ao máximo me segurar para não chorar, mas não me aguentei quando li o epitáfio:

Eu tive amigos, irmãos e amores. Morri por eles assim como eles morreriam por mim.

“O homem solitário ou é um deus ou é uma besta”- Aristóteles.

Olhei para o cemitério completamente vazio, para mim mesmo e depois de novo para o túmulo, é, eu era a besta. A besta que devia estar morta para o bem de todos.

– Sabia que viria aqui – disse uma voz fraca ao meu lado – Mais dia menos dia você viria aqui.

Dei um pulo e me deparei com Graciosa Soares, mãe de Amanda. Ele parecia horrível; olhos inchados, rosto pálido e jeito de morta.

– Senhora... – comecei, mas ela levantou a mão para me silenciar.

– Amanda amava você. Você foi mais que um amigo ou um irmão – ela apontou para o túmulo – Eu sei que você a amava, mas estavam sempre tão presos à guerra na escola que mostravam isso fazendo planos e atacando e eram só criancinhas. Você morreria por ela, falou isso milhares de vezes mesmo que não tenha pronunciado uma palavra. Era tão bonito o jeito que vocês agiam. A aura de carinho que pairava ente vocês.

Eu estômago se revirou, ela sempre tinha a razão. Falava do mesmo jeito que a filha. Mas parecia tão calma e tão humana em comparação com a filha que sempre foi tão... Atena misturada com Ártemis e Afrodite, ou seja, assustadoramente forte, inteligente, incontrolável e decidida. Ah, deuses! Até hoje me sinto mal por não ter salvado Amanda.

– Foi minha culpa – afirmei – Ela poderia estar com vocês, comigo, mas eu subi no telhado e...

Ela colocou a mão em meu ombro em se abaixou para colocar as flores do vasinho, ela parecia mais velha milhares de anos. As flores me lembraram de como era fácil alegrar Amanda, como era simples fazê-la sorrir.

– Ela sabia o que era a morte – afirmou – Você a ensinou isso. Lembro quando ela chegava em casa contando que vocês tinham ido ver o futuro. Ou seja, tinham vindo aqui ver o que aconteceria com seus corpos quando vocês morressem. Mas esse não era o futuro verdadeiro, não é?

“Ela odiava quando você falava aonde queira ser enterrado. Não gostava de pensar na sua morte achava que não devia acontecer. Você tentava explicar sobre as mudanças na matéria e na energia, nada surge ou deixa de existir apenas muda.

“Amanda não deixou de existir, disso posso ter certeza. Posso senti-la perto de mim, e ela está, minha filha fazia parte de mim e parte de você também.”

“Acho que isso é seu, querido.”

Ela me entregou uma pulseira grossa de prata onde estava escrito:

“Que a sabedoria o leve aonde for, se não, não chegará a lugar algum.”

– A pulseira do meu avô – arfei – Eu achei que tinha perdido por causa cobra. Estava com Amanda esse tempo todo?

– É claro! Ela gostava de pega-la para te convencer que ela estava frouxa e que você a consertasse. Você nunca quis mudar porque era assim, frouxa, que seu avô usava, não é?

Assenti segurando a pulseira entre os dedos. Tentei lembrar o que meu avô me disse quando me deu: “Você está cada vez mais parecido com a pessoa que me deu isso. Eu a amava muito”.  Ele morreu duas semanas depois. Eu nunca soube quem tinha dado a ele, mas o que importava é que ele amava essa pessoa e, me dando aquilo, ele estava dizendo que me amava também.

– Amanda amava essa pulseira – afirmei olhando o epitáfio – Eu tinha que checar a cada hora se ela ainda estava no meu braço. – eu ri, mas pareceu tão estranho que doeu – Ah, eu devi ter dado a ela, devia ter me confessado, sinto tanto. Ela teria gostado de ganhar isso.

“Ela dizia que, se morresse primeiro, não me queria chorando em seu tumulo e ficava repetindo o que HarrietBeecher Stowe disse: ‘As lágrimas mais amargas derramadas sobre os túmulos são pelas palavras que não foram ditas e coisas que não foram feitas’.Ela não queria que eu virasse um homem amargurado, eu prometi que não, mas parece tão impossível agora.”

“Eu devia estar morto. Devia ter morrido naquela escola defendendo Amanda. Esse devia ser meu tumulo. Por que... por que não foi?”

– Ela não deixaria. Vocês pensam do mesmo jeito. Ela morreria do mesmo jeito que você, protegendo quem amava. Faça-me dois favores. Primeiro fique com isso – Ela me entregou um saquinho de pano amarrado com uma fita de tecido – Só abra quando sentir que realmente não vale a pena viver. Amanda vai estar com você. 

 “Segundo, me escute”, encarei-a e ela prendeu meu olhar,“não foi sua culpa. Ela não queria que se tornasse um homem amargurado e cheio de culpa. Ela estará feliz se você continuar fazendo o que sempre fez. Viver, Jack. Ser diferente, ser espontâneo, pouco conformado, revoltado. Ser você. Viva, por você mesmo e por nossa Amanda.”

Ela sorriu de má vontade para mim e andou em direção ao portão do cemitério sem falar mais nada.

Eu fiquei ali, olhando o cemitério, era como se ainda pudesse ouvir as risadas de Amanda quando corríamos por entre os túmulos. Eu sempre tentei deixá-la consciente das mesmas coisas que eu. Trazê-la à realidade da nossa mortalidade.

Olhei para o pequeno saco, nunca me senti tão tentado em abri-lo antes do momento certo, mas apenas coloquei-o no bolso, dizendo a mim mesmo que eu teria momentos piores, me virei e fui embora, não voltei para casa até que o meu tanque de gasolina acabou e eu percebi que já eram nove da noite, mas eu continuava infeliz.

...

O telhado sempre me pareceu confortável e solitário, que eram minhas características favorita de um lugar quando eu quero pensar, e durante a lua cheia ele pareceu tão aconchegante e protetor que eu quase durmo ali em cima, dormiria muito feliz, se não fosse o trovão que quase me jogou para fora da casa. 

Hera realmente estava levando a serio sua missão de me proteger. O que, cá entre nós, é interessante ou triste, perigoso definitivamente, mas bom. De certa forma. E assustador com certeza. Esse assunto é... É.

Meu pai começou a me ajudar com a espada. Ele fez esgrima quando era criança e nós tínhamos espetos de churrasco para brincar. Na maior parte das vezes eu ganhava, afinal ele não poderia ser tão bom quanto Ares, não é mesmo?

Eu quase não podia sair de casa porque as pessoas me reconheciam e ficam apontando enquanto cochichavam coisas sobre um assassinato, desconfianças, uma brincadeira de mal gosto e relatos de diretora e professores ressentidos. Mas eu tinha que comprar comida para o meu cão. Muita comida.

Basicamente Loki comia cinqüenta quilos de carne moída por dia e foi a primeira vez que eu precisei usar o cartão do B.O., muito útil! Falcon saia toda noite para caçar algum rato ou pássaro menor então eu não precisava comprar nada em um pet shop e nem queria. 

Na noite de Natal eu realmente comi muito, ganhei dois livros sobre simbologia e teologia grega, um relógio de pulso que coloquei no braço direito e nós só fomos dormir uma hora da manhã conversando sobre as estranhas historias de Natal da família da minha mãe.

Bem, no geral ela era a preferia do pai, de duas irmãs, e a mãe não gostava muito dela. No Natal ela ficava tentando fazer cálculos para descobrir como renas podiam voar enquanto sua irmã, Micaela, esperava o que as renas traziam. Sim, anormalidade é genético e isso e não puxei dos olimpianos.

Ela me contou que parou de acreditar em Papai Noel quando percebeu que sua irmã recebia presentes incríveis e era a criança mais cruel da escola.

Meu pai e eu rimos, nenhum deles chegou a pensar ou a comentar no Olimpo, mas isso não me impedia de pensar no que o Olimpo tiraria de mim.   

Todos os dias eu pensava em ligar para os meus amigos e marcar um encontro com eles, mas só tomei coragem para fazer isso dois dias antes do Ano Novo.

Eu marquei no Encontro das Águas que é um parque ambiental onde tinha um mirante para se observar o encontro dos dois rios que circulavam a cidade. Normalmente era ali que nos encontrávamos nos finais de semana para conversar e armar planos.

Cheguei mais ou menos uma hora antes da hora marcada para pensar sobre o que diabos estava fazendo naquele lugar. Eu fui com a jaqueta fechada para que não repararem no peito mais largo e a velha calça de sempre. Guardei a moto de Ares no bolso e passei a observar as águas escuras.  

Quando eles chegaram Gabriela foi a primeira a me abraçar chorando. Depois todos me abraçaram: Felipe, Paulo, Rebeca, Sarah, Mila e Camila. Aparentemente nenhum deles me odiava. O que devia ser bom. De algum modo.

– Jack, o que aconteceu? – perguntou Sarah me beijando no rosto cinco vezes.

– Eu não consegui sair de casa até ontem – menti – Amanda... ela... foi por minha causa, sinto muito. Como estão os pais dela? Sei da mãe, mas não ouvi nada sobre o pai.

– Bem mal – respondeu Paulo – Cara, ele não tem saído de casa dês do enterro. Ele parou de falar, não pronuncia uma palavra. No primeiro dia todo mundo ficou assim: sem entender porque aquilo tinha acontecido. Não que seja sua culpa e não é, eles até queriam que você tivesse ido ao enterro. A mãe dela perguntou sobre você.

Eu abaixei a cabeça e me odiei com todas as forças.

– Eu falei com ela ontem. Fui vê-la – eles olharam o chão como se entendessem que eu fora ver Amanda – Ela falou sobre Amanda e de quando éramos crianças. No cemitério.

– Eu me lembro – murmuraram todos em uníssono. Ela contava o que tínhamos feito durante o fim de semana para todos no colégio.

– Afinal o que foi que aconteceu? – perguntou Felipe – O que foi que ela disse quando vocês estavam lá no chão?

– Que não adiantaria chamar uma ambulância – respondi – Que ela não tinha medo de morrer. Que nós fomos bons amigos. Que éramos boas pessoas não importasse o que dissessem. Então...

Eu enfiei o rosto nas mãos. E neguei com a cabeça me sentindo culpado com a mentira, Rebeca voltou a me abraçar.

– Sabe – disse Bianca entre soluços – ela estava certa. Mas para isso continuar sendo verdade nós temos que continuar a ser bons amigos e a fazer o que sempre fizemos.

– Ela tá certa – continuou Mila – Jack nós continuaremos com as historias. Continuaremos contra Martins e exatamente como antes. Agora que a prova final foi marcada para depois do Ano Novo teremos tempo para transformar a vida dela num inferno. Em nome de Amanda. Quem tá dentro?

Todos levantaram as mãos sorrindo menos eu.

Droga, pensei, isso é o que eu espero há anos.

Mas, disse Vox mais serio que o normal, nós temos que voltar. Não podemos quebrar uma promessa feita ao Estige.

– Eu não posso. Depois do Ano Novo eu vou viajar, New York. Vou morar com um tio meu. Meus pais ficaram preocupados comigo e acham que novos ares seriam bons. Mas vocês devem continuar. Contem historias, vão para a diretoria, façam novas amizades e mostram a eles o que é o certo. E me perdoem por não poder ficar.

Todos me olharam como se eu tivesse louco. Depois se entre olharam riram como se eu tivesse contado uma ótima piada.

– Você realmente acha que nós vamos ficar chateados por isso? – perguntou Felipe entre gargalhadas – Nós vamos transformar você em uma lenda, cara. O homem que vai nos levar a vencer a cobra da Rosário Martins!

– Já ganhamos! – exclamaram as meninas.

Não pude deixar de sentir gratidão por ir embora porque não queria vê-los me pondo num pedestal.

Eles me abraçaram de novo e nós andamos e falamos deles naqueles últimos dias. Nenhum deles falou nada sobre a cicatriz do queixo nem sobre meu repentino desaparecimento.

Eles me contaram sobre o discurso surrealista que Martins tinha feito no dia seguinte ao ataque da cobra. Aparentemente ela colocara toda culpa em mim e em Amanda, dizendo que a cobra era uma pegadinha de mau gosto que tinha dado errado e custado a vida da minha amiga. Era tudo, exclusivamente, culpa de pessoas como eu. Todos jogaram tinha roxa nela e nos professores depois do discurso, até os mais certinhos da escola. Que todos gritaram estar preocupados comigo e de luto por Amanda. Aparentemente foi um dia em que todos se uniram contra ela, ou seja, o pior dia de sua vida. E eu amei isso.  

Falamos sobre nossa amiga e em como ela deve estar passando nos Elísios. Foi divertido imaginá-la sendo julgada por Hades, com preferência por minha causa, é claro.

– Falando neles– disse Rebeca– A Letícia, aquela garota maluquinha... Disse que existia a probabilidade de você ter sido abduzido por deuses olímpicos e que estava sendo torturado porque matou a cobra de estimação de Hera.

Todos riram e eu forcei uma risadinha sem jeito.

Não deixa de ser verdade, pensei, Afinal por que Hera não acabou comigo por destruir aquele troço?

Não faço idéia, mas foi bom, disse Vox, E eu falei; ela fuma maconha sim.           

Quem? Hera? Cara, não fala assim da Rainha do Olimpo.

Rá-rá-rá.

Rá fuma maconha? Não seria uma flor de lotos preta?

Cale a boca.

Agora você sabe como é minha vida com você ai dentro.

– Jack– começou Gabriela sem jeito olhando para Bianca –, a Amanda queria te dar isso de Natal. A mãe dela me entregou depois do enterro e pediu para te dizer que você não tinha culpa e que você era muito importante para Amanda. Que ela te amava. Ela me mandou te agradecer por ser mais que um irmão para a filha dela.

Ela colocou um colar de couro na minha mão nele tinha dois corações de prata um tinha escrito:família.E no outro: amigos. Eu acariciei o de amigos e pus-me a chorar.

– Ela ia dar com isso – completou Bianca também chorando tirando uma coisa do bolso ela me entregou sem tirar os olhos do papel.

Era cartinha escrita a mão, em tinta azul, numa folha de caderno dobrado de mau jeito, como os que a gente passava durante uma aula muito chata e todos nós estavam em observação, com os garranchos de Amanda:

Submundano,

Um Natal muito feliz para você!

Eu estou ótima, bem disso você sabe, afinal eu devo ter encontrado com você ontem. Mas finge que não.

Eu sempre te dou um livro ou coisa do gênero, era um desses que eu queria te dar e era o que você esperava, mas quando vi isso lá no centro da cidade não pude pensar em qualquer outra pessoa a não ser você (relaxa ainda temos muitos anos para nossa biblioteca e posso garantir que ela vai estar cheia).

Eu sei que essas são as coisas mais importantes para você. Para mim também acho que para todos nós, mas se fosse para mim faltaria um coração porque você já é mais que um amigo ou um irmão para mim. 

Veja isso como meu primeiro presente de Natal, porque eu queria dar outro coração. Que brega, não acha? Mas é. Eu estou tentando te contar isso há anos e nunca consegui. Estamos crescidos, e maduros o bastante. Eu sei que você pode não sentir o que eu sinto, mas não me importa. É exatamente o que eu quero.

Jack Tenório Leal, submundano, bobalhão, e burro, eu gosto de você dês que nós iniciamos nossa guerra com Martins. Sempre gostei de como você é corajoso e doce, eu sempre te amei. Eu queria que um desses coraçõezinhos dissesse: namorada. Eu quero te dar meu coração.

E você; também quer um desses coraçõezinhos? O que vai fazer com o meu coração? E com o seu, vai me dá-lo? Responda-me o mais rápido possível, por favor.                                          

Com muito amor da sua Amanda.

– Eu também quero o coração – murmurei para o papel com lagrimas nos olhos – Eu também, Amanda. Eu também. Ah, porque tinha que acontecer desse jeito? Malditas sejam as Parcas. Eu te daria meu coração de bom grado.

Eu estava realmente chorando quando terminei de ler a segunda vez e todos a minha volta pareciam realmente infelizes com a idéia de que Amanda e eununca poderíamos ser o que tanto queríamos.   

Já estava escurecendo quando os vi se distanciar dentro de um taxi. Eu suspirei tirei a moto do bolso e fui embora. Em dois dias estaria no sitio da minha tia com meus primos e ainda tinha que me acostumar com a idéia. 


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Notas finais do capítulo

ai está. no próximo tem briga em família.



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