O Filho Do Olimpo E A Faca Da Noite escrita por Castebulos Snape


Capítulo 11
Duelo Com O Maior Idiota De Todos Os Tempos


Notas iniciais do capítulo

primeira aparição do vilão!



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– Não já esta na hora de testar se ele melhorou um pouco? – continuou Ares muito animado – Que tal isso, garoto; uma lutinha amigável entre pai e filho só para saber se é realmente de pai e filho que estamos falando?

Eu sabia que, com certeza, a “briginha” poderia ser tudo menos amigável e que eu não tinha gostado da parte de “acabar com o garoto”, mas não posso negar que estava muito curioso quanto minhas melhorias.

Maldita curiosidade, disse Vox, O que aconteceu com Epimeteu quando ele foi curioso, hein?

Nada, pra falar a verdade, respondi, Ele não foi atingido, foi? Só os pobres mortais! Vulgo: nós.

Engoli seco algumas vezes e assenti para Ares. Ele sorriu como se não pudesse esperar para me dar uma surra e, acredite, eu não estava tão ansioso assim. Dois ou três deuses gemeram como se já imaginassem o final daquela historia.

Ai, disse de novo Vox, já que vamos morrer me lembre de usar um novo exemplo se você quiser fazer algo idiota no Erebus. Pelo menos vamos ser bem assistidos por Hades, não é?

Cale a boca!                          

– Espada contra espada – rugiu Ares antes que alguém o interrompesse, no caso esse alguém ia ser Atena – e é bom ninguém aqui intervir. Ah! E a luta só acaba quando um de nós tirar a espada do outro ou ficar completamente impossibilitado de competir. Sem regras, sem juízes, muita diversão.

Joguei a mochila em uma mesa distante e tirei a calculadora do bolso apertando 1 olhando a espada de Ares: duas vezes o tamanho da minha, folha dupla, cabo negro e com uma caveira com um rubi na boca como guarda.

Engoli seco sentindo minhas pernas tremerem um pouco, quando eu digo um pouco eu quero dizer... Quer saber; esquece, esse capitulo já está muito desmoralizante. Ele girou a espada olhando minha reação e riu quando percebeu que meu rosto ficou branco. Ares tirou seus óculos lentamente, observando minhas reações.

Olhei apavorado aquelas explosões. O fogo. O ódio. Pude ver homens caindo no chão, feridos mortalmente, família desfeitas, o mundo afundando sobre os pés de sobreviventes que vêem tudo que era seu destruído. Senti uma gota gelada de suor desse por meu rosto. Ele ampliou seu sorriso.    

Eu estou morto, pensei, eu estou muito morto. Você finalmente esta certo: eu estou morto

 Não, nós estamos mortos! Pense positivo pelo menos, ele só vai cortar sua mão fora. Imagino que não vá doer muito, entende, só bastante!

Ele vai cortar nossa mão fora, corrigi, ele não respondeu. Fazer Vox ficar quieto já é uma vitória, mesmo se eu perdesse a mão. Mesmo assim eu podia sentir o nervosismo dele, o medo dele. O meu medo. O nosso medo.

Respirei fundo e senti o ar do Olimpo invadir meus pulmões. Algo dentro de mim gritava que, não importava o que acontecesse, eu estaria bem ali, estaria protegido.

Relaxe, não vou morrer esta noite, minha mente foi preenchida com essa certeza e eu soube que meu momento não era aquele, ali eu soube que ainda ia acontecer muita coisa antes de eu colocar meus pés definitivamente no Mundo Inferior.

O ultimo golpe não será desferido nesta sala, disse minha voz, não, não era minha voz, minha voz não era daquele jeito, Não ainda.

Então, vamos à luta.

Ares parou de rir girou a espada em minha direção. Eu demorei dois segundos para reagir, dois segundos extremamente necessários, não tive tempo de levantar a espada e fui obrigado a me abaixar.

Ele rugiu de raiva e tentou acertar minha cabeça enquanto ainda estava agachado ergui Kroboros e impedi que me acertasse. Meu braço tremeu e meu ombro doeu o bastante para que eu não conseguisse segurar a espada com uma mão só.

Me levantei mais rápido do que nunca e nossas espada se chocaram de novo fazendo meu ombro doer mais. Nós ficamos naquilo por alguns minutos, eu tentava ao máximo me distanciar dele ou feri-lo de algum jeito com a certeza que, quando eu me cansasse, ele acabaria comigo. Ele também deve ter percebido isso por que um sorrisinho desdenhoso apareceu em seus lábios. 

Quando meus braços já estavam doendo muito, não consegui parar um dos golpes de maneira muito eficiente e a ponta da lamina me cortou no rosto. Ele abriu mais o sorriso quando percebeu que eu estava sangrando.

Aquilo não me animou muito. O sorriso dele fazia suas várias cicatrizes do rosto ficarem mais acentuadas.

Esqueça isso, disse a mim mesmo, se concentre em não ser morto. Desarme-o e a luta acaba. Corte a mão dele fora.   

Tentei tirar a espada de sua mão durante um desses choques, mas ele tentou um ataque direto e eu tive que parar o golpe para desviá-lo.

Depois disso ele deu vários ataques diretos e por cima do ombro. Cada vez em que eu desviava desses golpes meus braços doíam mais e Ares abria mais o sorriso. Eu podia ver o que ele ia fazer a seguir e tentava ao máximo evitar isso, mas, na maioria das vezes não conseguia, óbvio.  

Eu tentava me distanciar um pouco recuando por entre as mesas, tentando conseguir tempo para pensar no que fazer, mas a coisa mais simples para ele era chutá-las para fora de seu caminho.

Quando percebi, estava me balançando lentamente e vendo a cena de vários ângulos. Pude ver que a posição da minha espada não estava protegendo as pernas, mudei sua posição. Minha respiração estava desacelerada e quanto mais eu me concentrava ela diminuía um pouco. Meu coração batia em ritmo normal e ouvi a respiração de Ares ficar no mesmo ritmo que a minha.  

Os olimpianos nos observavam atentamente, percebi que Apolo, Hermes e Dionísio estavam murmurando apostas. Dionísio apostava contra mim e os outros dois tinham fé em suas bênçãos. Eles começaram a discutir baixinho com quem ficaria o dinheiro da aposta, Dionísio não confiava em nenhum dos dois e nenhum dos dois confiava em Dionísio. Ártemis deu um tapa no braço de Apolo, então ele intensificou a discussão incluindo-a e esfregando o próprio braço. Zeus ria baixinho de seus filhos e mantinha o braço em torno de Hera. Essa parecia extremamente entediada.

Ares tinha, apesar de tudo, os olhos em mim e não os desviou nem por um segundo, eu senti como se ele estivesse em minha mente. Ele queria estudar o modo como eu lutava. Como se naquela época eu já tivesse um modo de lutar. Era a primeira vez que eu segura uma espada para me defender. Eu estava improvisando e bem.    

Parei com as costas encostadas numa coluna tentando descansar um pouco, usando ele como exemplo e estudando seu modo de luta. A única coisa que percebi foi que ele gostava de atacar e valorizava pouco a defesa

Ele parou a distancia o bastante de mim para que eu pudesse erguer Kroboros.

Pude ver todos os pontos pouco desprotegidos do seu corpo, o que não eram muitos. A cabeça era a menos protegida de acordo com a posição dos ataques e eu tinha a impressão que ele não devia se importar com a cabeça. Pelo menos não como eu.

Me distanciei da coluna para ter mais espaço, quando me movi ele tentou me cortar ao meio, mas desviei e sua espada bateu na coluna. Tentei ver como ele me atacaria a seguir ou ao menos ver como atingi-lo, mas tudo que vi foram possibilidades sendo desmanchadas.

Aquilo parecia exatamente o que ele queria.

Ares veio para cima de mim rindo como um louco. Ele girou a espada para meu peito e eu pulei para trás desviando a lamina com Kroboros.

– Pare de fugir, covarde!

– Não, obrigado, papai guerra!

Avancei tentando acertá-lo nas pernas, mas, antes que ele fizesse, eu percebi que ele ia desviar minha lamina e me acertar na coxa. Reuni toda minha força. Quando a lamina dele tocou na minha eu virei a lamina e, com a lateral da espada, empurrei a dele para trás e cortei sua coxa exatamente como ele faria comigo.    

Ele arfou de dor. E me encarou por um tempo. Nisso tentei cortar sua mão para que deixasse cair a espada, mas ele já esperava isso e apenas virou o pulso e evitou o ataque.  

Eu só pude ver a ponta da espada vindo para o meu peito, foi quase um impulso. Desviei do golpe indo para o lado e passei meu braço por cima da espada, depois meu antebraço por baixo, segurei guarda com os dedos, para afastá-lo da espada coloquei o pé em seu peito e o empurrei para trás.

É claro que ele não soltou a espada, era mais forte que eu e que eu fui obrigado a soltar a espada, ele provavelmente iria me girar e chutar meu peito com fiz eu perderia o equilíbrio e ele me desarmaria facilmente.

A lâmina cortou meu braço, antebraço e minha mão.

Ares me encarou curioso por alguns segundos respirando pesadamente antes de voltar a avançar. Meus dois braços estavam feridos agora, eu mal conseguia levantar a espada, estava sangrando, mas minha respiração não se alterou.

Imagino o que está pensando. Eu também achei que seria melhor desistir, mas eu não podia. Não agora que eu estava começando a ver aonde as bênçãos de Ares e de Atena me levavam. Só esperava que não fosse para o caixão. 

De novo ele mandou um golpe pela esquerda no meu pescoço. Eu me abaixei no ultimo momento e tentei acertar suas pernas, mas ele já esperava por isso e pulou desajeitado aproveitando a chance para me chutar nas costelas e me fazer rolar para o lado arfando de dor. Eu sabia que minhas costelas estavam quebradas, afinal meus primos já tinham me quebrado umas e meu braço em dois lugares.

Me levantei respirando com dificuldade segundos antes da espada de Ares bater no chão onde eu estava. Dei alguns passos para trás com a mão na lateral do corpo. Respirar profundamente começou a doer e eu quase morro de dor quando ele tentou rachar minha cabeça em duas e tive que levantar minha espada a cima da cabeça para desviar o golpe.

Os olimpianos nos acompanhavam sem desfiar o olhar (aparentemente a discussão estava encerrada) e Atena me encarava como se esperasse muito mais coisa de mim. Ártemis (que segurava despreocupadamente um saco de pano que me pareceu bem pesado) acompanhava a luta sem nem piscar, soube que se eu não conseguisse mais lutar ela encerraria tudo, bem ela e, agora, Hera que tinha se interessado, de repente, com a luta e nos olhava do mesmo jeito.

Hades, Zeus e Poseidon tinham o mesmo olhar preocupado e calculista. Deméter parecia entediada. Perséfone apenas observava inexpressiva. Afrodite estava apreensiva, seus olhos iam dos ferimentos de Ares aos meus. Hefesto me olhava com expectativa, torcendo para mim.       

Sem que eu pudesse ver como, a espada de Ares cortou meu braço direito na altura do ombro. Eu avancei no exato momento em que senti a espada na minha carne e consegui feri-lo na lateral do corpo. Era impressionante como a minha mente estava clara; consegui raciocinar perfeitamente mesmo com tanta dor.

Ele urrou de dor, foi assustador, e continuou avançando com mais raiva, dor e, o mais importante, desconcentração.

Eu tentei de novo tirar a espada de sua mão quando ele tentou um ataque direto. Escorreguei a ponta de Kroboros pelo cabo da espada de Ares até conseguir colocá-la entre a mão dele e o cabo. Então girei a minha espada e a de Ares vôo para fincar na mesa em que Falcon estava. O falcão piou alto e me encarou como se eu fosse um assassino frio.

Eu senti um sorriso de alivio se espalhar por meu rosto, afinal, eu tinha vencido. Encerrei a luta. Ele não podia mais tentar me matar Então o sorriso foi se tornando mais animado. Eu tinha vencido do deus da guerra sem nunca ter toca em uma espada, o que aconteceria se eu tivesse um pouco mais de treino?

Ártemis pareceu aliviada com o fim da luta e começou a caminhar até mim. Hermes e Apolo tentavam pegar o saco sem incomodá-la, provavelmente achando que não seria seguro. Dionísio me olhava como se estivesse impressionado com minha audácia de vencer. Hera e Atena tinham um sorrisinho presunçoso. Hefesto observava Kroboros com muito cuidado como se a espada estivesse machucada, e, escrevo isso com muita alegria, ela estava perfeita, como sempre. Afrodite parecia estar eufórica; nenhum de nós tinha morrido. Zeus, Hades e Poseidon esboçavam o mesmo sorriso orgulhoso. Ariadne e Perséfone também pareciam muito felizes por mim.   

Ares, por outro lado, me encarou parecendo furioso por ter sido humilhado por um garotinho. Por alguns segundos encarei seus olhos cheios de ódio e não consegui me mover, estava preso no fogo das batalhas, um cheiro assustador de sangue invadiu minhas narinas e eu pude ouvir as mais diferentes armas em ação. Logo pisquei, com muito esforço, e tentei dizer alguma coisa.

Tentei.

 Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa sobe a luta, por eu ter ganhado ou me desculpar por seja lá o que, ele arreganhou os dentes e me deu um forte empurrão no peito, que me fez desabar na coluna atrás de mim e bater a cabeça com força nela.

Levei minha mão no lugar onde tinha batido e senti meu sangue quente se espalhar por minha mão. Tudo ficou embaçado e eu olhei para Ares, tentando parecer tão impressionado quanto assustado, mas ele se escorava na mesa a minha frente com a mão na lateral da cabeça parecendo tão atordoado e surpreso quanto eu. Não que eu conseguisse ver tudo claramente, mas tinha certeza que alguma coisa tinha acontecido.

Zonzo e quase desmaiando, eu procurei o que o tinha atingido e me deparei com minha espada caída no chão ao meu lado com a lateral da lâmina suja do mesmo liquido dourado que saia da cabeça de Ares: Icor, o sangue dourado dos imortais.

Lembrei por alguns segundos muito confusos e amedrontadores que era dourado por causa do ouro que era eterno, mas simbologia não me importava nem um pouco naquele momento. Não importa até hoje.

Meus joelhos foram falhando e eu caí escorado na coluna deixando um filete de sangue para trás enquanto descia imaginando que, quando Ares me empurrou, eu deve ter batido com a lateral da espada nele por reflexo. Que sorte que foi com a lateral não afiada. Sorte dele.

Vários pontinhos pretos e vermelhos surgiram no meu campo de visão e foram ficando maiores com o passar dos segundos. Minhas pálpebras pesaram e eu tentei mantê-las abertas, com muito esforço, para falar a verdade.

A dor dos cortes finalmente veio com intensidade (não que isso fosse uma coisa boa), não a certa como eu esperava, mas parecia ter sido aumentada dez vezes. Meu braço, rosto e ombro pareceram se quebrar a cada pulsação, quando o sangue vinha e saia pelos ferimentos.

Os olimpianos, que tinham parado horrorizados quando Ares me empurrou, voltaram a atravessaram o salão e logo se amontoaram a nossa volta.

– Hermes – disse uma voz conhecida mais ou menos perto de mim –, veja Ares. Eu cuido do Jack – Apolo se ajoelhou ao me lado e pousou a mão na parte de trás da minha cabeça, pressionando o corte – Foi um corte feio, e foi só um empurrão. Droga, Ares devia maneirar com o garoto. Impressionante que esteja consciente. Jackie? Consegue me ouvir, garoto? Vamos lá. Fala comigo. Por favor.

Mas eu não consegui tentar falar e tentar ficar consciente ao mesmo tempo, e achei que ficar consciente era mais importante.

Ares estava no chão respirando com dificuldade, Apolo, ajoelhado ao meu lado, tentou falar comigo mais uma vez, mas eu não ouvia o que ele estava falando ou qualquer outra coisa e os pontinhos pretos foram se fechando a minha volta.

A última coisa que pensei foi que pelo menos eu venci a luta. De repente a escuridão finalmente me afastou da dor.               

                 

...

    

Eu estava observando meu pai, minha mãe e minhas amigas acuadas em uma parede no único ponto de luz que ia se apagando.

Isso, dizia uma voz calma, suave, grossa e fechada, parecia estar em êxtase, escuridão total. Eles vão ser consumidos e não só eles. Você tem que salva-los, heroizinho. Prove-se. Talvez assim eu poupe sua vidinha miserável.

Uma aranha tão monstruosa quanto Píton, Aracne, a idiota que teve a brilhante idéia de desafiar Atena, e a própria cobra apareceram na frente deles saindo da escuridão e se preparando para atacar.

Uma gargalhada fria inundou minha mente e fez meus ouvidos zunirem.

Meu pai encarava a cobra como se pudesse fazer alguma coisa, mas ele estava fazendo exatamente tudo que podia: abraçar minha mãe.

Minhas amigas estavam sentadas chorando e tentando se arrastar para longe da aranha, mas já estavam espremidas contra a parede.

A luz começou a falhar com se a lâmpada que eu não consegui ver estivesse prestes a queimar. Todos, inclusive eu, olharam para cima como se implorassem silenciosamente para que a luz permanecesse ali.

Tente ajudá-los, herói, disse a voz, Os deuses não vão ajudá-lo, eles nunca ajudam ninguém. Sabe que são egoístas e usam quem têm que usar, você não odeia isso? Eu detesto isso. Junte-se a mim. Só precisa provar que pode ser útil. Prove-se. Salve-os.         

Tentei me mexer. Eu tinha que ajudá-los, eles não podiam morrer, eles não, já me bastava ter perdido Amanda, eles não, mas eu nem podia sentir meu próprio corpo. Eu estava fora dele. Eu era parte da escuridão e não conseguia controlá-la, eu era fraco demais.

Tentei me achar no me corpo, mas tudo que sentia era uma escuridão forte e poderosa demais para mim senti o ar se recusando a entrar nos meus pulmões. Tudo começou a ficar mais embaçado.  

Você é inútil. Você é fraco. Nix estava errada sobre você, é apenas um mortal como todos os outros. Eu vou destroçá-lo de dentro para fora.

A cobra deu o bote, a aranha avançou e a pouca luz que restava se apagou.

– NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO.

 Olhei para os lados eu estava sentado ereto em uma cama suando frio. Onde eles estavam? Onde eu estava? Minha respiração estava acelerada, mas minha pulsação não se alterara. Eu tinha que ajudá-los. O lugar onde eu estava parecia tão diferente do local do sonho que eu fiquei perdido em tanto branco.

Loki estava do meu lado bufando e procurando o perigo que tinha me assustado tanto e começou a latir, o que fez o prédio inteiro tremer, como se para afugentar meu inimigo invisível.

Alguém gemeu e resmungou alguma coisa, mas não importava quem fosse eu tinha que sair dali, mesmo que eu não soubesse onde era ali. Comecei a me levantar, tirei as cobertas...  

– Jack! – me virei e dei de cara com Ártemis me olhando apavorada, colocando a mão no meu peito e tentando me empurrar de volta para a cama – Foi só um sonho. Jack tá tudo bem, querido.

Coloquei minha mão na dela e olhei-a desesperado:

– Não. Meus pais, os humanos, eles... Aracne. Píton. Meus amigos... Tenho que achá-los! Eles vão... Não, eles não. Por favor, mamãe, eu preciso sair daqui!

– O que há de errado com ele?! – perguntou Ares deitado na cama ao lado da minha com uma faixa em volta da cabeça.

– Nada – respondeu Ártemis me olhando nos olhos. Ela estava falando mais para mim do que para ele – Foi só um pesadelo. Esta tudo bem.

Eu me acalmei um pouco sem desviar o olhar dela e voltei a me deitar, tonto.

– Era tão real – murmurei ainda olhando seus olhos prateados – Eles estavam lá acuados no escuro, sem que eu pudesse ajudar. Aracne, de onde foi eu tirei Aracne?

– Eles estão bem – tranquilizou-me ela tocando meu rosto com carinho –, você, por outro lado, tem uma bela fratura no crânio e tem que ficar quieto. E esqueça Aracne você não é o alvo dela. Vou buscar Apolo. Fique de olho nele, Ares.

Assenti. Ares deve ter respondido alguma coisa como: “Tá”. Depois que ela saiu deixei minha mão cair da cama e acariciei a cabeça de Loki.

– Tá tudo bem, garoto. Eu tô legal. Relaxa. Você ficou aqui o tempo inteiro?

Ele encostou a cabeça enorme na cama e grunhiu.

– Você ficou preocupado, é? – ele colocou a língua para fora da cama e mostrou os dentes como se disse:

Isso. Eu me importo. Agora mais para a direita, ó poderoso mestre que cheira a atadura barata. 

– É. Imagino que eu seja sua a ultima esperança de ares além dos do Mundo Inferior, não é?

Ele me encarou parecendo irritado.

Brinquei com suas orelhas como pedido de desculpas e ele começou a babar compulsivamente no meu lençol. De repente Falcon pousou no meu colo e eu fui obrigado a acariciá-lo com a outra mão.

Me virei para Ares que fitava o teto com os olhos entre abertos, sonolento.

– Você esta bem? – perguntei inseguro.

Ele fechou os olhos e sorriu.

– Estou bem acostumado com fraturas, garoto. Você foi muito bom na luta, quero ver depois do treinamento. Mesmo que eu ache desnecessário o golpe na cabeça.

– Obrigado, Ares. E o golpe na cabeça foi sem querer, na verdade. Você me empurrou depois de eu ter ganhado, isso também era desnecessário e infantil.

“Depois disso eu não lembro muito bem, minha cabeça esta doendo.”, então percebi que podia ter dormido de mais e me sentei na cama de novo em um pulo Falcon voou para longe e Loki grunhiu indignado, “Que dia é hoje? Quanto tempo eu fiquei apagado?

– Hoje são 23. Você, para falar a verdade, nem ficou apagado murmurou coisas o dia inteiro. E é bom se cobrir. Não tô nem um pouco interessado em ver peito de marmanjo.  

Olhei para baixo e me deparei com meus novos e musculosos peito e abdômen sem cobertura. Levantei o lençol e percebi que minhas todas as roupas tinham desaparecido.

Voltei a me deitar rezando para aquilo ser um sonho e Aracne saltasse de uma parede contando sobre o chá maravilhoso e divertido que tinha acabado de tomar com Atena; sua velha e adorável amiga.

E você se preocupa com Aracne?, questionou a voz, Não importa quem tirou nossa roupa! E a mamãe?

Eu sei, retruquei, Ártemis disse que fraturamos o crânio. Tomara que eu possa sair daqui logo, não estou a fim de tentar fugir do Olimpo. 

Mas aquilo não era o pior, mesmo que imaginar algum deus ou ninfa tirando minhas roupas fosse terrível ou o fato de Vox parecia mais chato que o normal, talvez fosse a dor de cabeça. O pior era que eu só tinha dois dias para voltar para casa para o Natal.

– Não me importa se ela era bonita, Apolo!– vinha dizendo minha mãe – Você esta a serviço.

– Jack e Ares estão bem. E eu tenho vida pessoal, sabia? Estou de olhou naquela ninfa há tempos. Você acaba de terminar com minhas chances, irmãzinha.

Os dois entraram ainda discutindo.

– Por Zeus! – interrompeu Ares – Eu estou tentando dormir e não me deixam beber aqui. É garoto, é cachorro, são vocês. Silencio! Afinal isso é um hospital e não um hospício!

Os dois param e encararam o deus ferido.

– Ora, Ares, você tem seu néctar! – acusou Apolo – Fique bêbado com isso. Jack! Você acordou?

Eu forcei um sorriso, reprimindo a vontade de dizer: Não, que é isso? Eu nunca ficaria acordado com os olhos abertos, e tentei entender por que diabos a camiseta dele estava abotoada errada.

Esqueça, disse a mim mesmo, você não quer saber.

Eu quero, disse Vox, Pergunte! Quero ver ele ficar vermelho.

Estúpido! Realmente acha que ele ficaria vermelho por causa disso? Apolo? Só cale a boca.

– Senta aí! – disse ele para mim enquanto vestia luvas de plástico.

Eu me sentei na cama segurando o lençol no nível do peito. Ele tateou por baixo do meu cabelo, apertou alguns lugares, e quando nenhuma parte chegou a incomodar ele começou a tatear meu peito e abdômen. Essa parte incomodou um pouco, mas não foi muita coisa.

– Que lugar é este? – perguntei olhando em volta.

Quando você acorda gritando é bastante fácil ignorar o que esta a sua volta. Era um quarto comum de hospital, muito branco, limpo, quieto e brilhante. Duas poltronas também brancas, acolchoadas reclináveis e aparentemente muito confortáveis ficavam ao lado de cada cama. No lado direito do quarto ficava uma porta que devia dar para o banheiro ou coisa parecida. Na frente das camas em cima de uma cômoda com gavetas estava uma televisão desligada.

Ares tomava calmamente um copo de café, pelo menos eu achei que era café, ouvindo tudo o que falávamos. Aparentemente era muito divertido porque de vez em quando ele ria com deboche.    

– Hospital Olimpiano – respondeu Apolo distraído colocando uma luz na frente do meu rosto e analisando meu olho – É novinho em folha! Não sabe o quanto foi difícil deixar Esculápio longe de você. Normalmente é ele com comanda das coisas por aqui.

“Estava curiosíssimo sobre sua formação e saúde. É claro que ele é um bom medico e tal, mas achei melhor eu mesmo cuidar de você. Prometi a sua... Suas. Mães que cuidaria de você pessoalmente, mas não pude evitar que viesse aqui te dar uma olhada. Ele gostou de você, te achou... fascinante. 

“Ele está ótimo”, disse à Ártemis “É claro que eu não consegui tirar as cicatrizes, mas as mulheres gostam, não é pessoal?”, ele se endireitou com um sorriso no rosto e encarou a mim e a Ares. O deus da guerra riu e minha mãe grunhiu.

– Que cicatrizes? – perguntei sério.  

Ares fechou os olhos, deixou a cabeça cair no travesseiro e fingiu dormir. Ártemis olhou para Apolo com um sorriso sínico como se esperasse que ele respondesse. Esse suspirou e forçou um sorriso para mim. Eu continuei serio e esperando respostas; não queria nenhuma cicatriz.

– Minha irmã me ama! – comentou para mim – Vem cá, Jack.

Eu me levantei ainda tentando ao máximo me manter enrolado no lençol e fui com Apolo ao banheiro branco e limpo do Hospital Olimpiano.

Parei de frente para o espelho e vi a linha irregular que cortava meu queixo na linha do maxilar. Era a doce consequência do corte que Ares tinha feito no meu rosto.

– Valeu, papai guerra! – exclamei para Ares olhando minha nova companheira.

– Um guerreiro tem que ter cicatrizes, garoto! É o básico da construção, se acostume – respondeu.

Idiota, pensei.

Nem tanto, retrucou Vox pensativo, É até charmosa! Combina com os cabelos.

– Tão charmosa quanto ter uma voz na minha cabeça. – resmunguei enquanto passava os dedos por cima do maxilar por inteiro.

Magoou, murmurou Vox. 

Ela até que não era demais, só um cortezinho. Fácil de ignorar. Era até um pouco legal ter cicatrizes além de arranhões nos braços feitos pelos lápis do meu primo.  

Falando em braços..., pensei.

Meu braço direito estava cortado em vários lugares; transversal na mão, um talo no braço perto do ombro na diagonal (não parecia muito profundo) e um corte que parecia realmente profundo no antebraço. Meu ombro esquerdo também estava com um corte leve.

Respirei fundo e senti uma pontada no lado direito do corpo, minhas costelas definitivamente ainda estavam quebradas. Toquei a parte de trás da minha cabeça e pude sentir a pequena cicatriz.

– As costelas estão se regenerando – disse Apolo olhando meu reflexo –, o crânio já está quase perfeito. Como eu não podia usar ambrosia ou néctar não pude ter um sucesso completo, por isso as cicatrizes. Sinto muito O anel que Afrodite te deu ajudou bastante. No contesto geral você esta ótimo. Olhando pelo lado positivo; esta vivo.   

Olhei pra o anel na mão direita. Queria agradecer Afrodite por aquilo, mas era bom não fazer isso com Ártemis por perto.

– Tudo bem. Obrigado, tio – disse para a imagem no espelho, ele sorriu para mim – Mamãe, eu já estou bem o bastante para ir passar o Natal em casa? Eu prometi.

Ártemis sorriu quando a chamei de mamãe. Era bom vê-la sorrindo então sorri de volta tentando deixá-la mais feliz. Apolo a encarou com um sorrisinho debochado, ela parou de sorrir e fingiu pensar por uns segundos.         

– Se seu tio deixar.

Olhei sorrindo para Apolo que pareceu um pouco preocupado comigo. Achei estranho contando que ele não parecia um médico ou tio preocupado e serio.

Nem pai, disse Vox, ele é nosso pai também. Em aspas. Se Hades é ele também é.

Ótimo, tem razão! Pelo menos uma vez! Parabéns!

Ei! Eu já tive razão antes.

Não lembro.

É acho que você pode viajar. Com assistência.

– Com assistência? – perguntei desanimado – Que diabos isso quer dizer? Vou voando com Loki e Falcon, não tem erro. Se os deuses ficarem saindo de suas tarefas para me levar e buscar estaremos ferrados.

– Na verdade – disse Apolo desanimado, possivelmente por que seria ele a deixar as tarefas para ir me buscar e levar – a gente não tem lá muitas... – Ártemis lhe deu uma cotovelada nas costelas – Ai! Quer saber você está certo. Certíssimo. Vai fundo!   

– Você esta certo mesmo – disse Ártemis tristemente – Loki aquentaria facilmente a viajem e Falcon seria uma ótima companhia.

Os dois deuses se entreolharam ele mostrou desistência e, depois de alguns minutos pensando, ela também.

Dei meia volta e sai do banheiro, muito animado, ainda tentando manter o lençol no lugar.

– Loki, prepare-se para conhecer o Brasil!


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Notas finais do capítulo

Próximo te Brasil e mãe de Amanda!



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