A música toca no volume máximo enquanto, ainda em seus pijamas, ela começa a dançar, sozinha, no meio da sala, completamente relaxada e fora de ritmo. Seus cabelos vão de um lado ao outro enquanto se deixa levar pela melodia, num momento de libertação. Seu rosto forma o primeiro sorriso que daria naquela semana. Todo o stress sendo levado embora enquanto se mexe.

Outra música começa, mas nada mais importa, o novo ritmo começa a preenchê-la, agora lentamente, o som do baixo faz com que as caixas de som tremam, e junto com a voz rouca que agora canta intimamente para ela, a faz ficar arrepiada.

Ergue os braços e pensa em como é fácil se mover de tal maneira, sem vergonha alguma, e aproveitar completamente o momento estando assim, só, sem ninguém olhando, reprovando-a ou julgando-a.

Isso sim é terapia.

Sua mente, já estando em um estado de êxtase momentâneo, libera suas barreiras, seus sentimentos. O sorriso aumenta, o coração bate com mais força e histórias, reais ou inventadas, começam a aparecer diante de seus olhos. Sonhos inacabados de repente ganham um final, os bloqueios somem e a inspiração parece reaparecer, pelo menos por um curto período. Nada mais a impede de realizar seus sonhos, a realidade sumiu, foi para algum lugar inalcançável, o que restava era o agora e nada mais, sem passado, sem futuro, só ali, às duas horas da tarde de uma terça-feira de Maio, ali em sua casa, na sala de estar, com o aparelho de som no último e vestindo uma enorme camiseta desgastada que usava para dormir.