O sol bate acolhedoramente enquanto lentamente deito na grama, sua luz muito forte para sequer abrir os olhos. Mexo um pouco a cabeça e meu cabelo se funde ainda mais no chão . Por que se importar com a sujeira quando a premissa do que pode acontecer é boa demais para desperdiçar?

O que à um momento atrás trazia irritação, suor e mal humor, agora forma um sorriso em meus lábios. Não está mais quente, apenas morno o suficiente para nos sentirmos acolhidos, abraçados.

Levanto o braço e o coloco acima de meus olhos, apenas perto o suficiente para que a luz não mais machuque minha visão. Olho para cima, ainda é manhã e o céu está claro e azulado, causando um forte contraste contra as verdes folhas das árvores a nossa volta.

Todos aproveitam o breve momento de descanso e silêncio, sabemos que durará pouco e que logo teremos que voltar ao calor e a chateação, alguns anseiam isso – gostando mais da ideia do que está acontecendo do que do evento em si -, outros, como eu, não conseguem ver um motivo plausível para criar coragem e sair de tal confortável abrigo.

Minha relutância em levantar e ir embora vai muito além do cansaço e do calor, sinto como se o momento de ser imprevisível e de diversão está aos poucos me escapando, meus dias estão passando enquanto não faço nada de prestativo ou aproveito inteiramento minha existência, quanto mais velha fico, mais atenta fico a tais questões, quanto menos dias ficam entre o agora e meu aniversário, com mais medo fico do futuro, especificamente de um futuro previsível e sem esperanças, uma vida como todas as outras, um trabalho como todos os outros, a conformidade sempre presente por não conseguir algo melhor, andar na média, morrer e ser esquecida.

Pelo menos agora consigo relaxar, me deixar levar, o peso da pressão não me agride tanto quando estou assim, rodeada de amigos, sorrindo, longe da solidão.