Os Opostos Se Atraem escrita por Lasanha4ever


Capítulo 2
Capítulo 1




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Já é dia vinte e cinco de julho. Minhas malas estão prontas, meus pais estão eufóricos e não param de citar tudo que eu posso fazer na Inglaterra já que eles não vão estar ali. Alguém avisa para eles que eu não sou imprudente que nem os outros adolescentes?

- Filha, ligue para nós sempre que puder, divirta bastante, faça amigos e-

- Tá bom, mãe. Já sei. Tchau. – interrompo-a e pego minha mala de mão. As outras já estão dentro do avião.

- Olha como trata a sua mãe, Fernanda! – meu pai se irrita, mas mesmo assim, ambos me dão um abraço.

Entro no avião e encontro rapidamente o meu assento. Número quinze. Fiquei ao lado da janela. E não tem nenhum velho gordo e suado ao meu lado. O voo está tão vazio que eu nem devo ter ninguém sentando ao meu lado.

Lei de Murphy existe, e ela sempre me persegue.

- E aí? – um garoto da minha idade pergunta.

Balanço a cabeça para evitar falar com ele.

- Você pode fechar a janela? Eu meio que tenho fobia de altura.

Tem como ser mais irritante? Mesmo assim, eu fecho a janela. Não quero ninguém dando faniquito ao meu lado.

- Eu sou o Danilo, e você?

Por que ele não para de falar? Eu quero ler o meu livro! Fecho o mesmo dramaticamente e sorriso falsamente em direção ao garoto.

- Eu sou a Fernanda.

- Senhores passageiros, começaremos a voar em questão de minutos. Pedimos que desliguem os aparelhos eletrônicos e coloquem o cinto. – uma aeromoça qualquer fala pelo microfone.

Desligo meu celular e coloco o cinto. Já o garoto ao meu lado, ele continua sem cinto – mesmo tendo medo de altura – e começa a mexer no celular.

- Ei, desliga isso. – peço.

- Calminha, Fernanda, eu só estou mandando um sms para um amigo meu.

- Desliga o celular e coloca o cinto, ou não é você que tem medo de altura? Se você não fizer o que eles mandam, você vai morrer nesse avião, junto com todo mundo aqui.

- Eu tava brincando, não tenho medo de altura, só queria que você ficasse olhando para mim e não para a paisagem.

Reviro os olhos e volto minha atenção para a janela, agora aberta.

- Senhor, coloque o cinto de segurança e desligue o aparelho eletrônico, por favor. – um comissário de bordo informa ao garoto que está ao meu lado e só vai embora quando ele faz tudo o que é pedido.

Durante o voo inteiro, ele não para de falar. Agora eu já sei que ele foi expulso de duas escolas, tem uma família rica, vai estudar no mesmo colégio que eu – o que é uma puta sacanagem – e que, como eu, veio aqui por causa da vontade dos pais.

- Espero te ver mais vezes, Fernandinha. – ele se despede com um sorriso amigável no rosto e eu dou o melhor sorriso que posso, sem ser muito falsa.

Não consigo suportar pessoas faladeiras, ainda mais as pessoas que me interrompem enquanto eu estou lendo um livro para começarem a falar sobre coisas que não me interessam.

Pego minhas malas e um taxi até o meu prédio.

O prédio é uma construção meio antiga, mas com a pintura impecável, bege. Janelas grandes com acabamentos de madeira. Entro no prédio e faço o check in. Meus pais exagerados compraram um duplex para mim. Que desnecessário, na real.

No primeiro andar do meu apartamento tem a cozinha – enorme por sinal, a sala de estar e um banheiro. No segundo andar tem um quarto muito grande, quase o dobro da cozinha, suíte, com closet, e outro quarto, talvez, só que não tem nada nele. Bem, nada além das várias caixas de papelão com minhas coisas que eu não poderia levar no meu voo. Deixo todas as minhas malas ali e vou conhecer melhor o apartamento. O meu quarto tem uma cama de casal enorme, e um closet maior que o da minha casa lá no Brasil e uma janela grande com um sofá embaixo. O banheiro é enorme, o box tem espaço para cinco pessoas confortavelmente. E tem uma banheira, que cabem duas pessoas na boa. E um espelho que ocupa a da metade para cima de uma parede.

Desço para o primeiro andar. A sala tem um sofá bem grande que cabe muitas pessoas, um tapete branco felpudo, uma televisão de 72 polegadas – eu acho – e uma janela com vista para a rua. A cozinha é toda de azulejos, exceto o teto. Tem um fogão de cinco bocas, uma bancada, uma geladeira, um micro-ondas, uma estante e uma dispensa. E já tem comida. O banheiro não é tão grande quanto o do segundo andar e não tem banheira.

Vou à cozinha e bebo um copo de água e um pouco de biscoito. Tomo um banho relaxante e fico logo de pijama. Já é quase meia noite, o voo direto é muito cansativo.

A noite inteira um infeliz filho de uma puta colocou um rap irritante tocando no ultimo volume. Justo o apartamento ao lado do meu. De manha cedo, umas nove e meia, eu coloco Muse para tocar no ultimo volume. O vizinho começa a berrar me mandando desligar a música. Sou vingativa, fazer o que, né...

Meia hora de Muse em ultimo volume e o vizinho bate – lê-se mete a porrada – na minha porta. Abro-a com a cara mais inocente possível.

- Bom dia. – falo olhando para a camisa dele, ou para a falta dela. Ô vizinho gostoso...

- Bom dia o caralho. Desliga essa merda de música e- ele para de falar repentinamente. – Fernandinha?

Fudeu. Lei de Murphy existe. Levanto meu olhar. O garoto do avião. Qual o nome dele mesmo? Daniel, Danilo... Alguma coisa com “Dani”.

- Fernandinha, o que diabos você está fazendo acordada em um sábado de manhã? – ele me faz sentir anormal por isso, o que é estranho, porque o anormal é ele.

- O que diabos você estava pensando ao deixar aquela música ensurdecedora até de madrugada?

- Ok, você venceu. Eu estava comemorando minha primeira noite aqui.

- Graças a você, eu estou tipo um zumbi.

- Graças a você, eu também estou.

- Você mereceu.

Ele riu – ô risada sedutora.

- Vai dormir que eu abaixo a música, mas desde que você não deixe a sua muito alta de madrugada.

- Pode deixar a sua música ligada, eu perdi o sono.

- Ok, então.

Começo a fechar a porta, mas ele me impede.

- Posso pelo menos saber o que você está fazendo em um sábado de manhã já que não está dormindo?

- Esvaziando as malas.

Os olhos dele ficam esbugalhados e ele deixa o queixo cair num ato totalmente exagerado.

- Mas já arrumando as coisas? Meu, as minhas malas estão jogadas em algum canto do apartamento e só aos poucos eu vou esvaziando.

- Pois é, né, que coisa.

- Quer ajuda para desarrumar a mala?

- Não preciso.

- Posso entrar?

- Por que quer entrar?

- Pra admirar esse seu pijama sexy. – ele fala com a voz baixa e rouca, e eu me controlo para não ceder.

Meu pijama não é sexy. É apenas um short preto e curto de malha e uma blusa de alça, cinza, e justa no corpo. E eu - puta merda - eu tô sem sutiã.

- Melhor você ir dormir.

- Por favor, me deixa entrar. Eu não queria falar nada para não parecer um idiota, mas é que tem uma garota que tá toda hora batendo na porta do meu quarto, desde ontem à noite, mas eu não quero nada com ela.

Controlo meu riso. É bem incomum um adolescente com medo de uma garota.

- Fala isso pra ela.

- Já falei, mas ela é maluca! Só consegui vir pra cá porque ela sumiu, mas daqui a pouco volta.

Reviro os olhos e o deixo entrar. Sim, eu sei que é perigoso. Sim, eu sei que não é normal. Mas eu não conseguiria me livrar dele tão cedo, então deu nisso.

- Não mexa em nada. – aviso e então subo as escadas. Ele me segue. – Ei, fica na sala!

- Não antes de eu encontrar a fonte desse barulho que você chama de música.

Era para eu rir? Vou até meu quarto e desligo o amplificador de som em forma de panda.

- Pronto, já pode voltar para a sala.

Se ele fosse um menininho de cinco anos, sairia batendo o pé e com um biquinho de mau humor. Mas como ele tem no mínimo uns dez anos a mais, ele apenas desce meio emburrado.

Aproveito e coloco um sutiã também. Continuo arrumando minha mala, primeiro as roupas, depois os calçados. Deixo meus livros nas caixas – sim, caixas. Tenho três caixas enormes de papelão só com livros.

- Ei, Fernandinha, tem alguém batendo na porta. – o garoto me avisa, parando no corredor, sem entrar no meu quarto.

- Ah, tá.

É uma vizinha.

- Oi, bom dia. Você sabe se o garoto do apartamento 1001 tá no apartamento dele?

Eu sou do apartamento 1002, o garoto do apartamento 1001 é o garoto que está no meu apartamento.

- Você seria?

- Eu sou a do apartamento 1003, e quero dar uma surra nele por ter posto aquela música infernal até de madrugada.

Eu rio. Ela olha irritada para a minha cara.

- Ele tá aqui. Entra aí que eu testemunho a surra dele por uma garota.

- Ele tá aí dentro fazendo o que? – a menina entra, mas arqueia a sobrancelha enquanto pergunta.

- Fugindo de uma garota que estava batendo na porta dele.

- Ah, era eu.

- Eu sou a Fernanda, prazer.

- Bianca.

- Ô Fernandinha, quem era? – o garoto, do qual eu ainda não esqueci o nome, desce as escadas.

- Seu filho da mãe! Desgraçado do caralho! – a Bianca corre em direção à ele e começa a bater nele.

- Ei, pare de me bater, Bianca! E você não me machuca, cai na real. – ele começa a rir e segura os pulsos dela em cima da cabeça dela.

Nunca subestime a fúria de uma mulher. A Bianca deu uma joelhada nos documentos do garoto, que cai no chão, rolando de dor, fazendo a Bianca e eu rirmos ate a barriga doer.

- Sacanagem, eu estava de guarda baixa.

- Da próxima, não acorde sua priminha querida.

- Pera aí. Priminha?

- Ah, é. Eu e o Danilo somos primos, aí ele veio para cá justamente por que eu moro aqui, mas eu já estou indo embora, porque acabei de me formar e vou fazer a faculdade em New York.

Danilo, esse é o nome.

- Ah, entendi. Você não parece ter dezoito.

- Ela tem dezenove, Fernandinha. Pior ainda, né.

- Caramba...

A Bianca dá uma risada fofa e o Danilo se levanta, com um beiço enorme.

- Fê, ele não parece um bebezinho?

- Muito.

- Ei, olha o respeito! Fernandinha, eu sou mais velho que você, nem vem.

- Por que acha isso?

- Pela sua altura, você deve ter treze anos.

Reviro os olhos enquanto ele ri da própria piada e a Bianca dá um soco no braço dele. A Bianca tem apenas cinco centímetros a mais do que eu.

- Eu tenho quinze anos, idiota.

- Ai, ai. Eu preciso voltar para o meu sono da beleza, amanhã eu vou viajar para New York, e deixo essa criatura toda para você.

- Ah, que legal. – não consigo disfarçar a falta de animação, o que faz a Bianca rir.

- Fê, vem cá rapidinho. – ela me chama, enquanto caminhamos até o apartamento dela.

- O que você quer falar comigo?

- É sobre o Danilo. Você vai ser a vizinha dele, então eu quero te avisar algumas coisas. – ela faz uma pausa para ver se o Danilo está por perto ou não – Ele fica bêbado toda semana, se bobear, quase todos os dias. Ele provavelmente vai tentar entrar no seu quarto, já que ele parece gostar de você. Então não chame a polícia caso isso aconteça. É só dar um calmante e ele dorme por horas.

- E quem disse que eu vou deixar a porta aberta para bêbados?

- Você abriu a porta para ele enquanto ele fugia de mim...

Por que diabos eu fui o deixar entrar! Agora eu vou ter que aturá-lo bêbado.

- O que mais eu preciso saber?

- Aqui tá a cópia da chave dele, se a música estiver alta, ou se ele não sair do apartamento por muito tempo, você entra.

- Como diabos eu vou saber se ele sai ou não do apartamento?

Ela para de falar por um minuto e pensa.

- É, você tá certa, mas mesmo assim. Boa sorte e paciência. Esse guri é muito irritante de vez em quando, mas uma vez que ele vai com a tua cara, ele não larga do seu pé.

- Ah, valeu. E boa vigem pra você.

Assim que a Bianca volta para o apartamento dela, eu expulso o Danilo do meu.

Passo o resto do dia arrumando as minhas coisas. Decidi que o quarto vazio vai se tornar a minha biblioteca. Já encomendei as estantes e material escolar.

No almoço, faço um miojo para mim ao alho e óleo e bebo água. A campainha soa novamente.

- Fernandinha, ainda de pijama? – diz o Danilo ainda sem camisa e com a mesma bermuda de antes, e a mesma cueca box preta. Sim, eu notei até a cueca dessa criatura sedutora.

- Tá se incomodando com isso?

Ele dá um sorrisinho safado.

- Não mesmo.

- O que você quer?

- Tô sentindo cheiro de miojo.

- Eu tô acabando de comer o meu.

- Pode fazer um pra mim.

Eu entendi direito isso? Ele quer que eu faça comida para ele? Eu. Fazer comida. Para ele. Não sou cozinheira não, o que ele tá pensando.

- Por favor, Fernandinha, eu tô morrendo de fome e não sei cozinhar, nem mesmo tenho comida aqui, e a Bianca não me deixa entrar no apartamento dela.

- Pede comida, então.

- Tô pedindo.

Ele é lento pra caralho.

- Quero dizer, para um restaurante.

- Não, eu não tô achando meu celular. Tá em alguma mala, mas não sei qual.

Ele insiste por uns cinco minutos, e o meu miojo esfriando, então decido fazer miojo para ele também. Enquanto eu cozinho, ele fica atrás de mim perguntando por que diabos eu não usei aquele pó que chamam de tempero.

- Fica com gosto ruim. Eu faço meu miojo com um tempero diferente.

Tempero o miojo com um sal grosso com ervas – e não, não são as ervas que você está pensando. Eu não sou drogada. Depois passo na manteiga e pronto. Coloco tudo no prato dele.

Acabo de comer o meu e ele devora o dele tão rápido que acaba antes de mim.

- Caralho, isso é muito bom, Fernandinha!

- Folgado.

Ele ri alto.

- Só percebeu agora? – ele ri mais um pouco e então para. – Posso te pedir um favor? – ele faz a carinha de cachorrinho pidão.

Suspiro. Ele tem olhos castanhos bem sedutores. O cabelo preto e meio encaracolado, a pele clara e uma barbinha rala. Alto, musculoso – mas ou menos. E a risada... Cara, essa risada é contagiante. É o tipo de risada que faz você sorrir ao escutar. E a carinha de cachorrinho pidão se torna impossível de ignorar.

- O que?

- Você já acabou de arrumar as malas?

- Quase tudo, mas o que falta eu só vou poder terminar no final da semana.

- Ah...

Ele não fala mais nada. Eu fico aguardando. Pego nossos pratos e começo a lavar. Bebo um copo d’água e ele finalmente resolve me dizer algo.

- Quer conhecer Londres comigo?

- Oi? – falo tossindo. Eu me engasguei.

- Eu conheço aqui, mas não muito, e nem você. Então vai ser menos vergonhoso nos perdemos juntos do que separados.

- Tá, mas espera uma hora que eu preciso tomar um banho.

- Uma hora? Meu... Garotas nunca mudam.

Reviro os olhos e empurro-o para fora do meu apartamento. Ele está sorrindo, ô sorriso lindo. Dentes branquinhos, enfileirados...

Tomo um banho relaxante e coloco uma calça jeans desbotada e uma blusa de manga comprida branca com um filhote de panda na frente.

Pego meu celular. Nenhuma ligação dos meus pais. Imagina se o meu avião tivesse caído? Eles nem teriam se preocupado, porque pensariam que eu estava em Londres, de boa, curtindo a vida do jeito que eles querem.

- Fernandinha, já deu uma hora e meia! – o Danilo bate na porta, resmungando feito um velho de oitenta e nove anos, com fome e insônia.

Saio do apartamento e começamos a andar por Londres. Aqui é limpo, as pessoas são “educadas”, mas na real, que tanto maconheiro é esse? Nem no Brasil tem tanto assim. E ainda está de dia.

- Quer ir ao London Eye? – ele pergunta, apontando para o monumento.

- Hoje não, a gente tá andando há quase três horas, e eu tô ficando cansada.

Ele tenta não parecer desapontado.

- Quer voltar para o prédio?

- Quero, mas eu não sei para onde ir.

- Eu também não.

Já escureceu, mas não encontramos mais o prédio. Eu lembro vagamente nome do prédio, então entramos no taxi e demos as coordenadas. O Danilo cochila no taxi. Ô menino preguiçoso. E quem está cansada sou eu, não ele.

Quando o taxi chega ao nosso prédio, dou o dinheiro ao taxista e puxo o ser humano desacordado até a porta do apartamento dele.

- Ô Danilo, acorda aí, porra. – cutuco-o.

- Argh. Porque não me deixa dormir?

- No corredor? Em frente à casa do velhote com cara de pedófilo? – é verdade, gente, o velho tem cara de pedófilo. Eu fiquei até com medo quando cheguei aqui e dei de cara com ele.

Nada como as palavras mágicas para ele levantar do chão, se despedir, me dar um beijo na bochecha e entrar no apartamento com cara de zumbi.

Até que, no final de contas, ele não é tão chato quanto eu pensei. Mas é folgado, preguiçoso, relaxado...


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