Qual o problema em ser responsável? Qual o problema de se prevenir contra problemas que estão óbvios que vão acontecer? Qual o problema de estudar ao invés de sair para beber? Qual o problema em se preocupar com o futuro e não com sexo 24 horas? Nenhum problema. Mas para meus pais, responsabilidade é um problema grave. Talvez por que eles são liberais, ausentes e adoram aproveitar as noites em um bar. Então, com a ausência deles, eu me tornei responsável, e de vez em quando eu cuido de um deles, se não dos dois, quando eles aparecem bêbados aqui em casa.

  Eu acho que eles querem que eu seja que nem os outros adolescentes imbecis, que fazem festa toda vez que os pais saem de casa, ou que bebem escondido até não aguentarem mais, ou que transam com qualquer pessoa que aparece pela frente. Mas não sou. Nunca bebi, nunca fiz alguma festa, nunca transei. A única vez que eu namorei durou dois anos, e então eu descobri que estava sendo traída. Depois disso, nunca mais.

  Pais normais ficariam orgulhosos de ter uma filha como eu, então porque diabos meus pais querem me transformar em uma garota imbecil? Nunca vou entendê-los.

  Ainda me lembro da conversa que tivemos horas atrás.

#flashback on.

  - Fernanda, eu e seu pai decidimos mandar você para Londres para você fazer o ensino médio por lá. Aproveitar a vida, curtir bastante, arranjar um namorado... - Estava ficando boa a conversa, mas então ele começou com os interesses dele. Claro, estupidez a minha pensar que eles vão me mandar à Inglaterra para eu ter um ensino médio melhor do que eu teria se ficasse no Brasil. Eles só querem me mandar para lá para ver se eu me torno que nem eles.

  - Filha, pensa só, um apartamento só seu, olha que maravilha. – meu pai começa a apontar os pontos positivos, mas eu o ignoro completamente.

  - Eu quero ir à Inglaterra, mas para melhorar o meu histórico escolar e ter melhores condições para um emprego bom no futuro, não para virar uma adolescente babaca que só pensa em beber e transar.

  - Querida, nós não queremos que você se torne esse tipo de menina – estou sabendo das suas intenções, pai. – Só queremos que você curta a vida, faça amigos, tenha um namorado até.

 Desisto de tentar argumentar com eles. Vou direto ao ponto.

  - Quando eu viajo?

  - Ano que vem no dia vinte e cinco de julho. – minha mãe responde.

  - Ok, eu concordo em morar na Inglaterra, mas eu quero que vocês ajam com prudência enquanto eu estiver lá.

  - Querida, eu e seu pai somos muito prudentes.

  Para não discutir mais com eles, vou para o meu quarto e não saio de lá.

#flashback off.

  Daqui a três dias é o dia de sair do Brasil. E então, vou passar três anos na Inglaterra. A única coisa que meus pais me deram além do apartamento em Londres foi um cartão de crédito ilimitado. Ah, esqueci-me de avisar, minha família é rica, mas isso não é tão legal quanto parece.

  Bem, deixe-me apresentar. Meu nome é Fernanda Martin, tenho quinze anos, olhos castanhos, cabelo castanho escuro, liso, e sou baixinha demais para o meu gosto – 1 metro e 50 centímetros, apenas. Vida cruel, não é mesmo?