O que ela estava fazendo aqui? Minha mente rodeada de perguntas,  as quais eu não tinha uma resposta com nexo se quer. Olhando suas roupas vi o quantos estavam rasgadas e sujas, sua blusa verde escura estava com manchas de sangue, pequenas gotas. -ela devia ter se machucado-. Sonya usava uma calça jeans rasgada e estava descalça, os cabelos um emaranhado só, sua pele suja e ela cheirava mal. Sua feição era de puro medo e mais alguns sentimentos que não pude destacar na hora. 

-Eu preciso falar com você Rosemarie. -eu mal reconheci sua voz, ela dizia sussurrando e meio rouca. 

-Vamos entrar logo...

-Ninguém pode saber que estou aqui. - ela falou me fazendo recuar, sua aparência era de alguém saída de um holocausto. 

-Tudo bem, me siga então. Aqui esta muito frio. 

Entrei com ela e olhei em volta pra ter certeza que o caminho até meu quarto estaria livre. Alguma coisa dentro de mim dizia que seria melhor se Dimitri não soubesse de nada, e como essa situação estava bem inusitada, decidi que seria melhor conversar com ela a sós, deveria ser muito importante para ela estar aqui na minha casa. 

Quando chegamos ao pé da escada ouço passos vindo na nossa direção, murmuro para ela se esconder, a mesma fica debaixo da escada já que a luz não chegava naquele canto. Me deparei com Stan, ele vinha com um livro em uma das mãos e um copo de suco na outra. Devo dizer que ele era bem diferente quando estava de folga.

Ele me encarou por um minuto e levantando uma sobrancelha falou. -O que esta tramando Hathaway? 

-Nada guardião Alto.- falei parecendo convincente. 

-Por que esta parada em frente a escada? - ele não escondia a frustração na voz. 

-Estou na minha casa. 

-Claro. - ele continuou andando mas antes de sair totalmente da minha vista o ouvi comentar. -Espero que não faça nenhuma bobagem Hathaway. 

Cara, eu sei que adoro aprontar e fazer planos loucos, mas ninguém tinha fé em mim não? Revirei os olhos e vendo que ele estava fora do alcance fiz sinal para Sonya continuar me seguindo. 

Quando chegamos no corredor tive sorte por agora ser a troca de turnos dos guardiões, então não teria ninguém por perto por alguns minutos. Entramos no meu quarto e tranquei a porta, até por que Abe tinha mania de entrar sem bater. 

Me sentei na cama e ofereci a Karp um lugar, ela parecia distraída, se sentou do meu lado e tentei soar paciente. 

-Então? -perguntei cruzando os dedos. - O que faz aqui? Pensei que estivesse sido sequestrada. 

-Eu fui. - sua voz era de puro medo ao se lembrar desse detalhe. -Mas consegui escapar. Não era para isso ter acontecido Rosemarie. 

-O que? Como fugiu de onde quer que estivesse? 

-Bom. - ela hesitou, seu olhar estava longe do meu. Ela olhava para suas unhas quebradas enquanto tentava formular a frase. - Consegui um brecha, eu iria falar com a pessoa responsável pelo meu sequestro, mas antes de chegar eu bati na mulher que me levava e pude sair correndo. Eu saí por uma porta que deixaram aberta. Um grave descuido. - essa ultima parte ela falou mais pra ela do que pra mim. 

-Espera. - falei - Que mulher? 

-Não sei, ela estava com o rosto coberto, apenas vi seus cabelos negros. -essa parte me intrigou muito, eu tinha quase certeza que conhecia alguém assim, mas muitas pessoas tinham cabelos negros, talvez fosse minha mente me pregando peças. Deixei ela continuar.

-Entenda uma coisa Rosemarie. - ela falou pegando em minhas mãos. -Não era minha intenção ajudar com isso. 

-Isso o que Sonya, me explica direito... 

Antes que eu pudesse terminar a frase ouço batidas na porta.

-Roza? - oh droga esqueci do treinamento. -Tudo bem com você? 

Sonya me olhava como se implorasse para mim, ela sussurrou perto do meu rosto - Por favor, ninguém pode saber que estou aqui. 

Revirei os olhos - Está sim camarada, desculpe por não ter ido no treinamento, eu... eu estou com dor de cabeça. -Karp balançava a cabeça positivamente e dava um pequeno sorriso triste de canto.-Eu vou dormir um pouco. 

-Oh, tudo bem então. Boa noite Roza. -sua voz era de preocupação, tenho certeza que ele poderia ajudar, mas achei melhor fazer o que Sonya me pedia.

-Boa noite camarada. -logo que ouvi ele se afastar, voltei minha atenção para minha professora. - É melhor explicar direitinho toda essa historias Karp.

Ela assentiu e respirou fundo antes de começar. -Antes de mudar pra cá, eu morava na Turquia, como você deve saber é o local de origem do seu pai... - eu assenti olhando-a de lado - Eu trabalhava em um hospital psiquiátrico, e... -vi seus olhos marejarem- Eu não estava bem, tive alguns surtos, bipolaridade e com isso quiseram me prender naquele lugar horrendo. Mas graças ao.. -ela parou de falar e fitou meus olhos.

-Meu pai. - terminei e ela assentiu, parecia envergonhada.

-Quando o conheci nós nos apaixonamos a primeira vista, eu disse a ele que se tivessem provas o suficiente eu iri acabar em um dos quartos imundos daquela clínica, mas Abe não permitiu, ele tinha muitos contatos e logo pude sair da Turquia. Só que descobri que ele estava para casar... - ela parou de falar e fechou os olhos, as lembranças inundavam sua mente, acho que ela ainda gostava do meu pai. -Mas quando eu soube já era tarde de mais. Aconteceu umas coisas e quando Abe descobriu ele ficou muito feliz e ao mesmo tempo sabia que era  a ultima coisa que deveria ter acontecido... Ele amava tanto sua mãe Rose. 

"Amava tanto que traiu ela." Pensei mentalmente. 

-Mas escute Rose, ele não teve culpa, era mais forte que ele e eu também. Quando nos mudamos para cá seu pai chegou para mim e disse que queria acabar tudo entre nós pois soube que sua mãe estava gravida de você e ele não iria abandona-la. Eu o amava e ainda o amo muito então achei melhor deixo-lo ir para que pudesse ser feliz. 

Eu estava sem reação, era informação demais pra mim, eu queria saber o que havia acontecido e pra isso deixei que ela continuasse sem perguntar nada. 

-Depois de algum tempo sem vê-lo, um homem veio até mim dizendo que ele estava em perigo e eu era a unica que poderia ajudar. 

-Que homem Sonya? - ela abaixou a cabeça mas acabou respondendo em apenas um sussurro. 

-Você o conhece. Seu nome é Yuri.

"Oh, é um dos guardiões mais leais do meu pai." Pensei comigo, notei que ela engoliu em seco antes de prosseguir. 

-Ele me disse que eu precisava ajudar Abe. E foi obvio minha resposta. Perguntei o que precisava fazer e ele disse que teria que matar alguém. -vi lágrimas começarem a cair de seus lindos olhos. - Eu juro que não sabia que era ela, não era minha intenção Rose. Me perdoe por favor. 

-Do que esta falando? Quem você matou? -estava realmente ficando preocupada, o que estava acontecendo aqui? Ela deu de ombros a  minha pergunta e abaixou a cabeça. 

-Eu apenas... - ouvi seu soluço que ela tentou conter mas foi inútil. Coloquei a mão em seu ombro, ela levantou os olhos para mim e gaguejou. - Apenas... atirei nela.

Nesse momento me levantei da cama, meu sangue gelou e parei de respirar. Senti o ar sendo retirado de meus pulmões e uma tontura me atacou, cambaleei para trás e bati em minha mesinha onde ficava algumas maquiagens, que aliás caiu no chão fazendo barulho de vidro. Eu não queria acreditar nisso. Yuri mandou matar minha mãe? Não, não pode ser. Simplesmente não dá pra acreditar.  

Vi Sonya se aproximar mas eu levantei as mãos para cima assim ela saberia que não deveria se aproximar. 

-Me perdoe Rose. Me perdoe. Nunca foi minha intenção... - ela dizia enquanto chorava, eu podia ver a sinceridade na sua voz, mas eu não queria pensar que Sonya Karp fosse apenas mais uma vitima, pois ela não era. Mesmo tendo sido enganada, ela matou minha mãe.

-Eu juro que se você se aproximar Sonya... - não consegui terminar a frase. -Por que Yuri faria isso? 

-Enquanto eu estava presa naquele local infernal ouvi uma conversa no telefone, era um homem, ele dizia que o plano estava acontecendo sem nenhuma interferência. Rosemarie me escute... - ela se aproximou e dessa vez não recuei, ainda olhava para baixo, não conseguia olha-la nos olhos. -Yuri apenas me mandou matar sua mãe...

-O que quer dizer com isso? - perguntei de forma brusca com os olhos cheios de lágrimas.

-O plano de mata-la já estava sendo arquitetado. Pense bem Rose. Alguém que planejou a morte dela, na verdade era apenas uma peça para chegar até você

Arregalei os olhos, eu era o objetivo o tempo todo.Ouvi outra batida na porta e então a voz de Stan ecoou.

-O que esta acontecendo ai Hathaway? Ouvi um barulho, esta tudo bem? 

Olhei para Sonya como se fizesse a mesma pergunta. 

-Ainda tem outra coisa pra te falar Rosemarie. Por favor... -ela suplicou e eu não podia recusar.

-Sim guardião Alto - percebi minha voz vacilar, pigarreei e falei mais firmemente. -Apenas derrubei minha maquiagem. 

Não obtive resposta apenas vi na sombra por debaixo da porta que ele se afastou. Suspirei aliviada. Mas lembrei da presença de Sonya Karp em meu quarto e logo essa sensação de alivio se esvaiu. 

-O que tem que contar ainda Sonya? Diga logo antes que eu me arrependa. - falei entredentes. 

Ela apertou os olhos e se sentou novamente na cama, enquanto olhava para baixo falou a ultima coisa que eu esperava ouvir no momento. 

-Seu pai acabou me engravidando Rose. -Oh não!- 

-O que? - minha voz saiu como um sussurro, quase não sendo ouvida. -Eu tenho uma meia irmã então? 

Ela assentiu e então falou. -Minha sobrinha Avery... ela não é minha sobrinha. 

-Ah inferno. - exclamei alto enquanto levantava os braços. - Avery é minha irmã.