Paradoxo Temporal: A Origem De Ginmaru escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 7
Crianças não deveriam participar...


Notas iniciais do capítulo

... De rituais assustadores.



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 Ao ouvir a sentença da velhinha, Gintoki ficou ainda mais apavorado. Queria sair dali correndo, que se danasse o pagamento! Arranjaria outra forma de ganhar dinheiro, caçaria outro serviço, afinal... Sempre existiria um serviço que poderia ser feito por um Yorozuya.

Pra piorar ainda mais a situação, Ginmaru disparou a chorar de fome. O que deveria fazer agora?

Saiu correndo, com a ideia de realmente fugir dali e vazar pra longe, o mais longe que poderia ir. De preferência, pra casa. E logo.

Sua scooter estava logo após a cerca, mas não conseguiu chegar até ela, pois algo o repelira e o jogara para trás, fazendo-o cair sentado.

- O-O que é isso...? – olhou para trás apavorado. – Seja lá o que for, estamos encrencados, Ginmaru...!

Nisso, a velha Fukuda e as crianças do orfanato começaram a se aproximar de pai e filho. Mesmo sentado, Gintoki recuou suando frio. Ajeitou Ginmaru, mudando-o das costas para o peito, procurando protegê-lo com a mão esquerda enquanto empunhava a espada de madeira e a apontava para o grupo que andava como um exército de zumbis.

Pensou em distribuir pancadas com a espada, mas hesitou. Seria uma tremenda covardia fazer isso com crianças. Pareciam zumbis, mas estavam vivas, assim como a velhota.

Como poderia se defender do que poderia acontecer? Aliás, não fazia a mínima ideia do que poderia ocorrer.

Engoliu seco, à medida que aquele monte de crianças se aproximava, com as mãos querendo agarrá-lo de qualquer maneira, até que conseguiram e ele deu um grito de puro pavor. Em seguida, sentiu uma forte pancada na cabeça e tudo ficou escuro.

*

Acordou após alguns momentos dentro de uma sala escura. Mal dava pra se ver um palmo adiante do nariz ali em meio ao breu total. Sua cabeça ainda latejava enquanto seus olhos procuravam se adaptar à escuridão e seu instinto de samurai começava a reaparecer.

Respirou fundo, procurando se acalmar, mas já percebeu que Ginmaru não estava com ele. Algo lhe dizia que isso não era nada bom. Assim como não era nada bom estar desarmado. Quem pegou o bebê, com certeza havia levado embora sua espada de madeira também.

Levantou, tateando as paredes até encontrar um interruptor, com o qual acendeu a luz do recinto. A sala na qual estava revelou-se vazia, sem ter nem mesmo um móvel, apenas um cheiro insuportável de mofo devido à umidade.

Enquanto seus olhos procuravam se readaptar à claridade, perguntava-se a razão de estar ali. Pareciam ter algum estranho interesse em Ginmaru, a julgar pela forma com a qual a velha olhou para ele.

Segundo a velha, Ginmaru era um bebê “exótico”. Geralmente as velhas sempre dizem que bebês são fofos, não exóticos. O que aquele moleque tinha de tão exótico nele? E que mulher em sua sã consciência lhe diria que era um “rapaz charmoso”? No máximo, no máximo, diriam que era “diferente”, pela permanente natural prateada e pelo olhar de peixe morto... Isso se não dissessem que ele era um completo esquisitão.

“Espera um pouco...”, o Sakata pensou. “A velha olhou para o meu cabelo e para o do Ginmaru! Por que ela estava tão interessada em nós? Claro, aí tem coisa, e eu vou descobrir!”

Avistou uma porta toda cheia de fechaduras, trancas, travas e até selos com inscrições de invocações de magia escritas a nanquim.

Estranho selarem a porta por dentro, ela se abrir para fora. Vai entender a atual arquitetura...

O Yorozuya queria entender o que estava acontecendo, custasse o que custasse. Começou a ouvir o choro de Ginmaru, e era um choro fora do comum. Não era de fome, nem de fraldas sujas e muito menos de cólicas, que aprendeu a decifrar na marra. Esse era de desespero mesmo, de tão estridente que era.

Será que estavam fazendo covardia com o menino? Não poderia deixar isso acontecer! Ainda mais que ele tinha apenas poucos dias de idade!

Tomou distância da porta, recuando até a parede oposta e depois se impulsionou, correndo para colidir com ela, que não cedeu. Tentou de novo, e de novo, até que arrebentou a fechadura.

Pra arrematar, deu um potente chute na porta, que se abriu por completo, arrebentando qualquer coisa que a mantivesse fechada.

A alguns metros de distância, viu a velha e as crianças assustadoras do orfanato fazendo um círculo em volta de uma almofada rodeada de velas, na qual estava o bebê albino, que chorava completamente apavorado. À frente da criança, aquela mesma menina assustadora com uma faca na mão, prestes a desferir um golpe no inocente bebê Sakata.

Não pensou duas vezes e correu disparado até alcançar Ginmaru e entrou na frente da menina com a faca, disposto a tomar uma facada nas costas. O importante era o filho não sofrer nenhum dano. Abraçou-o de forma protetora e fechou os olhos, esperando sentir a lâmina ser cravada em seu corpo...

- Ginmaru... – disse. – Seu pai não vai deixar ninguém te fazer mal... Eu vou te proteger!

... Mas isso não ocorreu. Tudo ficou em silêncio, o que fez com que Gintoki estranhasse a súbita quietude ao seu redor e abrisse os olhos.

- E então, crianças – a velhinha falou de forma afável. – É assim que um pai reage quando o filho está em perigo. Não importa se ele é biológico ou adotivo, ele vai sempre protegê-lo de qualquer perigo e nunca abandoná-lo. É um instinto criado pelo laço afetivo que existe entre os dois.

O albino olhou completamente desnorteado para todos os rostos ao seu redor. Não havia ninguém ali com cara de zumbi como antes e a velhota arrumava seu cabelo e o prendia num tradicional penteado japonês. Claro que ela ainda era bem decrépita, mas não era mais assustadora como antes.

Mas que diabos estava acontecendo ali? Por que tudo mudara de repente de um lugar digno de filme de terror para um ambiente agora acolhedor? O que foi que aconteceu ali com ele e Ginmaru?

Mesmo completamente confuso, tentava se acalmar e também ao bebê. Esperava por uma explicação, mas não conseguia berrar e reclamar como sempre. Estava mais preocupado com o menino, que aos poucos parava de chorar.

- Yorozuya-san – a senhora Fukuda disse enquanto fazia uma humilde mesura. – Por favor, peço para que me perdoe por isso. Não queríamos que você ou o seu filho saíssem feridos ou com qualquer tipo de dano. A minha intenção era ensinar a estas crianças que os verdadeiros pais são aqueles que os protegem e os amam, e apenas palavras não os convenceriam. A grande maioria destes pequenos foi abandonada por aqueles que deveriam protegê-las. Com isso, acreditam que qualquer adulto fará a mesma coisa após adotá-las.

- E foi pra isso que fui chamado na verdade?

- Na verdade, eu estive observando você por alguns dias. Mesmo não levando muito jeito para ser pai, você parecia se esforçar bastante para cuidar do bebê. Sabe, eu aproveitei para chamá-lo para realmente fazer o serviço de jardinagem, mas percebi uma oportunidade de mostrar às crianças que nem todo adulto é como elas pensam. Para isso eu me utilizei de vários artifícios.

- Poderia ter me avisado disso, assim nem eu e nem o Ginmaru estaríamos tão assustados como ainda estamos!

- Não seria bom. Porque os meninos logo perceberiam que era encenação. Mas do jeito que foi, apesar de assustar a você e ao seu filho, acabou os convencendo. Pode ver isso no rosto de cada um. Eles ficaram impressionados.

A idosa tinha razão. As crianças demonstravam mesmo admiração. O monte de impropérios que pensava em dizer a ela acabou sumindo, assim como o choro do pequeno Ginmaru, que adormeceu.

- Sakata-san – Fukuda Akemi prosseguiu. – Eu acredito que você é um homem esforçado e que vai ser um bom pai. – sorriu ao ver Ginmaru dormindo placidamente. – Ele vai crescer forte e será feliz... Assim como eu quero que estas crianças, que estão sob minha responsabilidade, sejam quando tiverem uma nova família.

- Não sou tão grande coisa assim, vovó. – Gintoki contestou. – Eu sou apenas um homem que fez um filho por acidente e que descobre que a mãe dele morreu no parto. Não sei se vou ser capaz de cuidar tão bem dele como diz.

- Você está aprendendo rápido. A vida em família é um aprendizado, meu jovem. Ainda há muitas lições a serem aprendidas com o tempo. Você só está começando.

*

A noite começava a se pôr quando Gintoki, em sua scooter, percorria devagar o caminho daquele orfanato para sua casa. Não acelerava como normalmente fazia, pois queria evitar que os solavancos assustassem Ginmaru.

Apesar do pavor que passou naquele lugar e a posterior raiva, que foi engolida ao perceber que aquilo fora por uma boa causa, aquilo o fizera mudar definitivamente de ideia quanto a entregar aquele menino à adoção. Ele não queria mais fazer isso. Preferia ficar mesmo com o filho e dar a ele o que não teve: uma infância sem ter que precisar lutar tanto pela sobrevivência.

Apesar de tudo, havia recebido uma boa grana, não só pelo serviço, como pela generosidade da velha Fukuda, além de uma lição em sua memória: continuar sendo o pai esforçado que tentava ser, mesmo com suas trapalhadas.

Com tão poucos dias que eles se conheceram, começava a existir uma forte ligação entre os dois. Tudo indicava que eles poderiam se dar muito bem como pai e filho.


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