Paradoxo Temporal: A Origem De Ginmaru escrita por Vanessa Sakata
O trio formado por Katsura, Tsukuyo e Gintoki – que continuava com a cabeça enterrada no chão e de pernas pro ar – estava cercado pelos soldados enjilianos, que correram até ali por ouvirem o nome do albino. Todos estavam prestes a desembainhar as espadas e o mesmo soldado que interrogara Katsura antes perguntou:
- O que vocês sabem dele?
Katsura, encarnando mais uma vez Zurako, questionou:
- De quem?
- Do homem chamado Sakata Gintoki!
- Eu não ouvi esse nome.
- Não se faça de surda, madame! A sua companheira gritou isso ao amante dela!
- Desculpe-me interferir, mas eu não disse “Gintoki”. – Tsukuyo interveio. – Eu disse “Kintoki”.
- Mmfmm...! Mmmfffff... Mmmmm...! – o Yorozuya continuava com a cabeça enfiada no chão e acenava com a mão, como se concordasse com a loira.
- Você... Não vai tirá-lo dali? – o soldado perguntou para Tsukuyo.
- Ah, claro, claro...! – Tsukuyo riu nervosamente. – Zurako, pode me ajudar?
Os dois puxaram Gintoki pelas pernas, e incrivelmente o maior temor deles não ocorreu. Inacreditavelmente, o Yorozuya estava com o cabelo tão sujo de terra que seus cabelos ficaram meio dourados, disfarçando sua cor original. Ele percebeu e acabou entrando no personagem:
- Ei, Tsukky...! – disse massageando o pescoço ainda dolorido. – Esses seus ataques de pudor exagerado ainda vão me matar...!
- Oh, Kintoki, me perdoe...! – Tsukuyo se esforçava em bancar a atriz. – Isso foi completamente impensado...!
Nisso, o trio se viu completamente sozinho ali na rua. Os soldados do Governo Central simplesmente evaporaram. Mesmo disfarçados, eles voltaram às suas personalidades normais e suspiraram aliviados.
Fora por pouco. Por muito, muito pouco eles não foram pegos.
*
- Agora vocês estão seguros. – Shinpachi procurava transmitir uma calma que não sentia. – Mana, fica de olho no Kondo-san, enquanto o pessoal do Shinsengumi não aparece. E não saia daqui por nada deste mundo.
- E você, Shin-chan? – Tae perguntou. – Aonde vai?
- Tenho que ir atrás do Ginmaru. Ele se perdeu da gente enquanto fugíamos do Kasler.
- Shinpachi-kun – Kondo disse ainda fazendo careta de dor por conta dos ferimentos. – Não acho que ele tenha se perdido, mas que ele tenha se separado de nós de propósito.
- Eu sei que ele fez isso. Ele é bem impulsivo, como o pai. E não vai desistir enquanto não achar o Gin-san.
O Shimura, munido de sua katana, virou-se e saiu do local usado como esconderijo. Porém, a voz de Kondo se fez ouvir novamente:
- Shinpachi-kun, se cuida. Quero que volte para que eu possa te retribuir da melhor forma por ter salvado a minha vida.
- Kondo-san, só a sua gratidão me basta.
- Eu sei, mas faço questão de uma retribuição, e...
- Ele vai voltar. – Tae interrompeu o Comandante do Shinsengumi.
- Não se preocupem – o jovem Shimura disse enquanto rumava seu caminho. – Eu vou voltar.
*
Logo que o trio chegou a um esconderijo em Yoshiwara, Gintoki já encontrava alguém completamente indesejado. O albino já foi logo agarrando o sujeito com violência pelo quimono e botando-o literalmente contra a parede.
- O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI, TAKASUGI?
Takasugi Shinsuke nada respondeu, apenas manteve seu semblante inalterado, deixando o mais sangue-quente do antigo quarteto Joui ainda mais irritado.
- ME RESPONDA, DESGRAÇADO! O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?
O homem não abrira a boca, e Gintoki estava cada vez mais furioso, ameaçando dar-lhe um soco na cara – o que poderia causar-lhe um estrago considerável, já que o albino era maior e mais forte. Foi quando Takasugi perguntou:
- Ainda está assim por causa daquela pirralha Yato?
O Sakata nada respondeu. Largou Takasugi, tentando se controlar. O infeliz tinha que meter o dedo nessa ferida. Mas Gintoki não reagiu. Deu-lhe as costas e foi para outro cômodo da casa que servia de esconderijo.
Havia outra ferida na qual Takasugi também enfiara o dedo.
- Você é um idiota, Takasugi. – Katsura o encarou de forma reprovadora. – Não é só por causa da Líder que ele tá assim.
Após um breve momento de silêncio, Katsura acrescentou:
- Ao que parece, você está parado oito anos no tempo. Não sabia que Gintoki, nesse meio-tempo, arranjou um filho?
*
Agora era inevitável. Por mais que não quisesse fazer aquilo, estava fazendo. Em frente ao espelho, terminava de colocar sua “nova-velha” indumentária e, naquele momento, colocava em sua testa uma bandana branca.
Era como se estivesse revivendo todo o seu passado, que fora desenterrado à força. No espelho, sua imagem era a mesma de vários anos atrás, a não ser pela idade e pelo cabelo mais curto. De resto, aquele traje fora capaz de trazer novamente à vida o lendário Shiroyasha, que estava escondido por trás do encrenqueiro Yorozuya.
No entanto, sentia que aquele traje e aqueles apetrechos já não lhe caíam bem. Antes, era apenas um rapaz que não pensava em mais nada a não ser em lutar e dar vazão ao seu instinto assassino, justificando sua temível fama como o Demônio Branco. Após isso, saiu como um dos derrotados da guerra da qual participara quando integrava o Joui e caiu no total esquecimento, largado à sua própria sorte.
Por anos, Gintoki queria enterrar para sempre essa parte de sua vida e apenas guardar em sua memória tudo a partir do momento em que passara a viver em Kabuki. Era a melhor parte de sua vida toda, mesmo que houvesse alguns percalços e alguns perigos... Mas nada que o fizesse voltar a ser um andarilho desamparado.
Odiava guerras como aquela. Sabia perfeitamente o que era perdido em um campo de batalha. Perdera amigos, companheiros, e vira inocentes sendo vitimados em tudo aquilo. E sobreviventes passando por tudo o que ele passara.
E agora havia um horror a mais nessa guerra na qual se metera. Sabia o real temor quanto ao risco de perder alguém do seu sangue. Ou de deixar alguém realmente sozinho.
Não saía de sua cabeça o momento em que era arrastado para ser preso e que via Ginmaru indo às lágrimas querendo fazer alguma coisa para evitar tudo aquilo. Nunca pensou que aquela “frescura” de dor da separação fosse realmente uma dor de verdade.
Desde o começo, se apegara muito ao filho. Fora uma grande surpresa descobri-lo numa cestinha à porta da Yorozuya e depois saber que de fato era pai daquele bebê albino. Nos primeiros dias, já começara a ter um apego muito grande àquele menino, ao qual dera seu nome de família... Pois Ginmaru era a sua família de sangue.
Oito anos se passaram, muitas coisas aconteceram nesse período todo. Suas primeiras palavras, seus primeiros passos... Dava-lhe orgulho também de vê-lo crescer, e até ter domínio de uma bokutou.
Ginmaru era o que ele tinha de mais precioso. Não menosprezando seus amigos, nem a sua “família Yorozuya” e muito menos a sua “família de Kabuki”, mas ter alguém com o mesmo sangue era algo diferente.
Ginmaru era o seu tesouro, que viera de forma inesperada. Mas, mesmo assim, era seu maior tesouro.
E, mais do que nunca, estava disposto a se sacrificar por ele se fosse preciso... Para que os horrores da guerra não o atingissem.
- Gintoki – uma voz o tirou de seus pensamentos. – Vai mesmo entrar nessa guerra?
Ficou em silêncio diante do questionamento de Tsukuyo. A loira sabia que ele não queria realmente entrar nisso.
- Não. – ele, por fim, respondeu enquanto colocava a katana novinha em folha na bainha e, em seguida, na sua cintura. – Mas o Shiroyasha vai.
Gintoki deu-lhe as costas, porém se deteve ao ouvir:
- Vê se não morre. – a Cortesã da Morte disse. – O seu filho precisa de você vivo.
- Não vou morrer.
Assim que respondeu, Gintoki seguiu seu caminho para juntar-se a Katsura e aos outros homens do Joui e do Kiheitai, a fim de irem ao campo de batalha.
O lendário Shiroyasha estava de volta.
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