Paradoxo Temporal: A Origem De Ginmaru escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 22
Um barril de pólvora em Edo




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Em um corredor escuro, um som de gaita ecoava há vários minutos. Era um som melancólico que tomava conta do ambiente, mesmo que de leve. O som provinha de uma das celas, na qual estavam dois homens. Um deles estava sentado encostado à parede e tinha o olhar completamente perdido. Seu companheiro era quem tocava a gaita.

– Zura – um deles disse. – Já chega de tocar essa gaita. Já deu por hoje.

– Não é Zura, é Katsura.

– Que seja.

Katsura se levantou do lugar onde estava sentado. Viu seu companheiro de cela cabisbaixo e ainda abatido. Já fazia dias que estava assim, e isso obviamente não era o seu normal.

– Gintoki – Katsura falou. – Você não tá sendo você mesmo.

O albino assentiu concordando. Realmente, desde que chegara ali não agia como ele mesmo. Não estava motivado a fazer tal coisa. Aliás, não tinha motivação alguma para fazer nada. Apenas levantou a cabeça e encarou seu amigo de infância. Este viu, em seus olhos vermelhos, a razão daquele abatimento.

Eram olhos vermelhos que pareciam tristes. E, a julgar pelo o que testemunhara desde a invasão à Yorozuya e a forma como foram arrancados de lá, arriscava-se a deduzir que era por conta da separação traumática que houvera de pai e filho.

E Katsura estava certo. De fato, era por conta disso. A imagem de Ginmaru às lágrimas não saía de jeito nenhum da memória de Gintoki. Aquilo só reforçava o quão incapaz fora de se libertar daquelas algemas para proteger o garoto do perigo.

Como ele estava? Será que estava se alimentando bem? Será que a velha não estava cobrando aluguel dele? Não teria ficado depressivo? “Bobagem!”, Gintoki tentava se convencer. Ginmaru com certeza estaria melhor que ele. Shinpachi-kun não o deixaria desamparado. E certamente ele conseguiria ajuda para cuidar do menino.

Os cabelos do Yorozuya estavam ainda mais bagunçados do que de costume e estava começando a aparecer a barba por fazer. As olheiras que apareciam denunciavam noites sem sono algum.

E aquilo tudo parecia um pesadelo, mas era bem real. Ele realmente estava preso, realmente trajava roupas de presidiário. E Katsura, apesar de reiterar que Gintoki pertencera ao Joui, concordava com o fato de que sua prisão era de fato injusta.

O líder Joui remexeu em algo que cobria a parede da cela, o que despertou a curiosidade do albino:

– O que é isso? – perguntou.

Katsura, confiante, respondeu:

– O caminho para a nossa liberdade.

– Hã? – o ex-samurai encarou-o intrigado.


*


Desde aquele fatídico dia, Edo não era a mesma. O Shinsengumi seguia em greve, porém todos os homens estavam confinados ao Quartel-General. Porém, para um deles em especial o aquartelamento era a pior ideia que se poderia ter.

– PAREM COM ESSA GREVE, QUE EU NÃO AGUENTO MAIS!

– Fica calmo, Toshi! – Kondo disse. – Temos que esperar a resposta que nosso negociador vai receber.

– Kondo-san...! – Hijikata estava com uma cara de completo desespero e levando as mãos à cabeça. – Mas já tem duas semanas que eu não sei o que é o gosto da maionese, e nem lembro mais como é a nicotina indo à minha cabeça...! EU VOU FICAR DOIDO, KONDO-SAN!!

Kondo, penalizado com seu amigo de longa data, apenas lhe dirigiu um olhar de dó. O pobre Vice-Comandante estava claramente em uma senhora crise de abstinência. Na verdade, era uma dupla crise de abstinência que o moreno sofria pela falta de maionese, cujo estoque no Shinsengumi já acabara há dias, e seus maços de cigarro também haviam acabado.

Ele estava inquieto e não aguentava ficar parado, esperando alguma decisão. O impasse era dos grandes, pois ninguém ali queria se submeter a um governo não reconhecido, embora pouco a pouco conseguissem fazer os remanescentes do shogunato Tokugawa trabalharem a seu favor.

Desde que resolveram ficar concentrados no QG, tudo fora praticamente cortado e reduzido ali. Energia elétrica, água, alimentos... Tudo ali estava mais do que racionado, e os estômagos roncando denunciavam isso.

Nisso, um dos homens acabava de chegar ali, totalmente esbaforido. Kondo levantou-se do seu lugar e perguntou:

– E então...?

– Comandante, temos um problema. – o recém-chegado, que era o negociador escolhido, respondeu. – O Governo Central encerrou os diálogos.

– Como é?

– Kondo-san, nós estamos sitiados. O Governo Central quer que nós encerremos esta greve e que nos entreguemos para sermos presos. Estamos completamente cercados!


*


Encarava a refeição com apatia e nem fazia menção de pegar os hashis para começar a comer. Não que a comida em questão fosse toda encarvoada e quase radioativa, feita por Tae. Desta vez, fora feita pelo próprio Shinpachi, que não queria que Ginmaru fosse um quatro-olhos como ele. Ou melhor, Gintoki iria matá-lo se permitisse que o filho tivesse problemas de vista por conta da comida que Tae fazia.

– Ginmaru, vamos lá! – o Shimura incentivava com um sorriso. – Eu caprichei na comida hoje.

– Sensei – Ginmaru olhava para a comida sem muito interesse. – Você acha que meu pai tá bem?

Shinpachi fitou o pupilo com preocupação. Já fazia alguns dias que ele não se alimentava tão espontaneamente, era à base de muita negociação. Decidira cuidar dele em sua casa, na ausência do pai.

Deixá-lo na Yorozuya era perigoso, diante do momento conturbado que vivia a cidade de Edo. Ginmaru ainda era apenas uma criança e Otose, por conta do bar, não teria tempo nem paciência para cuidar do menino.

Percebia que o garoto sentia muita falta de Gintoki. Na maior parte do tempo, onde um andava, o outro sempre ia atrás. A ligação entre eles sempre fora muito forte, não só por conta do mesmo sangue, mas pelo afeto que tinham um pelo outro.

Gintoki, desde o começo, logo que soube que era o pai de Ginmaru, procurou cuidar bem do garoto, à sua maneira. Claro que ele sempre fora um desastrado, nunca teve lá muita delicadeza e fora algo que praticamente caíra no seu colo.

Ele teve que aprender tudo sozinho. Praticamente, para criar e educar o menino teve que se virar. E achavam que ele seria um desastre como pai. Mas ele não fora. Ele não era um pai perfeito, mas era esforçado.

Shinpachi, durante esses oito anos, percebera tudo isso. Testemunhara isso tudo de perto. E sabia que Ginmaru não se preocuparia à toa com o pai.

E nem o Shimura sabia como Gintoki estava ao certo. Mas o conhecia o suficiente para saber que ele era capaz de se virar em qualquer situação. Afinal, pelo o que sabia sobre o seu passado, ele sempre lutara para sobreviver.

Não seria tão difícil Gintoki lidar com situações assim novamente. Isso, pelo menos, o tranquilizava um pouco mais.

– Ginmaru – Shinpachi, por fim, disse. – Não se preocupe, seu pai vai ficar bem. Se tem uma coisa que ele sabe fazer muito bem é se virar. E, quando ele voltar, vai te dar bronca se você ficar sem se alimentar!

O pequeno Sakata não titubeou e atacou sua refeição. Shinpachi-sensei tinha razão, ele não poderia parecer um moleque raquítico na frente do seu pai.

Nisso, do lado de fora da casa dos Shimura se ouviu um barulhão ensurdecedor. Shinpachi não pensou duas vezes e foi correndo ao portão. Viu, na rua, a maior confusão. Soldados do Governo central corriam atrás de homens do Shinsengumi, que procuravam se defender da investida. E, naquela confusão toda, populares corriam e se escondiam onde era possível.

– O... O que está acontecendo aqui...? – o Shimura perguntou assustado com aquela cena.

Um dos civis, apavorado, respondeu:

– Estamos no meio de uma guerra! O Governo Central acabou de declarar guerra contra o Shinsengumi!


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