This Sadness Is Unbearable escrita por Lasanha4ever


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

música que o Lucas canta para a Luana: Snow Patrol - Open Your Eyes



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Ontem foi dia trinta e um de dezembro. Eu e o Lucas ficamos no telhado do hospício, vendo os fogos, bebendo vodca e comendo pizza. Na verdade, o telhado do hospício é um jardim. É como se fosse um apartamento sem teto. É enorme, cheio de plantas e a melhor vista por aqui. Esticamos um cobertor dele – ele perdeu no ímpar, par – e sentamos ali. A família dele bem que queria que ele passasse o Ano Novo com eles, mas ele não quis. Também, a família coloca-o num hospício e quer que ele continue convivendo com eles? Não dá, né.

Ficamos até cinco e alguma coisa da manhã curtindo os fogos e brincando. E então fomos para o quarto dele, nem tomamos um banho, apenas tiramos a roupa e colocamos nossos habituais pijamas – para mim, uma camisa dele e a cueca box preta, e para ele, apenas a cueca sedutora.

- Luaninha, acorda logo. Daqui a pouco as freiras vão arrombar a porta. – ele dá uma risadinha e me cutuca novamente.

-Me deixa ficar dormindo, baka. Elas que tentem arrombar, porra. E vão ver a minha fúria.

- Furiosa que nem uma gatinha, grande fúria.

- Sou bem perigosa, você é que está me subestimando. Agora volta pra cá, vamos dormir, tá cedo.

Ele resmunga alguma coisa e volta para a cama, deita ao meu lado e me abraça por trás. Sinto sua respiração em meu pescoço e sorrio.

- Sabe, eu nunca imaginei que aconteceria isso comigo. – ele comenta com aquela voz rouca perfeitamente sexy.

- Isso o que?

- Isso entre a gente, sabe. Embora ainda tenha muita coisa que você não sabe sobre mim, e muitas que eu não sei sobre você, estamos aqui, dormindo juntos. E você confia em mim, você não agiu como as pessoas que eu conheci. Não me julgou, não me zoou pelos cortes nem nada.

- Você foi o primeiro que acreditou em mim, além da senhora Dolores.

- Me promete uma coisa, pequena?

Segunda vez que ele me chama de pequena. Meu coração bate freneticamente, e eu sorrio mais ainda.

- Fala.

- Promete que ninguém vai separar a gente. Nada nem ninguém. Nem o nosso passado.

- Prometo. E eu não costumo fazer promessas à toa.

- E nem eu.

- Você tá ferrado. – dou uma risadinha sapeca. Juro que saiu sem a minha intenção.

- Por quê?

- Vou infernizar a sua vida pra sempre.

- Vai nada, você só alegra a minha vida.

Fiquei sem palavras. Ele me dá um beijo no pescoço e eu tremo da cabeça aos pés. Ele ri ao perceber minha reação. Beijo no pescoço é covardia. Escuto-o cantando alguma música calma e durmo rapidamente.

Durante o resto do dia, ignoramos as freiras que tentava nos separar – o que eu não entendo porque nós já somos amigos a quase seis meses, e elas só começaram a nos irritar agora.

- Ei, pequena, vamos ao cinema?

Ele me chamou de pequena de novo.

- Eu vou poder escolher o filme?

- Não, mas eu tenho uma garrafa de vodca pra você.

Pegamos duas garrafas de água lá na cozinha e enchemos com vodca. Voltamos para o meu quarto. Coloco uma calça jeans e uma blusa de manga comprida, azul marinho. O Lucas já está pronto. A bermuda desbotada e cortada – que eu consegui acabar em três dias – e uma blusa de manga comprida com uma caveira comendo.

Ele entrelaça sua mão na minha e caminhamos até o shopping. As freiras olham para nós como se eu fosse o mais vil demônio no mundo e ele fosse a mais inocente vítima.

Já no shopping, ele primeiro entra em uma loja de blusas estilo T-SHIRT e compra algumas – das quais ele não me deixou ver.

- Você é rico? – pergunto espantada ao ver as três sacolas em sua mão.

- Minha família é.

- Mas... Você não disse que seus pais não puderam mais pagar o tratamento, por isso você tá no hospício?

- Eles se recusaram depois que aconteceram algumas coisas durante a minha crise.

- Quer contar?

- Você vai fugir?

- Você sabe que não.

Entramos no cinema, com a pipoca e a vodca e sentamos nas ultimas cadeiras. O cinema está vazio, e os comerciais começam.

- Eu quase estuprei uma garota do meu antigo colégio. – ele fala baixo, olhando para a tela.

- Por solidão?

- Não. Tem dois tipos de crises de bipolaridade. Um você fica depressivo e meio que desesperado para se matar. Outro você fica... Elétrico, tá não é essa a palavra certa, mas é o oposto de depressão. Mas eu estava tanto elétrico quanto irritado, não dormia há dois dias, aí essa garota sempre dava uma de puta, mas na hora de beijar, caía fora, e aconteceu isso comigo. Mas como eu já estava irritado, não a deixei ir embora e - ele para de falar e olha para mim com aquele par lindo de olhos.

- Alguém apareceu para tirar ela de perto ou você conseguiu parar?

- Eu parei, mas foi muito difícil. Foi como se o meu corpo fizesse uma coisa e a minha mente quisesse outra. Depois disso, meus pais começaram a fazer um tipo de prisão domiciliar comigo, mas não dava certo, porque eu nunca sabia quando estava nas tais crises, e nem eles, então nunca me soltavam. Eu quase me matei de desespero, mas também quase matei alguém por raiva.

- E você está tomando os remédios?

- Não.

- Não? – falo um pouco alto demais e ele fica com os olhos esbugalhados, mas depois relaxa e dá um meio sorriso.

- Não preciso deles, pequena. Eu já consigo perceber quando vou entrar em uma crise, e em uma delas, você conseguiu impedir.

- Consegui?

- É, foi na primeira noite que a gente dormiu juntos. Eu já estava começando a perceber os sintomas, então fui pro seu quarto, e melhorei. Senti-me bem melhor, feliz, e sem nenhuma vontade de me matar.

Só percebo quando estou sorrindo quando ele comenta: Adoro quando você sorri assim, até seus olhos ficam brilhando. Ele me dá um meio abraço e volta ao assunto.

- Você é meu antidepressivo, pequena.

- E contra o seu estado elétrico e irritadiço?

- Eu não o tenho tempo, mas eu consigo perceber quando estou começando a ter a crise, aí você me tranca no meu quarto e não me deixa sair dali até eu acabar a crise.

- Ou você toma o remédio.

- Ou isso, mas eu estou tentando vencer a bipolaridade sem remédios.

- Quer ajuda?

- Não vou te expor a tal risco, pequena.

- Ah, qual é, como se eu não soubesse como me proteger de você.

- Não mesmo, e se por um acaso eu tentar te forçar a fazer algo que você não quer, claro, se eu estiver em crise, não se eu te forçar a fazer o dever de casa, você chuta bem forte o meu saco, assim que eu recuar, você sai correndo.

- Posso te ajudar agora que tenho passe livre pra te castrar?

Ele sorri.

- Que tal vermos o filme, hein?

- Ainda vamos conversar sobre isso.

Ele passa seu braços pelo meu ombro e bebe um pouco de vodca, eu também, e matamos a pipoca antes até do final do filme, e passamos o filme todo olhando disfarçadamente para o outro. Ele não para de sorrir, e eu duvido que estou diferente.



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