Seu rosto iluminado pelo luar era tão belo que dava vontade de me encolher, olhos azuis com um céu limpo, brilhantes e tristes, cabelos negros que refletiam o luar como um espelho e pele tão pálida que parecia quase etérea, suas mãos estavam sujas de terra e o simples vestido branco que usava estava esfarrapado e rasgado.

— Tudo bem? — perguntei novamente.

Ela me encarou os seus olhos me penetraram como flechas geladas. Ela engoliu em seco e abriu e fechou a boca várias vezes, como se estivesse se esquecido de como falar.

— Está...Tudo ótimo.

Como?

Uma menina com cara de quem tinha morrido os pais, dizendo para uma princesa que reconhecia a tristeza muito bem, que estava tudo ótimo. Que ousadia.

Eu gostei.

— O que aconteceu? — minha voz quase se derreteu de tanta doçura e meus olhos chegaram a brilhar de tanta preocupação.

Ela me olhou admirada, como se soubesse o que eu queria e me daria tudo o que eu pedisse.

— Viemos para cá com uma garota ,Lennara, ela é linda e poderosa, deu medo em todas nós, todas já encontraram suas amigas e como eu não tinha ninguém resolvi ver se eu conseguiria conquistar a amizade dela, ela ficou comigo, mas percebi que ele só iria me usar e quando disse isso, ela me arrastou para um canto e rasgou o meu vestido, só porque era mais bonito do que o dela. Então vim para cá.

Ela me analisou.

— Você não parece uma competidora, tem mais charme, elegância e doçura na voz. É tão linda quanto Lennara, e dá muito mais medo do que ela, só quero ver a cara dela quando perceber que todos estão olhando para você.

Ri com aquelas palavras, ela parecia uma criancinha.

—Você é de que casta? — perguntei

Ela encolheu os ombros.

— Seis.

Eu assenti e sorri com doçura para ela. Ela retribuiu adoravelmente mostrando duas covinhas.

Alevantei depressa do chão e estendi a mão para ela, que aceitou.

— Qual é o seu nome?

— Alice. Alice Limbregem.

Um nome delicado, para a delicadeza em pessoa.

Caminhamos até a porta de vidro e seguimos os corredores sinuosos, trocamos algumas poucas palavras, e finalmente paramos em frente às portas do salão.

Olhei-a

— É aqui que termina. — eu disse.

— A partir de agora seremos rivais.

Você nem imagina, pensei.

Seus olhos se encheram de lágrimas, ao olhar para a porta, para mim ela era uma boneca de porcelana e o toque bruto intencionado ou não a quebrava. Ela estava quebrada. Como eu.

Ela teria que voltar para dentro de onde todas as odiavam, por causa de uma garota arrogante, que havia feito mal a ela.Queria que eu não fosse irmã de Talison, nem princesa, nem competidora, nem serva.Queria ser a mão da tal Lennara só para dar uns bons tapas naquela garota.

E então decidi. Eu precisava de aliadas, que fossem capazes de lutar contra esse mal, Alice não gostaria de estar aqui, dava para ver isso, mas ela era tão bondosa, talvez pudesse ajudar.

— Alice.

Ela me olhou tristemente.

— Sim?

Sua voz saiu tão triste que tive uma vontade enorme de abraça-la e dizer que tudo iria ficar bem, mas colei meus braços do lado do meu corpo e olhei para ela interessada.

— Creio que não quer voltar para lá? Ou quer?

Ele me olhou como uma criança que descobre que o Papai Noel irá chegar mais cedo.

—É o que eu mais desejo.

Sorri para ela, peguei sua mão que era surpreendentemente macia e a arrastei escadarias acima.Ela no inicio parecia querer voltar para lá embaixo, mas o espírito de aventura a venceu e ela me seguiu mais rapidamente.

Subimos as escadarias até o quarto andar, onde ficava os escritórios, as bibliotecas, as salas de vídeos e o closet particular meu e de minha mãe.Caminhei reto pelo corredor,virei a esquerda e parei na frente de uma pintura de meu bisavô, passei a mão do lado da moldura e senti um pequeno botão, com um clique ele se abriu revelando o meu closet escondido

(http://2.bp.blogspot.com/-LZeoxoS4vFk/Tqr7Rbozq7I/AAAAAAAABpE/wlNLA2ebEnM/s640/DIARIO+DA+PRINCESA+2+CLOSET+%25282%2529.jpg)

Alice parecia encantada e assustada com tudo aquilo, seus olhos brilhavam e acompanhavam cada curva na madeira, cada reflexo no espelho, cada linha e cada flor. Ela me olhou perplexa e disse.

— Isso até parece um conto de fadas...

Sua voz como uma canção linda que foi interrompida para refletirmos, flutuou no ar e me envolveu como um abraço doce, ela suspirou e nem pediu permissão para entrar.

Esperei dois segundos e entrei também, fechei a porta logo atrás de mim e a olhei.

—Temos exatamente quarenta e cinco minutos para fazer você ficar linda...

Não terminei a frase, pois já tinha a agarrado e a arrastado para o banheiro.

— Tenho que pensar em algo para retirar esse cheiro horroroso de maça de você, quer que alguém desmaie quando chegar perto?

Ela simplesmente corou fazendo suas bochechas ganharem vida.Enchi a banheira com água quente, mandei retirar a roupa e ela mergulhou nela, e quase pulou de volta de tão quente que estava a água.

— Desculpe, mas é isso, ou o desmaio.

Depois de um tempo pensando peguei um pouco de sal de cozinha e joguei em cima dela, que não gostou muito, mas que ajudou a esfregar no seu corpo, depois enxaguamos com água fria. E estava pronta.

Com um roupão felpudo cobrindo o corpo vermelho e uma toalha enrolada na cabeça, a levei de volta para o closet, onde ordenei que se sentasse. Ela não me questionou sobre o que estávamos fazendo ali ou quem era eu, mas tinha certeza de que ela pensava que eu era uma serva intima da princesa. O que não surpreenderia a mim.

— Me diga que cores você gosta.

Não dei tempo para ela responder por que já estava procurando o vestido que cairia perfeitamente nela. Ela não se intrometeu quando entrei dentro dum dos armários, simplesmente ficou olhando meio surpresa meio curiosa para mim, não falei o que estava procurando ela não precisava saber antes da hora.

Depois de alguns minutos em que a vontade de falar brincava em nossos lábios sempre cheios de palavras, sai do armário e fui com um vestido enrolado em uma capa de seda, o mesmo modelo que a minha só que preta.

—Todos, homens e mulheres usaram uma capa na festa de hoje. Pelo visto foi uma ideia da princesa fazer com que todos pareçam iguais nas capas, mesmo que elas sejam de cores diferentes. É para mostrar que podemos ser de castas e famílias diferentes, mas que somos feitos da mesma pele, e do mesmo amor.

Fiquei orgulhosa de mim silenciosamente, quando vi a aprovação brilhar em seus olhos.

—E o que irei vestir? — perguntou a voz se enchendo de doçura.Percebi que tanto ela quanto eu sabia usar seu charme para conseguir o que queria.

Mas em resposta apenas sorri, um sorriso que brilhou nos meus lábios parecendo sincero, mas por dentro eu gritava o que ela iria vestir e como ficaria linda. Descobri naquele momento que eu não era imune a tudo, a cobra havia acabado de provar de seu próprio veneno.

Coloquei-a na frente de umas das penteadeiras, e entreguei um frasco de creme hidratante de frutas vermelhas.

— Passe em seu corpo, mas não no rosto, enquanto eu arrumo seu cabelo.

Ela obedeceu à ordem rapidamente passou o hidratante nas pequenas pernas que agora estavam voltando à palidez natural.

Peguei o seu cabelo e o enchi de cremes o penteei e o sequei, ela não pareceu se incomodar com os inúmeros puxões e pelo ar quente e a sensação de estar presa numa sauna. Mas quando percebi meu erro era quase tarde demais. Praticamente a arrastei pelos cabelos de volta ao banheiro onde enchi a bacia da pia de água e mergulhei seus cabelos, retirei todos os cremes e o molhei novamente peguei mais uma toalha felpuda e os enrolei, ela voltou cambaleante para o closet e se sentou na cadeira. E ficou observando pelo espelho enquanto eu emoldurava seus cachos e os enchia de exprei que os deixava ainda mais brilhantes.

— Gostou? — perguntei finalmente depois de acabar o trabalho no seu cabelo.

Ela virou a cabeça três vezes e analisou bem cada cacho, pegou e leu o rotulo do exprei e depois me olhou.

— Não gostei, eu adorei.

Sorri de alívio para ela.

— Mas — comecei, ela gemeu — temos ainda que fazer esse seu rostinho lindo em quinze minutos, por favor, não me interrompa.

Ela pareceu indignada quando pedi para não me interromper, com certeza eu me interrompi mais do que ela.

Em um piscar, estava fazendo seus olhos, uma maquiagem leve por que eles já atormentavam muito mesmo. Fui obrigada a passar duas camadas de blush pêssego, pois suas bochechas insistiam em não ganhar vida, e por fim uma fina camada de brilho para os lábios, seus lábios um rosa choque surpreendentemente natural não precisava de mais destaque.

Ela se alevantou e fechou os olhos enquanto eu pegava o vestido, ele deslizou como água em seu corpo, deixando-a maravilhosamente bela, era um vestido simples rosa claro, com um corte em V e apenas um enfeite que ia da cintura até metade do abdômen, costurado com prata e tecido rosa, ele caia em uma cachoeira reta até seus pés, não revelando os sapatos prata, a única joia que liberei para ela foi uma bracelete de pequenos diamantes velho e que ninguém nunca havia gostado muito, ela o colocou e seus olhos refletiam ele.

Peguei a capa e a coloquei sobre seus ombros e amarei a enorme fita preta que faria com que ela ficasse ali, peguei o capuz e coloquei cuidadosamente sobre seus olhos e puxei um pouco de seus cabelos para fora.

— Está linda, Alice, lembre-se de agir exatamente como você é de verdade, mas com charme e elegância e só retire o capuz quando a princesa aparecer e só retire a capa quando ela retirar a dela, fale com educação e não fale de boca cheia e só vá dançar se for convidada por um cavalheiro e... Não aceite as provocações de Lennara.

Ela alevantou os olhos para mim.

— Não poderei saber quem é você, e isso até parece àquela história da Cinderela.

Eu ri.

— Vá.

E ela foi, a capa voando ao seu redor enquanto corria andares abaixo, tão brilhantes quanto seus cabelos.

***

Alice queria tanto saber quem era a misteriosa moça que a havia ajudado, que mostrava tanta poder e bondade para com ela, que pena que Alice estava tão apressada enquanto saia pela porta do closet real, se ela tivesse se virado... veria uma coroa reluzindo no topo de um rosto brilhante pelas lágrimas.