De alguma maneira estranha eu fiquei amigas daquelas garotas, dormimos todas jogadas no chão de meu quarto, as cortinas ainda impedindo o sol de entrar e todas as roupas usadas estavam espalhadas em qualquer canto.

Elas acordaram antes de mim, elas tinham coisas a mais a fazer.

Agora elas tinham que se arrumar em grupos e fazer um jantar para parentes distantes, pessoas com costumes e paladares diferentes.

Eu observei enquanto elas passavam horas sentadas em frente a livros grossos, enquanto seus olhos mostravam-se cansados, eu não podia me aproximar....eu tinha as resposta de como agradar, se eu desse a uma delas seria trapaça.

Mas era horrível vê-las daquele jeito, quase tendo um ataque....aquilo valia pontos e elas tinham que conquista-los.

Durantes a semana em que os três jantas eram combinados, várias garotas foram embora, cada uma de um grupo diferente, apenas do grupo de Alice, Lennara, Suzanne e Bianca que não foram nenhuma embora, acho que era por que Talison gostava delas....de uma forma meia impossível.

O primeiro jantar seria de um grupo de garotas que eu não gostara muito, mas mesmo assim.... elas tinham planejado um jantar para um tio de papai da Austrália.

O Hall da entrada estava iluminado por pequenas velas, as chamas amarelas tremeluziam suavemente, as meninas haviam pedido para que usássemos colares com contas grandes e claras e vestidos de cores fortes.

Minhas servas me colocaram um vestido de alças vermelho bordô, que iam até meus pés onde estava avolumado, me senti um bolo veludo vermelho. E um colar com contas brancas que davam várias voltas em meus pescoço, elas prenderam meus cabelos em uma trança embutida e eu me vi muito parecida com minha mãe naquele instante.

Quando eu desci os convidados já haviam chegado, as garotas tagarelavam animadamente com seus vestidos amarelos, vermelhos e laranjas, tinham pequenos buquês de flores silvestres nas mãos a qual deram para cada um que entrava, como uma lembrança daquela simples festa.

Quando nos dirigimos ao salão eu tive certeza de que aquelas garotas tinham conseguido o que queriam. Passar no teste.

Todas as janelas estavam abertas, mostrando o lindo céu que fazia naquela noite, o jardim estava lindo, brilhando com centenas de vaga-lumes que na verdade eram luzinhas amarelas.

O ar que entrava junto com o crocitar dos grilos era doce e a atmosfera estava linda, a comida fora magnifica e titio Pablo parecia estar apaixonado por uma das garotas que de alguma maneira parecia estar encantada.

Quando todos foram embora, ele a puxou para o lado e lhe deu um pedaço de papel que eu soube imediatamente que ele se oferecera para a despossar caso Talison não a aceitasse e no outro dia, quando eu acordasse eu sabia que aquela garota não estaria mais entre uma das selecionadas.

***

– Esse vestido me aperta! - resmunguei para Lucy, que pediu desculpas.

– Não posso fazer nada Alteza, esse era o único que encontramos que conseguiria entrar pela sua cabeça. - falou Cary alevantando meus cabelos para fechar o zíper.

Era um vestido que ia dois dedos a baixo de meu joelho, tinha magas curtas e era branco creme, com uma pequena renda de enfeite no decote, calcei as sapatilhas brancas e sentei-me observando pelo espelho quando Anny pegava uma fita negra e a fazia de tiara em meu cabelo.

Era o segundo jantar, de três.

Essa era a vez de três garotas animadas, que falavam e comiam mais do que a própria boca. Elas
iam servir a uma tia de minha vó Amberly, que não gostava muito de pessoas falando...eram grandes apreciadoras do silêncio.

O jantar, como todos podiam esperar, fora um desastre total.

Tudo ligado a França que elas fizeram acabou se deteriorando antes mesmo do jantar começar, minha tia avó estava furiosa, seus amigos e companheiros estarem estressados e eu queria sumir por aquelas garotas.

Até que no final, uma das garotas foi se despedir com os dois beijos no ar, estava com uma taça de vinho tinto e derramou em cima do vestido branco de minha tia, deixando - a possessa e a fazendo soltar inúmeros palavrões.

Acabou que as garotas foram mandadas para o seus quartos,antes dos convidados irem embora.

***

Era finalmente o terceiro e último jantar.

E era o jantar das minhas amigas.

A única obrigação em relação a vestimenta era que tinha que ser curto, curto e com decotes absurdos....eu achei aquilo sim um absurdo!

Mas era agora um primo nosso, um tarado idiota, mas era necerssário para a avaliação não é?

Não havia muita decoração como os outros jantares, algumas flores tingidas de azuis e a comida, todas com algo com queijo e carne.

Os garotos pareciam mais interessados nos vestidos das garotas, ou vê-las sem eles, quase ouve uma pequena discussão quando um de meus abestados primos tentou arrastar Suzanne para um canto, eu mesma queria quebrar a cara dele.

Mas no final, acho que todos gostaram e eu convidei Suzanne que ainda parecia assustada a passar a noite comigo.

****

No outro dia, eu e Suzanne acordamos cedo para ver quem ficaria com o primeiro lugar, uma esperança quase viva, inspirávamos a seguirmos até o Salão das Mulheres, mesmo sabendo que não teríamos nenhuma chance.

O Salão estava silencioso e todas as noves garotas encarregadas dos jantares estavam sentadas em cadeiras e almofadas pela sala. Mamãe,Alexia e a coordenadora das selecionadas estavam em pé, esperando por nós.

Sentamos e olhamos para elas, com suas caras fechadas, guardando o segredo que queríamos descobrir, como se suas vidas dependessem disso e eu queria.... por tudo... que elas demonstrassem, em apenas um segundo o veredicto.

E isso aconteceu mais rápido do que eu pensava.

– Todas as nove garotas que foram selecionadas para fazer o jantar de nossos parentes....se saíram muito bem, algumas melhores, outras caíram em alguns quesitos, mas se destacaram em outros....queremos que saibam que pensamos muito para chegarmos a essa conclusão.Decidimos não somente em nossa opinião, mas também com a ajude de nossos convidados. - mamãe falou lenta e calmamente, os olhos brilhando doces.

– Mas antes de anunciarmos as felizardas temos alguns comentários a respeito de todas as garotas envolvidas: Penellope Dante, a líder do primeiro grupo, nos mandou uma carta, convidando a todas para o casamento dela, mostrando assim que mesmo tendo saído da A Seleção continua sendo uma princesa. - falou a coordenadora, o nariz arrebitado quase tocando o teto.

Eu sorri, agora ela era minha tia avó.

– E senhoritas, uma coisa importante relacionada aos jantares....um dos grupos foi desclassificado.

O silêncio agora era perpetuo, todas as garotas pensaram se em alguma hipótese teriam feito algo para desagradar a corte real e não conseguirem os prêmios para as suas famílias...todos os jantares haviam sidos bons, todos conseguiram demonstrar o que queríamos passar para os nossos convidados, mesmo do que por um pequeno instante.

– O último grupo, pelo julgamento da corte, vulgarizou o jantar: com a música, a comida limitada, as bebidas com exeço de Álcool, a decoração insplicita e principalmente pela vestimenta de todas as Selecionadas e da Vossa Alteza, sendo que uma das coordenadoras quase foi assediada por um dos convidados que estava bêbado, mostrando como o jantar estava desorganizado e muito mal feito.
– Todos nós estamos envergonhados com o que as senhoritas fizeram e terão que fazer um trabalho de bons modos e etiqueta, para me entregarem hoje a noite, valendo cinco pontos, ou seja uma cesta pequena de alimentos não perecíveis para as suas famílias.

Lennara, Alice, Bianca e Suzanne olharam chocadas para as três grandes mulheres de nosso castelo e eu as acompanhei, sentindo a raiva e a indignação fervilhar dentro de meu peito e quase sair boca para fora.

Elas e muito menos eu pudemos falar alguma coisa, fomos enxotadas do aposento sem nem alguém nos dar um motivo melhor para ter feito aquilo com as garotas, eu estava fumegante.

– Eu vou falar com eles....eu vou mudar isso. - resmunguei saindo do corredor e me encaminhando até a sala de meu pai.

Entrei sem bater, para mostrar que eu estava bem irritada. Papai estava numa reunião pelo o que parecia, vários homens repugnantes estavam sentados em volta de uma grande mesa oval, tomando uísque e infectando seus pulmões com charutos. Olhei em volta, até encontrar meu pai sentado perto de Talison, Rei Adílson, Lucas e ....Filipe.

– Tem ideia!? Apenas você tem alguma ideia queridos participantes da "Corte Real" como é díficil ver suas famílias se deteriorando, por falta de dinheiro para comprar alimento? ... Vocês tem ideia de como aquelas garotas se esforçaram para fazer aquele jantar maravilhoso e vocês ainda tem a ousadia de dizer que não estava bom? Para quem era aquele jantar, hein? Quem é mesmo que deveria achar bom? Os que fizeram ou os que foram convidados?

Eu gritei caminhando lentamente para perto de meu pai, que me olhava admirado e bem...bem...bem irritado.

– O jantar, minha querida, estava muito vulgar! - papai disse, segurando com firmeza uma pilha de papéis amarelados.

– Sério? Se eu me lembro bem, quando me fizeram estudar feito uma louca sobre as constituições e aquelas coias bem patéticas sobre Illéa, estava escrito que em absolutamente todas as Seleções, sempre será realizados provas e a primeira tem que ser admirado por convidados reais e apenas o julgamento deles é que devem contar!

Me aproximei de meu pai, encarando seus adoráveis olhos castanhos e sentindo o sangue pintar o meu rosto.

– Papai, a "Corte Real" que eu me lembre fazia parte dos anfitriões, então aconselho o senhor a pegar e a colocar aquelas garotas novamente, pois elas precisam dos prêmios....não é só porque o senhor acha algo, papai, que todos devem achar a mesma coisa.

Algumas coisas me deixam furiosa, principalmente injustiças. Papai aceitou em mudar o destino das garotas e elas ficaram em terceiro lugar, recebendo assim mais prêmios para as suas famílias, elas ficaram felizes e eu me senti bem vendo elas assim.

A sensação de saber que tinha feito algo para ajudar alguém depois de tanto tempo me deixava leve, não era o suficiente para pagar minha dívida com Joana, mas era o começo de uma vida mais leve, com menos rancor e preocupação....era algo que estava nos ideais de Joana e eu faria aquilo por ela, como ela tinha feito por mim ao me dar a chave para voltar para casa.

Alice e Suzanne estavam em meu quarto, sentadas em minha cama me ouvindo tocar piano para elas, os seus olhos estavam fechados e elas demonstravam uma paz incrível e brilhante que pulsava pelo quarto.

Será que eu podia confiar nelas? O bastante para revelar meus segredos? Será que deveria mostrar para ela o segredo de nosso povo? De meus pais? De meu irmão? Será que eu deveria ajudá-las?

Eu não sabia se ajudar elas a ficar com meu irmão daria certo, em alguns momentos eu via que as duas tinham os mesmos sentimentos por ele e isso me dava medo, se em algum momento as duas resolvessem ficar rivais? Eu deveria ficar dividida também? Eu não queria isso!

A minha inexperiência em relação a amizade, fazia -me sentir uma idiota no meio delas, mas nascer num castelo onde as únicas crianças eram mimadas e retardadas não estava nos meus planos, na verdade se eu soubesse que minhas vida seria um caos completo eu fazia questão de nunca ter nascido.

Então eu e elas simplesmente ficamos amigas, uma amizade baseadas em poucas palavras e muitos sorrisos, não nos importávamos de ficarmos em silêncio desde que estivéssemos na companhia uma da outra e mesmo que fossemos só nós três era o suficiente para nos sentirmos bem vindas.

Quando terminei de tocar elas estavam deitadas na cama, adormecidas como se tudo fosse possível e vendo tudo o que acontecera durante os que dias que passaram....eu tinha certeza de que absolutamente tudo era possível.