Severely escrita por Enid Black


Capítulo 1
Unique


Notas iniciais do capítulo

E ae, queridos? Depois de tanto tempo sem one-shots - não consigo escrever essa palavra sem lembrar do B.A.P e-e - eis que surge essa lindja histórinha! Já disse lá em cima que ela foi baseada na música do FT Island, então quem quiser pode ler a fic escutando as músicas deles ^^ Eu escrevi escutando as músicas lindjas e acho que vai ser legal se vocês lerem assim também :D Enfim, aqui está a história, boa leitura! :3



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Cheguei ao parque que agora se encontrava branco pela neve que se depositara à sua volta minutos antes do combinado, observei o local, percebendo que poucas pessoas se encontravam caminhando por ali, possivelmente preferindo ficar em casa debaixo de um aconchegante cobertor do que enfrentar o frio que o inverno trouxera para as ruas.


Encontrei um estreito banco perto dali, tirei a camada fofa de neve de sua superfície e sentei-me, encolhendo-me ligeiramente no longo casaco que usava quando um vento cortante dançara por minha face, fazendo meu rosto enrubescer e meus olhos lacrimejarem.


Tirei as mãos gélidas de dentro do bolso e olhei o pequeno relógio em meu pulso que percorria lentamente os minutos que faltavam para o horário combinado de ela chegar, a demora dos sutis segundos passarem torturando-me mais do que eu poderia imaginar.


Coloquei os dedos de volta para dentro do casaco e fiquei olhando à minha frente, notando as pegadas escuras que meus pés desenharam quando pisaram pelo tapete claro que se instalara na grama verde do parque.


Algumas poucas árvores habitavam aquela parte do local, seus galhos antes floridos agora escuros e quebradiços, transformando a paisagem em um lugar ligeiramente angúsitante perto da alegria que era no verão.


Um sorriso fraco passou por meus lábios quando uma estranha comparação se sussurrou à minha mente. Meu estado naquele momento poderia ser facilmente assimilado aos daqueles estreitos galhos que enfeitavam tristemente o local. Eu me sentia fraco e inútil, como se um mísero sopro de vento mais brusco pudesse me derrubar, e eu sabia que a grande razão por estar daquele jeito era justamente as palavras que eu me colocara ali para dizer, assim que ela chegasse.


Um gosto amargo invadiu minha boca, como se o veneno das frases que eu ensaiara tantas vezes dizer naquele momento tentassem me impedir de fazer o que era preciso. Eu não tinha escolha, mesmo se fosse para magoá-la, seria o melhor para nós.


A conversa que eu tanto evitava lembrar ecoou novamente por minhas memórias, fazendo-me ouvir mais uma vez as palavras que acabaram com as esperanças que eu poderia ter de que tudo poderia se consertar.


"Você quer que ela saiba de tudo?"


"Ela é um perigo para você, e o mesmo vale de você para ela."


"Acabe com tudo isso o mais rápido possível, antes que outros tenham que intervir."


O som cortante das sentenças tornara o ambiente à minha volta mais gélido do que a neve que caía levemente pelo parque conseguiria deixar, lembrei da face rígida do homem que me dissera tudo aquilo, lembrando-me de seus olhos escuros e sem vida encarando-me, nenhuma expressão habitando em suas orbes, apenas a promessa silenciosa de que ele faria qualquer coisa que acabasse logo com aquela confusão, mesmo que eu não fosse capaz de finalizar tudo.


As frases ainda doíam por meu corpo, como se fossem pequenas agulhas que se espreitavam por minha carne a cada instante despercebido. Fechei os olhos fortemente e abaixei a cabeça, tentando em vão pensar com clareza no mar de horrores que aquilo se transformara.


– Naoto? - ouvi alguém sussurrar meu nome à minha frente, levantei os olhos e percebi a figura de Kiyo observando-me, seus olhos castanhos demonstrando sua felicidade e curiosidade ao receber meu convite para chegar ali.


Kiyo sorriu levemente, encolhendo-se dentro de suas vestes coloridas, seu rosto avermelhado pelo vento quase se escondendo em meio ao cachecol alaranjado que cobria seu pescoço. Respondi ao seu sorriso, e tal pequena ação já se mostrou difícil para mim. Aquele não era um encontro alegre, não tinha por que estarmos sorrindo inocentemente.


Levantei-me e sacudi minha roupa, fazendo um pouco da neve que caíra em meus ombros deslizar pelo tecido até chegar ao chão esbranquiçado. A cena fez Kiyo dar um fraca risada, o som sutil trazendo à minha mente as inúmeras lembranças que nós tínhamos juntos, momentos que eu esperava que não voltassem naquela situação. Eles só faziam tudo se tornar mais difícil.


– Vamos... Andar um pouco? - eu disse, tentando inutilmente evitar o olhar indagador da garota, que sempre tivera a habilidade de prender minha atenção e pensamento não importava qual situação nos encontrávamos.


– Claro - ela disse, pegando minha mão e puxando-me levemente pelo caminho que dava para mais dentro do parque.


Tentei bloquear a sensação que veio com o pequeno contato de seus dedos cálidos com minha mão, tentei não pensar no quanto eu amava aqueles pequenos gestos que só ela parecia capaz de fazer.


– Você está quieto, Naoto - ela disse, virando-se para mim depois de alguns instantes, o sorriso inocente ainda em seus lábios - O que foi? Você não é assim.


Balancei levemente com a cabeça e suspirei, minha mente me alarmava que quanto mais tempo eu demorasse para dizer adeus à Kiyo, mais dolorosa a situação se transformaria. Olhei rapidamente para ela, que me encarava com a expressão tomada por uma leve preocupação.


Fraquejei diante de sua face, pensando em não dizer nada a ela e nos privar de todo o sofrimento, mas eu não podia.


Era o melhor para nós.


– Kyio - murmurei, parando no local onde estava, fazendo o pequeno farfalhar de meus passos na neve fofa cessar repentinamente.


– O que foi? - ela disse, aproximando-se até que estivesse à centímetros de mim.


Por que ela tinha feito aquilo? Por que ela se aproximara? Como ela não podia perceber que o pequeno caminho que sua respiração fazia em minha pele exposta já tornava tudo quase impossível para mim?


– E-Eu preciso te contar uma coisa - eu disse, tentando inutilmente afastar-me de seu perfume inebriante que me envolvia a cada vez que ela se aproximava.


– O que foi, Naoto? - ela disse, a voz alguns tons mais alta, enquanto mais uma vez seus suaves passos a aproximavam de mim novamente.


– Eu não posso ficar aqui - eu disse debilmente, todas as frases decoradas em minha mente esvaindo-se no momento em que vi sua expressão confusa.


– O que quer dizer com isso, Naoto? Você vai embora? - ela perguntou, caminhando em minha direção até que minhas costas encontrassem a madeira dura de uma das árvores requecidas do local.

– S-Sim, eu vou - disse, aceitando a mentira que ela mesma havia proposto.


No mesmo momento os olhos de Kiyo começaram a se encher de lágrimas. Percebi seus finos lábios tremendo enquanto algumas gotículas dançavam por usas bochechas rosadas, caindo logo depois no chão, prontas para se misturarem a neve que habitava ali.


– Nós não podemos nos ver mais - eu disse, tentando manter minhas voz firme enquanto via a única pessoa que me importava desfazer-se à minha frente, por minha culpa.

– Por quê? Por que nós nunca mais podemos nos ver? - ela gritou, as lágrimas incessantes correndo por seu rosto enquanto seus olhos denunciavam a dor que sua alma sentia.

– Eu... Não posso te contar - disse, observando-a balançar negativamente a cabeça - Isso é o melhor para nós.


– Como isso pode ser o melhor para nós? - Kiyo perguntou, fungando - Eu te amo, Naoto. E você sabe disso. Por que você faz isso agora?


Tudo o que eu mais queria era abraçá-la naquele momento, manter nossos corpos unidos o maior tempo possível até que toda aquela dor passasse coberta por promessas que eu queria ter feito à ela. Porém eu não podia, qualquer contato naquele momento me faria perder o controle, e eu tinha que continuar com aquilo, pelo bem dela.


– E-Eu não posso mais ficar aqui... Preciso ir embora - disse, tentando afastar-me, mas meus pés pareciam não querer me obedecer.


– Para onde você vai? Você vai fugir assim, sem explicar nada? - Kyio perguntou, seus lábios prensados em uma tentativa típica dela de controlar o choro.


Respostas vazias e mentirosas voavam por minha mente, e eu estava prestes a por uma delas em minha língua quando a frase que Kyio acabara de dizer chocara-se com meu pensamento.


Fugir... Ela havia perguntado se eu ia fugir. E se a resposta fosse sim? E se nós dois fugíssemos de todos aqueles que nos impediam e vivessemos nossa vida como sempre havíamos prometido?


Uma sensação cálida envolveu meu peito com tal ideia. Agora todos os nossos problemas estariam resolvidos, nós íamos embora naquele mesmo momento para o mais longe possível. Para um local onde ninguém nos acharia.


– Vamos fugir - eu disse com um pequeno sorriso, os milhares de destinos no qual poderíamos ir iluminando-se tentadores em minha mente.


– O-O quê? - ela sussurrou, os olhos marejados encarando-me em confusão.


– É o melhor para nós - eu disse, segurando-a pelos ombros em meu entusiasmo - Vamos fugir para longe daqui...


– Naoto - Kyio sussurrou, mas eu ignorei seu chamado.


– Para um local onde ninguém nos encontre...


– Naoto - ela chamou novamente, agora mais urgente. Eu não entendia por que ela queria tanto interromper meu plano que se formava tão perfeito.


– Vamos ser felizes como queríamos...


– Naoto! - Kyio gritou, fazendo-me parar no mesmo momento. Foi então que percebi que a garota havia se desvencilhado de meus braços, e agora me observava com um leve medo em seu rosto.


– O-O que foi com você? - perguntei, tentando aproximar-me dela novamente, porém era seu corpo agora que se afastava.


– Eu não posso fugir - ela sussurrou, encarando-me apreensiva.


– O quê? - indaguei, incrédulo.


– Eu tenho minha vida aqui, eu não posso largar tudo desse modo - disse fracamente, tentando desviar seu olhar do meu, porém eu puxei seu rosto em minha direção com os dedos, recebendo sua expressão apavorada como resposta.


– Claro que pode! Nós iremos construir nossa vida, a vida que sempre queríamos - eu disse, segurando firmemente seu rosto enquanto ela tentava em vão se desvencilhar.

– Naoto... - ela disse, conseguindo finalmente afastar-se de mim - Minha família está aqui, Naoto. Meus amigos, tudo. Eu quero construir uma vida com você, mas não desse modo.


Senti um ódio descomunal crescendo em meu peito. Então ela não me amava? Tudo aquilo que havíamos planejado era uma mentira? Uma voz irritante alardeava em minha cabeça que aquilo não estava certo, que ela merecia ser punida por tal falsidade, e seu eco tornava-se mais forte a cada momento.


– Você não me ama, é isso? - gritei, puxando-a e a encurralando na árvore em que eu estava encostado momentos antes.

Aproximei meu rosto do seu, sentindo a fragrância que eu tanto amava novamente. Como ela se recusava a me deixar amá-la por causa daquela pequena cidade?


– Naoto, solte-me - ela disse, sua frase fraquejando quando bati seu corpo contra a madeira à suas costas, pequenas lascas secas caíram a nossa volta, formando estreitos desenhos escuros no chão de neve.


– Como você pode me largar por essa cidadezinha? - perguntei, jogando seu corpo mais bruscamente contra a àrvore. Jogaria-a contra aquele local quantas vezes fosse preciso até ela finalmente perceber o quanto meu plano era perfeito.


– Naoto, está me machucando... - ela disse, sua voz tornando-se irregular. Percebi que Kyio respirava com dificuldade naquele momento, mas aquilo não parecia o suficiente para fazê-la me aceitar.


– Diga que vai fugir comigo que eu te solto - eu disse, batendo-a novamente contra a árvore e recebendo um pequeno grito de dor como resposta.


– E-eu... Não posso - ela disse, tentando inutilmente respirar naquele momento.


– Você não percebe? - perguntei, jogando-a cada vez mais forte - Isso é o melhor para nós!


Kyio já estava ficando pálida quando o som abafado chegou aos meus ouvidos. Percebi uma mancha avermelhada tomar conta de uma parte do cachecol laranja da garota, enquanto o corpo dela tornava-se cada vez mais fraco em meus braços.

– Não - eu disse, minha mente entorpecida tornando-se clara ao perceber o que eu havia feito - Não!


Os olhos castanhos que eu tanto amava ainda me observavam com medo e pena, enquanto eu depositava Kyio no chão gélido do parque. Segurei sua face em minhas mãos, observando a vida aos poucos esvair-se do corpo que eu tanto amava.


– O que eu fiz? O que eu fiz? - comecei a repetir para mim mesmo, enquanto um choro confuso começava a tomar conta de minha face, fazendo-me soluçar naquele pequeno mundo esbranquecido.


Uma sutil lágrima transbordou pelos olhos de Kyio, sua pequena dança até o chão sendo tempo o suficinte para os olhos cálidos e inocentes da garota tornarem-se frios com a sombra da morte sobre seu corpo.


– Desculpe-me, desculpe-me - eu disse, beijando repetidamente seus lábios perfeitos, que agora encontravam-se tão gélidos quanto a neve à minha volta.


O sangue escarlate depositara-se sobre o chão, transformando o local em volta da cabeça de Kyio em um mórbido desenho branco e rubro que marcava o fim de sua vida.


Balancei a cabeça freneticamente, querendo atacar minha própria mente que me impulsionara a tomar tal ação desmedida. As lágrimas ainda caíam incessantemente por meu rosto, mas nenhuma quantidade seria o suficiente para se igualar à culpa e à dor que eu sentia em meu peito.


Olhei novamente para Kyio, um pouco da neve começava a depositar-se sobre seu casaco azul e seus cabelos escuros, transformando a figura do sonho da minha vida no pior pesadelo que eu podia imaginar.


E tudo aquilo porque eu quisera mais tempo com ela.


E tudo aquilo porque eu quisera o que era melhor para nós dois.

 


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Notas finais do capítulo

Cara, a one parecia tão legal quando escrevi, mas agora não parece tão boa, poxa T^T Todo o conto foi baseado na música que eu falei, Severely, maaaaas o final acabou ficando "ligeiramente" diferente do previsto kkk Pra vocês perceberem que minha imaginação macabra sempre conseguirá achar um final medonho para os contos, mesmo que eles pareçam tristes e fofos kkk Ah, os nomes dos personagens tem significados, não sei se estão certos, porque não sei se o site em que achei eles é confiável kkk Mas foi com esses significados que escolhi esses nomes: Naoto - cura, remédio e Kyio - original, pura. Além de ter gostado dos nomes eu acabei achando que seus significados se encaixavam, como o Naoto ser o remédio para Kyio mas acabar matando-a, e a Kyio acabar morrendo por causa de sua inocência ao tratar o garoto... Enfim, espero que tenham entendido XD Ah, e o final também ficou bem parecido com o final dos episódios de Cold Case e-e É sério, assistam a série que vocês vão perceber que quase todo assassino lá matou as pessoas quando estava muito nervoso, e depois se arrependeu kkkk Enfim, é isso, meus queridos >w< Deixem review, mesmo que não esteja tão bom assim a one :3



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