Acordei cedo naquele dia. Havia dormido durante apenas 2 horas e meia, por falta de sono. Estava agitada. Tirei o pijama, dobrando-o, e delicadamente o coloquei no armário quase vazio. As árvores lá fora se agitavam furiosamente na noite escura, a lua não aparecia, e muitas nuvens cobriam o céu. Ouvia apenas poucas vozes no andar de baixo, e a de Edward não era uma delas. Vesti um roupão de seda prateada de mangas compridas (outro presente de Alice) e sai do quarto.  Havia só uma luz acesa no andar de baixo, e tudo estava pouco iluminado, o que não me dificultava em nada a visão. Desci as escadas levemente, ainda com sono, enquanto tentava ouvir o que Esme dizia.

- Sabe por que os Volturi ficaram atrás dela... Ela pode ser poderosa, uma ameaça à eles... – sussurrava a doce voz de Esme.

- Concordo. Analisei essas teorias... Acha que uma delas está correta? – uma voz concentrada e baixa disse. – Ela é muito complexa, preciso fazer algumas experiências talvez...

As vozes vinham do escritório, assim como a única lâmpada acesa na casa. Me aproximei da porta do cômodo e espiei Carlisle e Esme discutindo amigávelmente. Carlisle estava sentado atrás da bancada, que estava cheia de papéis com diversos textos escritos à mão, e a delicada Esme estava apoiada na extremidade da mesa observando com amor o marido trabalhar. Ao me verem, ambos ficaram me encarando.

- Olá... Onde estão todos?  - perguntei sonolenta.

- Ah, pequenina. Edward foi à casa de Bella... E os outros sairam para de divertir... – respondeu Carlisle, com um sorriso amigável.

Observei de relance o pequeno relógio digital, que estava apoiado em uma das prateleiras de livros: 3h27 da mãnha. Esme se levantou e foi procurar por um livro nas prateleiras.

- Está ocupado não é? Quer uma ajuda? – ofereci me aproximando de sua mesa.

- Claro – respondeu ele, temeroso, olhando uma vez para a esposa. – Estava tentando... Descobrir algo mais sobre você. Não se incomode por favor...

- Hum? – murmurei confusa.

- Trabalho na área médica aqui de Forks. Acho muito interessante o corpo humano.

- Você é médico de humanos? – perguntei ansiosa. – Caramba! Deve ser difícil... Isso é muito nobre vindo de um... vampiro. – tentei ser imparcial.

- Você se acostuma com o passar dos anos... Estava tentando descobrir realmente a qual lado você pertence mais, ou se você tem as três espécies em quantidade igual nos seus genes... Você é fascinante.

- Claro, eu não me oponho... Também sempre tive curiosidade de descobrir mais sobre mim mesma. – ri sem humor.

- Perfeito. Posso começar? – perguntou ele com um enorme sorriso branco nos lábios perfeitos.

- Mas é claro, Doutor! – imitei sua alegria.

Esme ria ao procurar alguns livros. Carlisle rapidamente se levantou e me indicou o caminho até uma outra sala, depois da cozinha. Uma sala onde havia uma maca, aparelhos hospitalares, seringas e muitos outros objetos que não pude indentificar por falta de conhecimento.

- Sente-se aqui, por favor. – ele apontou a maca branca.

- Espere ai. – disse Esme encostada na porta. – Não vai tomar café da manhã, digo da noite?

- Posso? – perguntei à Carlisle que me deu um sorriso. – Então, eu já volto.

Me sentei na bancada da cozinha enquanto Esme preparava alguns ovos, panquecas de frutas vermelhas e chocolate quente. Ela me dizia o nome de todos os ingredientes que eu não conhecia, para que eu pudesse memorizá-los. Agradeci e após devorar tudo, voltei para a sala onde Carlisle me esperava. Me sentei na maca novamente, e ele se preparou para colher meu sangue enquando eu observava distraída a noite indo embora pela pequena janela.

- Não vai doer nada, se estou certo. – disse ele.

- Não costumo sentir dor assim, tão fácil. – respondi o desafiando.

Ele limpou meu braço com álcool, pelo cheiro, e prendeu algo de borracha logo acima do meu cotovelo. Eu nunca tinha feito aquilo antes, e esperei. Ele separou 5 pequenos frascos em cima da bancada ao nosso lado, e acoplou a seringa com um dos frasquinhos. Vi aquele objeto metálico adentrando à minha pele e o sangue subindo lentamente pelo tubo até o frasco. Ele repetiu o gesto até que todos os 5 recipientes estivessem completados com sangue. Ele sorriu.

- Não foi tão ruim não é?

- Na verdade não senti nada...

- Então sua pele não deve ser tão humana, e percebi que você não tem tanto sangue quanto um humano, mas o seu corre mais rápido... – refletiu ele. – Pele vampirizada,pouco sangue, batimentos cardíacos acelerados como os de um lobisomem... Temperatura?

Ele se moveu para pegar um objeto estranho dentro de uma gaveta branca.

- O que é isso?

- Isso se chama termômetro, serve para medir a temperatura de um corpo. – respondeu ele paciente, ao pegar um objeto maci e branco, com a ponta metálica e um pequeno visor.

- Vai espetar isso em mim? – perguntei observando que o objeto era pelo menos 4 vezes maior que a agulha.

- Não! – ele riu. – Vou apenas colocar sob seu braço, e quando ele apitar, mostrará sua temperatura.

Com o termômetro em baixo do braço esperei ele medir minha altura e fazer algumas anotações em um bloco azul. O termômetro apitou e eu me movi na defensiva (força do hábito).

- Fique calma – disse ele pegando o objeto e dando uma verificada no visor. – Bem, você está com 39,8ºC. Maior que um humano, porém menor que a de um lobo.

- Senhor Cullen... O senhor já examinou um lobisomem? – perguntei curiosa.

- Sim, querida. Aproveitei o momento quando Jacob se acidentou há poucos meses. Me chame de Carlisle, por favor. – disse ele alegre.

- Claro, me desculpe Carlisle. Mas, todos falam desse tal de Jacob, o lobisomem. Quem ele é afinal? – perguntei com um intusiasmo infantil, confiava em Carlisle mais do que queria.

- Jacob é um garoto da tribo quileute, da reserva de La Push. Um pouco rebelde, mas inteligente.

- Então foi por isso que Bella se interessou por ele? Por ele ser meio rebelde não é? – falei rindo, quando percebi que podia estar sendo rude, então parei imediatamente. – Me desculpe...

- Tudo bem. É só um pouco complicado... Edward se ausentou por um tempo, e ela acabou se aproximando de Jacob naturalmente. Agora já está tudo quase resolvido, Bella se casará com Edward no próximo mês.

- Entendo... Aliás – fiquei séria e meu tom de voz desceu uma oitava. – Achou alguma informação sobre meu pai?

- Na verdade, eu me lembro de seu pai... – disse ele analisando minha expressão – Apollo Scarlatte, Olhos de prata. Lobo original, um filho da lua. O conheci quando ainda fazia parte dos Volturi.

Meu coração congelou, soltei todo o ar que segurava de uma vez, minhas mãos se fecharam em punhos.