A Longa Vida De Serena Cullen escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 22
Capítulo 21 - Bem-Vinda ao Lar Parte II




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/347356/chapter/22

Mais lágrimas correram pelo meu rosto, e eu caí de joelhos, sem reação. Max voltando em minha mente como um furacão. Era evidente que sem Max e eu para serem os líderes, o próximo seria Shadow, apesar de não ter sangue de alfa, ele era o mais capacitado e próximo de um líder que havia no bando.

Braços fortes e protetores que me abraçaram tantas vezes a tempos atrás, me abraçaram novamente. A sensação de casa, não era a mesma sem Shadow, ele era parte da minha vida, era meu melhor amigo.

– Nunca mais... Fuja que nem uma covarde. – ele disse entredentes no meu pescoço, sua voz vacilou.

– Eu senti tanto sua falta... – disse entre soluços enquanto me agarrava à ele, como se fosse o meu último suspiro.

Ele se afastou de mim para me olhar nos olhos.

– Você tem algumas coisas a...

– Não. – o cortei – Depois...

Ele apenas assentiu com os olhos, de seu jeito típico. Limpei a garganta e as lágrimas, rindo um pouco.

– Olhe só pra você, hein? Musculoso, pinta de galã... Agora que as meninas não escapam! – ri.

Ele apenas levantou as sobrancelhas e deu um meio sorriso.

– Foi uma mudança, necessária... – ele disse. – Mas o que vemos aqui?

Ele deu algumas voltas em mim, antes de dizer.

– Parece que alguém parou de tomar sol, cortou o cabelo, e está mais... Civilizada? – ele estreitou o olhar.

– Parece que eu não agradei você... – levantei uma sobrancelha e cruzei os braços.

– Ele pensaria o mesmo. – ele disse, do nada. O que me atingiu como um soco nas costelas... Ele me culpava.

– Você sabe o que... ? – perguntei quase em desespero.

– Não. Zafrina me disse que te encontrou sozinha. Eu só... deduzi. – ele disse, impassível na expressão, mas em seus olhos... havia muito sofrimento.

Respirar de repente se tornou impossível. O ar não passava nos meus pulmões. Mas decidi não chorar dessa vez.

– Eu... Não consegui salvá-lo... – arfei desequilibrada.

– Tudo bem, tudo bem. Depois você explica. – ele disse e me estendeu o tecido vermelho – Com tanto tempo longe da selva, acho que você se sentiria melhor se vestisse alguma coisa.

– Obrigada. – peguei o tecido e me enrolei nele. – Onde está Zafrina?

– Ela disse que teve que caçar, voltará amanhã. Estive cuidando de você desde antes de ontem. – ele falou.

– Quanto tempo eu estive... morta?

– Morta? Por mais ou menos 4 ou 5 semanas... A vampira me contou que te achou no... Canadá? É isso? Por que estava lá?

– Eu... Longa história. Ela também te contou que eu...?

– Sim. – ele se aproximou de mim e segurou os meus ombros – Max teria dado qualquer coisa para ver esse dia, em que você se tranformasse em loba... Tenho certeza de que, onde quer que ele esteja agora... Está muito contente por você. Principalmente por ter voltado pra casa.

Os olhos dele estavam marejados, eu nunca vira Shadow chorar antes. Aquilo me emocionou e eu chorei junto com ele.

– Vem, vamos caçar alguma coisa... – ele disse, se recompondo.

Fomos até a margem de um pequeno córrego, onde duas pequenas antas matavam sua sede. Logo que as devoramos, vi que Shadow ainda se lembrava de meus costumes de beber o sangue da caça. Me lembrei que aqui não precisava fingir nem esconder nada, pois eles sabiam tudo sobre mim e sobre minha história, sobre eu ser uma híbrida, sobre ser filha do ex-alfa Apollo etc. Começei a me sentir um pouco mais feliz por ter voltado para o lar.

Eu e Shadow, o grande lobo marrom-terra, fazíamos uma boa dupla no geral, em tudo. Comandar, treinar, caçar... Sempre fomos muito unidos, mas é claro que a união dele com Max era muito maior. Cresceram juntos, brincaram juntos, descobriram a vida juntos. Quando Max me achou na floresta, ainda bebê, Shadow foi o primeiro a me ver, e também foi ele quem convenceu Max a me apresentar para o resto da matilha.

– É estranho pensar em como todos me viram crescer... Me viram desde pequena. E depois namorando o líder, e tudo foi acontecendo tão rápido... – suspirei.

– Acho que depois de um tempo todos nos acostumamos. Se estava bom pra ele, estava bom pra nós também. Se ele estava feliz, estavamos também. Ele era o melhor líder depois de seu pai... – Shadow concordou enquanto andávamos no meio da floresta, depois riu. – Mas não posso deixar de comentar o susto que todos levaram depois que descobriram que você tinha só doze anos quando você e ele...

– Tá, tá, tá... Já entendi... – eu ri – Mas você sabe mais do que qualquer outro que eu sou pessoa desenvolvida, minha mente e meu corpo sempre estiveram além da idade biológica...

– É, mas isso não bastou para que todos deixassem de pensar que Max era um tipo de pedófilo. – ele me olhou e sorriu. –E quantos anos você tem mesmo?

– Você não sabe? – olhei para ele ofendida, de certa forma.

– Não... Talvez uns... 204 anos e 10 meses? – ele perguntou enquanto desviava de um galho no meio da trilha.

– Idiota. – dei um soco no braço dele – Te mataria se não soubesse...

Ele sorriu pra mim, da mesma forma que fazia antes. Aquilo me encheu de uma sensação maravilhosa, parece que nada tinha mudado entre nós, nos 202 anos de convívio.

Shadow abriu caminho entre uma cortina de folhas e abriu espaço para a enorme clareira no meio da floresta. A estradinha discreta, rodeada de flores selvagens azuis e vermelhas levava até o centro do círculo. Quatro enormes cabanas estavas dispostas nos quadro pontos equidistantes da grande roda. Elas eram coloridas, enfeitadas, de acordo com os moradores de cada uma, e seus nomes estavam escritos à mão nos tecidos de cada uma : Arara (cabana feminina), Jacaré (cabana masculina), Tucano (cabana masculina de treinadores) e Jaguatirica (cabana feminina de treinadoras). Haviam crianças brincando ao redor do laguinho central, e estas pararam assim que me viram. Shadow pegou na minha mão e fomos seguindo em frente. Eu lembrava de cada planta, cada cheiro daquele lugar. Tudo ali me completava com diversas memórias agradáveis e até então não tinha percebido que sentia tanta falta daquele lugar e de minha família. Pessoas foram saindo das cabanas, vestidas com diversos tipos de peles, alguns rostos conhecidos, outros não. Aos poucos se formou um aglomerado de cerca de 60 pessoas ao nosso redor.

– Serena! Até que enfim hein? – a voz zombeteira típica de Leonardo se personificou na minha frente. Seus cabelos louros quase dourados e seus olhos azuis não mudaram absolutamente nada, ele me abraçou com força.

Iara foi a próxima, a morena dos cabelos escuros que iam até os joelhos me deu um abraço e limpou algumas lágrimas. Sua voz era perfeita até chorando. De longe, avistei Atena (uma humana comum), uma da treinadora das meninas, com cerca de 50 anos, cabelos longos e brancos e mãe de Leo, me cumprimentou calorosamente também. Henrique, o treinador dos meninos também, seguido de vários amigos e amigas minhas. Bernardo e Jade, a morena dos olhos verdes e cabelos cacheados que estava com dois bebês no colo, seu casal de gêmeos, me olhavam com certa raiva. Entre alguns cumprimentos, não pude deixar de perceber que a maioria das pessoas me olhava desconfiada, alguns até com ódio. Quando se formou um silêncio quase constrangedor, Shadow tomou a dianteira.

– Serena está de volta! Alguns pequenos, podem não ter visto ela ainda mas todos aqui sabem quem ela é e o que ela representa para o bando. Não quero ninguém fazendo perguntas agora. Tenho certeza que Serena fará questão de nos contar o que passou durante seu período fora, está noite na roda na fogueira. – ele sorriu pra mim, de modo que as pessoas confiassem em mim também.

– Onde está Maximus? – Bernardo, o homem sem o braço esquerdo perguntou de forma ameaçadora.

Um tumulto se iniciou na roda, mas Shadow os conteve.

– Silêncio! O que foi que eu disse sobre as perguntas?- ele confrontou Bernardo com sua voz de alfa, que se calou imediatamente.

Cinco crianças de mais ou menos 6 ou 7 anos de idade corriam de um lado para o outro no laguinho, e isso me chamou a atenção. Todos eles tinham os mesmo cabelos ondulados castanhos um pouco ruivos, e os olhos mel. Eu os reconheci imediatamente.

– Nina, Nicole, Nero, Natã, Nilo! – gritei o nome de cada um deles, e todos se viraram na minha direção antes de correr para os meus braços abertos.

Os cinco filhos de Nayara (a radical) e Johnzee (João, o preguiçoso) tinham nomes e aparências muito parecidas, mas cada um possuía uma personalidade diferente. Foram as crianças que nasceram de um acidente, depois do querido Johnzee ter algumas ideias sobre amor de lobos (se é que me entende...) e minha amiga de infância Nayara não acatar às ordens de permanecer humana durante a gestação... Resultado? Nasceram 5 lobinhos ruivos! Exatamente...

– Meu Deus! Vocês conseguiram se transformar em humanos? Vejam só como vocês cresceram nesses 2 anos! – falei arruinando o cabelo de Nero.

– Tia Nena! Que saudade!! – Nina pulou no meu colo – Cadê o Tio Max?

Nina saiu do meu colo automaticamente ao ver que Shadow se aproximava. Todas as crianças voltaram pro laguinho, um pouco mais contidas.

– Serena, eles ficarão bem... Só é questão de se acostumarem com você. – ele disse passando o braço pelo meu ombro. – Eles sofreram sem ele por aqui... Vamos.

Shadow me guiou até um lado mais distante das cabanas. Passamos por árvores marcadas com cheiro de lobo e depois de alguns minutos caminhando chegamos à uma clareira menor, que diferentemente do que eu me lembrava, estava cercada com barras de ferro.

– O que houve? – perguntei passando a mão por uma das barras.

– Tive que proteger a área, para que ninguém invadisse. – ele disse relutante.

– Invadissem? Shad... isso é uma família, por que eles invadiriam? – perguntei assustada.

– Por que queriam descobrir o que houve com Max. – ele disse olhando para as árvores, enquanto abria uma parte das barras com um conjunto combinado de chaves feitas de cobre e pedras.

Entramos no jardim extremamente florido, onde haviam inúmeras borboletas coloridas, e flores vermelhas, brancas, laranjas, rosas... Uma poça larga de água abrigava algumas vitórias-régias e alguns lírios silvestres. Aquele lugar doía, mas eu sabia que doeria mais ainda. No meio do Jardim, uma árvore gigante se levantava em direção ao céu, com raízes longas e umca copa muito cheia, uma sumaúma toda entalhada desde a raiz até o topo. O coração que eu e Max fizemos estava lá, assim como o mapa da casa dos Cullens bem em baixo. Vários escritos, e desenhos de nossos ancestrais adornavam a árvore também, mas a única coisa que tinha de meu pai lá era a frase: “Um líder é um vendedor de esperança.” bem pequeno, se comparar com o tamanho da árvore em si. Com medo, olhei para o chão, cerca de 4 metros ao lado, para o monte de terra que eu deixei ao abandonar o local, e me surpreendi. O túmulo de Max estava coberto de grama verde e viva e várias das flores que foram suas favoritas em vida como orquídeas selvagens, mas o mais surpreendente foi que me bem no centro, estava um lindo e cheio pé de framboesa, sua fruta favorita.

– Oh, meu Deus! – corri até o local e coloquei uma mão na árvore. Ela parecia vibrar com uma energia forte, ela estava repleta de vida. – Como isso foi parar aqui?

– Não sei. Também não acreditei quando vi. – Shadow respondeu mais uma vez com lágrimas nos olhos.

– Parece que esse lugar está cheio de lembranças dele, parece que ele ainda vive aqui... – sussurrei sorrindo e admirando o amplo jardim.

– Você não faz ideia... – Shadow respondeu, pegou minha mão e indicou um ponto na copa da árvore de framboesa. Imediatamente coloquei as duas mãos na boca e mais lágrimas...

Panda estava parado em um galho, olhando o horizonte sério. O lindo tucano de Max, ainda era magnífico, com seu bico alongado e laranja, seus olhos incrivelmente azuis e as penas pretas e brilhantes. Ao ouvir seu nome, ou a minha voz, ele olhou na minha direção e mergulhou em um voô até pousar em meu braço. Ele esfregou e bateu o bico inúmeras vezes, ele estava com saudades.

– Wow, ele não saiu dali desde você foi embora. Não sei nem como conseguia comer ou sobreviver durante esses dois anos. Nunca abandonou os verdadeiros donos... – Shadow, acariciou-o junto comigo.

– Nunca abandonou o dono. Diferente de mim... – disse engasgada com algum sentimento obscuro e deprimente. Beijei o topo da cabeça de Panda, e abracei a árvore, sentindo todo o significado e a presença de Max.

Avistei a Cabana Gavião (cabana do alfa) há cerca de 6 metros dali. Ela estava do jeito que eu a deixei. Quando entrei vi que dentro nada havia sido tocado também. Sentimentos fizeram meu estômago se remexer pela centésima vez aquele dia. Todas as gravuras à tinta que eu fiz com ele, todos os nossos objetos, nossas roupas de peles, nossas armas. Peguei a lança dele nas mãos, sentindo seu peso e admirando seus detalhes, como as pinturas brancas e vermelhas, e seu estoque de veneno para colocar em suas flechas. Ele era extremamente habilidoso em artes manuais, e tudo que ele dava seu tempo pra fazer, ficava incrivelmente detalhado e minucioso. Nossa cama estava da mesma forma, com o lençol branco desarrumado. Podia sentir o cheiro dele em todo o lugar. Me deitei na cama cheia de folhas e abracei seu travesseiro.

– Por que ficou aqui sem mexer em nada? – perguntei enquanto sentia o cheiro dele no travesseiro.

– Não fiquei. Durmo na Tucano, junto com Henrique. Só venho aqui para limpar... Não queria mudar nada desse lugar, queria deixar a memória de vocês intacta. – Shadow respondeu entrando na cabana e olhando ao redor.

– Mas essa é a cabana Alfa, a Gavião. Esse é seu lugar de direito. – retruquei.

– Exatamente, é o lugar dos Alfas. Seu lar e de Max. Agora, será seu... Se decidir ficar com a gente... – ele disse se sentando na poltrona de cipó.

– O que? – me sentei na cama – Eu não sei se posso ficar aqui, Shad...

– Como não? Aqui é sua casa, sua família... As coisas mudaram muito desde que vocês, bem... Você saiu. O bando não é mais tão unido, manter o controle ficou difícil... Nosso número foi diminuído, muitos dos nossos amigos morreram em brigas, entre eles próprios... Tento dar o máximo de mim, mas lidar com pessoas não é meu forte, você sabe.

– Shad. – me aproximei dele e peguei sua mão – Não sabia que estava tudo difícil por aqui! Me perdoe... Eu não deveria ter ido sem dar explicações, deveria ao menos ter dito o que houve, como... Como Max faria.

– Você ainda pensa nele? – o grande homem segurou minhas duas mãos nas suas, e seus olhos imploravam por sinceridade.

– O tempo todo. Memórias dele me assombram... todas as noites. – sussurrei com os olhos arregalados.

– Você conheceu outras pessoas nessa viagem? – ele perguntou estreitando os olhos dessa vez.

– Conheci.

– Humano?

– Não.

– O quê? – ele se afastou um pouco, depois voltou a me encarar com dúvida. – O que era então?

– Um... Vampiro. – respondi observando-o com culpa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Longa Vida De Serena Cullen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.