Era umas nove e meia da noite. Estava tomando banho. Do meu aparelho de som, tocava All Time Low, do The Wanted. Eu cantava me sentindo uma Adele da vida. De vez em quando, eu escutava uns batuques na porta do meu quarto e uns gritos do meu irmão, pedindo para eu calar a boca. Dava de ombros e continuava meu showzinho particular. 

Quarenta minutos depois, saiu enrolada na toalha cor verde claro. Fecho a porta do banheiro e boto para repetir a música. Vou até a gaveta de calcinhas e sutiãs. Escolho a calcinha azul marinho.

- Agora sim vou poder te ver com essa calcinha. Sonho realizado. - disse Matt parado no batente da porta do meu quarto

Com o som de sua voz brotando do nada em meu quarto, eu pulo por causa do susto levado.

- O que faz aqui? - pergunto com a calcinha na mão

Ele apenas arqueia a sobrancelha esquerda, do jeito que ele faz quando pensa merda ou besteira, e sorri de lado. Deixando evidente uma covinha que só agora fui dá conta de sua existência.

- Responde, Matt. - insisto

Ele me olha dos pés a cabeça e quando seu olhar para no meu ele sorri. O que ele pensou? 

- Acho meio difícil prestar ou responder algo com você vestida ou quase vestida desse jeito e só para piorar, com uma calcinha na mão. -  disse ele chegando perto. Perto demais...

Dou um passo para trás e me olho no espelho. Porra! Saiu correndo para o banheiro. Dessa vez, eu fechei a gaveta de calcinhas. Olho para o banheiro. Não acredito. Eu havia deixado a minha camisola branca em cima da cama. 

- Acho que esqueceu de algo, Cass. - disse Matt do outro lado da porta

Eu podia apostar qualquer coisa que ele continha um sorriso filho da puta nos lábios. Revirei os olhos, bufando ao mesmo tempo. 

Abri a porta, deixando uma frecha pequena. Puis minha cabeça para o lado de fora, estendi minha mão na direção de Matt.

- Me dá. - apontei para a camisola em cima da cama

Ele olha para mim, ainda com o sorriso filha da puta dele e olha para a minha cama, vendo a peça ali. O seu sorriso que antes era filho da puta, se transforma para filho da puta nível mil. 

- Anda, Matt.

Ele vai até minha cama, pega a peça e me entrega. Minutos depois, eu saiu do banheiro devidamente vestida. Quando olho para o quarto, vejo que Matt estava deitado na minha cama, e o aparelho de som tocava ainda a música do The Wanted. Eu havia esquecido de tirar do modo repeat. Vou até lá.

- Ei, deixa. Gosto da música. - disse Matt

''And if you know. How do you get out from an all time low.''

- Canta comigo, Cass... 

Matt cantava a música no ritmo. Fiquei parada com os braços cruzados na frente do meu peito, vendo aquela cena digna de mico que alguns pagavam no The X Factor. 

''I can't even find a place to start. How do I choose between my head and heart. Till it ceases I'll never know. How do you get out from an all time low.''

Essa era a última parte da música. Matt cantou com vontade. Parecia eu cantando mais cedo hoje. Pera aí, será que ele me escutou? Fico imaginando isso. Espero que não, penso para mim.

Ele me olha, depois de eu tirar do modo repeat e abaixar o som. Alguma música do The Wanted tocava ainda. Pelo ritmo me parecia Lightning. 

- Então, acabou seu showzinho? - pergunto me virando para ele

Ele apenas continua a me olhar e dá de ombros acomodando sua cabeça em meu travesseiro.

- E qual é o problema do meu showzinho? Você pode fazer um e eu não? - eu pude sentir ou melhor transbordar o deboche na voz dele

Merda, ele escutou. Dou uma de desentendida e olho para minhas unhas. Observando-as melhor, preciso fazê-las. 

Escuto Matt  baixo, balançando a cabeça negativamente.

- Que foi? - pergunto

- Nada. E respondendo sua pergunta. Eu vim aqui para te falar que amanhã eu vou te dá carona, já que somos namorados, - ele faz aspas no ''namorado'' - é melhor chegarmos juntos.

- Você podia ter ligado, não acha? - falei meio que o óbvio

Ele assentiu.

- Poderia sim, se eu tivesse o número do seu celular. E mesmo se tivesse, preferiria vir pessoalmente. Falar por telefone, me privaria da imagem sua vestida só de toalha segurando uma calcinha. E ah, de todas naquela gaveta, a azul marinho é a minha favorita. - disse sorrindo feito cafajeste

Reviro os olhos. Menino abusado. 

- Então, já que já fez o que queria, você pode sair. - falo abrindo a porta do meu quarto

Ele se levanta da minha cama e para na minha frente. 

- Seus pais me amaram sabia? - disse ele todo confiante - Ponto para o genro aqui. - me rouba um selinho

- Eca! - escuto Alex dizer da porta do seu quarto - Se quiserem transar, esperem eu entrar no meu quarto primeiro, ok? E mais, usem camisinha, estou muito novo para virar titio e nada de gritos e gemidos altos. Mãe e pai estão aqui em casa. Informações dadas, deixe-me ir dormir. - fala ele fechando a porta

Não sei se eu fico morrendo de vergonha, ou se eu bato na porta do quarto do Alex. Espero ele abrir e dou um soco nele. Como ele diz aquilo na maior naturalidade possível? Esse menino me surpreende cada dia mais.

Olho para Matt, que tinha um sorriso sacana no rosto.

- Rindo de que agora? - pergunto o olhando

- Do seu irmão. Direto ele. - disse ele ainda rindo

- Inconveniente seria a palavra certa, mas que seja. Tu sabe onde fica a porta, então não precisa eu ir até lá com você. Boa noite. - fecho a porta e a tranco com chave

Vou até o aparelho de som e desligo. Olho no relógio, eram dez e meia da noite. Porra, fiquei praticamente uma hora com ele no mesmo ambiente sem nos matarmos. Progresso, penso para mim.

Me jogo na minha cama e me cubro. Assim eu adormeço.