Acordar na segunda pra ir para uma escola nova, com pessoas que não conheço, com futuros amigos e inimigos virou rotina pra mim. Tudo sempre deu certo, nada que pudesse me deixar encabulada ou encrencada acontecia, então, apesar dos pesares, eu estava bem-humorada essa manhã.

Minha mãe- atrasada, atrapalhada e confusa, como sempre- ainda não tinha comprado meu uniforme, então optei por uma blusinha branca com discretos spikes. Uma calça jeans preta e um dos meus All Stars estavam ótimos. Provida da minha bolsa do Mickey, de um caderno do AC/DC e de alguns lápis e canetas, desci as escadas, meu estomago implorando por algo.

Meu pai estava no fogão, preparando típicas panquecas americanas, que sabe que adoro.

– Bom dia princesa.

– Bom dia pai.

– Preparada para o primeiro dia?

– Eu sempre estou né pai?

Ele me serviu as panquecas com uma pitada de nutella e um copo de suco de laranja. Comi vagarosamente, tentando me acalmar. Apesar de comuns, os primeiros dias de aula sempre me deixavam nervosa.

Cheguei à escola, estava tudo um caos. Meninas atracando-se com meninos no portão, gente correndo por todo lado. Quase me derrubaram! Passei direto e entrei o mais rápido que pude. Precisava muito saber onde era minha sala.

– Oi, eu sou nova aqui, onde é a sala do primeiro ano B?

– É a sala sete.

–Muito obrigada! – agradeci com um sorriso.

Fui correndo direto até a sala, ia acabar machucada se continuasse naquele inferno! Dito e feito. Tropecei em algo, deve ter sido meu próprio pé.

– Quer ajuda? – era uma menina Mulata, cabelos lisos, olhos castanhos escuro, magra e esbelta.

– Obrigada. Não costumo ser tão desajeitada assim.

– É seu primeiro dia aqui?

– Sim. E pelo jeito não comecei muito bem.

– Que nada. Você foi derrubada lá no pátio?

– Não.

– Então você tem muita sorte. E prazer, sou Bárbara.

– Prazer, Charlotte.

– Você é de que sala?

– Primeiro B.

– Ótimo, vem comigo. Estamos na mesma sala.

Entramos na sala e Bárbara foi correndo até um grupo de quatro outras garotas. Camila era baixinha e gordinha, cabelo encaracolado, bochecha rosada e uma voz tão alta, que logo identifiquei que era a que eu ouvira ao entrar na sala. Giovana era alta, cabelos negros que batiam na cintura, olhos verde escuro, encorpada e vestia uma blusa de renda. Sofia era baixinha, magrinha, cabelos negros com pontas roseadas, olhos cor de mel e trajava uma camisa xadrez vermelha. Por último fui apresentada a Miriam, uma menina corpulenta, olhos verdes, cabelos castanho claro, sapatilhas Pink nos pés, pulseiras rosa e branca nos pulsos e uma blusa rosa onde lia-se “ I Love Boys, Bags and Shoes.”

A turma entrou e o primeiro professor fez a gente ir à frente da sala e se apresentar. Quando chegou minha vez, percebi que todos olhavam para minha franja azul como se eu fosse um alienígena a ser estudado.

– Sou Charlotte, - comecei- tenho 15 anos, morava em outra cidade e estou aqui há uma semana. Amo rock e adoro azul. Ler é tudo pra mim, escrevo textos e poemas.

Um garoto, lá do fundo, que tinha se apresentado como Brunno  abriu um leve sorriso. Sentei-me um pouco envergonhada. E logo o professor anunciou que pra entrosar-nos bem, faríamos um pequeno trabalho em dupla. Eu estava ferrada.

– Brunno  e Charlotte.

Totalmente ferrada. Mas tudo bem, a gente sentou junto, fez o trabalho cada um na sua até o fim da aula, e o diálogo foi apenas esse:

– Oi azulzinha.

– Oi estranho.

– Relaxa. Suave?

– Acho que sim. E você?- ele fala muito estranho.

– Também. E aquela sua amiga ali, a Morgana, ela tem namorado?

– Ainda não sei, acabei de conhecê-las.

– Ah. Tá bom então.

Saí para o intervalo e tropecei – de novo- só que dessa vez no pé do Brunno. Ele segurou meu braço antes que eu caísse.

– QUAL O SEU PROBLEMA?

– Calma azulzinha, só quero saber se já arranjou a informação que te pedi.

– Não. E me deixa em paz.

– Só quando você arranjar sua amiga pra mim.

– Por que você não vai lá e simplesmente fala com ela?-mas antes que ele respondesse saí, deixando-o sozinho.

Tudo ocorreu dentro dos conformes, até o intervalo.

– Quem você pensa que é para falar com o meu Brunno? – uma loira, claramente com os cabelos pintados, de olhos pretos me agarrou.

– Um, eu sou Charlotte. Dois ele que veio falar comigo. Três, você é namorada dele?

A menina desmoronou por um instante.

– Não. Mas um dia serei!

Meu primeiro dia de aula me deixou cansada. Mas não me tirou uma coisa da cabeça: o Nicolas. Queria muito vê-lo, mas algo me dizia que isso não aconteceria hoje. Não depois de ontem. Não quando puxei a mão depois que as nossas se tocaram, ele fez uma cara de espanto, que tenho até medo que ele não queira mais me ver. Justo agora, que eu estava realmente começando a gostar dele, não mais o odiava nem nada.