A Vida Como Ela É escrita por LauC


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Eu não aguentei e fui escrever logo. Caros leitores, nesse capitulo vou meio que mostrar o poder que os pais tem sobre os filhos. Espero que nao me odeiem por o que vai acontecer rsrsr. Aproveitem. E depois comentem se não choraram junto kkkkk
ah sim, para maior efetividade desse capitulo escutem a musica The Cinematic Orchestra - To Build a Home, a letra nao tem nada a ver com o capitulo, só que ela tem um ritmo bom que me ajudou pacas para escrever.



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O engraçado da vida é que ela te prega peças que você não vai saber resolver imediatamente. Só depois, e com muita analise, que você vai saber o que fazer. Mas enquanto isso não acontece, você vai cair varias vezes, vai chorar varias vezes e se machucar varias vezes. Para sobreviver nesse mundo você tem que ser forte e aguentar muitas coisas.

Papai me jogou dentro do Taxi que esperava na rua. Sentei com tudo do lado da porta esquerda, meu pai entrou logo em seguida, com a cara mais alegre do mundo, só para não ter que dizer ao contrario. Anne entrou puxando Amanda pelo braço. Quando Amanda fechou a porta o taxista começou a andar. Amanda e eu nos entreolhamos nervosas, pois agora sim, eles iriam brigar com a gente.

O taxista nenhuma vez perguntou para onde deveria ir, o que me fez pensar que nossos pais já vieram nele. Eu queria abrir a porta do carro e sair dali, mas isso só ficou em pensamento mesmo. Não saber para onde estavam nos levando me deixava mais nervosa ainda, tanto que minhas unhas estavam machucando minha mão. Quando o taxi virou a esquina que eu reconheci onde estávamos.

Olhei para as arvores do parque que ficava a frente do apartamento de Amanda com uma cara de alivio, pois, sei lá, vai que eles internassem nós duas em uma clinica de reabilitação ou coisa do tipo. O taxista parou na frente do prédio e nos descemos do carro. Nossos pais nos empurraram em direção a entrada do prédio e entramos no saguão. O segurança olhou de mim para Amanda e depois para nossos pais, que não estavam com uma cara agradável, virou o rosto e ignorou-nos. Salvando a própria pele, hein?

Pegamos o elevador em silencio, meu corpo estava tremendo, e eu garanto que não era de frio, engoli em seco e respirei fundo. Vi Amanda fazendo a mesma coisa no canto do elevador. Quando chegamos no 5º andar, meu pai me empurrou para o corredor enquanto segurava meu antebraço com força. Caminhei por aquele corredor, azul e prata, rapidamente, apesar de parecer que a cada passo que eu dava maior ele ficava aumentando ainda mais a minha agonia.

Anne apareceu na minha frente de repente e destrancou a porta do apartamento 25. Papai me empurrou e puxou Amanda para dentro ao mesmo tempo. Tropecei no degrau da porta e quase cai de cara, se meu pai não tivesse me segurado e me empurrado em direção a sala. Vi que Anne tinha fechado a porta e Amanda tinha ido para a sala me acompanhar.

Não havia ninguém além de nós ali, engoli em seco e olhei para Amanda, ela me deu um olhar de “estamos na merda” e respirou fundo. Nossos pais não falaram nada por uns 2 minutos, mas em compensação davam aquele olhar totalmente desaprovador. Então quem abriu a boca para começar foi meu pai.

— Só me digam. Vocês realmente acharam que iriam nos enganar? — Disse ele cruzando os braços. Amanda e eu ficamos caladas.

—Sabe, meninas, vocês realmente nos decepcionaram muito — Começou Anne a dizer, olhei para o chão e mordi o lábio inferior. — Foi muita ousadia mesmo nos desobedecer e se encontrarem naquele prédio que tinha um segurança!

— Um fliperama — Falei sem querer, tive vontade de me dar um soco ali mesmo.

— Um fliperama? — Perguntou meu pai aumentando o tom de voz.

— Aham — Confirmei, já estávamos na merda mesmo. — E como diabos vocês descobriram que estávamos lá? Estão espionando a gente agora, é?

— Se estamos espionando ou não, não é da sua conta — Cortou meu pai.

— Claro que é da nossa conta, a vida é nossa! — Rebati, meu pai deu um passo para frente. Fechei meus olhos e esperei ser atingida por um tapa, mas esse tapa nunca veio, abri meus olhos e olhei para ele meio que surpresa.

— Suas amigas que não responderam direito as perguntas que fizemos — Disse Anne explicando a verdade. Minha boca abriu levemente em choque e olhei para ela sem entender. — Todas deram uma resposta diferente.

Droga. Grande ajuda meninas!!

— Não foi difícil saber onde estariam — Prosseguiu Anne, ela encarava a mim com um olhar total de nojo e raiva. O que me surpreendeu bastante, já que ela sempre fora um amor comigo. E estava na cara que ela iria fazer qualquer coisa para me afastar de Amanda.

— Então, apartir de hoje, vocês duas não irão se ver, nem se falar — Disse meu pai descruzando os braços e olhando de mim para Amanda. — Vocês duas irão se afastar por bem ou por mal.

— OK — Disse Amanda dando de ombros e colocando as mãos nas cintura. — E para isso vocês vão fazer o que? Nos mudar de escola? — Olhei para ela meio assustada, ela veio até a mim e segurou minha mão. Olhei para a mão dela na minha, senti que ela estava com medo tanto quanto eu. Levantei o olhar para nossos pais e o que vi foi assustador. Um aperto forte veio da mão de Amanda e eu olhei para ela. — Cara, é tão difícil vocês nos aceitarem, assim? Vocês não enxergam que somos feitas uma para a outra? Que nós nos amamos?

— Vocês não se amam!! — Gritou meu pai, os cabelos da minha pele se arrepiaram com o grito dele.

— Sim, vocês não se amam! — Confirmou Anne falando alto também.

— É claro que nos amamos e é só vocês que não enxergam isso! — Rebateu Amanda no mesmo tom de voz.

— Vocês não se amam — Gritou Anne, vi que ela já estava totalmente sem paciência e que a qualquer momento alguma coisa seria poderia acontecer. — Mulheres não foram feitas uma para outra!

— Isso que vocês dizem ser amor, não passa de um desejo adolescente! — Gritou meu pai. — Um sentimento que rapidamente vai desaparecer se se afastarem!

— Vocês estão totalmente loucos! — Gritou Amanda. Enquanto eu escutava a troca de gritos, meu peito e minha cabeça doíam, não tinha a mínima ideia do que fazer.

— Dá para vocês calarem a boca?! — Gritei e todos olharam para mim assustados. Engoli em seco e juntei o resto da minha coragem. — Eu não sei se o que estamos fazendo é certo ou errado, não sei se é apenas uma coisa adolescente. Mas o que eu tenho certeza, é que eu amo a Amanda. Amo-a com todas as minhas forças, desde o momento que a vi e escutei sua voz. Vocês tem que parar de serem preconceituosos a respeito disso — Falei tentando manter a calma. — Tem que parar de pensar que somos feitos apenas para fazerem o que vocês quiserem! Quantas vezes eu não me sacrifiquei e treinei dia e noite para satisfazer o que o senhor queria?! — Apontei para o meu pai, ele me olhou em choque, depois vi sua feição mudar para raiva estampada. — Quando percebemos que REALMENTE NÃO DAMOS CERTO, nós vamos nos separar, mas até lá, que tal nos deixar ser feliz, hã?

Encarei meu pai que estava cerrando os dentes, depois para Anne que estava com um olhar parecido com a de um serial killer de filme. Um suor escorreu pela minha costas e engoli em seco, Amanda apertou a minha mão, fazendo-me olhar para ela. Ela me deu um olhar gentil e eu retribui o olhar, mesmo morrendo de medo.

— Mas nem fudendo! — Gritou meu pai de repente, dei um pulo para trás, soltando a mão de Amanda. Meu pai era a pessoas mais bem educada que eu já conhecera na vida e ouvir ele falando uma palavra tão feia, fazia meus ossos tremerem. — Você enlouqueceu, Charlie? Tu acha que eu vou deixar vocês ficarem juntas até que percebam que isso foi a maior besteira que fizeram na vida? Acho que não. Essa palhaçada vai acabar hoje, agora!

— Mas que porra o senhor pretende fazer? — Gritei já com raiva.— Pretende nos internar, prender em casa, mudar de escola, mudar de país?

— Sim! — Gritou ele.

— O quê mudar de país? — Perguntei. — Você não teria coragem de fazer isso, afinal o senhor precisa de mim para ganhar o nacional!

—Eu não, ela — Respondeu ele e então apontou para Anne, olhei para eles sem entender mais porra nenhuma.

— Como assim? — Agora foi Amanda que perguntou olhando para Anne.

— Vou te mandar para Alemanha, se vocês não acabarem com essa palhaçada agora! — Senti as palavras de Anne baterem em mim como se eu fosse uma bola de beisebol sendo rebatida.

— Mas o quê?! — Exclamou Amanda em choque. — A senhora não teria a audácia!

— É claro que eu teria — Anne nem ao menos piscou quando respondeu, sinal que ela estaria disposta a mandar sua filha para outro país por causa de mim.— Enquanto você morar sobre o meu teto, for menor de idade e tiver sobre a minha jurisdição, você vai me obedecer querendo ou não.

Amanda travou ao meu lado, tentei olhar em seus olhos, mas seu cabelo tinha caído sobre eles. A vi fechando as mãos em punhos e trincando o maxilar. Elas estava com muita raiva da mãe dela.

— Charlie — Disse meu pai me chamando a atenção. Encarei seus olhos azuis que estavam calmos. Ele sabia que eles tinham vencido depois dessa. — Você não vai querer mandar Amanda de volta para a Alemanha, vai?

— Não — Sussurrei fechando as minhas mãos com força. — Não vou.

— Ótimo — Disse, então se pôs a andar e parou bem na minha frente. — Agora eu quero que você termine o que quer vocês dizem ter.

Olhei para ele em choque, eu não acreditava que ele tinha dito para eu terminar com Amanda. Não depois de tudo que passamos. Cerrei meus dentes e me segurei para não bater nele. Eu não podia fazer isso, afinal ele ainda continuava sendo o meu pai, mesmo fazendo da minha vida uma droga. Mas se eu não obedecesse, a Mãe de Amanda a mandaria embora, embora para um país que eu não teria de jeito nenhum como vê-la.

Minha cabeça doía atrás de uma solução para aquilo tudo, mas nada aparecia. Eu não poderia viver sem Amanda na minha vida, para mim ela sempre esteve ali ao meu lado, na verdade eu não tinha a mínima ideia de como era a minha vida sem ela presente. Eu não poderia terminar com ela, nem agora nem nunca. Mas o que eu faria? Deixar as coisas como estão e Anne a mandar para a Alemanha, mesmo sabendo que aquilo poderia ser apenas uma chantagem sem valor? Ou eu terminaria com ela? Mas se eu terminasse com ela, pelo menos eu poderia vê-la todos os dias e me certificar que ela estava bem. Porem eu não poderia me aproximar, muito menos toca-la e beija-la. Então o que eu faria? O que?

Olhei para eles, todos estavam esperando a minha resposta. Eu não sabia o que responder. Qualquer umas das alternativas iria destruir o coração de nos duas. Meu pai me segurou pelos ombros e me fez olhar para seu rosto, ele implorava para fazer a escolha certa. Mas qual era a escolha certa? Olhei em volta e vi a mochila de Amanda no chão perto da porta. Foi então que eu me toquei e cheguei a uma conclusão.

Eu não tinha o direito de mandar Amanda de volta para a Alemanha, e se eu a mandasse, ela teria que se acostumar com novas pessoas e principalmente com uma nova escola. Eu não podia tira-la de uma das melhores escolas do país por causa do meu egoísmo. Não poderia fazer isso com ela, mesmo que aquilo me destruísse por dentro. Afastei as mãos do meu pai de mim e me virei para Amanda. Respirei fundo varias vezes e rezei para conseguir dizer o que eu tinha que fazer.

— Amanda — Comecei a dizer, minha voz sai fraca e nervosa, ela teve que se aproximar para ouvir melhor e eu me amaldiçoei por isso. Engoli em seco e falei tudo de uma vez — Quero que você me esqueça. Esqueça tudo o que passamos, tudo não passou de uma paixão adolescente. Você e eu somos diferentes, não fomos feitas uma para a outra.

Amanda abriu a boca em choque, seus olhos ficaram uma mistura de sentimentos, olhei de lado para Anne e ela estava calada observando.

— Todas as vezes que eu disse que a amava, eu estava mentindo — Uma dor enorme atravessou o meu peito quando eu disse isso. — Só me aproximei de você, pois achei que você precisaria de ajuda aqui na cidade, nunca fiz por querer. — Senti que a qualquer minuto eu cairia de joelhos, meu peito doía, eu estava me odiando por dizer aquelas coisas. Amanda me olhava perplexa, lagrimas caiam de seus olhos. Não chore, por favor não chore! — Não tenho o direito de te tirar de uma escola ótima por um motivo mesquinho. Eu não te amo e quero que você mantenha distância de mim, nunca mais me olhe ou se dirija a palavra. Apartir de hoje, você foi um erro do passado, um passado que vou ansiar em esquecer.

Amanda caiu de joelhos no chão com as mãos no rosto, ela chorava desesperadamente. Anne e meu pai ficaram calados nos observando. Eu os odiava! Odiava principalmente a mim por fazer Amanda chorar. Uma dor dilacerante doía em meu peito, eu não conseguiria ficar ali nem mais um segundo. Virei de costas para Amanda e Anne, eu não conseguiria ver mais Amanda nos olhos. Parei ao lado do meu pai e sussurrei, segurando a minha raiva e dor.

— Satisfeito? — Passei por ele e abri a porta, saindo do apartamento.

Corri o mais rápido que eu podia, desci as escadas e passei voando pelo saguão. Corri pela calçada. Meu peito doía tanto, que eu acho que nada no mundo sararia aquela dor. Senti o meu coração como se fosse uma vidraça de vidro se quebrando e caindo aos poucos no chão. Eu corria sem direção, cada passo que eu dava uma lagrima caia, um outro passo e um pedaço do meu coração caia, outro passo e eu sentia minha vida acabando e tudo de bom sumindo.

Eu não enxergava mais nada, tudo a minha frente estava um borrão por causa das minhas lagrimas. Tive a sensação de pessoas me olhando enquanto eu corria, mas tava pouco ligando. Nenhum deles estavam sentido a dor que eu sentia, a dor de ter terminado com alguém que era tudo para você. Senti minhas pernas pesando, estava difícil de andar. Então cai de joelhos na areia. Areia? Consegui ver onde eu estava, e me localizei na praia, dei uma olhada para trás e vi a estrada percorrendo há alguns metros atrás. Eu estava bem longe da casa de Amanda.

Coloquei minhas duas mãos no rosto e chorei, chorei como nunca em toda a minha vida. Chorei por ter terminado com Amanda, por ter feito-a chorar e sofrer, por nossos pais não nos aceitarem, por ter sempre sido uma filha perfeita aos olhos do meu pai. Chorei de raiva, de dor, de amor e de tristeza. Lagrimas e mais lagrimas escorriam pelo meu rosto, eu não tinha ideia do que fazer. Comecei a sentir uma falta de ar súbita e tossi procurando ar. Não sabia como respirar novamente, tirei meu casaco, tentando facilitar o ar e senti o ar entrando em meus pulmões.

Quando voltei a respirar normalmente, todas as outras coisas voltaram. Quero que você me esqueça.A dor voltou novamente, eu queria arrancar meu coração do meu peito, queria poder não sentir mais aquela dor insuportável. Todas as vezes que eu disse que a amava, eu estava mentindo.

Por favor Deus, faça isso parar! — Gritei para o céu, encolhi-me no chão com as mãos no rosto — Faça isso parar!

Pingos de chuva começaram a me atingir, olhei para o horizonte do mar. O céu estava com nuvens pesadas, não havia estrelas, muito menos uma lua. A praia estava sem pessoas e não havia muita luz. A chuva começou a engrossar e eu fiquei ali, sentada no chão, sem forças para se levantar. Ver a chuva caindo era tão bom antes, por que agora é tão triste e monótono? Fiquei olhando para cima, pingos caíram sobre o meu rosto e se misturaram com as minhas lágrimas.

— Faça essa dor parar, por favor — Sussurrei abraçando as minhas pernas chorando ainda mais.

Aquilo doía. Meu consciente foi apagando com o tempo e quando me dei conta estava sonhando comigo. Eu estava em um lugar totalmente branca e sem nada, a minha frente estava nada mais nada menos que eu mesma.

“Porque você está chorando?” — Perguntou o meu outro eu.

— Não sei — Respondi.

“ Deixa eu te lembrar então. Você pediu para uma pessoa esquecer você”

— Me esquecer? — Aquela conversa não fazia sentindo para mim.

“Sim, uma pessoa que te amava muito”

— Porque eu diria isso?

“ Porque você é uma idiota”

— Eu sou idiota? — Perguntei encarando a minha outra eu, que me olhava com pena.

“Sim, definitivamente você é idiota”

— Então porque uma pessoa me amaria?

“ Porque você é uma boa pessoa apesar de tudo”

— Tem certeza disso?

“ Eu tinha, agora não tenho mais”

Olhei para a garota de cabelos loiros lisos, branca dos olhos azuis, ela era eu, mas tinha um ar diferente, algo que eu não sabia descrever.

— Porque você não tem mais?

“ Porque você é uma idiota”

— Isso não faz o menor sentido — Falei abrindo as mãos.

“ Não agora, mas quando acordar vai entender” — Quando ela terminou de dizer isso, o lugar que antes era totalmente branco se tornou preto e eu cai na escuridão. Abri os olhos com força e me vi deitada na areia da praia, a chuva ainda caia. Encolhi-me e fechei meus olhos. Quando acordar vai entender. Entender o quê? Senti que estava esquecendo algo muito importante.

Amanda.

Foi somente esse nome que fez tudo voltar, todas as memórias, momentos bons, o toque dos seus lábios, seu corpo pressionado contra o meu, nós nos divertindo no fliperama. Tudo passou pela minha cabeça em um borrão. Meu peito voltou a doer quando entendi o que a outra quis dizer sobre eu ser uma idiota. Eu merecia levar um premio por ser a idiota do ano. Mas não tinha como eu voltar atrás, não agora. Fechei meus olhos e uma lagrima percorreu minha bochecha, chorei novamente.Acho que era única coisa que poderia fazer agora.

Não sei quanto tempo tinha ficado dormindo ou quanto tempo passei chorando. Sabia que estava amanhecendo e que minhas roupas estavam ensopadas. Olhei para cima e vi o sol aparecendo sobre o horizonte, a sua luz refletia na água do mar dando um efeito lindo. Naquele momento eu não havia mais nada para chorar, coloquei minhas mãos na areia e forcei a me levantar. Quando fiquei de pé, percebi que o ultimo caco da vidraça tinha caído, não havia sobrado nada. Tudo tinha ido embora, toda a dor, toda raiva e todo amor.

O amanhecer era lindo, parecia que fazia anos que eu não o via. Um sorriso sem alegria surgiu em meus lábios e respirei fundo. Olhei para as minhas roupas que estavam ensopadas e espirrei.

— Nada melhor que ficar gripada — Falei ironicamente. Peguei meu casaco da areia e comecei a andar em direção a calçada. Andei calmamente pela rua, algumas pessoas me perguntaram se eu estava bem outras me olhavam estranho, não respondi a nenhum deles, não importava para mim, nada mais importava para mim.

Passei por varias lojas de roupas, casas, prédios e padarias. Uma pessoa correu e parou a minha frente. Era familiar, mas eu não tinha ideia de quem era.

— Charlie? — Disse a garota de cabelos curtos escuros e olhos escuros, ela era muito familiar. Dei um passo para o lado para continuar a andar e ela me segurou. — Você está bem? Porque está toda molhada?

— Me solta — Falei tentando me soltar dela, ela segurou meu ombro com mais força. Olhei para ela sem foco, segurei seu braço e a derrubei no chão com força. Escutei as pessoas ao redor falarem alguma coisa, vi três pessoas ajudando a garota a se levantar. Dei as costas e continuei o meu caminho.

Cheguei na rua de casa, subi as escadas devagar, atravessei o pátio e entrei no dojo. Vi um homem com roupa Branca ali, ele me olhou e eu o ignorei, cheguei até a porta que começava a nossa casa e entrei, passei pela cozinha, da qual tinha uma mulher loira cozinhando alguma coisa e entrei no quarto. Peguei uma toalha e fui para o banheiro. Abri o chuveiro e entrei debaixo dele, a água estava quente. Não demorei muito para sair dali. Entrei no meu quarto, vesti roupas limpas e me deitei na cama.

Abri meus olhos devagar e uma dor percorreu por todo o meu corpo, senti minha cama molhada, cabeça doendo e garganta fechada. Toquei minha barriga e minha camisa estava ensopada. Tacaram água em mim? Tentei me levantar, mas não tinha forças. Meus olhos pesaram, eu os fechei. Escutei um barulho que eu acho que era a porta abrindo e forcei os meus olhos a verem se tinha entrado alguém. Vi uma senhora de cabelos compridos pretos e olhos puxados ao meu lado.

— Quem é você — Sussurrei, não reconheci minha voz, pois tinha saído rouca e falha.

— Shiuu, sou eu, a sua avó — Disse ela colocando um pano na minha cabeça.

— Humm.

— Você está com uma gripe fortíssima — Disse vovó. — Mas não se preocupe que eu vou cuidar bem de você, ok?

— Ok — Sussurrei e voltei a dormir.

Passei cerca de 4 dias não reconhecendo ninguém a minha volta, a única pessoa que eu confiava era a tal senhora que se dizia ser a minha avó. Confiava nela, pois sempre me contava historias divertidas, tentava me alegrar e me forçava a comer uma papa que eu não sabia o gosto, já que minha garganta estava inflamada. Tinha dias que eu estava melhor, outros dias eu tinha febre de 42 graus,e meu corpo doía tanto que eu mal suportava respirar.

Um casal adulto vinha sempre me fazer companhia e cuidar de mim, eles eram familiares, diziam ser os meus pais, mas eu não os reconhecia. Tentei Forçar a minha mente a se lembrar das pessoas, mas acho que o fato de esta doente fez com que minha memória sumisse. Era isso que eu esperava. Teve outros dias, que eu me via chorando sem motivo piorando a minha gripe. Tiveram que me internar no hospital depois de uns dias.

Abri meus olhos e me vi em um quarto azul marinho, havia uma televisão na parede, uma mini geladeira no canto, do lado um armário branco, uma porta e do lado da minha cama havia uma poltrona. Não havia ninguém na poltrona. Levei minha mão até o rosto e vi que tinha uma agulha no meu braço, olhei para a agulha que era seguida de um fio e vi o soro pendurado em um ferro. Estou em um hospital. Por qual motivo mesmo? Apertei o botão para chamar a enfermeira e não demorou muito, uma jovem de olhos castanhos entrou no quarto, olhou para todo o canto e depois para mim. Me olhou com surpresa e eu dei um leve sorriso para ela.

Ela me deu um enorme sorriso e acenou para eu esperar, saiu do quarto e logo em seguida voltou com um homem de cabelos pretos, que supôs que era um medico. Ele olhou para mim com um sorriso no rosto.

— Pensei que não iria ver o seu sorriso — Disse ele se aproximando.

— E porque não — Falei, minha voz saiu roca e eu fiquei surpresa.

— Ah não se preocupe com a sua voz — Disse ele. — Como você se sente?

— Bem, eu acho — Respondi com a voz roca, a enfermeira deu um riso baixo, o medico olhou para ela serio.

— Desculpe — Disse ela sem graça.

— Não tem problema — Digo para ela, o riso dela tinha me animado um pouco.

— Bem, Charlie, eu sou o doutor Sanno — Disse o medico e acenou para a mulher que supus ser a enfermeira. — E essa é Yori.

— Prazer, iria me apresentar, mas parecem que já me conhecem — Falei, os dois deram um sorriso.

— Isso é verdade — Disse Yori.

— Você lembra do que aconteceu com você? — Perguntou Sanno olhando para mim.

— Você diz exatamente quando? — Perguntei, já que me lembrava apenas de Amanda e do amanhecer.

— Qual foi a ultima coisa que você se lembra?

— Um amanhecer depois de muito tristeza — Respondi, os dois me olharam sérios.

— Não se lembra de ter ficado doente? – Perguntou Yori.

— Tenho algumas recordações de quando estava doente — Respondi, olhei para eles preocupada. — Eu não estou com uma doença grave não né?

— Não, graças a Deus — Disse Sanno soltando um suspiro. — Seus familiares trouxeram você aqui com muita febre, tosse, dor de cabeça, garganta inflamada e dor no corpo, um típico sintoma de gripe. O que nos preocupou foram as suas alucinações e a perda de memória. Fizemos uma bateria de exames em você para procurar outro motivo para as suas alucinações e a perda de memória, mas não encontramos nada a não ser uma pneumonia.

— Humm.

— Mas agora você está bem — Disse Yori sorrindo. — Conseguimos controlar a sua pneumonia e a sua gripe, apesar de ter demorado 2 semanas.

— Nossa, duas semanas? — Perguntei surpresa.

— Aham — Confirmou o médico, se aproximou de mim com um palito de madeira na mão. — Posso ver a sua garganta?

Abri a boca e ele verificou a minha garganta. Depois perguntou se eu estava sentindo alguma dor ou algo do tipo, respondi que não para tudo.

— Ótimo — Disse Sanno com um grande sorriso. — Durma um pouco, ainda estamos de madrugada, você vai ficar aqui por mais um ou dois dias para termos certeza que está bem, ai você pode ir para casa.

— Ok, obrigada doutor — Falei dando um sorriso agradecida para ele.

— De nada querida — Disse sorrindo de volta e então deu um tapinha no ombro de Yori. — Qualquer coisa só chamar Yori.

—Verdade — Confirmou Yori dando uma piscadinha para mim, os dois saíram do meu quarto e eu liguei a Tv. Coloquei no canal de Anime, mas não estava passando nenhum que eu gostasse.

Nos outros dois dias conversei bastante com Yori, ela era uma pessoa legal apesar de ser mais velha. Fiz alguns exames para comprovar que eu podia ir para casa e depois que eu recebi os resultados, pude ir para casa. Yori ficou feliz e triste quando fui me despedir dela. Meus pais e vovó que foram me pegar no hospital. Não conversei muito com eles, apenas respondi quando me perguntaram se eu estava bem e eu respondi que sim. Me disseram que eu tinha perdido o meu celular em algum lugar por aí, provavelmente eu tinha deixado cair quando estava correndo sem rumo.

Quando cheguei em casa, fui direto para o meu quarto. Quando me olhei no espelho percebi que tinha perdido peso, cerca 3 quilos, e olha que 3 quilos para uma pessoa que já é magra é muita coisa! Eu estava só o osso! Suspirei e coloquei a mão na cintura.

— Pelo menos estou bem agora — Falei. Bem pelo menos fisicamente, porque espiritualmente eu estava uma merda.

Meus pais não deixaram eu ir para a escola no outro dia, me deixaram ir somente sexta-feira para dar sinal de vida. Tomei um café da manhã reforçado e um bom banho. Fui para o meu quarto e procurei meu uniforme, que estava pendurado no cabide. Vesti um sutiã preto e calcinha preta, peguei minha saia e a vesti. Desabotoei minha camisa e a vesti, dobrei as mangas dela e coloquei a gravata sem apertar. Mamãe precisou apertar as minhas roupas, pois estavam folgadas. Peguei o meu casaco e o vesti por cima da camisa, ajuntei a mochila do chão e sai do quarto. Coloquei o obento na mochila, calcei o meu tênis da Nike e sai de casa.

Eu estava atrasada para a escola, mas era melhor ir do que faltar. Eu não queria faltar, mas também não queria ir, já que eu sentaria do lado de Amanda. E eu não poderia falar com ela. Não demorei muito para chegar ao colégio, talvez só um pouquinho, tipo 9 horas. Troquei de sapatos na entrada e subi as escadas devagar. Caminhei em direção a minha sala e bati na porta.

— Pode entrar — Disse a professora Maedo. Abri a porta devagar e coloquei a cabeça para ela ver que era eu. Ela me olhou surpresa e veio em minha direção. — Charlie!

— Bom dia Maedo-sensei — Falei sorrindo casualmente.

— Pensei que não viria mais as aulas — Disse tocando a minha testa, checando a temperatura.

— Eu estou bem sensei — Digo afastando gentilmente sua mão da minha testa, ela me deu um sorriso sem graça.

— Ainda bem que está melhor. Estávamos preocupadas com você — Disse ela dando um aceno para a turma. Olhei em volta e a primeira pessoa que meus olhos se encontraram foram com os olhos cinzas de Amanda, ela abriu a boca e fechou logo em seguida. Senti meu peito querendo começar a doer e coloquei a mão sobre ele. — Se sente.

Passei por ela e fui em direção a minha cadeira, ao lado da de Amanda. Quando cheguei ao seu lado, nossos olhos se cruzaram novamente, ela estava obviamente preocupada comigo, eu sentia que ela queria falar comigo, só que não podíamos. E quando ela percebeu isso, um olhar de tristeza tomou conta de seu rosto. Meu peito doeu ainda mais, me sentei rapidamente na cadeira e me forcei a não olhar para ela. O que foi impossível. Durante todo o dia, nós nos encarávamos a distancia. As meninas estavam dividias entre nos duas, e isso me incomodava, pois estávamos deixando elas em uma posição difícil. E por causa disso, acabei me fechando para elas, até mesmo para Yoi.


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Notas finais do capítulo

E agora, o que acontecerá com Charlie e Amanda? Tenho que confessar que nesse capitulo a cada palavra que eu escrevia eu chorava junto ;( Espero que tenham gostado. Comentem rsrs.



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