Mulheres de Vênus escrita por Lara Campos


Capítulo 1
Capítulo 1 - Um fim e um recomeço


Notas iniciais do capítulo

Apreciem com moderação.



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_Desce mais uma aqui.

Era uma sexta-feira, dia de folga. O chefe, irritante como só ele sabia ser, liberou todos os funcionários do turno da noite e por isso decidi sair. Decidi isolar minha mente, na verdade. Nem o bom dia do porteiro, nem o sorriso da secretária do gabinete – que tinha os seios mais lindos que já vi na vida – estavam alegrando meus dias ou colocando pensamentos sujos em minha cabeça. Totalmente inerte: era como eu estava.

Jessica havia me ligado, minutos após meu expediente, para pedir que eu a levasse a uma casa noturna que havia sido inaugurada na semana anterior. “Minha cabeça está doendo pra caralho”, menti. Ela só pediu que eu descansasse e que parasse de pensar em nós um pouco. E, sim, ela sabia sempre o que eu estava pensando.

Após a ligação, decidi recusar o convite, porém não recusei a ideia. Sai de casa às 9 da noite e fui para a tal casa noturna que havia sido inaugurada. The Pub era o nome do local. A música era extremamente contagiante, o ambiente bastante acolhedor e boêmio e, por mais que um local destinado à dança, poucos o faziam, naquele começo de noite.

_Duplo ou simples? – perguntou-me o garçom. Não percebi que o homem falava comigo, porém – Duplo ou simples, senhorita? – repetiu já zangado.

_Triplica essa dose.

O tal do garçom arregalou um pouco os olhos como quem dizia a si mesmo que uma mulher não poderia estar bem para pedir um Cowboy em dose tripla. Comecei, então, em minha própria mente um monólogo interno. Um daqueles em que você vocifera, grita, esperneia e se joga contra a parede, mas na verdade, na realidade nua e crua, nada acontece.

_Quem ela pensa que é? Me trocar por um rabo de saia nojento, por uma vagabunda que mal conhece. Por quê? O que é que eu fiz de errado durante todo esse tempo? A idiota sou eu ou ela? É, talvez eu seja mesmo a idiota. Talvez eu tenha mesmo que beber até cair, porque se a bebida é a melhor amiga do homem, vai passar a ser da mulher também.

Aquietei-me. João, como estava escrito em seu crachá de garçom, deixou o copo com bastante gelo e minhas três doses à minha frente e o tintilar do vidro com o mármore do balcão me despertou. Levei a bebida aos lábios, molhei-os e fiz cara feia. Estava forte, forte pra burro. Mas eu desceria cada gota pela minha garganta, cada miserável gota para que minha amargura se tornasse apenas uma ressaca passageira no dia após.

_A senhorita aceita mais? Eu não recomendo – disse João, certamente preocupado.

_Não, ela não aceita.

Uma mulher pouco mais baixa que eu, respondeu a pergunta por mim. Ela usava saltos altíssimos embutidos num scarpin roxo que, obviamente, era o que fazia ela aparentar quase minha altura.

_É um hábito comum? – perguntei-lhe – Responder a perguntas que não lhe foram feitas?

Ela sorriu e abaixou os olhos. Sentou-se no banco ao meu lado e cruzou as pernas descobertas. E que pernas. E que sorriso.

_Na verdade tenho o hábito de cuidar de donzelas indefesas.

_Indefesa, eu? – sorri sarcástica -.

Aquilo era quase um insulto para uma mulher como eu. Advogada, 27 anos, com um cargo dos melhores, dedicado geralmente a homens no Ministério do Trabalho. Além do mais, meus 1,76m e mais alguns cinco centímetros de salto conferiam certa imponência. Agora, indefesa, eu?

_Indefesa, sim. Só uma mulher louca ou uma mulher indefesa viram um copo de Cowboy triplo como você fez.

Ela estava me observando há tempos, notei.

_Talvez sim, ou talvez eu seja é louca.

_Não, acho que não – respondeu ela e sorriu novamente -.

A tal mulher respondona tinha os cabelos mais ruivos que eu já vira, uma cor tão viva que dava prazer só de observar. Sua pele era branca e seu sorriso, tal qual. Ela usava um vestido tomara-que-caia verde escuro e um tanto curto demais, mas conseguia não ser vulgar, ainda assim.

_Julia – ela estendeu-me a mão – Prazer.

_Lara – repeti seu gesto – O prazer é meu.

Continuou sentada ao meu lado ainda por muito tempo, cerca de duas horas. Conversávamos como se nos conhecemos há uma longa data. Curiosamente ou não, ela confessou gostar de mulheres, o que eu já nem duvidava mais. Também contei a ela que não só gostava de mulheres, como amava tudo sobre elas.

Julia tomou dois drinks comigo durante o tempo em que conversávamos. Ela não deixou que eu tocasse em meu copo mais após o segundo. Era uma mulher linda, de tirar o fôlego de qualquer homem ou mulher e sabia como ninguém como envolver bem uma conversa.

_O que você faz? – perguntei -.

_Sou psicóloga forense.

_Mesmo? - abismada, sorri sem graça -.

_O que há de errado nisso? – disse sem entender, mas num tom descontraído -.

_Sou advogada.

Nós duas começamos a sorrir sem um aparente motivo. Uma coincidência ótima: ela era do meu ramo. Talvez até já houvéssemos cruzado por aí em algum caso, alguma investigação. Mas creio que não, até porque eu notaria uma mulher tão - para não ser desrespeitosa - bem apanhada como ela.

João ficou o tempo todo observando nossas risadas, troca de olhares e palavras, do outro lado do balcão. Perguntou se queríamos algo mais, olhei para Julia sem saber o que dizer e ela estendeu a mão pra mim.

_Vamos dançar?

Sorri meio desajustada.

_Eu não sou expert nesse ramo.

Ela soltou um “tsc” meio debochado e me puxou sem que eu pudesse falar algo mais.

O que eu poderia fazer, afinal? Jessica e eu havíamos namorado por quatro anos e ela, assim como eu, não era muito chegada à dança. Preferíamos nos sentar numa mesa de bar, ouvir um bom som ou até curtirmos a noite à beira da praia. Julia, pelo contrário, parecia saber muito bem o que estava fazendo. Ela foi me arrastando pela pista onde algumas pessoas já balançavam o corpo e, por um instante, parou e pousou suas mãos na minha cintura.

_Mexe. Com certeza você sabe como fazer isso.

Aquelas foram palavras sexys saindo da boca dela. Mantive meus olhos nos dela e comecei a acompanhar o ritmo da música me mexendo devagar. Suas mãos, ainda ali, deixavam meu corpo um pouco tenso. Na verdade muito tenso. E aquilo provocava um calor bom.

Ela soltou suas mãos, entrou no ritmo da música e passou a dançar na minha frente. Dançávamos juntas, mas sem nenhum toque. Não era necessário esse contato, porém, pois nossos olhos já eram um toque bem especial, fixados uns nos outros. Ela foi chegando mais perto, mais perto. Passou a mão em meu rosto e afastou-as um pouco, segurando meu cabelo de leve. Aquilo mantinha nosso olhar ainda mais próximo e minha boca a centímetros de tocar a sua. Pousei minha mão, pois, em sua cintura e passamos a balançar no mesmo ritmo, nos mesmos movimentos, suas pernas quase cruzando as minhas e seu sorriso me deixando cada vez mais a vontade e com vontade de arrancá-lo com um beijo.

A música parou. A batida cessou, mas ambas ainda estávamos ali, bem perto uma da outra e em silêncio. Ela apertou um pouco mais sua mão que segurava meu cabelo e perguntou:

_Se importa de borrar o batom que está usando?

Sorri já sem forças de resistir ao charme daquela mulher.

_Sim, me importo. Mas nada que um espelho não resolva, depois.

Abaixei um pouco meu rosto para alcançar sua boca. A música voltou a tocar, todos voltaram a ondular seus corpos na melhor das vibes. Ela subiu seu corpo um pouco no meu, como quem escalava uma pequena serra para alcançar o que queria, e permitiu que eu a segurasse, mantendo seu corpo bem fixo e colado no meu corpo. Tocou meu lábios com a língua, primeiramente, sorriu e me olhou com os olhos desejosos. Entreabri minha boca e me aproximei, beijei-a e puxei sua língua um pouco.

Ela logo entrelaçou as duas mãos em meus cabelos e me deu o beijo mais gostoso que já havia provado na vida. Ela beijava com o corpo e não só com a língua ou com os lábios. Ela tinha um balanço muito envolvente. Repito, muito envolvente. E que aos poucos me deixava a mercê daquele corpo, daquelas mãos e daqueles seios volumosos que quase saltavam do minivestido ao se apertarem contra o meu corpo.

Um, dois, três beijos muito longos e eu já não aguentava mais me segurar. Como um beijo de uma desconhecida podia me deixar com tanto tesão?

Julia soltou meus cabelos. Afastou-se do meu corpo, limpou o batom borrado de sua boca e saiu para longe de mim. Por um instante me perguntei o que ela estava fazendo e logo percebi que havia pegado sua bolsa e saído pela porta dos fundos da boate. Sem entender, fui atrás dela. Saí pela mesma porta, ainda meio desnorteada por causa daquela boca maravilhosa que ela tinha, e quando ultrapassei por dois passos da saída, senti uma mão segurando meu braço e me puxando forte.

Ela estava encostada na parede ao lado da porta e me prensou em seu corpo.

_Não faz isso – pedi meio suplicante -.

_Não faz o que, minha advogada?

_Sua? – perguntei sorrindo e com certa dúvida na voz -.

_Aqui e agora, sim. Minha.

Ela me puxou para um beijo entrecortado e cheio de mordidas. Passou a mão direita pela lateral do meu corpo e com a esquerda levou minha mão ao seu quadril. Apertei meus dedos ali com bastante vontade e desci mais um pouco, puxando sua coxa e segurando-a erguida e colada em mim.

Separei nossos lábios e permaneci quieta olhando para ela. Julia retribuiu meu olhar e sorriu sem abrir a boca.

_Você se importa se eu fizer algo que você me ensinou?

Confusa, ela respondeu que não se importava.

Levantei mais sua perna com minha mão direita e me abaixei um bocadinho. Subi então, passando meu corpo pelo dela e quando nossos quadris se encaixaram novamente, comecei a movimentá-lo de forma suave e insinuante sem perder o contato com seu corpo. Mantive um ritmo constante, como quem ia e vinha penetrando-a, mas sem de fato fazê-lo. Julia fechou os olhos e me abraçou na altura dos ombros, recostando sua cabeça em meu peito enquanto eu movimentava meu sexo no dela.

Senti, sem precisar de um contato direto, que ela já estava tão excitada quanto eu. Sua calcinha estava bastante molhada. E minha boca também enchia d’água sentindo aquilo.

Afastei-me dela bem devagar e soltando sua perna. Dei dois passos para trás e encostei meu corpo num corrimão logo atrás de mim. Julia estava ali, ainda presa na parede e ofegante. Seu vestido levemente levantado e seus cabelos ruivos bagunçados de um jeito sexy. Ela me olhava, sorria, me olhava e sorria novamente. Eu também olhava para ela, para seu corpo e para sua boca e tinha vontade de comer aquela mulher bem ali, ao ar livre e num local público.

­_Eu queria você agora, mas...

_Mas aqui tem câmeras.

Ela deu uma risada gostosa e eu também.

_E uma advogada que se prese não pode se dar ao luxo de receber um processo por atentado ao pudor – ela deixou a parede e veio em minha direção sorrindo e me beijou de leve, somente com os lábios.

_Qual seria a melhor ideia? – indagou -.

Fiquei em silêncio, abracei-a e inclinei seu corpo para trás beijando-a mais uma vez.

_Prazer, Lara Rodrigues, 27 anos, advogada e solteira.

_Muito prazer – ela enfatizou zombeteira – Julia Gampietro, 28 anos, psicóloga forense, solteira e ao seu dispor.

Segurei sua mão, acenei para que andássemos, levei-a até seu carro e fui para o meu.


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