Laura e Edgar- Um romance desde o Início escrita por Nanda


Capítulo 99
Insólito




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Àquelas horas, quando a escuridão da noite ainda reina, sendo quebrada apenas pela luz da lua que sorrateiramente adentra pela janela do quarto do casal Vieira, Laura tem um leve despertar, embalado por um som suave que por um momento ainda não difere de um sonho... Ainda com os olhos cerrados, tateia a cama em busca dos corpo do marido para junto dele voltar a repousar... Percebe, no entanto, que o esposo já não se encontra ali... Abre os olhos e, tendo avivado os sentidos, atina que não é um sonho e sim o dedilhar de seu amado no piano da sala...Levanta-se e, colocando um penhoar de seda branca, desce, pé ante pé, para não despertar Edgar de seu enlevo.. Fica algum tempo parada no último degrau da escada, ouvindo aquela melodia tão delicada...Noturno número 2 de Chopin... Olha com ternura para o pianista , que absorto pela música não percebera sua presença ali... Edgar continua com seus acordes... até notar que já não se encontra sozinho naquela sala...

Edgar: Amor... desculpa... não queria te acordar... mas não resisti...

Laura ( indo em direção a Edgar e apoiando as mãos nos ombros dele): Por que parou de tocar? Estava tão lindo!... Há tanto tempo não te via ao piano... acho que desde antes de ir estudar em Portugal...

Edgar: Confesso que tem algum tempo que não tocava mais... mas hoje senti vontade de expressar o que estou sentindo... e a música tem esse poder... ela consegue transmitir com sua melodia o que não conseguimos pronunciar com palavras...

Laura: Que lindo isso Edgar!... Toca para mim?

Edgar: Hum... (fazendo Laura sentar-se a seu lado no banco do piano) acho que tenho algo mais importante para fazer já que minha esposa acordou... e saiu de sua prisão...

Laura:Ah é? Bem... o senhor meu marido descumpriu o acordo... afinal ele disse que íamos ficar os dois presos no nosso quarto... O que é mais importante que o meu doce cárcere a seu lado?

Edgar: Vou te mostrar... Podemos começar por aqui... (beijando Laura ardentemente) Pronto... agora o piano e as partituras sabem que você voltou... (levantando e conduzindo a esposa)

Laura (sorrindo): Onde você está me levando?

Edgar (caminhando em direção à sala de refeições e puxando a cadeira que ela costuma ocupar) Vem... senta aqui...

Laura: Eu já fui apresentada para a cadeira...

Edgar: Mas ela ainda não sabe que você voltou.. (beijando Laura)

Laura: Está sabendo agora.. (retribuindo o beijo)

Edgar: Sim... agora sim...tudo aqui nesta sala sabe...

Laura (dando um beijinho em Edgar): Tem mais alguma mesa... sofá... a que você queira comunicar a minha volta?

Edgar: Hum... o escritório... vem...

Eles correm de mãos dadas até o local de trabalho do advogado. Edgar apoia-se a mesa e puxa Laura para si, recebendo-a em seus braços com um beijo intenso...

Edgar: Pronto (aplicando vários beijinhos em Laura) agora a mesa... o tinteiro.. os papéis... tudo aqui sabe que você voltou...tantas vezes fiquei aqui trabalhando sozinho pensando em você...

Laura: Tantas vezes eu fiquei pensando em você aqui trabalhando...(beijando Edgar) Não sabe como senti sua falta... Não sei como aguentei tanto tempo longe de você

Edgar: Eu também... não sei como aguentei...

Laura: Na verdade a gente não aguentou...

Edgar: Mas a gente tentou muito...

Laura: Somos dois bobões...

Edgar: Teimosos...

Laura: Eu fiz uma tempestade onde não havia... é tudo tão simples...

Edgar: E vai continuar sendo simples...você sabe disso...

Laura: Que tal a gente ir lá para cima... comunicar ao nosso quarto que eu voltei?

Edgar: Acho que o quarto já foi comunicado... Na verdade... foi o primeiro lugar que soube que você voltou...

Laura (amuada): Pensei que você quisesse...

Edgar: E quem disse que não quero? Mas tem mais lugares dessa casa que ainda não sabem da sua volta... (beijando Laura) e creio que vão ficar muito felizes com essa boa nova... (levando Laura pela mão em direção aos fundos da casa)

Laura: Onde vamos agora? Amor... é madrugada...

Edgar: Eu sei...

O rapaz abre a porta que dá para o quintal da residência... Apesar da penumbra da noite e da pouca iluminação da lamparina a óleo que o rapaz traz acesa, percebe-se o quanto aquele local é acolhedor... a grama macia e molhada pelo orvalho.... árvores já com raízes expostas... flores plantadas em alguns vasos rústicos de cerâmica... algumas pedras de basalto fazendo um pequeno caminho conduzindo a um banco rústico de madeira... Laura anda por aquela parte de sua casa tão pouco conhecida por muitos... detendo-se em frente a uma figueira em flor...

Laura: Tem tanto tempo que a gente não vem aqui... esse lugar está como me lembrava dele... eu costumava ler por horas aqui...

Edgar: Eu lembro... (soltando o candeeiro na grama e abraçando Laura por trás) por isso mesmo... acho que esse lugar merece saber que sua dona voltou... (virando a esposa para si e beijando Laura)

Laura: Merece... (beijando Edgar)

Edgar caminha de mãos dadas com Laura até o banco perto do alto muro coberto de hera que separa a propriedade dos Vieira da casa vizinha... senta-se e acomoda Laura em seu colo...

Edgar: Laura... vou te confessar uma coisa... não sabe o quanto eu evitei vir a esse quintal durante esses anos... As poucas vezes que tentei ficar aqui alguns momentos simplesmente não consegui... Doeu muito...

Laura: Meu amor... ( acariciando o rosto do esposo, olhando em volta e avistando algo) O pé de alecrim! Está ainda ali...

Edgar: Sim... e por isso me doía vir aqui... era dele que colhia os ramos que levava para você... Houve um tempo em que eu quis criar uma lei que abolisse os alecrins.. São causadores de saudade mortal...

Laura: Não senhor!... Essa lei jamais seria aprovada!... Os alecrins são arbustos revolucionários!... Mas... se te doía tanto... por que não mandou cortar esse pezinho aí?

Edgar: Eu pensei em fazer isso... mas... sempre me arrependia... Algo me impedia de fazer isso... E, assim,... ele resistiu ao tempo... como o nosso amor...

Laura: Ambos foram mais fortes que o tempo... que a distância... te amo Edgar Vieira

Laura aproxima seu rosto ao do advogado e toca levemente seus lábios... beija Edgar e é beijada por ele...as mãos do rapaz percorrem o corpo da moça, até chegar a cinta que prende o penhoar, que ele desata sem muito esforço...

Laura (com ar de incredulidade): Edgar... aqui? Pode ter alguém olhando...

Edgar (beijando o ombro de Laura enquanto acaricia sua coxa) Com esse muro? E à essa hora? Meu bem... ninguém vai ver... talvez ouvir... mas só se você gritar

Laura: Eu não vou gritar... só... (falando baixinho no ouvido dele, eriçando todos os pelos de seu corpo) Murmurar...

Edgar (beijando o pescoço da moça): Te quero Laura...(enquanto a abraça acomodando o corpo dela ao seu)... esquece tudo e pensa só em nós dois... (voltando a beijar Laura com ardor)

Dito isto, Laura, ainda um tanto receosa, mas excitada pelo insólito do lugar e sem atinar muito sobre o certo ou errado, atende os anseios do marido... ama Edgar e se deixa amar por ele.... Após o acesso de paixão, apesar do cansaço e da respiração ainda ofegante, encontram ânimo para um beijo longo e calmo... Laura sorri, enquanto repousa no colo de Edgar... levanta-se e dando as mãos ao marido ruma para o quarto... os primeiros raios de sol despontam no horizonte... enquanto o casal mais uma vez acaba por abraçado adormecer...

O dia amanhece... o sol já vai alto... na casa da Rua dos Ipês, Fernando, depois de usar de toda sua lábia, acaba por convencer Catarina a enviar um mensageiro para entregar o convite para a oficialização do noivado para Edgar...

Fernando: Meu rouxinol... por favor... sejamos coerentes... lógico que quero ter o prazer de ver meu irmão presenciar nosso compromisso... mas não acho que ele deva ser tratado diferente dos outros convidados... se todos os convites foram entregues assim... o dele não deve ser diferente...

Catarina: Tudo bem... o convite vai ser apenas enviado... mas ainda pretendo conversar com Edgar... preciso que ele me garanta que Melissa estará presente...

Fernando: Está certo...mando o mensageiro agora... e à tarde você vai até a casa do meu querido irmão...

Enquanto isso, no hotel onde estão hospedadas, Filipa e Manoela estão no saguão a espera de Joaquim...

Filipa: Manoela... não sei por que precisamos esperar...

Manoela: Filipa... eu te conheço... sei que estás gostando das intervenções do Dr. Castro nas investigações...

Filipa: Se fosse em outros tempos estaria... mas depois de tudo o que sucedeu... o que mais quero é manter-me longe daquele homem... que por sinal está atrasado...

Manoela: Ele não vai tardar em chegar...olha... lá está ele...

Joaquim: Bom dia

Manoela: Bom dia

Filipa: Já não era sem tempo... o Edgar logo deve estar no escritório... Vamos logo conversar com ele para não lhe tomarmos muito tempo... Pelo que soube nosso colega é um advogado renomado e bastante ocupado...

Joaquim: Isto é certo... mas ainda é cedo, ele não deve ter começado a trabalhar ainda...Sabe... estava vindo ao encontro de vocês e pensei o seguinte... talvez fosse melhor informar o Edgar apenas quando tivermos algum dado concreto a respeito da investigação, invés de procura-lo neste momento... Seria interessante se conseguíssemos mais informações para repassar a ele...

Filipa: Concordo... E o que nos sugere?

Joaquim: Temos o recibo e a informação do modelo da carruagem... Posso ir aos cartórios da cidade tentar descobrir de quem é essa assinatura... Espero que essa pessoa tenha firma reconhecida...

Manoela: Isso vai dar trabalho ao funcionário do cartório... Em meio a tantas assinaturas encontrar a de uma pessoa de que não se tem nenhuma identificação...

Joaquim: Sei que isso pode levar tempo... mas precisamos tentar... Vou conversar com os tabeliães...

Filipa: Bem... faça isso então... E quanto a nós... acho que podemos descobrir donos de carruagens Clarence aqui no Rio de Janeiro... Esses veículos são licenciados por algum órgão público, pois não?

Joaquim: Sim... na prefeitura vocês encontram esses dados... Eu acompanho vocês até lá e vou para o cartório.... Conheço o fiscal que libera as licenças para circulação de veículos aqui no Rio de Janeiro... por certo poderá nos ajudar... E como comentei ontem...eu particularmente conheço quatro famílias que tinham esse tipo de carruagem...

Manoela: Quais famílias?

Joaquim: Sei que meu chefe... o Dr. Freitas... tinha uma carruagem deste modelo... Outra família que dispunha de uma eram os Ferraz Pontes... E... vocês hão de concordar comigo que seria um absurdo se um dos dois outros proprietários fosse o pai de Melissa....

Manoela: Afinal... quem são?

Joaquim: Bonifácio Vieira... pai do Edgar... e Alberto Assunção... pai da Laura...

Filipa: Você descarta a possibilidade? Ambos se enquadram no que descobrimos até agora... apesar de ser algo aviltante

Manoela: Bem... seja quem for... estamos aqui para investigar... e vamos de uma vez... sem mais delongas que tudo isso vai dispender tempo...

O trio se desloca pelas ruas da capital rumo ao destino escolhido para continuar com as investigações... Enquanto isto, na casa do casal Vieira, ambos encontram-se ainda sonolentos... Edgar, deitado ao lado de Laura, tendo o rosto junto ao dela, acaricia as costas de sua amada ainda de olhos fechados, como que tentando gravar as curvas da esposa em seus dedos...

Edgar: A gente precisa acordar?

Laura: Precisa

Edgar: E precisa levantar?

Laura: Não... não precisa!... A gente pode passar o resto da vida aqui...

Edgar (dando um beijo em Laura) Para sempre? Nessa cama?

Laura: Para sempre... nessa cama...(beijando Edgar)

Edgar: Que bom se isso pudesse ser verdade!... Passar o resto da vida.... com você... se isso foi um sonho não quero acordar nunca mais...

Laura: Não é sonho... nós dois estamos juntos..... aqui dentro e lá fora...

Edgar: Lá fora... eu juro que não queria sair daqui... Mas a vida chama...

Laura: E pelo jeito já tem até voz (rindo).. Acho que as crianças chegaram...

Edgar: Sim... (pegando o relógio na mesinha ao lado da cama)... Já é tarde... e você está atrasada... (levantando)

Laura: Na verdade não...

Edgar: Não? Está de folga hoje?

Laura: Não... mas agora eu defino quando vou trabalhar... E hoje vou só mais tarde...

Edgar: Como assim?

Laura (levantando e começando a vestir-se): Amor.. eu não estou mais trabalhando no escritório.... pedi demissão...

Edgar (enquanto se veste): Você pediu demissão? Bem... imagino que não deva ter sido por causa dos boatos e nem pelo escândalo... E muito menos para ser dona de casa.... Eu te adoro... mas sinceramente não consigo te imaginar fazendo isso o dia todo...

Laura: Pois você se engana...(arrumando o nó da gravata do marido) eu vou voltar a exercer essa função aqui dentro... afinal sou uma senhora, mãe de família... Mas tens razão... eu fiz também por outro motivo... vou voltar a lecionar...

Edgar (abrindo um sorriso largo): Meu amor... que boa notícia! Onde?

Laura: Na minha escola...

Edgar: Tua?

Laura: É... ontem a Sandra, a Isabel e eu resolvemos fundar uma escola... Edgar... não sabe como estou feliz!... Vamos hoje à tarde procurar um local no Morro da Providência... A Isabel quer ajudar as pessoas de lá... ficamos sócias... ela financia o projeto e Sandra e eu trabalhamos...não vai ser incrível? A gente vai utilizar novas metodologias de ensino... não vamos aplicar castigos físicos...

Edgar: Você está tão empolgada com isso!...Estou feliz por você... está finalmente realizando um sonho!... Eu posso ajudar com os papéis para fundação..

Laura: Obrigada meu bem... mas o Senador Assunção já se prontificou... Ele estava conosco... (ouvindo batidas na porta) Quem é?

Daniel: Mamãe...

Laura (abrindo a porta e agachando-se): Bom dia meu anjo!... Tudo bem?

Daniel: Tudo bem... (olhando para Edgar) Oi papai...

Edgar: Oi meu filho... E então... conseguiu convencer a Gertrudes?

Daniel: Sim!!!! Ela já veio com a gente!... Está lá na cozinha com a Matilde...

Laura: Que bom!... Depois eu falo com ela...E sua irmã? Onde está?

Daniel: Está com a vovó Margarida....Veio falar com o papai....

Edgar: A vovó? Está bem meu anjo... diga para ela que o papai já desce... (enquanto Daniel sai correndo) O que será que minha mãe quer? 

Laura (prendendo os cabelos): Bem... logo você vai descobrir...

Edgar: Nós vamos...

Laura: Ela deve querer conversar em particular com você... Vou terminar de me arrumar...

Edgar: Pode ser... mas mesmo assim... venha!... Acho que ela vai ficar feliz por te ver aqui... E não precisa se arrumar mais não... você está linda...

Laura (sorrindo) Está bem... vou cumprimentar minha sogra....Mas não estou linda coisa nenhuma!....Desce antes... faz tantos anos que não falo com tua mãe, Edgar...quero estar apresentável.. e o meu cabelo não está colaborando muito....

Edgar: Seu cabelo está perfeito.... mas já que prefere assim... te espero lá embaixo...(dando um beijinho em Laura)

Edgar se dirige a sala de visitas... Ainda no corredor ouve a algazarra das crianças pela presença da avó paterna... Margarida está encantada por estar junto de seus dois netos...

Melissa: E essa boneca foi a última que o papai me deu... olha só vovó... vamos brincar de chá de bonecas?

Daniel: Vovó eu quero te mostrar o meu trem... a senhora vai para África nele para me ajudar a caçar leões...

Margarida (rindo): Meus queridos! Estava com saudades de vocês! Se soubesse que estavam aqui teria trazido aquela compota de pêssego que o Daniel gosta e biscoitos de nata para Melissa...

Melissa: Adoro os biscoitos de nata... mas gosto muito mais da senhora do que deles...

Daniel: Eu também vovó...

Edgar: Bom dia

Margarida: Filho... bom dia! Como está?

Edgar (dando um abraço e um beijo no rosto da mãe) Bem... que bom que veio nos visitar...

O rapaz percebe que sua mãe tem o semblante um tanto preocupado.. logo atina que o que D. Margarida tem a lhe dizer não deve ser presenciado pelos pequenos...

Edgar (olhando as crianças) Meus filhos... tem um quebra-cabeça novo lá no quarto da Melissa... Que tal vocês montarem e depois mostrarem para gente?

Daniel: Supimpa... Melissa... quem chegar por último paga uma prenda.. (correndo)

Melissa: Eu vou te ganhar (subindo as escadas correndo)

Margarida: Como é que os dois estão aqui?

Edgar: Melissa mora comigo agora... depois de presenciar a forma como Catarina tratava a menina.. não havia condições dela continuar com a mãe... e Daniel está aqui também... É bom te-los por perto... Está vendo, D. Margarida? Aos poucos a casa do seu filho está sendo ocupada por seus netos...

Margarida: E não sabe o quanto isso me alegra... Filho... mudando de assunto... Soube o que aconteceu... estava preocupada contigo...

Edgar: Isso há de passar... Essa maledicência toda com o tempo será esquecida...

Margarida: É o que espero... Filho... não aguento mais te ver sofrendo!... Você e Laura... como estão?

Laura (descendo as escadas): Estamos bem D. Margarida... bom dia...

Margarida: Laura, minha querida!... Não esperava te ver aqui... (abrindo os braços para receber a nora) mas não sabe o quanto fico feliz por isso...

Laura (abraçando a sogra) Obrigada!... Há quanto tempo não lhe via...

Margarida: Muito tempo!... Mas os anos te fizeram bem... está ainda mais bonita...

Edgar: Sim... (passando o braço pela cintura de Laura) está cada dia mais bela...

Margarida: É tão bom vê-los assim!.. Não sabem o quanto rezei para que voltassem a ficar juntos... Quase gastei as contas do meu rosário com todas as novenas que fiz...

Nisto batem a porta... Imediatamente Matilde vai atender e volta em seguida com um envelope endereçado ao dono da casa... Entrega a Edgar e retira-se...

Edgar: Vejamos do que se trata... (lendo) Então eles vão mesmo fazer esse disparate...

Laura: O que diz aí, meu amor?

Edgar (aborrecido): É um convite para a celebração do noivado do Fernando com a Catarina... E vai ser na Confeitaria Colonial... Que coisa mais constrangedora¹... Esse convite é um acinte!

Margarida (desconcertada): Filho... eu sei que não deveria... mas esta visita não é apenas para saber como vocês têm passado...Vim por causa desse convite.. Por sinal... achei que já tivesse recebido...

Edgar: Mãe... como pode ver... acho que fui o último convidado a ser lembrado... e sinceramente...não é algo em que pretendo estar presente....O que quer de mim?

Margarida: Edgar... não sei nem como te pedir isso... mas preciso encarecidamente que me acompanhe a este noivado... Sei que vai ser algo muito desconfortável para você... mas não tenho com quem mais contar...

Laura: Como assim? E o Sr. Vieira?

Margarida: Minha querida... eu tentei convencer seu sogro a me acompanhar de todas as formas possíveis... A relação de Bonifácio e Fernando está péssima... e ele não concorda com esse casamento de jeito nenhum...

Edgar: E você mãe, concorda?

Margarida: Não!.. Não acho certo Fernando se envolver com a mãe da tua filha... Por sinal.... vocês dois devem ter perdido completamente o senso quando resolveram ter um romance com aquela mulher... Mas Fernando é meu filho... e a data é muito importante para ele... aprovando ou reprovando preciso estar presente... E você também... lembre-se que ele é seu irmão...

Edgar: Um irmão que nunca me respeitou.... o Fernando pode até gostar da Catarina... mas tenha certeza que o início dessa relação teve por motivação me atingir... Acho de um cinismo absurdo me convidarem para celebrar essa união...

Laura: Edgar.. por que diz isso? Por acaso está sentindo ciúme?

Edgar: Amor... é claro que não... A minha única preocupação é quanto a Melissa em meio a isto...

Laura: Eu entendo sua mãe... e também não deixo de te entender... Edgar... já que eles foram sínicos te convidando... seja sínico e vá... assim demonstra que isso não lhe atinge... e ao mesmo tempo acompanha a D. Margarida... pelo que vejo esse noivado não vai ser deglutido por nenhum de vocês facilmente...

Margarida: Disso pode ter certeza!... Se no noivado de vocês estava emocionada e feliz, neste apenas sentirei impotência e indignação... (desapontada) Fernando está jogando sua vida fora... e não há nada que eu possa fazer...

Edgar: Minha mãe!... Você fez o melhor que pôde.... Entendo suas razões... e somente por você vou a este noivado...

Margarida: Filho.. não sabe como te agradeço...

Enquanto isso, perto do Paço Municipal, Filipa, Manoela e Joaquim confabulam sobre o que fazer a partir de agora... haviam encaminhado as pesquisas nas duas repartições a que se propuseram e agora só lhes restava esperar pelo resultado das mesmas... Albertinho, que fora a prefeitura com o intuito de prestar um favor ao Dr. Assunção, protocolando alguns documentos naquele local, vê o trio a conversar na rua e resolve juntar-se a eles...

Joaquim: Bem.. então ficamos assim... precisamos esperar as buscas...

Albertinho (indo em direção ao grupo): Bom dia... que prazer revê-los..

Todos: Bom dia

Albertinho: O que tão belas damas e tão ilustre cavalheiro fazem por aqui?

Manoela: Estávamos resolvendo alguns assuntos...

Joaquim: Bem... e agora que temos tudo encaminhado... o que minhas caras amigas pretendem fazer?

Manoela: Pois bem... já que encerramos... temos o dia livre... Pensei que Filipa e eu poderíamos conhecer alguns lugares aqui no Rio de Janeiro... Por certo deve haver locais interessantes para visitarmos...

Albertinho: Pois as moças estão com sorte! Estou em meu dia de folga e posso ser cicerone em um passeio pela Capital...

Joaquim: Bem... eu tenho algumas coisas para resolver no escritório... mas posso faze-las mais tarde!... Nada me alegraria mais do que acompanha-las...

Filipa: Sinceramente... declino de sua companhia.. e se tem algo a resolver em seu trabalho... não se detenha por nós...

Joaquim: Filipa... não me maltrate assim!.. Eu faço questão!... E nada é mais importante para mim do que a vossa companhia...

Manoela: Certo... e para onde os galantes cavalheiros pretendem nos levar?

Albertinho: Bem.. que tal o Corcovado? É um lugar muito aprazível!...Há uma locomotiva que nos leva até lá... e a vista que se tem do Rio de Janeiro é muito bonita...

Filipa: Pois bem... definido então... vamos ao Corcovado...

Enquanto o grupo se encaminha para seu passeio, na casa do Dr. Vieira, após combinar com Edgar como iriam ao noivado de Fernando e conversar sobre alguns assuntos mais amenos, Margarida despede-se do casal, deixando a recomendação de que logo estejam na sua casa para uma visita com as crianças... Assim que a mãe do advogado sai, Edgar resolve dar atenção a seus afazeres diários no escritório, enquanto Laura, ajudada por Matilde e Gertrudes, e tendo a algazarra das crianças por companhia, começa a organizar seus pertences e os do filho naquela casa... A manhã passa assim, de forma bastante movimentada e alegre naquela residência... A tarde chega... Laura está pronta para sair de casa para encontrar com suas sócias e juntas irem ao Morro da Providência procurar um local para fundar a escola... Está descendo as escadas quando ouve batidas na porta...

Laura: Matilde... pode deixar que eu atendo! (abrindo a porta suspirando) Eu já devia imaginar... o que faz aqui?


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