– CAPÍTULO CINCO –

"GO FUCK YOURSELF!"

– Mete a faca, Srta. Kentwell?

A pergunta que Snow fizera permanecia sem resposta; o diretor andou até onde o grupo estava parado e voltou a indagar Clove:

– Devo lembrá-la, Srta. Kentwell, que o porte de armas é proibido nesta escola? – ele disse de modo suave, porém intimidador.

Sua faca chegava a ser quase inofensiva, uma vez que até um revólver estava naquela sala. Sabendo disso, Clove então respondeu.

– Diz isso pra ele, então! – ela disse ao diretor, apontando para Marvel. – Ele acabou de por uma arma na cara do... Cato. – ela concluiu, experimentando uma sensação estranha, o nome dele saindo de seus lábios.

Aquilo pareceu funcionar. De imediato, Snow olhou feio para Marvel e depois perguntou a Cato:

– Isso é verdade, Hadley?

Cato e Marvel se entreolharam, cheios de subentendidos.

– Bem, ele disse que me mataria, depois disse que não – Cato explicou meia-verdade, fazendo-se de desentendido. Ele não queria desmentir o que a garota da faca havia dito, mas tampouco podia prejudicá-la e naquele breve segundo, parecia que ele e Marvel também concordavam em fazer o diretor de bobo.

Clove o olhou indignada.

– Mentiroso! – ela disse para Cato, sem se conter. – Eu vi a arma na mão dele! – e tornou a apontar para Marvel. – Todo mundo aqui viu. – e virou-se para Peeta: – Você viu!

– Eu não vi nada! – Peeta mentiu, para raiva de Clove. – Eu estava fazendo a minha redação – ele ressaltou –, e só me levantei porque eles – e meneou a cabeça na direção de Marvel e Cato – começaram a discutir.

– Ninguém aqui viu o que você disse que viu – Glimmer falou, reforçando a mentira e Clove revirou os olhos. – Aliás, quem traria uma arma para uma detenção? Quem traria uma faca para uma detenção?

A pergunta da loira parecia inocente. Mas Clove bem sabia que de inocente não havia nada em Glimmer, e aquela era uma forma de dizer: "Se o meu namorado – ou seja lá o que ele for – se ferrar, você vai junto, porque jogou uma faca nele. Então é melhor todo mundo ficar quieto."

Clove não sabia se Cato também pensava daquela forma e por isso não confirmara nada, mas quando finalmente entendeu que poderiam enganar o diretor, ela disse:

– Talvez eu tenha visto errado – as palavras saíram a contragosto. – Talvez fosse só um celular.

– Sim, nós jogamos nossos iPhones uns nos outros, ninguém é perfeito. – Marvel concluiu, com deboche.

Snow olhou todos de cima.

– Todos fora do lugar – ele disse, depois se dirigiu a Cato: – Eu esperava mais de um atleta, Sr. Hadley. – e por fim, se virou para Marvel: – E você não engana ninguém, Sanford. Por essa razão, se estiver portando alguma arma, exijo que me entregue imediatamente.

– Não estou armado – Marvel disse cínico e Snow voltou a falar:

– Quer que eu arranque a arma de você à força? – ele perguntou com uma raiva contida e ao mesmo tempo, patética. Obviamente ele não tinha a estrutura física nem a saúde necessária para "lutar" com um garoto de 18 anos.

– Eu já disse, não estou armado e nem ninguém aqui – disse Marvel com sarcasmo, olhando de relance para Clove, para que ela não estragasse tudo outra vez.

Glimmer se intrometeu:

– Me desculpe, Senhor – ela falou, enrolando um cacho loiro com os dedos – mas se o Marvel estivesse armado, ele já teria atirado em alguém, e não estaríamos mais em detenção...

Snow virou-se para ela, dizendo furioso:

– Muito cuidado com o que diz, mocinha!

Olhando a sua volta, Snow prosseguiu:

– Peguem suas coisas. – ele comandou. – Vocês vão todos para o depósito. Talvez no escuro, estejam dispostos a pensar.

– Que ideia brilhante, senhor! – debochou Marvel. – Sem ar, sem luz, e se der um curto circuito? E se houver um incêndio? Eu acho que violar o código de incêndio e arriscar as nossas vidas seria a maior burrice em seus cinquenta anos de vida docente... – depois disse baixinho: – Cinquenta em cada perna...

– Voltem para os seus lugares. – Snow pediu, sem argumento. – AGORA!

Enquanto todos se sentavam, Peeta falou para Marvel, em voz baixa:

– Na verdade, o depósito tem saída de emergência...

– Cala a boca, pãozinho! – retrucou Marvel.

Snow voltou a falar para Marvel:

– Da próxima vez que começar outra confusão, vai se ver comigo, Sanford. – ele ameaçou.

– E o senhor vai fazer o quê? – Marvel perguntou sem se intimidar.

– O que disse?

– Eu quero saber o que o senhor vai fazer. – repetiu Marvel, no mesmo tom. – Vai me violentar, como faz com as criancinhas à tarde?

Snow fechou a cara, porém continuava em tom calmo.

– Por esse desrespeito, acabou de ganhar outro sábado de detenção!

– Oh, estou arrasado. – debochou Marvel.

– Ganhou mais um agora!

– Ok! – Marvel concordou com sarcasmo. – Nesse sábado eu também posso, mas daí pra frente eu vou precisar olhar na minha agenda!

– Ótimo! – disse Snow, com um brilho alucinado nos olhos. – Porque você também vai continuar ocupado! Podemos continuar? Quer mais um? Diga apenas mais uma palavra! É só falar! E em vez de ir pra cadeia, você vem pra cá! – fez-se silêncio. – Já acabou?

– Não. – Marvel respondeu.

– Eu estou fazendo um bem à sociedade, Sanford.

– E daí?

– Conseguiu mais um sábado! – Snow vibrava. – Detenção agora e pelo resto da sua vida, se não tomar cuidado! Você quer mais um?

– Quero, sim!

– Você conseguiu! Mais um sábado pra você!

– Pára com isso! – Glimmer pediu para Marvel, desesperada. – Dá um tempo!

Snow perguntou novamente:

– Já acabou?

– Eu ainda nem comecei – Marvel disse entre dentes.

– Ótimo. Então pode somar mais um sábado!

– Acha que eu ligo? – indagou Marvel, fazendo pouco caso.

– Mais um! – repetiu Snow. – É suficiente?

– Quantos eu já tenho? – Marvel quis saber.

Peeta se antecipou.

– Até agora são sete, incluindo a piada com as roupas.

– Agora são oito. – pontuou Snow. – E você – ele disse a Peeta – não se meta.

– Desculpe senhor, mas são sete – Peeta insistiu.

– Cala essa boca, pãozinho! – Snow mandou, usando o apelido na tentativa de diminuir o comentário de Peeta, que ficou em silêncio.

– Dois meses, Sanford. – o diretor disse para Marvel com ar de vitorioso. – Dois meses de detenção.

– O que quer que eu diga? – Marvel prosseguiu com o sarcasmo. – Estou emocionado.

– É nisso que você quer que eles – Snow disse apontando para o grupo – acreditem. Mas sabe de uma coisa, Marvel Sanford? Deveria gastar mais seu tempo fazendo algo útil com você mesmo em vez de querer impressionar os outros. Você pode até se dar bem.

Marvel nada disse.

– Mas agora já chega. – Snow concluiu. – Eu estarei no meu escritório e se precisar voltar aqui, vai ser para quebrar cabeças.

O diretor se virou para sair da biblioteca, mas antes perguntou:

– Por que não estão fazendo suas redações?

Dizendo isso, ele finalmente se afastou, e quando estava quase chegando à porta, a voz de Marvel ecoou no recinto:

– VAI SE FODER!