O Corvo escrita por Jhiovan


Capítulo 9
Capítulo 8 - Sinceridade


Notas iniciais do capítulo

Bem, este capítulo tem um conteúdo não aconselhado para públicos imaturos. O que não deve ser o seu caso, já que você leu até aqui partes que tem violência. Enfim, boa leitura!



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O sol já se deitava no horizonte, quando Amanda não enxergou mais o homem-da-lei que lhe perseguia. “Devo ter despistado ele”, pensou. Seus pensamentos estavam para trás. Eles estavam junto ao Corvo na luta contra os homens-da-lei e da elite com o lança-chamas. Isso realmente a preocupava, pois nunca soube se ele já havia enfrentado tal perigo antes. Ela pensava enquanto estava sentada em seu cavalo roubado dos homens. Era uma égua na realidade, pelagem branca. A pobre estava cansada e por sorte estavam chegando à montanha.

Amanda tinha de abandoná-la: ela passaria fome e frio à noite, pois não era possível o animal subir até a caverna e nem entrar na passagem apertada. Ela largou-a e rapidamente a égua voltou pelo caminho de onde vieram. Amanda subiu a montanha e entrou no esconderijo. Chegando lá, sentou-se na poltrona esperando ansiosamente Corvo aparecer.

Após vários minutos ela ouviu um som vindo da entrada. Pegou uma das facas do arsenal de Corvo e preparou-se para atacar. A pedra que protegia a entrada moveu-se, abrindo a abertura. Amanda investiu e Corvo segurou seu braço e girou sua mão fazendo com que ela largasse a faca.

— Vejo que está preparada no caso de uma invasão – falou ele, com um tom de voz cansado.

— Pensei que não chegaria mais – Ela disse.

Amanda percebeu que ele não estava bem. Arrastou-se para chegar até o sofá e se atirar.

— O que houve? – perguntou preocupada.

— Estou ferido.

Amanda agachou-se junto à seus pés para examinar. Ela estava levantando a bainha da calça quando ele empurrou sua mão.

— Confie em mim – ela falou em tom calmo, para lhe tranquilizar. – Eu vou lhe ajudar. Estou devendo essa, lembra-se da bala que você retirou?

Ele parecia um pouco tenso, porém deixou-a tocar em sua pele. A carne estava exposta e em uma cor rosada, pelas queimaduras. Amanda impressionou-se.

— Como estou?

Bem ferido.

Amanda preparou medicamentos naturais e simples que conheceu por sua mãe, para queimaduras. Massageou a pele dele com a mistura de ervas e água, enquanto ele gemia e respirava fundo.

— Você aguenta coisas piores, Corvo.

Depois de terminar de passar em todas as áreas queimadas, ela sentou-se na outra poltrona de ao lado dele.

— Descanse um pouco agora. Você deve estar exausto.

— Eu nunca estou – ele contrariou.

— Algum momento vai ficar – disse sorrindo simpaticamente. – Corvo, eu tenho uma dúvida. Por que não aproveitou a oportunidade de matar o Gubner?

— Ainda é cedo. Eu preciso que todos queiram isso. Até por que pode haver pessoas que discordam. Que querem deixar tudo como está. E eu não vou obrigá-las a participar de uma revolução. Só poderei fazer com a permissão deles. Mas eu deixei a minha marca nele, um sinal de retorno, de vingança, quando atirei aquela faca em sua mão. Quero que a cicatriz todos os dias lhe lembre de que eu existo.

— Entendo – disse Amanda.

Passou-se um tempo em silêncio. Ela o observava. Imaginando que rosto estaria por trás daquela máscara. Teve vontade de perguntar, mas imaginou que se ele não teria contado era por um bom motivo. Constrangedor, assustador ou simples, ela achou melhor não saber qual era. Refletiu o quão pouco sabia sobre aquele homem. Seu codinome, seu sexo, seu objetivo e um pouco de seu passado. Apenas isso.

— Lutamos juntos e protegemos a vida um do outro como se fossemos irmãos, mas sabemos tão pouco um sobre o outro. Nunca quis saber mais sobre mim? Pois eu sempre quis saber mais sobre você – ela falou.

— Eu sei o necessário, assim como você. Quanto mais informações, maior é o perigo.

— Perigo?

— Sim, se você supuser um sequestro por exemplo. Mas caso você se sinta à vontade, conte-me da sua história.

Amanda resumiu brevemente a sua vida:

— Não há muito que contar. Minha vida não é muito fantástica. Nasci nos tempos da Grande Guerra, minha mãe e eu conseguimos sobreviver. Já quanto a meu pai, nunca soubemos. Ela me contou que ele foi obrigado a ir e jamais voltou. Cuidou de mim só, em meio a toda a miséria. E nada além de dificuldades e tempos de sofrimento aconteceu. Até você aparecer em nossa casa. A partir daquele dia eu soube que queria ser como você. Ou queria pelo menos fazer algo para ajudar a mudar a situação da gente e de outras pessoas que passam por isso. E essa vontade só cresceu depois que ela morreu. Assassinada por um homem da lei a mandato do Gubner.

— Interessante... – Corvo observou.

Amanda achou o comentário um pouco breve e arrogante para o que ela contara. Mas como sempre, ignorou.

— E você? Amava alguém antes de ir à guerra?

— Sim. E foi um erro.

— Por quê?

— Se eu não a tivesse amado nada teria acontecido. Eles não a teriam usado juntamente de minha família contra mim. Não teriam os colocado em sua mira e me ameaçado. E eu não teria ido para guerra, não teria um motivo para querer voltar pra casa e vê-los. Eu simplesmente teria evitado tudo aquilo sendo preso ou até morto pelos soldados. E principalmente não teria os pesadelos que tenho até hoje.

Amanda estava quase chorando pensando no passado e na família deles dois. Apertou a mão de Corvo forte. Porém ele afastou-a.

— E é por isso que tento evitar ter afeto com as pessoas. É por isso que estou tentando não amar você. Mas tem sido uma tarefa difícil.

Amanda sorriu. Então aquela era a explicação.

Ao nascer o sol, ele preparou a refeição da manhã para ela e levou até a cama acordando-a.

— Andei pensando... Preciso lhe contar algumas coisas. Você quer que eu seja sincero, não é?! A verdade é que eu realmente tenho medo, Amanda. Tenho medo de colocar você em primeiro lugar e esquecer o meu objetivo. De acabar me sacrificando por você e destruir tudo pelo que lutei até agora. Medo de ter um futuro egoísta pensando em apenas nós dois, esquecendo outros seres humanos sofredores. Não podemos ter essa vida, Jones. E você sabe disso.

Amanda sentiu-se um pouco magoada. Um objeto. Então para ele era isso? Porém lembrou-se de que ele ocultava seus sentimentos em função da razão. Se não, ele não seria quem era. Ela tentou fazer o mesmo e engoliu qualquer lágrima que quisesse sair. Tentou compreendê-lo. E ele a surpreendeu quando a puxou para um abraço.

— Não fique triste. Você deveria entender... – disse em tom calmo e tranquilizador.

— Desculpe Corvo. Não consigo ser como você. Meus sentimentos às vezes prevalecem. – ela disse em meio às soluços.

Ele não falou mais nada.

Passou-se aquele dia e eles adormeceram.


***



Tanques. Aviões. Navios. Todos eles levavam milhares de soldados para o local desejado. Um país com abundância em recursos naturais. Mas os soldados não foram enviados para buscá-los. A ordem oculta era acabar com tudo através da destruição. O verdadeiro lema era “se vamos morrer, vocês morrerão também”.


E lá estava Corvo, ainda rapaz. O sobrenome “James” bordado na farda. Segurava uma metralhadora, vestia roupa camuflada do exército e uma máscara contra gases. Eles estavam todos posicionados para começar o ataque. Só faltava um elemento: os soldados inimigos. Conforme chegavam, eram recebidos a tiros e bombas. Mas estes também devolviam o ataque. Corvo estava em uma trincheira feita pelo seu exército. Viu o alvo mais perto. Um jovem, talvez mais que ele na época. Ele atirou. E foi então que as cenas surgiram.

Ele visualizou em sua mente aquele rapaz terminando os estudos. Namorando, casando, tendo filhos, um emprego, uma família. Enfim, uma vida inteira. E também pensou que foi preciso apenas aquela bala para acabar com aquilo tudo. Destruiu sonhos, tirou chances, ele havia tirado uma vida. Outras ele teria que tirar se continuasse ali.

Corvo nunca concordou com a guerra, estava ali por que havia sido forçado e ameaçado a perder sua família e sua amada garota. Com todos esses pensamentos, ele fugiu. Sai dali e correu o mais depressa que pôde, largando a metralhadora na trincheira. Os outros soldados ficaram impressionados, porém tinham mais o que se preocupar no momento.

Foi o instante que a bomba caiu. A bomba que o destruiu. Mesmo em vários quilômetros, ele sentiu o impacto, que o fez cair no solo e a máscara desprender-se. A bomba idealizada pelo exercito que servia, foi projetada para matar de forma cruel. Era composta por gases venenosos e ácidos. Provocava entre outras coisas, queimaduras e corrosão em tudo que estivesse por perto. E Corvo estava por perto.

Logo após perceber que estava no chão, ficou temporariamente surdo, sem ouvir os tiros e bombas que caiam a sua volta. Apenas ouvia seu coração pulsando, a prova de que ainda estava vivo. Mas também sentiu outra coisa: ele não respirava. Com todas as forças, tentava tragar o ar de fora, mas ainda estava sufocado. Arrastou-se para pegar a máscara e só após colocá-la conseguiu respirar o ar filtrado.

Conseguiu chegar à floresta, onde pode ficar em paz. Até os soldados inimigos aparecerem.


Em um brusco movimento, Corvo levantou-se. Arranhou a máscara de metal tentando afastar de sua mente aquele pesadelo que trazia as mais profundas e sombrias lembranças. Ele precisava tomar um ar fresco. Vestiu-se com roupa de combate, caso precisasse e saiu. Ficou nas montanhas ali perto. Observando o sol nascer. E ali veio. A figura negra que sobrevoava o céu. Um corvo. O homem esticou o braço e o animal pousou sobre. Corvo passou a mão em suas penas, agradando a ave. E ela lhe retribui corvejando.


— Obrigado – ele disse. Logo deixou a ave partir lançando-a para o alto.

Com urgência voltou para a caverna e entrou no quarto onde Amanda dormia. Ele balançou-a brutalmente para acordá-la rápido. Ela olhou-o irritada ainda sonolenta.

— Desculpe. Mas é uma emergência. Precisamos sair daqui rápido.

— Por que o que está acontecendo?

— Eles sabem onde estamos. E estão vindo para cá. Eu duvido que vão deixar sobrar alguma coisa. Salvaremos o que puder-mos, mas o principal são nossas vidas.

— Eles quem?

— Os homens-da-lei que você deixou que te seguissem.


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Notas finais do capítulo

Se não gostou e nem quer o próximo capítulo não comente! Brincadeirinha... pode falar. E se gostou também ok?! Não se esqueça de dizer o que e onde, de preferencia. Obrigado!