Ilusão escrita por Mara S


Capítulo 9
O Combate




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/34257/chapter/9

 

            Era noite lá fora e uma chuva fina caia. Dentro da casa “emprestada” Beatriz observava o pequeno jardim descuidado molhado pela água. Ela já se sentia melhor, mas mesmo assim sabia que Dante encontraria alguma imposição, caso saísse para desvendar todo o mistério atual. Falando no caçador de demônios este havia desaparecido para o interior da casa e somente agora, depois de vários minutos, voltava com uma expressão vitoriosa no rosto.

            - Como você está? – perguntou enquanto tirava sua Ivory da mesinha em que a havia deixado.

- Melhor. Foi apenas um susto, no final das contas. – as atenções de Beatriz se voltaram para o meio-demônio.

- Ótimo! Eu já sei aonde ir, na verdade, já queria visitar esse lugar desde o início, só não fui porque estava esperando você melhorar.

Ela ficou o fitando esperando que ele continuasse a se explicar. Dante voltou a se sentar no sofá velho e retomou:

- No culto onde tudo começou. Deve haver alguma coisa lá. Se você estiver melhor eu posso ir sozinho.

- Você... Poder ir? Sozinho?

- Claro! Isso não é lugar pra humanas e além do que não vou querer carregar ninguém no colo, caso algo aconteça. Você veio atrás de mim por ajudar, vai ter que fazer tudo que eu pedir! E se eu falei que é pra ficar aqui... Você vai ficar aqui.

- Eu não posso ficar aqui! Você nem sabe se vai precisar da minha ajuda! – Beatriz reclamou inconformada por Dante estar querendo decidir por ela.

- Eu não vou precisar... Chegando lá, eu farei as coisas do meu jeito. Vai ser melhor assim. Olhe, eu não quero te obrigar a ficar, mas se for necessário...

- Você não manda em mim. – Beatriz falou rindo da situação. Era visível seu aborrecimento.

- Porque são sempre as mulheres mais complicadas que cruzam meu caminho?

Dante, percebendo que aquela conversa não iria levar a lugar algum e sem tempo a perder segura ela pelo braço levando-a até o corredor para os quartos.

- O que você está fazendo??? – Beatriz pergunta enquanto tenta se soltar de Dante. Vendo que ele era mais forte decide experimentar um chute nas costas de Dante que irritado vira-se para trás e com agilidade a coloca em suas costas.

- Vocês conseguem ser irritantes quando querem. Além do que nunca fui delicado com damas.

- Seu maldito machista! Coloque-me no chão! – Beatriz gritou nervosa com o gesto de Dante.

Assim que chegaram a um dos quartos Dante a jogou na cama e voltou-se para a porta pronto para trancá-la. Assim que a fecha escuta os gritos de Beatriz vindos de trás da porta de madeira.

- VOCÊ É MALUCO???

- Na verdade sou bem consciente. Depois você ainda vai me agradecer.

Ainda sob protestos da mulher Dante concluiu:

- Quando voltar, nós iremos falar de dinheiro. De algum jeito vou querer receber. Não trabalho de graça.

Dito isso Dante partiu para sua caçada. Quando voltasse ela já estaria bem mais calma, principalmente quando soubesse que ele havia vencido, pensou.

 

A chuva já havia deixado Dante completamente molhado ao chegar ao prédio do culto, mesmo que seu sobretudo o protegesse. Fitou ao longe o centro em que Beatriz falara: uma construção sem sinais de requinte, mas que chamava atenção por ser o único prédio nas redondezas. Era cercado por uma densa mata que dava ao local um ar macabro. Uma grade de metal que impedia o acesso de intrometidos foi aberta por Dante sem dificuldade. Observou as redondezas à procura de qualquer sinal estranho, mas não notou nada diferente, o que o deixou mais apreensivo; pois da última vez que isso ocorrera foi surpreendido por seres demoníacos sem nem ao menos senti-los. Subiu todo o caminho que separava o portão da entrada do prédio com suas fiéis pistolas – Ivory e Ebony – em punhos. A cada passo esperando que surgissem das trevas ao seu redor demônios para lhe retardar.

Parou na porta da entrada observando os detalhes com cenas de batalhas antigas e já esquecidas.

- Eu só conheço gente maluca. – reclamou antes de dar um pontapé na porta.

O interior era bem mais luxuoso que a aparência externa do prédio. Um amplo salão iluminado com uma escada central levava ao primeiro andar. O assoalho de madeira e grandes janelas de vidro decoradas com belíssimas cortinas de tecido branco detalhadas em ouro davam ao recinto um ar nobre.

- Eu preciso começar a levar o espólio de minhas batalhas. – Dante brincou observando o luxo do lugar. Ouviu uma voz conhecida vinda de suas costas e ao se virar deparou-se com a mesma mulher do galpão descendo as escadas.

- Certos humanos sabem como viver. Não acha? – a estranha falava enquanto descia as escadas. Ainda usava a mesma roupa do encontro passado, mas Dante notou que agora levava em suas costas uma espada.

- Olha só! A mulher sem nome! Como sempre não sinto sua presença, mas você deve saber disso.

Ela riu prazerosamente observando o olhar de Dante, que mesmo tentando disfarçar demonstrava seu descontentamento.

- Não fique chateado... Como eu lhe disse: adoro jogar. Tantos assuntos para resolver e não me apresentei. Você pode me chamar de Livia, acredito que pelo menos tenha o direito de saber o nome do demônio que irá matá-lo. Enfim, esse jogo já está demorando demais... Tantas falhas. Eu tive que matar o maldito sacerdote mortal que não conseguiu usar uma simples humana! Eu sabia que eu que deveria ter feito isso. Essa raça é tão imprestável.

- O que é esse culto? O que você quer com uma humana? – Dante falou irritado – Se vamos jogar, como disse, deixe-me a par da situação.

- O culto não representa nada... Eles brincaram como fogo. Eu só estou observando as coisas para ver se saem da maneira desejada, infelizmente houve a total incompetência pela parte humana, mas aqui estamos nós! O culto quis acordar demônios e usar sua força a favor deles, eu os usei para despertar algo bem maior.

- Vocês, demônios, são tão covardes... Precisam manipular humanos para conseguir o que querem.

- Escravos podem ser manipulados... Mas vejamos, não sei o porquê de continuarmos com essa discussão inútil. Vamos terminar logo com isso, você sabe o resultado do jogo.

- Se tudo falhar e você for expulsa do inferno eu posso ceder minha casa para você... – Dante a provocou tirando a Rebellion de suas costas.

Livia retirou de suas costas a espada e pela primeira vez Dante a notou com maior clareza. Pelo formato próprio da longa lâmina percebeu a origem daquela espada. Ela percebeu o choque do meio-demônio e sorriu maliciosamente.

- Que tal juntar-se ao seu irmão no inferno?

Dante, pela primeira vez, ficou sem reação enquanto notava Yamato nas mãos de um demônio.

- Dante sem palavras... Pelo visto gostou da surpresa! Uma relíquia como esta nas mãos de um mestiço, mesmo que seja um mestiço ousado como seu irmão. Veremos se você também tem o sangue de Sparda nas veias!

Com um golpe violento e rápido atacou Dante que bloqueou o ataque com sua espada Rebellion que mais que nunca deveria ajudá-lo. Tentou tirar de sua mente todo o ódio que sentiu ao ver Yamato nas mãos da mulher e concentrar-se somente na luta, mas agora além da ajuda à Beatriz havia o desejo de destruir o demônio na sua frente e que portava algo de Vergil, que apesar de todas as rivalidades e do caminho errado que escolhera, não deixava de ser seu irmão... Havia arcado com seus erros, mas não suportava vê-la se gabar. Sua raiva de demônios crescia cada vez mais. Seres mesquinhos e incapazes de sentir qualquer tipo de sentimento...

Ela era mais forte, Dante conhecia a força da mulher pelo primeiro encontro, entretanto agora ele estava preparado... Já havia enfrentado tantos seres bestiais, não morreria lutando com um demônio. Não agora. Talvez fosse seu ódio que o fez permanecer em pé durante tanto tempo e mesmo sem a acertá-la não havia sido atingindo uma única vez. Naturalmente, aquela mulher não estava usando todo seu poder na luta e nem mesmo queria... Sentiria um enorme prazer ao derrotá-lo numa luta mais “igual”.

Após diversas tentativas conseguiu desarmar Dante que, antes que esta conseguisse derrotá-lo de fato, pulou rapidamente na direção de sua Rebellion que ainda não havia caído no chão. Por poucos segundos não foi atingido por Yamato que tinha sido bloqueada com agilidade. Aproveitando a proximidade com Livia, Dante decidiu atrever-se a desarmá-la, mas esta foi mais ágil e escapou de seu golpe por poucos centímetros, o que não a livrou de um corte em seu braço direito.

A adversária observou o golpe feito por Dante e o provocou:

- Pelo menos lutar com você está sendo mais interessante... seu irmão não conseguiu durar nem um minuto.

Dante partiu com tanta violência para cima da mulher que esta teve poucos segundos para segurar Rebellion diante de seu rosto. Ela segura a lâmina com sua mão, o que faz que gotas de sangue caíssem ao chão. Dante sorri e tirando sua espada com violência fala:

- Não vai ser tão fácil assim, querida. Eu não estou fraco ainda.

Ela sacode a mão fazendo espirrar sangue e sorrindo maliciosamente lança uma estátua de um dos cantos da sala na direção de Dante que se esquiva por poucos centímetros. Sem dar tempo ao jovem ela joga o par da espada de mármore também. Dessa vez Dante que mal havia se recuperado é atingindo, em cheio, pela peça que se quebra em vários pedaços e o desorienta por alguns segundos; tempo mais que necessário para fazê-la correr até ele e enfiar Yamato no meio de sua barriga. Dante grita de dor e tenta atacá-la com sua espada ainda em punhos, mas a mulher apenas sorri e a retira de suas mãos com extrema facilidade. Dante percebe um brilho intenso em seus olhos ao vê-la atravessando a Rebellion um pouco acima de Yamato.

- Já passamos tempo suficiente juntos, mestiço.

Aproveitando-se da fraqueza momentânea de Dante ela caminha novamente até o centro do salão e desaparece numa nuvem negra... O caçador procura qualquer sinal da mulher, mas a fumaça é muito densa e se torna impossível ver através. Tenta irritado retirar as espadas enquanto lembra-se de uma cena muito parecida, ocorrida no topo da torre Temen-ni-Gru, onde lutara com o irmão e também terminara atingido pro ambas as espadas. Sentia cada pedaço de si sendo picotado em vários pedaços quando forçava a saída das espadas. Sua atenção foi desviada ao notar o que ocorria no meio do salão: agora, além da fumaça negra, havia um círculo negro no chão de madeira e luzes prateadas formavam-se ao redor do local.

Assim que retirou Yamato ouviu um barulho estranho, como se o chão houvesse sido partido em dois, e ao voltar seus olhos percebeu que algo parecido havia acontecido. As luzes de antes agora tinham desaparecido, o chão ao redor do círculo havia rachado e a madeira do assoalho estava levantada. Dante podia ver a mulher nitidamente, pois a fumaça conjurada não existia mais. Ela olhava em sua direção e pôde sentir seus olhos o fitando cruelmente, o queimando por dentro. Retirou a pesada espada Rebellion tentando ignorar a presença demoníaca poderosa na sua frente e que obviamente tramava algo perigoso. Ela precisava ser impedida o mais rápido possível. Caminhou seguro de si até o centro com ambas as espadas em suas mãos, mas foi impedido de chegar mais perto do demônio por um clarão que o cegou momentaneamente.

- MALDIÇÃO! – gritou perdendo a noção de onde estava por alguns segundos.

A próxima coisa que viu assim que se acostumou com a claridade repentina foi que o lugar que antes Livia estava agora abrigava um grande vazio negro, impossível de se ver o que havia além da imensidão escura. Preferiu não descobrir por si só e caminhou para o longe do local procurando a figura feminina que naturalmente havia criado tudo aquilo.

- Você sabe que por alguns segundos realmente me assustou... – disse zombando da situação – Mas depois de tudo isso um buraquinho não vai surtir o efeito desejado. Talvez você queira me explicar o que está acontecendo...

Olhou ao seu redor sem encontrar e nem sentir a presença do ser demoníaco.

Dante já havia chegado à conclusão que não ser sentida era parte de um de seus poderes e esse fato o deixava ainda mais irritado. Pensou por alguns segundos se deveria cair naquele buraco misterioso e antes que chegasse a uma resposta ouviu passos vindos detrás.

- Medo... Dante com medo! Por que não acabamos logo com isso? Não quero perder mais tempo com essas brigas tolas. Tudo já está pronto.

Dante correu em sua direção desviando da cavidade e tentou atingi-la com ambas as espadas, ela apenas pulou para o lado e sem perder mais tempo, como havia dito, lança-o com uma de suas mãos na direção do buraco.

Apesar de sua agilidade, Dante não conseguiu se esquivar a tempo e é arremessado para a escuridão. Antes que pudesse cair para um misterioso destino prendeu sua espada no chão de madeira tentando voltar para a superfície.

- Lugar interessante o inferno... Talvez você tenha mais sorte que seu irmão, tudo depende do local em que irá cair. Isso eu não posso te dar certeza. Eu apenas crio o portal, seu destino dentro do inferno é incerto.

- Quem disse que pretendo morrer assim, Livia? – aproveitando-se que ainda segurava Yamato na mão e vendo que a mulher não imaginava que ele tivesse forças para se rebelar lança Yamato com violência na direção de Livia que é atingida no fígado. Ela apenas o encara com seu olhar demoníaco e começa a retirar a espada, mas antes que consiga Dante pula em sua direção para agarrar a espada e puxá-la em sua direção... na direção do buraco.

- Nada mais justo que você cair em algo que criou, não acha?

Dante segurava a espada do irmão para soltá-la do corpo da mulher e deixá-la cair, mas ela o impedia lutando com suas forças para reverter a situação.

- Você não me parece tão forte agora! – Dante disse rindo.

- E você acha que seu pesadelo vai terminar tão rápido assim? Acha que poderá salvar todos os humanos que passarem por você? Você falhará em ajudar as pessoas ao seu redor e sabe disso! – Livia disse; a cada sílaba que falava seu olhar se tornava mais demoníaco. Em um último esforço se segura em Dante e tenta puxá-lo junto, mas ele sorri vitorioso e empurra com toda sua força Yamato mais fundo em Livia que perde o equilíbrio e cai.

A escuridão a engole e Dante sem perder tempo, pois sabia que logo o portal se fecharia força sua subida. Agradeceria sua fiel Rebellion pelo resto de sua vida, a espada ainda fincada no chão de madeira suportara tanto seu peso como o de Lívia. Assim que Dante chega ao solo firme sente um tremor vindo das profundezas infernais e observa o buraco se fechar com um estrondo. Ouve gritos como se milhares de almas estivessem pedindo por socorro e em seguida o silêncio.

Parecia que tudo havia terminado, ou assim acreditava. Muitas perguntas na cabeça e quase nenhuma resposta aparente. Se Lívia seria uma preocupação passada não sabia responder. Talvez sim... Talvez sua prisão no inferno surtisse algum efeito, mas ele não parava de pensar nas palavras da mulher; mesmo mostrando uma imagem forte e descontraída, Dante, no fundo, se preocupava com o rumo que as coisas eram levadas. O sorriso de vitória foi desaparecendo lentamente de seu rosto ao lembrar-se dos últimos acontecimentos. Estava abalado, apesar de preferir acreditar no contrário. A notícia da morte do irmão, apesar de todas as lutas que travara com ele, o havia sacudido. Dante sabia, mesmo achando melhor ignorar, que o irmão não era mal, de alguma forma ele não suportara as coisas da maneira de Dante. A morte da mãe transformara Vergil. Isso o levou para o inferno e para sua morte... agora Dante não podia fazer nada à respeito. Levantou-se sentindo que todo seu corpo pesava toneladas e caminhou pela saída sem o ânimo que o acompanhava ao final de uma batalha vitoriosa. O caminho de volta foi longo, não sabia o porquê de tanta reflexão, não era algo comum em si, entretanto parecia que a figura demoníaca havia causado isso.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ilusão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.