Quando acordou, John viu a cama de Sherlock vazia e aquilo o deixou triste. Se trocou rapidamente e enquanto devorava uma maçã escreveu um bilhete:

“Oi...

Vou estudar com Carl e a Kate hoje depois da faculdade. Aquela apresentação de Anatomia que eu te falei será na segunda e hoje à noite vou visitar meus pais, então não poderei estudar tanto neste final de semana.

Me ligue se precisar. E se não precisar também. Eu vou esperar.

John.”

O loiro suspirou. Não tinha visto Sherlock voltar na noite anterior, não sabia o que tinha acontecido. Sabia que eles não estavam brigados, porque ao acordar no meio da noite com dor nas costas percebeu que havia sido coberto por Holmes.

Ainda sim sentia-se triste, pois era sexta e provavelmente eles não se veriam mais se dependesse de Holmes. Aquilo estava sufocando-o, mas entendia que dar espaço ao moreno era necessário agora. Sentia-se um tolo por ter acreditado em Sarah e Irene.

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Quando o relógio marcou 19h45 John saiu do campus direto para a república. O dia havia acabado e Sherlock não havia procurado por ele. Aquilo era um sinal, mas ele tinha que respeitar. Ao abrir a porta de seu quarto encontrou Sherlock lendo em sua cama.

- Oi...- disse sem graça.

- Oi. – o moreno se levantou, sentando-se e encarando-o enquanto esse pegava sua mochila e separava algumas roupas – Você vai embora?

- Sim, vou para a casa dos meus pais...

- Oh. Sim...claro.

- Você viu meu bilhete, certo?

- Vi.

- É que não me ligou, então...

- Você estava estudando. Eu não quis atrapalhar. E eu sabia que você voltaria...é bom falar com você assim. Frente a frente. – Sherlock respondeu e John sentiu como se todas as barreiras que ele poderia ter naquele instante, serem derrubadas.

- Certo. Você não teria atrapalhado. Legal...então...vou indo. A gente se vê na segunda à tarde. Se cuida e se quiser, me liga. – John disse enquanto colocava sua mochila pronta nas costas – E ah, pensa no que eu te disse também!

- Mas eu pensei. – Sherlock respondeu fazendo John parar na porta e voltar os olhos para ele. Os dois se encararam por um breve momento antes deste continuar: - Você precisa realmente ir esse final de semana para a casa dos seus pais? Quero dizer, se você...

- Não. Não preciso, na verdade eu não quero, Sherlock. Eu quero ficar aqui com você...se você quiser que eu fique.

John deixou sua mochila no chão e se aproximou de Sherlock, sentando-se na cama e segurando nas mãos geladas do moreno.

- Suas mãos estão quentes. – Sherlock respondeu enquanto John o observava.

- Sherlock, olhe para mim...por favor.

Os dois se olharam e John segurou carinhosamente seu rosto, beijando-o.

- Eu pensei sobre o que você me disse. Sim, tenho fugido e negado sobre o temos, mas esse é quem eu sou. E é isso que eu queria que você entendesse. Eu quero ficar com você também, mas eu não quero estragar...complicar o que nós temos e que para mim é perfeito. Eu não vejo os relacionamentos como a maioria das pessoas, eu não acredito em romances, eu não...eu nunca...mas conhece-lo foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Você tem o dom de me aguentar e de não me xingar a todo instante...- declarou fazendo John sorrir – Eu sou tão real. E tenho tantos defeitos, você já conhece todos eles...eu não sou maravilhoso quanto você.

Os dois se olharam e Sherlock viu que John estava sorrindo. Tomando coragem ele continuou:

- Quando você perceber isso. Quando essa atração passar e você saber como é estar comigo, nada será o suficiente. O que quero dizer é que eu vou continuar aqui e você vai embora...como todos fizeram: meus pais, meu irmão. O mais louco de tudo é que mesmo sabendo de tudo isso, eu quero ainda...eu quero sofrer John. Eu quero tudo. Viver todas as coisas. Eu achei alguém que faz todas elas valerem muito a pena...você.

O loiro então sorriu e o puxou com pressa em um abraço muito apertado, enquanto os dois se beijavam lentamente agora.

- Uau. – John comentou enquanto retomavam seus fôlegos – Você só está errado em três coisas - Você é perfeito. Eu sou comum. E eu nunca...nunca vou querer ficar com outra pessoa que não seja você. Não importa o que diga ou acredite agora...você vai ver, Sherlock. Eu vou provar para você...serão fatos. Você não poderá negar, nenhum deles. – John respondeu sorrindo fazendo o moreno sorrir de volta.

- Eu não sei por onde começar e eu não quero decepcioná-lo.

- Você? Me decepcionar? Impossível...você sempre é melhor do que eu espero...em tudo.

- Sobre a Irene...

- Você não precisa... – John segurou ainda mais forte sua mão.

- Eu quero. Eu vou. John, ela nunca significou nada. Quando eu entrei na faculdade, logo os professores souberam que eu era um aluno acima da média. Logo, isso chamou a atenção de Jim e sua turma...e havia um concurso na época, apenas com os melhores alunos e me chamaram...eu me dediquei tanto a ele, John. Não havia prêmio grandioso, apenas reconhecimento....e Jim jamais poderia permitir que eu ganhasse, naturalmente. Irene fez parte do plano. Nesta época eu estive vulnerável...uma tolice completa. Mas eu de certa forma desejei me sentir normal, pela primeira vez, sabe. Mesmo nunca tendo me sentido assim antes...as pessoas me paravam e falavam comigo. E ela foi extremamente solicita em me ajudar. Até então não sabia sobre Jim e sua influência...nós nos encontramos algumas vezes, nove para ser mais exato. Mesmo não sendo expert nessas coisas, eu sabia...eu sentia que ela gostava de mim. E isso por um momento foi bom. Ela falava muitas coisas interessantes, nós dávamos bem...ela é extremamente inteligente, mais astuta...eu diria. Um pouco antes da apresentação, ela furtou o meu trabalho e o entregou adiantado, dizendo que ela e Jim haviam sido autores. Você pode imaginar como eu me senti...tão fraco, completamente derrotado. Porque foi desta maneira, que eu me demonstrei mais fraco. Como eu pude me deixar levar por sentimentos tão bobos? Sentimentos que eu nem sentia, que eu me forçava a sentir! É claro que eles levaram todo o crédito...apesar de todo o meu protesto. Não preciso dizer que a história de que eu sou um louco surgiu daí. Eu era apenas um aluno novo, sem conhecer ninguém além do meu irmão. Minha vida tem sido isso... – contou.

- Sherlock...deve ter sido horrível.

- Eu não quis contar porque eu não queria lembrar sobre como um dia me deixei levar por sentimentos ruins.

- Não, seus sentimentos eram confusos, mas jamais foram ruins. Eles usaram você. O que fizeram...foi um absurdo. Como suportou...seu próprio trabalho! Eu teria enlouquecido...

- A história morreu aí. Para mim...e para eles ainda mais.

- Então, você e ela nunca...ficaram juntos?

- Não. Absolutamente não.  John, como eu poderia? Você foi o primeiro que me fez sentir coisas..veja: eu estou me abrindo com você. Algo que talvez eu nunca tenha feito para mim mesmo.

Sherlock então o beijou de maneira tímida antes de John responder:

- Obrigado por me contar. Eu sinto muito pelo o passou...eu não poderia ter imaginado.

- Está tudo bem. Quero dizer, meu trabalho era genial, mas enfim...

- Não há uma maneira de provarmos que ele é seu na verdade?

- Não...eu fiz ele à mão...ela pegou tudo.

- Isso não pode ficar assim, Sherlock. Não é justo!

- Está tudo bem, John....- Holmes sorriu ao ver o loiro levantar completamente indignado.

Neste momento seu celular tocou, era Greg avisando que seu irmão havia acordado. Os dois então decidiram ver o Holmes mais velho.

Enquanto assistia o moreno colocar seu casaco, John sentia-se orgulhoso. Sabia que devia ter sido difícil para Sherlock reconhecer tais sentimentos e dizê-los. A verdade é que Holmes sabia surpreendê-lo mesmo quando ele achava que não havia outras formas para isso.