Start? escrita por Sascha Nevermind


Capítulo 27
#24 - Contato Visual e Estômago Embrulhado


Notas iniciais do capítulo

Ok, para tudo: RECEBI UMA RECOMENDAÇÃO!!!!!!!!!! *----------------*
OMG, muito, muito, muitooooooooooooo obrigada, Kashir! Você é diva =3 E não, eu não chorei, foi só um cisco que caiu no meu olho, tá u-u

Obrigada também aos meus amores que comentaram no último capítulo:
#Notaru
#Misty Heartfilia (Becca-chan)
#Beatriz Carvalho
#Julia Marques
#Kagura May
#Guelbs
#RedPegasu
#Yui Chan
#Akemi Senpai
#Breaker
#Miyabi Hinata

Obrigado, suas lindas vnjcfvbhdfugxgbvxkn Vou distribuir balinha pra todo mundo OwO

Má notícia: não tem música esse capítulo Y-Y Eu escrevi ele todo ouvindo Sitting, Waiting, Wishing, do Jack Johnson. Mas eu não sabia a tradução, e depois fui ver e adivinha? Não falava de ornintorrincos suicidas, mas também não tinha muito a ver com o capítulo. E minha mente bloqueou a tentativa de associar qualquer outra música a esse. Sorry TT^TT
Boa notícia (mentira, é só uma notícia avulsa que fiquei com vontade de falar): The Sims 4 saiu *u*

Então, sem mais idiotices até o momento. Nos vemos lá embaixo!!



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Eu realmente esqueci o bilhete no folheto – a iminência de voltar ao apartamento, com Soul lá dentro, tirou isso da minha cabeça. Subi no elevador batendo o pé sem parar no chão, e assim que a porta se abriu no corredor do meu andar, eu puxei o braço da Tsubaki, impedindo ela de sair.

– Eu vou morrer. – Anunciei, ansiosa.

Tsubaki apenas riu de leve e me puxou para fora do elevador .

– Não, não vai. É só agir normalmente.

– Sim, claro, e ignorar que o Soul se declarou para mim e me beijou. – Resmunguei.

Não importava se Tsubaki achava que o Soul não gostava tanto assim de mim. Eu não concordava com ela, mas isso não vinha ao caso. Só o fato dele ter dito que sim já era o suficiente para me deixar com os nervos a flor da pele.

– Maka, eu sugeri que você fosse para a minha casa exatamente por isso.

– Sim, eu sei... – Respondi, respirando fundo.

Foi por isso mesmo que neguei. Eu não podia ficar fugindo o tempo todo. Se não fosse hoje de noite, eu iria encará-lo amanhã na escola, ou em qualquer outro horário. Morávamos juntos, afinal. Mas isso não queria dizer que eu não adoraria poder adiar o máximo possível.

Segui Tsubaki até a porta do meu apartamento e a destranquei, abrindo-a e deixando minha amiga passar primeiro. Então, enquanto ela ia até o meu quarto deixar as suas coisas – Tsubaki sempre andava livremente por aqui – dei uma olhada em volta, meu coração batendo rápido de nervoso.

A luz da sala estava acesa, e a televisão estava ligada na MTV: já sabia que Soul estava mesmo em casa, como se os tênis amarelos dele, jogados ao lado da porta, não fossem confirmação suficiente. Mas não estava na sala, e nem na cozinha, pelo que pude ver. Devia estar no quarto, ou no banheiro, decidi. Entrei, meio hesitante, e estava a meio caminho do balcão para largar a sacola do supermercado quando ouvi a Blair cumprimentando Tsubaki, lá no meu quarto.

Sorri, Blair estava falando alto e animadamente sobre como não esperava ver a Tsu aqui, e que já estava com saudades. As duas estavam se dando muito bem, ultimamente. Talvez um pouco bem demais, pensei, com uma pontinha de ciúmes, mas era melhor assim. Eu preferia que fossem amigas.

Guardei o leite condensado na geladeira e os cookies no armário quase automaticamente, meus pensamentos perdidos. Eu pensava em onde Soul estava, em como eu ia contar para o Kid, e depois brigava comigo por pensar tanto naquilo.Aí assegurava para mim mesma que era só ansiedade, que amanhã eu já estaria melhor, mas isso não impedia os pensamentos de voltarem.

– Cala a boca. – Resmunguei para mim mesma, batendo a porta do armário com força.

– Mas eu não disse nada.

Pulei ao ouvir a voz de Soul, e ele riu baixinho. Me virei, constrangida. Ele estava parado perto da entrada da cozinha, os braços cruzados, com a mesma roupa que usava meio dia. Ele estava no quarto, e não no banheiro, pensei distraidamente, enquanto notava sua expressão hesitante e nervosa. O riso devia ter sido meio falso.

Antes que eu pudesse sequer pensar sobre aquilo, desviei o olhar e corei, encarando o liquidificador como se fosse a coisa mais incrível do mundo. “Eu não disse nada”. Claro que disse, e a cena dele dizendo que me amava, aqui mesmo na cozinha, voltou com tudo. Respirei levemente, dizendo a mim mesma para me concentrar no Kiddo. O Soul é o passado, o Kid é o futuro.

Mas era apenas trocar um problema pelo outro.

– Eu... não estava falando com você. – Disse, por fim, sem conseguir encará-lo.

Senti seu olhar sobre mim, e com o canto do olho notei que se aproximava, hesitante.

– E aí? Comprou o que? – Perguntou.

Viu, Maka, é só uma conversa normal entre parceiros. Coisas sobre a casa. Olhar apara ele não vai te matar.

Mas eu não consegui.

– Cookies, e leite condensado. Tsubaki vai dormir aqui, vamos ver uns filmes agora de noite.

– Hum... – Concordou, pensativo. – Tenho que me esconder no quarto?

Isso me arrancou uma risada, e finalmente dei uma olhada para ele, notando que estava sorrindo também. Desviei o olhar quase imediatamente, me irritando comigo mesma. Era só o Soul. Eu não podia evitar olhá-lo pelo resto da minha vida.

– Ah, Maka... Isso do filme, é por causa de mim?

Não consegui identificar seu tom de voz. Algo entre o orgulho de si mesmo e o medo, talvez? Mas me irritou um pouco, e eu era boa em ser corajosa quando estava irritada. Finalmente o encarei, me virando de frente para ele e cruzando os braços.

– Como assim? – Confrontei.

Soul passou a mão pela nuca, corando um pouco e desviando o olhar. Quase desviei também, mas me segurei.

– Ah, sabe. Por causa de hoje cedo... Nós dois...

– E porque tudo tem que ser por sua causa? – Rebati, corando ao ouví-lo falar de “nós dois”. Não tinha nenhum “nós dois”, e nem teria, lembrei a mim mesma.

Soul deu de ombros, sem graça.

– Não, não tem que ser. Eu só... Sei lá. Desculpe.

Fiz bico por um segundo, mas logo o mordi e assenti, aceitando suas desculpas.

– Não precisa se esconder no quarto, se não quiser. Mas não sei se pegamos algum filme que você goste. – Informei, corajosamente, e me arrependi imediatamente.

Aquilo pareceria um convite. Não era um convite, por mim ele podia ficar a noite toda no quarto, trancado. Bom, talvez não, eu acabaria com pena dele, mas também não queria que ficasse na sala comigo. Eu lembrava bem como foi nossa última noite dos filmes, cheia de indiretas.

Se bem que não haviam muitas indiretas que envolvessem o Bob Esponja. E ele já havia sido bem direto comigo, hoje.

Se Soul percebeu meu nervosismo, não demonstrou. Ele apenas perguntou:

– Que filmes você pegou?

– Valente e Bob Esponja. – Informei, deixando Projeto X de fora, de propósito. Era o único que ele talvez fosse se interessar em ver.

– Não parece ser tão ruim. – Soul deu de ombros.

– Bob Esponja? – Repeti, descrente.

– Amendobobo, yeah. – Ele concordou, dando um meio sorriso. – Mesmo que fosse tão ruim assim, valeria a pena para ficar perto de você.

Abri e fechei a boca algumas vezes, sem saber bem como reagir aquilo. Apenas fiquei encarando-o, de olhos arregalados, enquanto sentia meu rosto esquentar mais e mais. Soul pareceu gostar da minha reação, porque abriu mais o sorriso e deu um passo em minha direção, colocando a mão a centímetros da minha, no armário.

– V-você vai ficar perto de mim, é o meu parceiro. Minha arma. – Lembrei-lhe, dando um passo para trás, assustada.

Perto demais. Perto demais.

– Sou só isso? – Insistiu.

– É meu melhor amigo. – Disse, de repente, me afastando e indo até a bancada do outro lado da cozinha, me apoindo nela. Bem melhor. Respirei fundo, e fechei os olhos, continuando: - O que você quer com isso, Soul?

Finalmente o encarei, e ele parecia... Normal. Não estava mais sorrindo, mas não parecia muito chateado, também – era só a cara meio desanimada de sempre dele. Isso me faria sorrir, se fosse outra situação. Mas com a lembrança dele dizendo que me amava e do beijo que me deu ainda tão viva na minha cabeça, eu não conseguia.

Eu sabia que Soul estava querendo me confundir de novo. Ele iria aproveitar que eu estava meio... mole, perto dele, e avançaria. Mas eu não deixaria aquilo acontecer, de jeito nenhum. Não iria fazer nada que me afastasse mais do Kiddo.

– Você sabe o que eu quero. – Soul suspirou.

– Você sabe quem eu quero. – Rebati, firme, apesar de sentir uma pontada no peito quando Soul me olhou, tão magoado.

– Maka, eu...

– Hey, o que estão fazendo? – Blair perguntou, aparecendo na porta, seguida por Tsubaki.

Ela entrou toda animada, indo rebolando até a geladeira. Já Tsubaki olhou para o Soul, meio desconfiada, e veio para o meu lado. Olhei para o chão, meio sem graça. Por algum motivo, me senti como se estivesse fazedo algo errado.

– Soul estava querendo saber o que eu comprei no supermercado. – Informei a Blair.

– E perguntando sobre os filmes. – Ele completou, sorrindo constrangido para Tsubaki.

Ela apenas arregalou um pouco os olhos, mas antes que pudesse falar algo, Blair interferiu, pegando o bolo que fiz de madrugada da geladeira e vindo deixá-lo na bancada.

– Ah, Soul-san, me desculpe, mas hoje é a noite das garotas. E você não é uma garota. – Acrescentou, sorrindo para ele.

– Não, mas eu poderia aprender mais sobre as garotas. – Sugeriu, esperançoso.

– E deixar você saber todos os nossos segredos? Qual vai ser o mistério das garotas se você ficar?

Blair foi até onde o Soul estava, guiando-o para fora da cozinha, e eu fiz um gesto indicando Blair para Tsubaki, erguendo um pouco as sobrancelhas. “Ela sabe?” Tsubaki acenou negando uma única vez e foi para perto da minha gata.

– Não leve a mal, Soul, é só que... Seria a mesma coisa de uma de nós se intrometer na tarde do videogames de vocês.

– Mas eu gostaria. – Ele revidou, lançando um olhar para mim. – E a Maka disse que não se importava de eu assistir os filmes com vocês.

Os três pararam e ficaram olhando para mim: Tsubaki incrédula, Blair curiosa e Soul esperançoso. Ao que parecia, a escolha era minha. Corei e desviei o olhar para o chão.

– A casa é dele também, não posso proibí-lo de sair do quarto... Mas eu preferia que essa fosse só a noite das garotas. – Completei, lançando um olhar de desculpas para o meu parceiro.

Ele deu de ombros, parecendo aceitar, e virou os ombros para deixá-los fora do alcance da Blair.

– Nesse caso, tudo bem. Qualquer coisa pela minha parceira. – Soul piscou para mim. – Vou ficar no meu quarto jogando e vendo vídeos pornô.

Eu não fui a única que ficou de queixo caído: Tsubaki também, e corou como um pimentão. Blair não, ela apenas sorriu docemente e deu uns tapinhas na cabeça do Soul, como uma mãe orgulhosa do filho.

– Faça isso, Soul-san! – Concordou, e quando ele saiu da cozinha rindo, ela se virou para nós, que a encarávamos mais perplexas ainda. – Que é?

– Você ouviu o que ele disse? – perguntei, corando ao imaginar a cena.

Blair deu de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

– Como se você não soubesse que garotos fazem isso.

Tudo bem, eu sabia. Só não gostava de ficar imaginando a cena. Nem ouvir nada que me fizesse imaginar. Sera que o Kid também...?

Não, melhor não pensar mesmo.

***

A noite passou cheia tanto de sussurros quanto de silêncios pensativos. Como da última vez, trouxemos o meu colchão para a sala, e como ficou meio estreito juntamos um monte de almofadas, travesseiros e cobertores do lado para aumentar o espaço. Tsubaki tomou banho e nós três vestimos os pijamas. E depois de fazer pipoca, brigadeiro, e eu reclamar porque dessa vez não tinha sorvete, fomos para a sala assistir Bob Esponja.

Não que tenhamos assistido de verdade. Assim que tivemos certeza que Soul estava quietinho no quarto dele, Blair me perguntou se havia algum motivo especial para fazer a noite do pijama assim, do nada, e contei-lhe baixinho toda a história. Dessa vez foi mais fácil, as coisas que Tsubaki me disse haviam me acalmado e me feito ver tudo de outro ângulo, e apesar da minha garganta fechar um pouco, meus olhos não chegaram a lacrimejar. O conselho da Blair foi o mais divertido.

– É o seguinte, Maka-chan, pega os dois ao mesmo tempo. E dane-se o mundo. Você pode ter um relacionamento a três, que tal?

Tsubaki pareceu um pouco assustada com a idéia, mas eu ri, achando que seria ótimo.

– Que homem iria aceitar isso, Blair? – Respondi.

Ela deu de ombros, sorrindo sensualmente.

– Eles não precisam saber. E se descobrirem, problema deles, deviam é se orgulhar de ter a chance de estar com uma garota como você.

Não aguentei e ri mais ainda.

– É o que você faz com seus clientes?

– Mais ou menos. – Concordou, rindo.

Mas por fim, Blair disse o mesmo que Tsubaki: Soul não merecia uma segunda chance. Eu mesma já havia decidido aquilo, mas era estranho ouvir minhas amigas chegarem a mesma conclusão. De um modo meio estranho, era como se sentisse um pouco de ciúmes, achasse que o estavam julgando demais. Não que eu não estivesse fazendo o mesmo.

Eu quase não prestei atenção em nenhum dos filmes, apenas algumas cenas me chamavam a atenção. O lado de dentro da minha cabeça estava bem mais interessante, e preucupante. Não conseguia parar de pensar sobre como eu deveria contar ao Kiddo o que aconteceu. Blair havia comentado algo sobre isso. Ela disse que como não éramos namorados, eu não o havia traído, então eu nem precisaria contar nada.

Só que Blair não entendia. Não éramos namorados, mas tínhamos algo sério. Tsubaki estava certa, seria bem pior se ele descobrisse por outra pessoa, depois. Kid ia ficar se perguntando porque quis esconder aquilo dele. Isso sem me levar em conta, porque a opção de mentir para ele não funcionava comigo. Mas eu estava com tanto medo... Se Kid fosse beijado pela Liz ou pela Patty, eu iria pirar. Já era complicado saber que ele morava sozinho naquela mansão com duas garotas como elas, imagina saber que uma se interessava por ele?

E se eu não saberia lidar com aquilo, quem me garantiria que o Kid saberia?

Volta e meia esse pensamento me voltava a cabeça. O que ele vai pensar? O que ele vai pensar? O que ele vai pensar? Tentava me acalmar com o que as meninas falaram – “ele vai confiar mais em você”, “ele deveria agradecer por você se dar ao trabalho de contar”, “não precisa ter medo”. Era tão fácil falar aquilo quando não se tratava da sua vida.

Nem Blair nem Tsubaki conheciam o Kiddo como eu. Nenhuma delas sabia o modo como ele mudava de assunto abruptamente quando era algo que envolvia o Soul, nem sobre como ficava desconfortável quando me via perto dele, nem como sempre dava um jeito de desviar minha atenção quando o Soul estava falando algo numa conversa com o pessoal. Eu sempre achei que aquele ciúme era fofo, e eu amava aquilo. Ainda amo. Mas agora me assustava ao pensar em como ele interferiria na reação do Kid.

E, em algum momento, me peguei preocupando-me até com a Liz. Ela me ajudou com o Kiddo porque assim eu estaria mais longe do Soul – aquela conversa de ser só porque íamos conviver muito juntas não me enganava. Será que isso mudaria quando descobrisse o que aconteceu? Se ela soubesse que o Soul se declarou para mim, ela iria tentar me separar do Kid?

Argh, não sei, nada fazia sentido na minha cabeça. Eu não era boa em tentar adivinhar o que aconteceria. Só podia torcer para ninguém se machucar demais. E isso incluía a mim.

***

A manhã seguinte foi um pouco desconfortável. Eu e as meninas acabamos dormindo na sala mesmo, mas dessa vez eu acordei primeiro, quase uma hora antes do normal, e não consegui cair no sono mais. Depois de uns vinte minutos tentando e brigando comigo por estar perdendo minutos de sono, finalmente me dei por vencida e levantei, decidindo fazer algo útil.

Depois de escovar os dentes e lavar o rosto, fui até o quarto, deixar minha roupa separada. Eu já tinha mais ou menos uma idéia do que iria vestir hoje, passei horas na noite passada pensando nisso: short jeans, alguma blusa azul e uma rasteirinha. Não era exatamente uma boa roupa pra ir a um lugar como a Shibusen, mas eu pretendia conversar com o Kiddo ainda hoje, e esperava que estar vestida daquele jeito ajudasse. No nosso primeiro encontro oficial, eu estava com uma blusa azul e jeans, e no dia da praia, quando lhe disse que Soul não estava mais entre nós, usava biquíni azul e short jeans.

Para falar a verdade, não sabia se o Kid era do tipo de garoto que repararia em algo assim. Sinceramente, acho que ele daria mais atenção ao fato da minha roupa estar ou não simétrica. Mas talvez algo no subconsciente dele lhe sussurrasse: “Olha, Kiddo, a Maka estava mais ou menos assim nas duas vezes em que ela lhe deu mais espaço, então não pode ser tão ruim quanto parece”.

Não sabia onde estava com a cabeça. Mas para mim, fazia sentido.

Depois de separar um jeans que ia só até o meio das coxas, uma blusa de mangas compridas azul bebê e desistir da rasteirinha em favor de um par de tênis, peguei meu livro e fui para o sofá, até todos os despertadores começarem a tocar e a loucura começar.

Como acordei cedo, não precisei participar da fila para ir ao banheiro. Nem Blair se deu ao trabalho, também. Ela apenas esperou que levássemos o colchão de volta ao meu quarto antes de dar uma olhada desconfiada para o Soul e ir dormir. Eu, Soul e Tsubaki tomamos café juntos – o bolo de ontem com achocolatado – num clima mais ou menos normal. Eu não conseguia encarar Soul por muito tempo, e isso parecia deixá-lo feliz e triste ao mesmo tempo. Tsubaki que manteve a conversa fluindo, e não duvidava de que, se ela não estivesse aqui, eu teria me escondido no quarto para comer.

Odiava aquele olhar no Soul. Mas não havia nada que eu pudesse fazer sem nos magoar mais ainda.

Soul saiu com a moto antes de nós, e assim que eu e Tsubaki entramos no meu carro, ela tentou puxar assunto sobre como eu estava me sentindo, mas não consegui responder direito. Eu estava me sentindo ansiosa e com medo pelo Kiddo, estava culpada e em dúvida quanto ao Soul e meu estômago embrulhava.

E tinha aquela droga de bilhete. Vez ou outra ele voltava a minha mente, chamando minha atenção, mas eu tratava de mandá-lo embora novamente. Eu não sabia onde estava nem como encontrá-lo, então como iríamos conversar? E não era como se Chrona me ouvisse. Ele nunca levava o que eu dizia realmente a sério, de um modo que me deixava magoada e preocupada com ele. Fora que estava fazendo questão de deixar aquele mistério no ar – se esconder, mandar bilhetes sem assinatura, ferrar com meu cérebro. O porque dele estar fazendo aquilo era o que me assustava.

Mas isso não importava agora.

Quando Tsubaki percebeu que eu não estava me sentindo confortável falando sobre garotos, começamos a conversar sobre música, e o resto do caminho foi mais tranquilo, com a gente falando de clipes que vimos no YouTube.

Foi engraçado presenciar o reencontro de Tsubaki e Black na sala. Ele a abraçou e puxou seu rosto para um beijo, deixando minha amiga muito vermelha e atraindo o olhar de todo mundo que já estava na sala. Quando Black notou os olhares, apenas afastou-se de Tsubaki o suficiente para gritar que os mortais podiam morrer de inveja e tascou outro beijo na namorada.

Não pude evitar rir um pouco, e sentir um pouquinho de inveja deles, também. Os dois tinham um relacionamento tão descomplicado. Eles tinham tantas diferenças, mas ninguém duvidava que fossem os certos um para o outro, nem mesmo eles.

Eu estava tão perto de conseguir aquilo com o Kiddo... Porque o Soul teve que se intrometer?

Não me sentei ao lado de Soul, como sempre fazia. Ao invés disso fiquei na ponta da fila, ao lado do lugar onde Black costumava sentar. Soul não disse nada até eu organizar meus materiais, mas depois se virou para mim, meio irritado.

– Vem para cá. – Chamou, batendo no lugar ao seu lado.

– Não. Aqui está legal. – Revidei, me sentindo meio infantil, mas sem estar confortável o suficiente com a situação para que não fosse necessário.

Ele revirou os olhos, bufando.

– Não está, não. Vai ficar me evitando agora?

Era quase engraçado ele falar aquilo agora, depois de passarmos quase duas semanas sem mal dirigirmos a palavra um ao outro.

– Não estou te evitando, só não quero sentar ao seu lado. – Contestei, na defensiva. – Algum problema?

– Claro! Isso é me evitar!

– Eu estou conversando com você, como estou te evitando?

Soul bufou novamente, e veio se sentar ao meu lado, o que me fez me afastar o máximo que consegui na cadeira e abaixar o rosto.

– Maka, quem levou um fora aqui fui eu. Não devia ser eu quem está com raiva?

Corei ao ouvi-lo falar sobre aquilo assim, tão naturalmente, e dei uma olhada em volta. Por sorte, ninguém parecia ter ouvido, e nem Kiddo havia chegado ainda. Empurrei-o um pouco para longe, já que Soul estava quase debruçado por cima mim, e desejei ardentemente que Black subisse logo e enxotasse Soul de seu lugar.

– Não estou com raiva. Precisamos mesmo falar sobre isso agora? – Perguntei.

A expressão de Soul se suavizou um pouco, e ele abriu a boca para responder, mas antes que dissesse qualquer coisa Kiddo finalmente apareceu.

Ele entrou na sala como sempre entrava: olhando para cima, me procurando. Pareceu meio confuso ao ver Soul tão perto, mas sorriu quando sorri para ele, e veio em minha direção.

Soul voltou para seu lugar, mas mal notei, para falar a verdade. Estava muito ocupada reparando no Kiddo e em como meu coração havia acelerado de repente, e não era só de nervosismo. Era simplesmente por ele ser tão bonito de manhã, por ter um sorriso tão perfeito, por conseguir parecer elegante até de jeans e camiseta preta de mangas longas. Sorri ao notar que nossas roupas estavam meio parecidas hoje.

Kid veio e se sentou onde Soul estava antes, virando de frente para mim e de costas para o meu parceiro, o que me arrancou uma risadinha. Então se inclinou para frente, e eu automaticamente o imitei, de modo que ficamos um pouco mais perto do que o aceitável para amigos.

– Bom dia, princesa. – Abriu mais o sorriso, pousando a mão no meu joelho. – Como está?

– Bem, e você? – Respondi, de repente bem consciente daquele toque.

– Também. Que bom que você melhorou, eu fiquei preocupado, ontem.

Franzi a testa, sem saber ao certo sobre o que ele estava falando, até que ele imitou minha expressão confusa e a ficha caiu.

Ontem eu desmarquei com ele porque disse que passei mal.

Uma onda de culpa me invadiu, e me senti muito, muito envergonhada. Ele estava preocupado comigo e eu... Argh!

Desviei o olhar e fiquei brincando com a barra da blusa, evitando encará-lo.

– É, pois é. Foi só tomar um remédio que passou. E eu descansei bastante de noite, também. – Completei, com a voz mais animada que consegui.

Kiddo estava me olhando meio desconfiado, notei. Virei-me para ele e sorri, tentando passar confiança, mas isso só o fez franzir mais a testa.

– Você está estranha hoje... Está tudo bem mesmo?

– Sim. – Confirmei, pendendo a cabeça para o lado. Em seguida sorrí, esticando a mão e alisando a testa dele. – E não faça isso com seu rosto, Kiddo. Fica assimétrico.

Meu sorriso dessa vez era sincero, e ele sorriu também, relaxando antes de chegar mais perto de mim.

– Melhor assim?

– Bem melhor. – Concordei.

Desci minha mão até que estivesse em sua bochecha, e apenas o observei por alguns segundos, ignorando o medo no fundo do meu estômago. Tudo vai ficar bem.

– Ah, Maka, já que você está melhor, que tal sairmos hoje?

Deixei minha mão cair e mordi o lábio inferior, nervosa. Eu não ia dizer não, mas também não podia aceitar. Nem mesmo tentei disfarçar meu desconforto dessa vez, talvez assim o Kid percebesse que havia algo errado e fosse mais fácil contar. Respirei fundo três vezes, tomando coragem diante do olhar confuso dele, e disse:

– Eu adoraria, Kiddo, mas... Eu tenho que conversar com você. Antes. – Completei, torcendo as mãos no colo.

Kid não se afastou, apenas voltou a franzir a testa e me encarou um pouco mais sério.

– É importante, não é?

– Sim. Não. Espero que não. – Gaguejei, sem saber direito como explicar.

Desviei o olhar, sem graça, e percebi Soul nos observando. Ele não estava com uma cara muito boa. Quando me virei para o Kid de novo, ele parecia assustado. Abriu a boca para falar algo, e meu coração apertou, mas como sempre, Black apareceu para atrapalhar.

– Aô, Kid! Para de namorar e sai do meu lugar!

Ouvi alguns risinhos dos outros alunos e corei. Porque ele tinha que falar aquilo tão alto? Mas Kid apenas sorriu para nosso amigo.

– Desculpe, Black*Star, mas eu não tenho a sorte de morar com a minha namorada.

Ele se levantou, em seguida, e se inclinou para me dar um beijo na testa e sussurrar que conversávamos depois. Assenti, notando que ele havia corado tanto quanto eu, e fiquei observando-o enquanto descia para seu lugar de sempre.

Ainda estava preucupada com o que aconteceria conosco, mas talvez não fosse tão ruim quanto eu pensava.


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Notas finais do capítulo

Esse ficou melhor ^^ hahaha
Eu tinha alguma coisa importante pra falar, sério, mas não tô conseguindo lembrar agora. Só fico lembrando que tem fandangos ali no armário... hum... melhor resolver esse problema. ^^
Até o próximo o/