The Devil's Daughter escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 20
Capítulo 20




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Katherine cambaleou para trás e caiu sobre a pequena piscina de água que se formava aos seus pés novamente, Finn não se importou nem ao menos em olhar se ela estava bem. Depois dela ter escorregado diversas vezes, ele já deveria ter determinado que ela estaria bem.

Eles estavam presos ali já fazia muito tempo, e desde que a água começou a jorrar, o tempo pareceu correr ainda mais lentamente. O pouco espaço que continha dentro da caverna não parava de ser preenchido pelas torrentes de água que entravam por um pequeno buraco na parede entre as pedras, que parecia ficar cada vez maior.

Finn examinava as pedras com atenção desesperadamente, a espada brilhando em suas mãos, produzindo linhas curvas graças a água na parede. Ela não estava sendo de grande utilidade, caindo cada vez que tentava andar. Sua roupa estava encharcada, e ela já estava começando a congelar. A água era muito fria.

– Quem sabe realizar aquele seu grande plano agora não seja uma boa ideia? - perguntou ela, se apoiando na parede para se equilibrar.

– Talvez - ele não se virou para ela - Mas é muito arriscado - sua voz estava grossa. Ela conseguia sentir sua raiva enquanto ele continuava a caminhar no contorno da caverna, procurando algo que ela não sabia - Esse lugar vai encher e... - ele não terminou a frase, uma das pedras ao redor do buraco da parede, também se soltou, fazendo com que mais água jorrasse para dentro da caverna.

Finn correu até o buraco, puxando as outras pedras ao redor do buraco com força, ela conseguia ver as juntas de seus dedos ficando brancas, e seu rosto se contorcendo graças a força que ele realizava. Quando ela percebeu o que ele estava fazendo, correu para o seu lado (tomando um imenso cuidado para não escorregar novamente) e começou a ajudá-lo a puxar as pedras. Se aquele buraco fosse um pouquinho maior, talvez eles conseguissem passar.

Katherine nunca tinha sido muito forte, e quando seus dedos ameaçaram começar a sangra, ela soltou a parede, exausta.

– Não adianta!

– Temos que tentar - gritou ele.

– Finn - ela segurou seu ombro mas ele não parou - Finn! - ela o puxou - Não adianta. Você nunca vai conseguir arrancar essas pedras.

Ele parou. Sua respiração estava tão descontrolada quanto a dela, ele olhava para algum ponto no chão. Ele tinha derrubado a espada na água quando se jogou contra a parede, Katherine via seu brilho tremeluzir no fundo da lagoa que se formava ali e percebia que assim, todo o chão da caverna era iluminado também. Cada canto do chão, cada parte onde as pedras se encontravam com terra. O teto estava cheio de bolinhas que se mexiam de acordo com o movimento da água. El desviou o olhar para ele e ele se sentou no chão, as mãos na cabeça.

– A culpa é minha.

Ela se sentou ao seu lado e riu.

– Claro que a culpa não é sua - disse ela com calma - Eu te arrastei para cá.

– Tecnicamente foi a Niah.

– Então vamos fazer assim: saímos aqui só para poder chutar a bunda dela.

– Gostei da ideia.

O nível da água subia cada vez mais, mas os dois já tinham parado de tentar à muito. Katherine estava tão cansada que poderia ter dormido, mas ao invés disso, apoiou sua cabeça no ombro de Finn. Ele ficou rígido com o movimento, mas depois relaxou e apoiou a cabeça sobre a dela. O barulho da água se chocando contra a parede era relaxante. Ela observava a luz se movimentando com a água e a espada, que parecia brilhar com mais intensidade com o decorrer do tempo. Quando Katherine começou a sentir seus olhos se fecharem, e a água quase chegava ao seu pescoço, Finn pulou para frente, despertando Katherine, que quase caiu com a cara no chão.

– É isso! - gritou ele.

– O quê? - perguntou ela ainda sonolenta.

– A água!

– Oh - exclamou Katherine - Percebeu agora?

– Não - disse ele - Você não entendeu. A água é um relógio. Nosso relógio.

– Nosso relógio?

– Nosso tempo de vida - ele passou as mãos pela parede novamente - É para nos apressar.

Ela o observou enquanto ele começou a passar as mãos pelas pedras freneticamente, procurando algo.

– E como isso muda nossa situação?

– Eles são monstros que se alimentam da dor, Katherine - disse ele - Pense: por que eles nos prenderiam?

– Porque é divertido?

– Não - negou ele - Para se alimentar.

– A única coisa que eles ganharam de mim ficando presa aqui foi a minha baba caindo no chão.

– Exatamente - sua voz parecia quase alegre - Por isso a água, eles querem se alimentar, estão nos apressando.

– Apressando para que?

– Para nos machucarmos - explicou ele - Eles estão esperando que sintamos dor - ele parou de andar e encarou a parede a sua frente sem se virar para ela.

– Então isso quer dizer que vamos nos socar até sangrarmos? - perguntou ela, cruzando os braços.

– Eu sou um filho do diabo, Kath - disse ele - É mais difícil me machucar.

– Então o que você vai fazer?

– Me desculpe - ele se virou para ela. Ela não conseguia entender seu rosto, sua expressão, seus olhos pareciam estar com dificuldade de olhar para ela - Eu sinto muito, Kath. Mas é isso ou nada, você tem que se machucar também Katherine, é o único jeito.

Ela descruzou os braços.

– O quê - questionou ela - O que você quer dizer com isso? Sente muito pelo o quê?

Mas ao invés de responder, ele recuou para a parede e pôs uma das mãos nas costas, sem tirar os olhos dela. Ela viu uma fresta de luz adentrar no chão da caverna e uma parte da parede de pedras sobre a qual ele estava apoiado se abriu, revelando uma porta. Mas antes que Katherine pudesse fazer qualquer movimento, ele pulou para fora, e a porta se fechou com um estrondo atrás dele.

Ela se jogou na parede e começou a socá-la com força, gritando o nome de Finn e qualquer xingamento que ela conhecia, gritando qualquer coisa, chutando a parede, desesperada. Quando ela finalmente parou, percebeu que estava chorando, os cabelos molhados estavam grudados em seu rosto e ela não tirava as mãos cerradas da parede, encarando as pedras atordoada. Ele a tinha deixado.

Ela se distanciou da parede e olhou para trás. A água tinha começado a jorrar com ainda mais força, o nível da água já estava praticamente em sua boca, ela secou as lágrimas com as mãos molhadas e não recebeu resultado algum. A espada continuava a cintilar no chão da caverna debaixo de toda aquela água. Ela mergulhou a cabeça na água fria e tocou a ponta da espada, ela pensou tê-la visto brilhar mais, então pegou a espada, levando-a a superfície.

Seu brilho era gelado, toda a atmosfera ao seu redor tinha ficado mais fria, ela sentia a ponta de seus dedos que seguravam o cabo vacilando, mas tentou manter a mão firme. Ela olhou para a porta atrás dela novamente e depois olhou para a faca. Ela não conseguia mais ficar ajoelhada, tinha que esticar um pouco as pernas, que continuaram dobradas de um modo desconfortável para conseguir respirar. Ela tocou o teto com uma mão e segurou a adaga decidida com a outra, depois desferiu um golpe certeiro em seu próprio braço, fazendo um corpo um pouco grande demais em sua lateral.

Ela soltou a faca quando o sangue começou a escorrer e o cheiro de ferro inundou a caverna. Ela contorceu o rosto com a dor e tentou pensar em outra coisa. Tentou esquecer que estava presa em uma caverna, sozinha e que estava prestes a se afogar, tentou esquecer que acabara de se machucar e que o cheiro de sangue estava deixando-a enjoada, tentou esquecer que Finn tinha abandonado-a.

Ela cerrou os punhos. O quê adiantava pedir desculpas se sabia que ela provavelmente morreria ali dentro? Ela encarou o machucado. Ela estava perdendo muito sangue, não era para isso estar acontecendo.

– O quê mais querem que eu faça? - gritou ela - Isso não é dor o suficiente para o estômago de vocês?

Não houve resposta. Katherine estava com a boca praticamente encostada no teto, a água quase acabando com ela. Mas mesmo assim ela mantinha o braço cortado longe da água. Ela já tinha engolido o suficiente daquela água para saber que se tratava de água salgada, se o braço dela mergulhasse naquela água... Então ela arregalou os olhos. É isso, pensou ela. Ela afundou seu braço na água e o apertou com força, tentando ao máximo não gritar de dor, mas não se contendo, berrou, berrou como nunca em toda a sua vida.

Então ela ouviu um click, e uma luz vindo de algum lugar. Ela não teve tempo de se segurar quando toda a água começou a escapar pela mesma porta por onde Finn tinha saído, e foi arrastada junto a correnteza. Ela se sentiu afogar por um curto período de tempo, até que seu corpo atingiu uma estrutura sólida e ela desabou sobre a terra.

Cuspindo água, Katherine abriu os olhos. Ela estava no poço novamente, as árvores impedindo que muita luz atravessasse, mas aquela claridade foi o suficiente para que ela tivesse que piscar várias vezes para se acostumar. A adaga de Finn estava na frente dela, ela esticou o braço que não ardia e pingava sangue e segurou o cabo com força, o corpo inteiro dela tremia.

– Ela conseguiu então! - sibilou uma voz atrás dela. Ela se virou e encarou Hal, seus dois amigos ainda atrás dele, cada um segurando um braço de Finn.

Ao olhar para ele, Katherine teve que se segurar para não enfiar a faca que segurava em seu abdômen, ele olhava para ela como se pedisse perdão, mas ela não se importava, ainda queria esfaqueá-lo. Hal foi até ela e a puxou do chão com força, fazendo com que ela se levantasse sem jeito.

– Pelo seu esforço - começou ele - Acho que merecem que levemos vocês dois ao monstro que procuram, não é muito longe daqui.

Katherine não conseguia olhar para ele, seu olhar ainda recaia sobre Finn. Com raiva, ela cruzou os braços, se recusando a agradecê-lo depois de tudo que passaram. Hal deu de ombros e começou a andar, Katherine atrás, e os dois monstros que carregavam Finn foram depois. Ela não prestou atenção na paisagem agora, estava com muita raiva para que conseguisse fazer qualquer coisa a não ser andar.

Eles andaram até uma clareira, então Hal fez um aceno com a mão e os dois monstros que seguravam Finn o soltaram, ele foi para o lado de Katherine mas ela não se virou para ele.

– E então? - perguntou ela para Hal - Cade ele?

Ele riu e começou a andar na direção por onde tinham vindo.

– Estou aqui - disse uma voz na escuridão. Katherine se virou a tempo de ver uma figura surgir entre duas árvores - O que humanos, querem com... - ele se interrompeu quando chegou na luz e avistou Katherine - ... Ah.

– E-eu vim para agradecê-lo - ela gaguejou - Por ter me salvado e tudo mais.

O monstro estava em sua forma humana. Era um homem com aparência de trinta anos e usava um terno cinza claro, ela o teria confundido com um cara rico, mas não disse isso em voz alta, apenas descruzou os braços.

– Não acho que você tenha passado pelo o que acabou de passar com Hal apenas para me agradecer.

– Sou uma garota determinada.

– Ninguém é assim tão bom.

– Existe uma exceção para tudo.

Ele riu e colocou as mãos nos bolsos de sua calça.

– O que veio fazer aqui garota?

– Por que você me salvou? - perguntou ela.

– Eu te fiz essa mesma pergunta naquela noite - disse ele ainda no outro lado da clareira - Você também não me respondeu.

– Respondi sim - disse ela - Eu disse que te salvei porquê você tinha me salvado. Só falta você me explicar agora.

– Você é diferente deles - ele suspirou e apontou com a cabeça na direção de Finn - Você não queria me machucar, tanto é que me salvou depois.

– O veneno - disse Finn - Ela quase morreu com seu veneno.

– É mesmo! - ele arregalou os olhos e examinou Katherine - Como ainda está viva garota?

– É isso que vim descobrir -disse ela.

– Se você não morreu eu não faço a mínima ideia do que aconteceu - ele se aproximou mais - Mas podemos dizer que isso é um milagre, todos os seres, humanos e não humanos que digeriram meu veneno morreram.

– Isso é muito reconfortante - murmurou ela, mas ninguém pareceu ouvir.

– O quê é isso em seu braço? - perguntou ele virando a cabeça de lado.

Ela mexeu o braço para a frente mostrando descaso. Tinha praticamente se esquecido dele.

– Hal nos prendeu numa caverna - explicou ela - Ou era isso ou eu morria afogada.

Ele riu.

– Bela escolha.

– Obrigada - ela viu Finn engolindo em seco mas não ligou, continuou a encarar o monstro.

– Então - disse ela - Quem é você?

– Meu nome é John - disse ele - E o seu é Katherine. Katherine Walker.

– Como você...?

– Como sei seu nome? - ele estava praticamente na frente dela agora - Pensei que você fosse Niah, a filha do diabo, mas você não me matou, e eu a vi no outro lado do salão, tive que fazer minhas pesquisas entre as milhares de espécies que vivem nesse lugar. Você é muito famosa por aqui, Katherine.

– Como ela pode ser famosa no poço? - perguntou Finn - Ela nunca esteve aqui antes.

– Não apenas no poço - respondeu John sem tirar os olhos dela - Todos os integrantes das sombras falam sobre você. Você, sua irmã e sua mãe.

Minha mãe? - Katherine engasgou - Você sabe quem ela é?

– Ela não te contou ainda? - ele sorriu - Já que é assim, eu também não deveria te contar, principalmente em um momento como esse.

– Que momento? - perguntou Finn.

– Quando ela está prestes a morrer - ele apontou para Katherine, depois olhou para o rosto dela - Não sente nada de diferente minha querida?

Ela olhou para seu braço. Ele parecia um taco de basebol de tão inchado, seu machucado parecia três vezes maior agora e o sangue não parava de jorrar. Ela cambaleou para trás quando a dor em seu braço voltou e sentiu dois braços fortes segurando-a. Era Finn.

– Você sabe o que acontece quando alguém sangra no poço, filho do diabo - disse a voz de John. Katherine não conseguia ver praticamente nada, sua visão tinha se escurecido e seus ouvido zumbiam.

Ela sentiu suas pernas vacilando e desabou sobre Finn, ela conseguiu ouvir mais uma coisa antes de perder a consciência:

– O ar é tóxico... - ele disse mais alguma coisa depois disso, mas ela não o conseguiu ouvir, a escuridão a chamava novamente, aquilo já tinha praticamente se tornado um hábito: ela desabando e desmaiando, então se deixou levar. Deixou que a escuridão a carregasse para longe.


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