The Devil's Daughter escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 10
Capítulo 10




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/341504/chapter/10

Fazia muito tempo que Katherine não acordava sozinha, mas dessa vez um barulho em sua janela a fez despertar.

Ela estava tão cansada na noite anterior que nem ao menos tiverá um pesadelo, fato que tinha se tornado muito frequente nas últimas semanas. A única coisa que viu ao fechar os olhos foi a escuridão, que de tão solitária e ao mesmo tempo aconchegante fizeram com que ela adormecesse.

Ao se sentar na cama para conseguir olhar para a janela, Katherine se desapontou ao perceber que não tinha nada ali, era apenas o vento. Katherine esfregou os olhos e jogou a cabeça no travesseiro novamente, encarando o teto, foi ai que ela viu uma sombra no outro lado do quarto e olhou para o lado.

Niah. Ela estava parada encostada na porta com os braços cruzados e um dos pés encostado na parede, ela encarava a outra com tanta intensidade que parecia querer verificar se o que via era real ou apenas um sonho que escapou de sua mente. Katherine engoliu em seco.

– Algum problema?

– Além de você, até o momento, nenhum. - respondeu ela.

Katherine não disse nada.

– A única coisa que eu não entendo é porque a rosa ficou preta, ninguém além de mim encosta naquela rosa sem morrer - ela chegou mais perto da cama - O que é você?

– Nada - ela respondeu rapidamente. - Eu não sou nada.

– Disso eu já sei - Niah lançou um sorriso torto na direção de Katherine - Agora me diga, da onde você veio?

– Da minha casa.

– Bom saber, por que é para lá que nós vamos.

– O quê!?

– Você deve ter algum parente ou qualquer amigo de família que conheça seus pais - começou ela - Ou você pode até ter pais, o que eu acho pouco provável consideram o quão irritante você costuma ser.

– E por que você iria querer conhecer meus pais?

– Eu vou descobrir o que você é nem que seja a última coisa que eu faça. - ela murmurou tão friamente que até mesmo Katherine que estava a uma distância considerável da outra, conseguiu ouvir.

Niah se recompôs e arrumou as mechas de cabelo que tinham caído sobre seus olhos, lançando aquele sorriso maravilhosamente frio e sem emoção na direção de Katherine, depois se virou e andou em direção à porta, mas se virou novamente ao chegar na entrada e falou antes de ir embora:

– E a propósito - disse ela - O café já esta na mesa, tenho certeza que os meninos vão adorar te conhecer.

*********************************************************

Mesmo sabendo que o Inferno era cheio de garotos aquele tempo todo, Katherine não tinha pensado que chegaria mesmo a conhecê-los. Finn e Blake estavam tão determinados a escondê-la de Niah, que Katherine pensou que permaneceria invisível por um bom tempo.

Mas não. Era claro que não. Algum dia ela teria que conhecer os habitantes daquele lugar. Mesmo relutante, Katherine sabia que iria ficar por ali por um bom tempo, Niah não desistiria até descobrir o que um mortal anda fazendo com um rosto igual ao dela, e talvez aquela história toda envolvesse sua família, e talvez, na última e remota opção, essa história poderia ter algo a ver com o porque de seu pai tê-la abandonado.

Já que ela sempre se alertava para não sentir falta dele, ter ao menos pensado nele naqueles dois dias, já faziam com que toda aquela situação fosse especial. Pensar nele era doloroso, e ela já estava cansada de reprimir sua raiva e de tentar fingir que estava tudo bem.

Katherine se trocou rápido e logo já prendeu o cabelo em uma trança assim como sua mãe sempre fazia. Se alguém perguntasse qual foi a primeira palavra que ela tinha dito, ela com certeza responderia trança. Ela adorava quando ela era pequena e antes de ir dormir, sua mãe fazia quatro tranças em seu cabelo, enquanto ela cantava as músicas daquele filme infantil e Katherine relaxa, se aconchegando no colo da mãe, já fechando os olhos.

Seus dedos trabalhavam maquinalmente, tão rápidos que ela nem prestava mais a atenção, ela poderia fazer aquela trança até mesmo se estivesse dormindo. Ela saiu do quarto e desceu as escadas, tentando procurar algum detalhe que não tinha visto ainda do Castelo.

As paredes não eram cobertas por dentro daquelas trepadeiras, mas todas as janelas eram, e isso fazia com que pouca luz entrasse no lugar. Os poucos raios luminosos que se estendiam pelo chão, eram tão pequenos, e tão insignificantes naquela escuridão toda, que poderiam ser ainda mais invisíveis do que ela própria tentou ser a vida toda, só para não chamar a atenção de ninguém. Ela era boa nisso, talvez ela tinha alguma ligação com aquele lugar.

Ao chegar ao salão de entrada, ela virou para as paredes e olhou para a mobília, ou a pouca existência dela. O local estava um pouco sujo graças a festa da noite anterior, e alguns garotos estavam com aventais recolhendo copos de plástico do chão (o que chegava a ser um pouco engraçado), eles encaravam o chão e a sujeira abaixo deles como se nada mais existisse, estavam tão concentrados que Katherine teve medo de respirar e despertá-los.

Ela contornou alguns potes e restos de comida no chão e andou em direção a parte do salão onde a grande mesa se estendia e se surpreendeu ao perceber que ela estava cheia.

Várias cadeiras se alinhavam respectivamente uma ao lado da outra no contorno da mesa, e milhares de garotos se sentavam em cada uma deles. De um modo geral, eles eram todos muito parecidos. Todos com suas jaquetas de couro, ou até mesmo algumas de jeans e é claro, com os olhos vermelhos.

Aqueles olhos até pareciam uma praga no meio de tantos garotos iguais. Eles se comportavam como um bando de adolescentes rebeldes normais, alguns comiam enquanto conversavam com algum outro e alguns até mesmo faziam uma pequena guerra de comida (mesmo no Inferno as pessoas continuavam a desperdiçar comida com essas brincadeiras toscas, se eles não querem comer, é só entregar para ela. Katherine comeria tudo aquilo com imenço prazer), outros até mesmo exibiam suas armas gesticulando sobre suas qualidades ou sobre como eram exclusivas no mercado, e bem na ponta da mesa estava Niah.

De cada um de seus lados, Finn e Blake conversavam com ela, eles pareciam sérios, e ignoravam a presença de todos os outros garotos no local. Katherine respirou fundo e cruzou a mesa em direção a eles, mas antes que ela pudesse chegar ao seu destino, ela sentiu alguém segurando seu braço e se virou.

Um dos garotos da mesa tinha afastado um pouco a cadeira da mesa e a encarava, curioso.

– Finn falou que vocês eram parecidas - disse ele - Mas ele não me avisou que vocês eram exatamente iguais!

Agora outros garotos a rondavam também, alguns encostavam em seu braço com a ponta dos dedos para ver se ela era real. Katherine já estava começando a se sentir corar quando outra mãe agarrou seu pulso e a puxou na direção da ponta da mesa.

Era Finn, ele ria de toda aquela situação, e ao chegar a mesa novamente, se sentou na sua cadeira e indicou a do seu lado para Katherine. Ela obedeceu, então Niah gritou para todos da mesa:

– Pouco deve importar para vocês se eu tenho uma cópia ou não - todos estavam em silêncio enquanto ela falava -, então eu agradeceria se seguissem com suas vidas monótonas de caçar e matar monstros enquanto eu resolvo os meus problemas!

Alguns garotos se atreveram a rir, mas Niah continuou em silêncio até que todos se dessem por si e começassem a sair da mesa. Eles foram se saindo em pequenos grupos, que pareciam bem íntimos. Quando na mesa apenas restaram ela, Niah, Finn e Blake, Katherine olhou para a mesa.

Mesmo depois da maioria ter saído, era difícil enxergar a outra extremidade da mesa, mas o que realmente a interessava era comida, a grande variedade de comida.

Ela não conseguia lembrar a última vez que vira tanta comida (que ela conseguira comer sem vomitar) em um lugar só. Pratos variados se estendiam pela mesa, e o número de pães que se encontravam ali era surpreendente, ela nem ao menso sabia que existia tantos tipos assim. Ela não pensou duas vezes, começou a atacar o prato mais próximo sem dar atenção aos olhares de todos os outros sobre ela.

Katherine não comia direito desde que tinha sido sequestrada, ela podia ser forte, mas também não era de ferro.

- Demônios - praguejou Finn - Da próxima vez me lembre de te levar comida, parece que você nunca viu uma na vida.

Ela o encarou sem parar de comer suas panquecas.

- Vou lembrar mesmo, eu estava sem comer a dias!

- Se você não avisa, quer que eu descubra como?

- Esse tipo de coisa você deveria perceber, considerando...

- Chega! - gritou Niah - Vocês dois, parem de brigar agora, estão parecendo duas crianças mortais ridículas brigando por um doce.

- Um doce cairia bem agora - provocou Finn entre murmúrios, mas Niah lançou um olhar mortal em sua direção e ele se calou.

- Agora - disse ela - Katherine, seus pais, eles nunca pareceram estranhos ou pareciam esconder algo de você?

Katherine parou de comer com o garfo ainda no ar. "Eles nunca pareceram estranhos ou pareciam esconder algo de você?" essas palavras ecoaram em sua mente enquanto uma imagem se formava no vazio.

Ela se viu com sete anos de idade, olhando para a janela de seu quarto que dava para a entrada da casa e viu seu pai saindo batendo a porta com força atrás de si. Eles parecia estar com muita raiva, mas mesmo assim se virou para dar uma última olhada na casa, e quando se virou, a Katherine pequena não viu sinal algum de raiva, apenas de tristeza, e ela sabia que isso tinha algo a ver com ela. Ele varria cada canta da entrada da casa, até que seu olhar se pousou na janela do quarto da garota, ela sabia que ele não poderia enxergá-la, mas ele sabia que ela estava naquele cômodo, e aquilo a alegrou, mas só por um segundo, pois ele estampou a cara zangada no rosto novamente e se virou, se virou para nunca mais voltar...

Sua mãe nunca a contara porque ele tinha ido embora, ela nem ao menos tocava no assunto, mas mesmo assim Katherine sabia (e principalmente para o olhar triste que ele lançou em direção a sua janela) que tinha algo a ver com ela.

Ela pousou o garfo no prato tentando não tremer, ela não conseguiria encarar ninguém naquele momento.

- Estranhos como?

- Não sei - Niah se mexeu desconfortável na cadeira - Como se você não pertencesse aquele lugar.

Katherine não respondeu, apenas pegou sua xícara de chá e tomou alguns goles. O líquido quente esquentou sua garganta, e isso a fez ficar mais forte, fez com que ela não saísse correndo de la e fosse chorar em seu quarto. Mas esse tipo de situação não poderia acontecer. Ela era Katherine Walker, a garota que nunca chorava, que enfrentava o que viesse pela frente, que não dependia de ninguém...

- Não importa - Blake falou pela primeira vez, fitando Katherine com uma sombra de preocupação no rosto, o que não deveria ser verdade, já que segundo ele, eles não poderiam sentir nada - Temos que ir falar com essa mulher, como é mesmo o nome dela?

- É Paim - Katheirne sorriu ao lembrar da mãe, ao lembrar que ela poderia chegar a vê-la, mas ao mesmo tempo tinha medo disso, tinha medo do que iria acontecer, ou do que iria descobrir.

- Então esta decidido - resolveu Finn - Partimos em uma hora.

************************************************************

Se olhando na frente do espelho, Katherine começou a tremer. Ela arregalou os olhos para a própria imagem e tentou se concentrar, tentou se acalmar.

A tremedeira demorou um pouco para parar, mas quando finalmente o fez, Katheirne se jogou na cama aliviada. Ela não queria encontrar a mãe depois de sabe-se lá quantos dias e estar chorando. Ela não ia chorar.

Ela estava a quanto tempo ali? Dois dias, três dias? Ela não saberia dizer, o tempo ali parecia mais comprido, e as noites pareciam ser mais longas, como se tudo funcionasse apenas no escuro. Mas ela gostava um pouco daquele escuro, isso a ajudava a pensar, ou a não pensar, já que imaginar o que tudo aquilo significava poderia ser sua ruína.

- Não - murmurou ela para o teto. - Eu não quero pensar.

Uma batida na porta fez com que ela levantasse um pouco a cabeça para trás e se arrependesse, olhar as coisas de ponta cabeça sempre a enjoavam. Finn entrou pela porta e olhou para ela.

- Porque esta deitada, temos que ir!

- Eu não quero ir. - ela deixou escapar o resmungo, mas ele não riu.

- É claro que não quer, mas eu sei que você vai mesmo assim.

- Por que acha isso?

- Você é curiosa demais para ficar.

Ela considerou sua resposta. Ela era mesmo muito curiosa, isso algumas vezes chegava a deixá-la em situações ruins, mas ela nunca se arrependia, então porque estar com medo justo agora?

- Está bem! - ela se levantou, arrastando o próprio corpo na direção de Finn. - Você não disse que estávamos indo, o que ainda faz aqui?

Ele saiu pela porta e esperou ela no lado de fora enquanto ela ajeitava sua trança e fechava a porta atrás de si.

- Como vamos chegar na minha casa? - perguntou Katherine.

Ele deu um sorriso torto sem olhar para ela.

- Você vai ver.

Eles saíram do castelo e encontraram Niah e Blake conversando perto de uma árvore. Uma sombra encobria parte de seu rosto fazendo com que ela parecesse muito mais velha do que realmente era. Os dois estavam com coletes de couro, mas Niah usava uma de suas saias, daquele seu tipo de sempre: mais comprada atrás do que na frente, e quando ela se virou na direção da floresta, Katherine conseguiu ver a ponta de uma arma no bolso interno de seu colete.

Ela não estava surpresa. Nenhum deles tinha cara de ser alguém que poupava vidas ou que perdia uma oportunidade de causar qualquer tipo de sofrimento aos tão odiados mortais. Eles andaram até uma clareira escondida entre várias árvores, e Niah parou no centro da terra.

- É o seguinte, Blake vai nos transportar para lá, mas Katherine, você precisa estar pensando em sua casa ou vamos acabar parando no Vazio.

- Na onde?

- Deixa pra lá - disse Blake estendendo a mão para ela - É só pensar na imagem da sua casa, de sua localização no mapa que eu vou nos levar lá.

Ela segurou na mão quente e macia dele, estremeceu com o toque, mas não deu bola para o sentimento, apenas concordou com a cabeça.

Finn segurou em sua outra mão e ai sim um turbilhão de sentimentos diferentes tomaram conta dela, quase tirando sua concentração, ela tentou voltar ao foco enquanto Niah ficava de mãos dadas com Blake.

Katheirne fechou os olhos e pensou na sua casa. Naquela casa de três andares, branca com todos aqueles detalhes em madeira que sua mãe insistiu em colocar, ela se lembrou do jardim e tentou se imaginar lá, até que sentiu seus pés dando um pulo e abriu os olhos.

Eles estavam parados na frente de sua casa, o barulho da cidade a atingiu em cheio. Como ela sentia saudade daquele lugar, os aromas familiares de pão misturado com o da poluição que ela conseguiu adorar, ela sentiu o cheiro da brisa que batia em seu rosto, o cheiro da pouca vegetação do bairro, todo ali, especialmente para ela.

Ela largou as mão dos dois e deu um passo a frente, encarando a janela de seu quarto. Tudo parecia igual a quando ela tinha ido embora: o carro na garagem, as plantas que sua mãe sempre esquecia de regar e o balanço que ela tinha deste sempre no fundo do quintal, pendurado em um dos galhos de sua antiga casa da árvore.

Ela deu um sorriso ao se lembrar da casa, e dos muitos dias que ela passou com Ivy e Carl, um garoto que tinha sido amigo delas mas que ja tinha ido embora à muito. Ela estava tão absorta em suas lembranças que não percebeu Niah se aproximando.

- Bela casa - disse ela já se adiantando em direção a entrada .

Os outros a acompanharam, mas Katherine se encostou a porta antes de Niah, ninguém falaria com sua mãe antes dela própria. Ela tocou a campainha e ouviu o eco daquele barulho familiar e do grito de sua mãe dizendo que estava a caminho.

Só de ouvir a voz dela, o coração de Katherine se apertou de saudade, quanto ela pensou que não ouviria aquela voz novamente...

Então a porta se abriu, revelando Paim com os cabelos presos em um coque frouxo e os olhos inchados, ela parecia não dormir a dias, seus olhos estavam fundos e escuros, mas quando viu quem estava a porta, eles se arregalaram e brilharam. Ela agarrou a filha.

- Katherine! - ela gritou e depois soltou um suspiro de alívio - Eu pensei... Eu pensei que algo ruim tivesse acontecido com você garota, onde você estava?

O sorriso no rosto dela se transformou em uma linha reta de raiva.

- Me desculpe, eu...

Mas ela não terminou a frase. Paim olhava para um ponto atrás de Katherine, e ela se virou para olhar. Niah encarava as duas com sua cara entediada de sempre e os braços cruzados acima do peito. Paim estava branca.

- O que...?

- Exatamente o que queremos descobrir - respondeu Niah sem nem ouvir o resto da pergunta. - O que isso significa?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!