- Pera, deixa eu ver se eu entendi... – Elesis franziu a testa, abismada, olhando-os com uma expressão séria. – Vocês não saíram em missão, mas sim foram se divertir, porque a comandante os ordenou que fizessem isso em um esquema louco pra fazer eu e o Lass nos declararmos?

- Basicamente isso – Amy deu de ombros, sorrindo. – Deu certo, não deu? A comandante é mesmo demais!

- Posso saber desde quando Lothos está nessa também? – a ruiva recapitulou, confusa, os acontecimentos dos últimos meses em sua mente. Lembrava-se das muitas tentativas de Amy de fazê-los ter alguma atitude, e Arme e Lire haviam ajudado em muitas das ocasiões, junto de Jin e Ronan. Mas a comandante não estava em suas lembranças ou especulações.

Oh, ela já devia saber que Lothos não ia se deixar ser descoberta uma vez que tivesse um plano em mente. Ela não era a dona do maior posto por acaso, afinal de contas.

Aparentemente a loura havia sinalizado uma missão para atrair todos os membros da Caçada para sua sala, exceto Elesis, que não poderia correr, e Lass, que provavelmente ficaria com ela. Quando eles chegaram, ela os disse que iam tirar umas férias para deixar o par sozinho e lhes contou o plano.

Parece que ela havia pagado uma boa quantia a Azin para ficar e fingir-se interessado pela líder da Caçada, o que ia desencadear as confissões e as outras coisas que ela tinha em mente, as quais a ruiva nem queria imaginar do que se tratavam.

- Desculpe aí, vocês – o novato passou uma mão na nuca, dando um sorriso nitidamente falso. – É que o dinheiro era bom, e eu tava precisando. No fim, só tenho olhos pra minha musa – e virou-se para Amy, dando a ela um sorriso safado.

A dançarina arrepiou-se e deu um passo para perto de Jin, que fuzilava o rapaz com o olhar. Elesis riu para si mesma, satisfeita. Arme, Ronan e Lire já haviam sido punidos no jogo de verdade ou desafio, e parecia que o inferno de Amy e Jin estava prestes a começar também, o que já a fazia feliz o bastante, mesmo que não fosse causado por ela.

Quer dizer, ela sabia que as intenções de todos não eram ruins, mas não queria dizer que havia gostado das atitudes deles. Além do mais, um pouquinho de ciúme não ia matá-los.

- Ah, aquilo foi horrível, não é? – Holy cruzou os braços, a voz indignada, ganhando a atenção do grupo. – Não pude acreditar quando a comandante falou aquilo! E ela nem me deixou voltar e impedir! Qual o problema dela? – bufou, inconformada. – Mas pelo menos não aconteceu nada, certo? Quer dizer, vocês não parecem próximos, e você nem respondeu quando a Amy perguntou...

O olhar que ela dedicou a ruiva deixava bem claro que se ela dissesse que estavam juntos, não iam ser só pesadelos que iam persegui-la.

- Não gosto de admitir que dancei na mão de alguém, mas sim, deu certo – Lass passou uma mão pelos cabelos brancos, dando um sorriso bobo antes de sentar ao lado de Elesis no pequeno sofá da sala de reunião. – Sua perna não está doendo?

- Tá tudo bem – a ruiva corou, direcionando seu olhar para o chão. Não havia se acostumado àquilo ainda.

Lass era muitas vezes mais carinhoso e gentil do que ela podia imaginar que ele seria. Estava se apaixonando mais por ele a cada instante que passava. E sentia-se feliz com isso, porque não era algo só para ela, era maior que isso.

- Enfim, vamos deixar eles fazerem coisas de namorados, pessoal – a voz de Arme sobrepujou os protestos crescentes de Holy, e o grupo deu algum jeito de arrastá-la para fora do quarto, porque logo a porta bateu fechada.

E os dois se mantiveram em silêncio.

- O que devíamos fazer agora? – a doce melodia que eram as palavras de Elesis cortou o ambiente conforme ela o olhava.

- Coisas de namorados? – o albino riu-se um pouco ao ver a expressão nervosa que ela fez. – O que namorados fazem, Elesis?

- Ah, hm... – ela juntou os dedos indicadores, olhando-os para manter a vista longe daquele orbes oceânicos e sugestivos. – Eles... Eles beijam?

Lass inclinou-se e a beijou levemente, se afastando logo, doce e amável como ela havia se acostumado após as duas semanas em que estavam juntos.

A Caçada havia demorado muito tempo para retornar das pequenas férias que a comandante lhes dera de cortesia. Ela podia muito bem imaginar porque, mas não parecia uma hora boa para acusar seus subordinados de serem folgados. Havia lhe rendido muito tempo com o ninja, e isso a agradava o suficiente.

- O que mais? – a voz dele soou rouca no ouvido da jovem, fazendo-a se arrepiar com o hálito quente em sua pele.

- Eles... Casam? – ela manteve os olhos fechados dessa vez, segura de que não ia perder a concentração desse jeito.

- Wow, acho que estamos pulando algumas etapas – o albino riu, satisfeito. – Mas está bom assim. E o que eles fazem depois que eles se casam?

Começou a incliná-la no sofá.

- Eles... Fazem bebês?

O ninja parou, por um momento, estreitando os olhos. Só depois do casamento, certo? Olhou-a então, de olhos fechados, as bochechas vermelhas e os lábios entreabertos pedindo que ele os tocasse de novo. Ele não devia. Tinha de ser o melhor por ela, por Elesis.

Afastou-se, encostando confortavelmente no estofado e passando o braço por sobre os ombros dela, satisfeito. Fingiu não notar a expressão surpresa que ela deu antes de recostar a cabeça sobre o ombro dele.

- É isso que namorados fazem antes de casar – ele explicou, fechando os olhos e deixando a própria cabeça descansar sobre a dela, deliciado.

- Hey, Lass, se nós tivermos um bebê, ele vai ser albino? – a pergunta o pegou de surpresa, e ele afastou-se um pouco para olha-a, intrigado.

- Talvez? Não entendo muito disso – deu de ombros.

- Sério? Será possível? – os olhos dela brilharam encantadoramente. – Eu quero um bebê como você! Mal posso esperar.

Encarou-a mais surpreso ainda. É, Elesis nunca falharia em pegá-lo desprevenido. Riu-se, encostando a cabeça na dela novamente.

- Certo, certo, mas isso é assunto pra daqui alguns anos, não acha? – teve certeza de que ela corou ao pensar por esse ângulo.

Fecharam os olhos aproveitando silenciosamente o momento. Mas logo ela falou novamente aquilo que seu coração gritava, que ela já havia desistido de enxergar sobre uma óptica racional.

- Hey, Lass... Eu te amo, está bem? – sua voz saía mais natural a cada vez que repetia aquilo, mesmo que ainda sentisse seu coração falhar uma batida sempre que as palavras deixavam seus lábios.

- Você não faz idéia de quanto tempo esperei pra ouvir isso de novo – ele sussurrou, e um sorriso satisfeito brotava em seus lábios. Com os olhos fechados, não percebeu que ela o olhava confusa até que ela afastasse um pouco seus corpos.

- Como assim de novo, Lass? – e sua voz soou um pouco zangada.

Ele arregalou os orbes azuis, direcionando-os para as pequenas bolas de fogo que eram os dela e colocando uma mão sobre os lábios, totalmente abismado. No que ele havia se metido?

- Quer dizer... Ah... – suspirou. Não adiantaria tentar mentir para ela. Passou uma mão sobre os cabelos, nervoso, e contou a ela o que havia acontecido naquela missão na floresta, na cena de nosso humilde primeiro passo.

E palavras não são o bastante para descrever o nervosismo com que ela o bombardeou de perguntas depois. Nem a vontade dela de se esconder em algum lugar e simplesmente morrer.

Porque, oh, pior do que deixá-lo descobrir ao longo de seus esforços para esconder seus sentimentos, ele já sabia antes. E, por Deus, fora ela quem contara.

Mas mesmo que ele não tivesse descoberto, daria tudo na mesma, porque ela sabia que não seria capaz de manter aquilo para si mesma para sempre. E mesmo que conseguisse, não seria feliz.

Então, por mais difícil que seja dizer, não deixe seus sentimentos engavetados no seu coração, num arquivo que vai acumular poeira ao longo do tempo, ou que será aberto com freqüência e com uma mágoa crescente. Não se esqueça da felicidade que eles lhe trouxeram, procure não se lembrar só da dor. E tente fazer bons momentos, ou, se os tiver ocasionalmente, continue a cultivá-los.

Um amor que surgiu ao acaso não some ao acaso também.

E você não precisa mantê-lo só para si. De modo algum! Você deve tentar, não desista, não perca a confiança! Às vezes pode não dar certo, então tome essas experiências para si e aprenda com elas, mas nunca deixe de amar.

Afinal, todos nós merecemos nosso felizes para sempre. E não serão apenas doze passos para esconder um amor em negação que irão tirar esse direito de você.

Então vá lá e aproveite! Não é todo dia que recebemos uma declaração de amor. E também não é todo dia que podemos dizer que esse amor é recíproco. Temos medo, sim, temos. Temos vergonha, temos insegurança, temos problemas para nos concentrar e para nos vestir, e para acharmos o caminho da felicidade.

Mas, se você procurar bem, com certeza vai encontrar a trilha certa. E então vai ser muito fácil sorrir de volta e dizer as palavras que sempre estão entaladas na sua garganta, assim como na de Elesis. Tome fôlego e faça de uma pessoa a mais feliz do mundo:

- Eu te amo também!