Ela estava tão nervosa que poderia jurar que a qualquer momento desmaiaria.

Mas a ruiva não podia fazer isso, porque supostamente ela era a personagem forte e independente da estória, e não aquela que se apaixona e cujo coração o quarteirão inteiro ouve bater de tão alto e rápido que é o som.

Só que ela não podia evitar se apaixonar, assim como não podia evitar aquela missão horrível de sua horrível comandante sádica e cruel.

Nada contra missões, aliás, ela as adorava. Mas por que, de todos os companheiros da Grande Caçada, Lothos tinha de designar o ninja para ir com ela? E por que tinham de ir os dois sozinhos? Oh, isso realmente não era bom!

No começo ela até podia controlar a ansiedade, afinal, era só uma missão de reconhecimento bobinha. O problema era que alguns imprevistos os haviam atrasado e agora eles tinham de passar a noite onde estavam e voltar para a base no dia seguinte.

No meio da floresta, sozinhos, a quilômetros da civilização, sozinhos, sem comida boa, e ela já disse que os dois estavam sozinhos? Pobre ruiva, ela estava tão nervosa que seus pensamentos estavam começando a trapaceá-la.

Lass, nada bobo, podia notar perfeitamente como as mãos dela estavam tremendo ao redor do copo de água quente que ele havia lhe passado após aquecê-la na fogueira, uma tentativa boba de manter os dois em condições menos que miseráveis uma vez que eles haviam entrado na floresta sem muitos recursos para passar uma noite lá.

- Elesis – quando suas palavras ecoaram pela clareira onde se encontravam, a ruiva arrepiou-se, quase pulando do tronco caído onde se sentava. Céus, ela estava tão nervosa que a voz dele era o suficiente para deixá-la atenta. – Eu vou vigiar primeiro. Pode dormir.

Ela o acompanhou com os olhos conforme ele se levantava e seguia até uma árvore, apoiando-se nela e puxando um livro do bolso, alguma distração para mantê-lo acordado, apesar de a ruiva ter perfeita certeza de que, como um ninja, ele seria capaz de varar a noite sem o menor problema.

Mas ela não disse nada disso, muito pelo contrário, apenas mexeu um pouco os ombros, dançando para Deus em sua mente em um agradecimento silencioso.

Foi quando acabou de tomar sua água que percebeu um problema na pequena paz interior que havia formado ao se afastar um pouco do rapaz.

Oh, ela teria de dormir. Na frente dele!

Com certeza ela não conseguiria.

Elesis realmente não tinha ideia de como, no passado, fora capaz de adormecer na presença do ninja. Talvez fosse porque havia outras pessoas junto.

Mas não era o caso daquela vez. Lá estava ela, uma imagem imponente a manter e um coração descontrolado a sustentar. O que ela poderia fazer?

Claro que não podia dar muito na cara o que estava sentindo, afinal, o que aconteceria se o albino descobrisse que ela o amava? Ah, ela realmente não desejava ter de passar por tal situação.

Então, pensando que a solução mais rápida seria se afastar um pouco dele, levantou, tentou atuar uma espreguiçada e seguiu até a árvore mais longe daquela em que ele se encostara para tentar tirar uma soneca.

Recostou-se no tronco, tensa, e escorregou até o chão, fingindo um contentamento grande com o apoio. Manteve os olhos fechados, a fim de deixar sua atuação mais realística.

Claro, com as pálpebras cerradas, mal podia vislumbrar o olhar e sorriso matreiro que o albino lhe dedicava. Elesis nunca realmente parou para considerar se atuava bem ou não. Lass podia dizer, entre risos, que com certeza não era a primeira opção.

Mas claro que ela nunca ficaria sabendo, uma vez que ele não era bobo o bastante para lhe dizer. Muito pelo contrário, ele guardaria isso para si mesmo, junto a suas suspeitas secretas de porque ela parecia tão tensa e fingida.

Aí tinha alguma coisa que Lass com certeza queria saber o que era.

A ruiva ficou quieta, os olhos fechados, e puxou o próprio casaco com as mãos numa tentativa vã de se aquecer. Graças a Deus ela usava roupas pesadas, porque se se vestisse como Amy com certeza já teria pegado uma pneumonia àquela altura.

Além disso, ela tinha esperanças vãs de que o casaco largo pudesse disfarçar o quanto tremia de nervoso, ou talvez fizesse parecer que os calafrios eram por causa do clima.

É claro que ele não estava sendo enganado, mas a garota acreditava que sim. O ninja a observava, as sobrancelhas levantadas em curiosidade. Afinal, onde ela queria chegar com aquilo?

Pareceu extremamente difícil, mas depois de algum tempo a ruiva caiu no sono. Um sono com sonhos doces e infantis de uma vida mágica que ela acreditava que jamais poderia ter. Sonhos com ele, com ela, com os dois, até mesmo com seu pai, às vezes. Sonhos que quando acordava ela desejava que não tivesse tido.

Sonhos de finais felizes.

Claro que quando estava sonhando, ela não tinha nem ideia de como se sentiria depois. E era por isso que sonhava, que sua mente a permitia fugir da realidade por algum tempo.

E nessa brilhante cena falsa em sua mente, ela estava se divertindo tanto que inconscientemente começou a falar em seu sono.

Quando Lass ouviu o som de sua voz, desviou devagar o olhar de seu livro, focalizando os orbes azuis sobre a garota que se encolhia encostada à árvore. Ela tinha uma expressão relativamente feliz, e seus lábios rosados se mexiam devagar, os sons baixos alcançando os ouvidos de seu acompanhante.

- Hm... Hm... – eram calmos e nítidos suspiros de alegria. O albino levantou-se e seguiu quietamente até a frente dela, estreitando os olhos enquanto a fitava, tentando entender exatamente o que ela queria dizer.

Foi quando ele ouviu aquilo que mudaria completamente seu mundo.

- Lass... – o som de seu nome deixando os lábios dela fez com que um pequeno calafrio corresse por sua espinha. – Lass... Para, Lass... – e deu uma risadinha. – Eu... Eu te amo... Sabia...?

E a observou os orbes arregalados. Por um instante, sentiu-se tentado a acordá-la, um desejo insano de perguntar se aquilo era mesmo verdade tomando seu ser. Devia estar sonhando, certo? Não podia ser real.

Elesis o amava? Ele nunca ia imaginar aquilo, nem em um milhão de anos!

E o fato de que parecia não ser um devaneio de sua mente estava fazendo com que ficasse cada vez mais nervoso.

Virou-se e voltou para a árvore na qual se encostara anteriormente, o olhar consternado fitando o chão de terra, mil possibilidades em sua mente.

Quando aquilo começara? E por que começara? Por que estava se sentindo estranho? Seria por que a amava também? Ou seria porque a perspectiva de que alguém pudesse se apaixonar por uma pessoa como ele era assustadora e utópica? O que aconteceria dali para frente.

A história seriam os dois que iriam escrever. Mas para que soubesse quais palavras tinha de usar nas próximas linhas ele precisava ter as respostas daquelas perguntas.

Com isso em mente, decidiu que iria descobri-las. Ele era um ninja, afinal, não era como se isso fosse impossível. Mas ele não podia deixar que ela percebesse que ele a havia ouvido! O que aconteceria se a ruiva descobrisse que ele sabia de seus sentimentos? Oh, ele nem poderia imaginar! Só sabia que, se acontecesse, nunca teria as respostas de suas perguntas, ou pelo menos não as teria do jeito que queria.

Então decidiu que não iria contá-la nada. Esse seria seu segredo, até que chegasse a hora certa.

Ele estava tão nervoso que poderia jurar que se um inimigo o atacasse naquele momento não seria capaz de perceber sua presença, um comportamento obviamente negligente.

Afinal, ele supostamente era o personagem frio e detalhista da estória, o que sabia a resposta de todas as perguntas, aquele que não deixava nada passar, e não o que ficava nervoso após uma semideclaração de amor, cuja mente ficava repleta de sonhos e anseios que nunca nem imaginara ter.

Mas não poderia deixar de ouvir aquela interessante revelação porque sua comandante o mandara a uma nada interessante missão de reconhecimento.

Então estava bem claro para ele uma coisa, uma pequena regra na qual pensava com o mínimo de sua mente, o restante estando absorto em todas as possibilidades.

Esconder um amor, esconder um segredo, com certeza era uma coisa muito difícil. E, para começar, se você não quer que ele seja revelado, tente manter-se o mais longe possível da pessoa envolvida no caso. De preferência, nunca fiquem sozinhos.

Ah, se a ruiva soubesse disso antes...