Uma Criança Com Seu Olhar escrita por Miss Desaster


Capítulo 6
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

É muito amor e fofura pra um capítulo. Boa leitura!



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— Vejo que já o conheceu.

Os dois ficaram em silêncio pelo tempo que se demorava para absorver cinco anos. Ao menos foi o que parecera.

— Mãe, o Damon me levou no Burger King. Olha o brinquedo! – David parecia feliz e alheio a todo clima pesado do quarto.

— O que você quer com o meu filho? – Os olhos de Elena faiscaram de raiva de uma hora para outra. – Sua vida já não é bastante agitada para ter tempo com esse tipo de assunto?

— Ele não é só seu e muito menos um assunto. E eu estou de férias.

Damon não saberia dizer quem ficou mais surpreso: ele ou Elena.

— Vocês estão brigando? – O menino viu sua mãe com a expressão quando ele quebrava os brinquedos que não gostava mais.

— Não é isso. Sua mãe só está um pouco cansada do hospital e não me vê há muito tempo.

O menino encarou Elena, esperando a confirmação do que Damon falara. David e Damon ainda estavam se conhecendo e trabalhando na confiança.

Ambos desconfiados até da sombra. Esse gene ele com certeza herdara de Damon. Sem dúvidas.

— Está tudo bem, meu amor. Quer me contar o que tem feito esses dias? Como está a escola?

Agora tudo que se ouvia na voz de Elena era bondade.

David detalhou as aventuras da escola, que aprendia agora algumas cores novas, estava escrevendo o nome sem precisar cobrir os pontinhos e ganhou uma estrela por ter acertado todo o trabalho que a professora passou em sala de aula.

Damon ainda se assustava com a desenvoltura do menino com apenas quatro anos e o jeito de se expressar. Muito desenvolvido para a idade.

Algum tempo depois a enfermeira chegou ao quarto dizendo que era hora do remédio. Não demorou vinte minutos para Elena adormecer.

—-

— Damon, eu acho que é uma boa ideia você se hospedar por aqui. – Era a segunda ou terceira vez que Bonnie comentava o assunto durante a semana.

A viagem de quase todos os dias era realmente cansativa, mas estar com David deixava tudo mais fácil.

Verdade seja dita, Damon sentia o pavor correr por suas veias de finalmente encontrar um lugar na cidade e tornar tudo definitivo. Como um carimbo no passaporte direto para uma vida familiar.

E se ele não fosse bom nisso? Não sabia lidar com o tipo de coisa que nunca viveu e não tinha noção de como ser bom nisso sem base.

Ele não teve um bom pai, então era bem provável que não ganharia o prêmio de super pai ou o melhor do ano.

Damon sentia que a qualquer momento acabaria estragando tudo que construiu com David nessas semanas. Que iria ralo abaixo quando sua vida voltasse com o cd novo, turnê, viagens e não saber como e o que fazer com o menino era psicologicamente desgastante.

David era a única coisa na vida que não tinha a menor intenção de estragar. Mas anos atrás Elena era alguém com quem ele não quis destruir tudo e ainda sim conseguiu fazê-lo de modo brilhante.

Agora estava cinco anos depois com uma criança que não viu nascer, crescer, que aprendia dia após dia as coisas que gostava e aquelas que detestava. Estava tentando entender a sua personalidade infantil.

Tudo que existia de bom na vida de Damon, ele acabava destroçando e não era justo fazer isso com uma criança.

Só aí ele se deu conta que David era algo de bom na vida que levava.

Algo muito bom.

—-

Damon chegou a escola uns dez minutos antes do horário marcado. A professora de David o reconheceu, mas nada alarmante.

— A Bonnie me ligou para dizer que outra pessoa vinha buscá-lo. – A professora estava fazendo a pergunta entrelinhas.

— Sou um amigo da família.

Ela apenas deu um aceno de cabeça e continuou:

— O David ficou muito quieto hoje. Não quis brincar no horário do recreio e não quis lanchar também.

— Você acha que ele tem alguma coisa?

Nesse momento David apareceu arrastando a mochila e seu rosto ficou um pouco surpreso ao ver Damon na entrada do colégio.

— Ele pode só está cansado. Bom final de semana, David.

Damon estava prestes a se oferecer para pegar a mochila, mas o menino apenas esticou os braços. Ele nunca tinha exatamente segurado uma criança no colo.

Sem o menor jeito, pegou David no colo e no outro apoiou a mochila. O menino logo deitou a cabeça no ombro de Damon e foram assim até o carro.

Essa noite Bonnie estava presa na redação e April estudava para a semana de provas. Era a primeira vez que Damon passava a noite no apartamento.

Depois de oferecer todo estoque de comidas saudáveis – que nenhuma criança deveria parecer realmente interessada-, e até mesmo as guloseimas que Bonnie havia proibido. Nada parecia interessá-lo.

— Você quer leite quente?

— Aham.

Ao menos esquentar leite Damon sabia.

Também estava se adaptando com a rotina de ver Bob Esponja na tv.

— Damon, eu quero minha coberta.

— Acho melhor te levar pro banho, depois você pode ficar aqui deitado e vemos tv.

Essas seriam as palavras de um bom e responsável pai. Damon sorriu internamente de orgulho próprio.

Como se crianças fossem tão obedientes assim aos quatro anos.

Depois de buscar a coberta de aeronaves, Damon se sentou ao lado de David para ver tv. O menino estava muito quente, bem provável que ardendo em febre.

Ligar pra Bonnie desesperado foi o primeiro pensamento que invadiu sua mente, mas ela iria insistir em voltar pra casa em dez minutos. Largando o trabalho e bancando a protetora. E Damon sabia o quanto ela já havia faltado ou se atrasado por conta dos últimos problemas com Elena.

Agradeceu ter gravado o número de April no celular e agora poderia interromper os estudos da garota sem o menor ressentimento.

David era seu filho – nesse momento um nó apertou na garganta do moreno -, e precisaria aprender a lidar com as situações sem entrar em pânico.

April explicou tudo que deveria fazer; inclusive convencer David a tomar um banho gelado e depois poderia lhe dar uma pequena dose do remédio que ficava no quarto do menino.

Foi preciso um bom papo e muito esforço pra convencer David. Que menino mais teimoso.

— Pronto pra dormir? – Damon se sentou na cama ao lado do filho e o cobriu com a bendita coberta de aeronaves.

As pálpebras do menino com certeza trabalhavam para se manterem abertas. Como se estivesse com medo de adormecer.

— Eu ‘tô doente? – David perguntou enquanto puxava a coberta para cobrir o urso no qual estava abraçado.

— Não. É só uma febre e agora que você já tomou banho e o seu remédio.... As aeronaves vão chegar logo pra te buscar para o passeio. – De onde saíra isso Damon não fazia a menor ideia, mas fez David sorrir.

O moreno estava resistindo a todo custo passar as mãos pelos cabelos totalmente desgrenhados do filho, mas ele parecia receptivo demais pra deixar a oportunidade lhe escapar.

Lembrou-se de quando era criança. Não era exatamente carinho que recebia dos pais, então gostaria que David tivesse lembranças diferentes e melhores do que a sua.

— Você vai ficar comigo?

— Claro.

— Me conta uma história? – O menino pediu em seu tom infantil que conquistara o adulto em sua em frente, sem ao menos se dar conta.

Damon abriu o livro que estava na mesa de cabeceira e começou a ler a primeira história de dormir para o seu filho.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham achado tão fofo, como eu achei sobre escrevê-lo. Obrigada por quem lê e pela paciência de me aturar x) Vejo vocês na semana que vem. Beijos.