– Meu nome é Dante e eu serei seu anfitrião está noite! Hoje teremos um “diferencial” no nosso show. – disse Dante.

Um “diferencial”. O que mais poderia ter de diferente se no show várias pessoas morriam? Esse era o plano de Vernon.

Desde que o Circo do Meio-dia começou a fazer sucesso mundial eles não usaram mais as crianças na abertura do show. Até mesmo porque elas cresceram e era realmente difícil achar crianças tão sociopatas quantos as que eles tinham anteriormente.

Uma delas era a “pequena e adorável” Julie.

~ Flashback 1 on ~

– O que temos que fazer Vernon? – perguntou Maria.

– Vocês terão de mata-la. Isso é obvio.

– Não podemos só a expulsar? Mata-la é uma alternativa muito trágica, não acham? – disse Dante.

– Daniel, não temos outra escolha. Prefere que seus “casinhos” continuem morrendo? – perguntou Vernon.

– Mas... A Julie está conosco desde sempre... – disse Dante. No fundo ele se sentia um pouco triste por ter que matar Julie. Mas ele também sabia que essa era a única solução.

– Daniel! Eu não acredito que você está com pena dela. Uma assassina em potencial! – exclamou Maria.

– Como se você fosse diferente dela! – gritou Dante – Você também mata as pessoas, mesmo que indiretamente!

– Dante, calma... – pediu Vernon.

– Eu não vou ter calma. Façam a droga que quiserem. – disse Dante, saindo da sala e deixando apenas os dois mais velhos ali.

~ Flashback 1 off ~

– O que vocês estão para presenciar será um show único. Apresentado apenas esta noite... – falou Vernon.

– Tentamos recuperar nossas “origens” durante esse show, então, esperamos que aproveitem. – completou Dante.

As luzes foram apagadas e as crianças entraram. - Uma delas era Julie-
Elas andavam em bicicletas, agora um pouco maiores. Cantavam a mesma canção.

– O circo do meio-dia é o melhor, pois no nosso circo se encontram palhaços. Não olhe para trás, moça bonita. Não olhe, pois nosso circo é um horror! Nosso circo é o terror.

Então, as luzes foram apagadas mais uma vez. Apenas um grito foi ouvido por todo o lugar.

Quando as luzes foram novamente acessas todos da plateia se olharam. Não faltava ninguém ali. Não ali...

Em cima do palco, atada a uma corda que a prendia em um tronco estava Julie. Um pano vermelho estava tapando sua boca. A frente da garota estava um aparelho, e na ponta estava um canivete.

Todos da plateia esperavam para saber o que aconteceria a pequena garota.

– Julie... Nossa querida Julie... – começou Vernon – O que acha que está fazendo aqui? – perguntou, retirando o pano que tapava a boca da garota.

– O que você pensa que está fazendo, Vernon? – perguntou ela, em desespero.

– Eu estou punindo uma garota que foi muito, muito má.

– O que?! Dante tire-me daqui!

– Sinto muito Julie, mas não posso fazer isso. – disse Dante.

– Claro que você pode! Vamos Dante, me tire logo daqui! – exclamou a garota.

– Ele não vai te tirar daí, Julie. Nem ele nem ninguém. Daí você só sai depois de ser punida.

– Julie, você está sendo acusada de assassinar Serapine e Inocence...

– Não! Eu não as matei! Quem foi que disse isso? – gritou Julie, atrapalhando Dante.

–... Uma delas foi assassinada na noite de ontem. Ela foi esfaqueada e tudo levar a crer que foi com esse canivete que está na sua frente. – falou Dante.

Julie olhou para o canivete. Olhava para o objeto como se ele fosse à coisa mais valiosa do mundo. Ela não podia negar.

– É, fui eu sim. Elas queriam o que era meu!

– E o que é seu, Julie? – perguntou Vernon.

– Dante! Ele é meu!

– Você é louca. Eu não sou seu, olhe a minha idade Julie. Você é apenas uma criança. – disse Dante. O homem estava um poço de nervos, e a cada minuto tudo ficava pior.

– Isso não importa. Você ainda pode me amar.

– Julie, eu te amo apenas como um irmão ama uma irmã. Eu nunca vou te amar do jeito que você espera.

–... Foi por isso que eu as matei. – confessou Julie – Você as “amava”. Elas tinham o que eu não podia ter.

– Você é doente. E agora vai pagar pelo que fez. – falou Vernon. Ele fez sinal com a destra, e dois homens usando capuzes igualmente pretos entraram no palco.

~ Flashback 2 on ~

Julie corria sozinha pela rua. Estava chovendo, ela estava descalça. Um homem a perseguia. Um homem mal. O serialkiller tinha escondido entre as roupas um canivete de cabo negro.

A garota continuou correndo até entrar em um beco sem saída. O homem a encurralou contra a parede e ela sabia que estava perdida. Fechou os olhos esperando pelo golpe, que não viera.

Abriu então os olhos para ver o que tinha acontecido e viu o homem jogado no chão. Sangue escorria de uma ferida em seu estomago. Ela olhou para cima e viu um garoto, bem mais velho que ela. Ela não conseguia enxergar o rosto de quem a havia salvado, mas ela seria eternamente grata. E naquele momento ela achou que tinha encontrado o amor verdadeiro.

–

– Eu quero adotar esta pequena garota adorável aqui. – disse Maria.

– A Senhora precisa de todos os papeis para poder adota-la. Se for casada garanto que o processo de adoção será bem mais rápido. – respondeu a mulher.

– Querida, nos podemos tornar tudo isso mais rápido para mim e para você, sim? – colocou um pacote sobre a mesa. A mulher olhou com desconfiança para Maria e pegou o pacote.

Olhou a quantia exagerada que havia lá dentro, conferiu algumas notas para saber se eram verdadeiras e entrou voltou a fechar, colocando dentro de uma gaveta na escrivaninha.

– Você pode buscar a menina a hora que quiser.

– Posso leva-la agora? É que tenho pressa. – disse Maria.

– Tudo bem. - falou a mulher. Ela fez uma ligação para a secretaria, pedindo para que trouxessem Julie até o seu escritório. Pouco tempo depois a garota chegou, trazia em uma pequena sacola plástica todos os seus pertences. Uma muda de roupa limpa que usava nos dias que tinham que ir para igreja, sua escova de dente, sabonete e escondida dentro de uma caixinha um canivete de cabo negro.

–

– Esse será o seu novo lar. – falou Maria. Parou o carro em frente ao circo. Julie abriu a porta do carro e desceu, esperando pela mais velha que estava terminando de desligar tudo. – O que achou?

– É melhor do que morar no internato...

Maria mostrou toda a estrutura do circo a Julie, que continuava um tanto apática a tudo aquilo.

Em um certo ponto Maria mostrou o lugar onde outras crianças quase da mesma idade que Julie ensaiavam... Para o show O Outro Lado do Circo.

Pouco tempo depois Julie já estava participando do show. Era uma das favoritas de Maria, já que ela não tinha dado o menor trabalho com relação às mortes que tinha que presenciar diariamente.

Dava-se bem com todos do circo. Podia conversar com alguém por horas.

Ninguém nunca percebeu que Julie também tinha outro lado dentro dela mesma.

~ Flashback 2 off ~

– Julie, você foi julgada e condenada à morte no palco. Você será morta na frente de toda a plateia. – falou Dante.

– Não! Eu não quero morrer! – gritou ela.

– Eu aposto que as outras mulheres que você matou também não queriam morrer. Mas você não deu-lhes escolha! – ralhou Vernon. Fez então um sinal para que os dois homens continuassem com o trabalho.

Eles foram até Julie.

Um deles segurava uma foice enorme e muito bem afiada. O outro homem desamarrou Julie do tronco, sem desamarrar as mãos dela.

Julie podia ver seu reflexo na lamina da foice. Ela estava literalmente horrível. Tinha hematomas pelo pescoço e rosto. Ela se lembrava bem como tinha conseguido os do pescoço, mas não sabia em que momento havia apanhado no show para ter ganhado os hematomas do rosto.

~ Flashback 3 on ~

– Mais... Rápido... – disse ela. O garoto acelerou os movimentos. Julie gritou. Não por prazer, e sim por frustração. Ela não conseguia se sentir completa com outra pessoa. Imaginava-se ali, fazendo aquilo com Dante.

Ela sabia que o que estava fazendo era sujo. Queria ter se entregado primeiro a Dante, mas ele não a queria. Ela estava nervosa e precisava se acalmar; O melhor jeito que achou foi se entregar para o seu colega de quarto.

Ela tinha matado uma mulher. A primeira das outras que viriam.

A primeira das que ela mataria para ter o amor de Dante somente para ela.

O garoto distribuiu mordidas pelo pescoço da garota. Ela gemia descaradamente, sem nenhum pingo de pudor.

Ela queria que ele ouvisse.

Querida que Dante ouvisse que ela estava fazendo aquilo com outra pessoa.

~ Flashback 3 off ~

O homem continuou avançando com a foice, sem demonstrar um pingo de remorso por estar fazendo aquilo. Ele conhecia Julie desde que ela chegara ao circo. Tinha simpatizado com a pequena Julie. A que era alegre, brincalhona e que não dava pausas para respirar quando estava agitada e falando demais.

Agora, a garota a sua frente era apenas uma serialkiller.

– Dante, por favor... – implorou Julie.

Dante olhou nos olhos da garota, tentando achar a antiga Julie ali. Mas tudo que vinha na sua mente era a briga que ele escutara entre ela e Inocence. O grito que a mais velha dera quando sentiu o canivete lhe perfurar pela primeira vez.

– Eu sinto muito Julie...

O golpe foi fatal. A lamina atravessou a pele, a carne e também os ossos. A cabeça caiu no chão. O sangue escorria em abundancia do corte no pescoço

Dante olhou a cena, apático. Virou-se e foi embora, deixando que Vernon desse as congratulações finais aos homens pelo belo serviço e agradecendo também ao publico que tinha ido ali naquele dia.

Ele andou diretamente para seu novo quarto – já que não quis continuar no antigo graças à morte de Inocence -. Entrou e bateu a porta com força.

Ele se amaldiçoava internamente por ter entregado aquele canivete a Julie no dia em que a salvou.

Ele era culpado; Ela era culpada; Todo mundo era culpado. E todo mundo ia pagar.