Blessed With A Curse escrita por Mari Bonaldo, WaalPomps


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Permanecendo em silêncio, porque nesse capítulo né...



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Rachel pegou o grupo de papéis, que continham informações sobre Antonio Amaro, e observou-os atentamente. Deu um gemido de frustração ao conferir que havia pelo menos dez páginas ali. Mas não deixou-se desanimar, sabendo que se voltasse para a cama os seus pensamentos não sairiam de Finn e a discussão recente entre os dois.

Na primeira folha, havia a biografia básica de Amaro. Ele tinha 43 anos, seus pais haviam falecido quando ele tinha dezoito, era casado com Rita Amaro e tinha um filho de dezesseis anos, Pietro. Pouca coisa se sabia sobre o garoto, exceto que ele não era visto muitas vezes em público com o pai. Era impressionante como, em uma ilha pequena como Elba, bons profissionais viravam celebridades.

Amaro era um Urologista, e tinha especialização em DST’s (N/A: sim, isso existe, eu pesquisei haha). Trabalhava no Hospital Nossa Senhora das Graças em Elba desde os vinte e nove anos. Também havia herdado do pai, Hermano, uma empresa de aluguel de automóveis. Aparentemente, aquela era uma ótima fonte de renda em uma cidade litorânea, visada por turistas.

Rachel virou a folha, encontrando uma pequena pesquisa sobre o Hospital em que Amaro exercia sua função. Ela franziu o cenho, observando com curiosidade cada uma das palavras ali.

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Santana Lopez sentia as mãos de Brittany St. Pierce passearem em seu cabelo com displicência. As duas estavam recolhidas no sofá de sua casa temporária, preguiçosamente deitadas lado a lado, aproveitando a paz que a muito não tinham.

- Eu quero me casar aqui, Sant. Nessa praia. Nessa cidade. – disse Brittany, de repente, sua voz doce flutuando até os ouvidos atentos de Santana. A latina sentiu um sorriso pequeno brotando nos lábios, antes de inclinar-se sobre sua noiva e tomar-lhe a boca em um beijo suave.

- Isso é totalmente clichê. E absurdamente doce. – disse Santana, colocando uma das mãos no rosto delicado de Brittany, que franziu as sobrancelhas, em uma expressão inocentemente confusa.

- O que um chiclete doce tem a ver com a minha decisão?

Santana não pôde conter o riso ante ao pequeno “probleminha” da amada, e conseguiu conter-se somente quando ouviu o celular tocar insistentemente. Ela soltou-se dos braços de Brittany e se inclinou sobre a mesinha, vendo o nome de Rachel no visor e atendendo rapidamente (novamente). Ela já havia ligado uma vez naquela tarde, chorosa, perguntando se Santana tinha noticias de Finn.

- Fala, Berry.

- O Finn te deu noticias? – Rachel perguntou, parecendo ainda mais desesperada do que na última ligação.

- Não, Rach. – Santana revirou os olhos. – Ele provavelmente está pensando, em algum lugar quieto. Esse é o Finn.

- Já fazem duas horas! Eu preciso falar com ele, é urgente! – a voz de Rachel estava esganiçada e uma sensação ruim começou a tomar conta do corpo de Santana. – Eu já tentei ligar para ele, mas ele não me atende!

- Aconteceu alguma coisa?

- Não. Ainda não.

- O que você quer di-

- Sant, só... Liga para ele por mim, tudo bem? Por favor.

Santana concordou. Como se tivesse outra opção.

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Rachel sentia as mãos tremerem levemente, enquanto analisava as fotografias novamente. Se a sua teoria estivesse correta, então o tempo todo eles estiveram na pista errada. E aquilo poderia custar-lhes caro. O fato de Finn estar fora de casa há mais de duas horas, também não ajudava em nada.

Ao observar as informações sobre o local de trabalho de Antonio, Rachel ficara sabendo que na realidade o hospital pertencia a Giorgio. A relação entre Antonio e Giorgio, portanto, era de subordinação. Só que, mais do que isso, eles costumavam ser amigos. Quando Giorgio abriu seu hospital, empregou Antonio sem hesitações por terem sido colegas de faculdade.

Só que, no meio do caminho, algo aconteceu. Algo que Quinn e Puck conseguiram desvendar somente fracas evidências, a partir de relatos de funcionários do hospital. Nenhum deles dizia grande coisa, a não ser que os olhares nervosos de Giorgio dirigidos a Amaro aconteceram na mesma época da promoção do Urologista, que tornou-se Chefe de Medicina Clínica. Naquela mesma época, também, uma das velhas faxineiras do hospital desapareceu do local de trabalho. Não se demitiu, não foi despedida.

Quinn e Puck entraram em contato com a senhora, que, após uma pequena subordinação, abriu o jogo. Ela sumiu porque estava assustada. Havia ouvido uma conversa entre Giorgio e Antonio, onde uma criança e uma mulher eram mencionadas. Giorgio dizia que Antonio não podia levar a história a tona, pois sua reputação seria destruída com a noticia do filho bastardo com a amante pobre. O filho que ele havia entregado para a adoção. Antonio então, exigiu um aumento de salário. Mais do que isso, exigiu um grande cargo.

“Poder, eram tudo o que Antonio desejava. Eu escutei a conversa sem querer, quando varria o corredor da sala de Giorgio. Antonio mencionou também algo sobre a cura para a Aids, antes que fosse tarde demais. A porta se abriu fazendo um grande barulho, e então eu fui percebida. Algo no olhar de Antonio, e a fúria de Giorgio me fizeram sumir. Me assustaram” Havia relatado a senhora, por telefone.

Ao ler aquelas palavras, a mente de Rachel foi voltada para outro documento, quase imediatamente. A primeira pesquisa detalhada sobre Giorgio Triolli. A pesquisa que incluía toda a sua vida. Em um primeiro olhar, Rachel e Finn não haviam conseguido identificar nada demais. Mas ela sempre sentira que havia algo a mais para ser descoberto, e aquele algo era o filho de Giorgio.

Apressada, ela cavou a gaveta cheia de pesquisas, puxando o antigo documento para as suas mãos. Após um tempo de procura, achou o que pretendia.

Giorgio Triolli faz visitas constantes à ala de órfãos do Hospital Nossa Senhora das Graças. Os funcionários dizem que ele têm uma relação fraternal com um dos pacientes, o menino soro-positivo Juan, de onze anos.”

A razão pela qual Giorgio tinha uma relação tão fraternal com o órfão era óbvia agora: Juan era o seu filho. A criança abandonada era também o menino de ouro do pai.

Rachel pegou as fotos nas mãos, lembrando-se das palavras da faxineira amedrontada: “A cura para a Aids, antes que fosse tarde demais”. Antonio sabia sobre Juan e sua doença. E usava aquilo para ameaçar Giorgio.

Era impressionante como um ato de imaturidade poderia acompanhar você para o resto de sua vida, com conseqüências terríveis.

Ela tinha certeza que Antonio era a mente por trás de qualquer futuro plano. Rachel não tinha muita certeza do que ele pretendia, mas, analisando o seu perfil e as características tão presentes em um sociopata – a inteligência, o desprezo pelos sentimentos alheios e as normais sociais, a necessidade de ser o melhor – ela chegou a conclusão de que não seria algo bonito de se ver.

O seu celular tocou. Rachel imediatamente o alcançou, atendendo ansiosamente.

- Sou eu, a Sant. Liguei para o Finn, ele está na auto estrada, prestes a chegar. Pode relaxar agora.

E foi isso o que Rachel fez. Relaxou. Tirou a roupa e entrou no banheiro, buscando conforto em um banho quente. Não havia motivos para se preocupar. Finn chegaria logo, em no máximo dez minutos.

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Mas, trinta minutos depois, ele ainda não havia chego. Nem quarenta minutos depois, quando ela já estava impacientemente grudada na janela do pequeno quarto de hotel, ansiosa para ver a figura alta de Finn passando pelo corredor. Rachel não podia evitar pensar nos perseguidores e em Antonio. Ela tentou convencer-se de que tudo aquilo era um medo infundado, afinal, ela e Finn estavam hospedados no meio do nada e não havia modo de Antonio Amaro descobrir o seu paradeiro... Sim. Havia um modo.

Sentindo o sangue gelar, Rachel subiu na cama, pegando o documento sobre Antonio e o lendo novamente. Ele havia herdado do pai uma empresa de aluguel de automóveis. A maior em Elba. O local onde ela e Finn haviam alugado a sua caminhonete, usando os seus nomes verdadeiros, e não se apresentando como Sr. e Sra. Birkin.  

Agora ela entendia como os perseguidores sabiam onde ela e Finn se encontravam. A caminhonete tinha um GPS e suas informações eram, naturalmente, passadas para a sede da empresa de aluguel de automóveis.

Era como Rachel havia pensado momentos antes: Um erro imaturo podia mesmo trazer conseqüências inimagináveis.

O seu celular tocou de novo. O coração dela acelerou quando viu o nome de Finn no visor.

- Alô? – disse, aliviada, mas ninguém respondeu do outro lado. – Alô? – disse um pouco mais alto.

Tudo o que recebeu em resposta foi a voz de Finn, dizendo “Fogo”.

O código para situações de perigo, que usaram quando invadiram o imóvel de Giorgio.

O coração de Rachel batia muito mais forte agora. Apesar da estória entre Giorgio e Antonio ainda não estar clara em sua mente, ela tinha uma única certeza: Precisava achar Finn.

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Não demonstrar medo. Aquela era a primeira regra que os agentes secretos da CIA aprendiam em treinamento. Biológica e Históricamente falando, os seres humanos tendiam a obedecer àqueles que exalavam poder. Então Finn Hudson se convenceu de que, mesmo que estivesse com o rosto machucado e dolorido dos golpes de Antonio Amaro, ainda tinha que demonstrar poder. Então ele não deixou que a sua face se contorcesse de dor quando sentiu as mãos grandes socando o seu rosto com força, novamente.

- Me diz o que você descobriu! – disse a voz grossa de Antonio, cercado pelos dois homens que haviam seqüestrado Finn.

Finn não tinha ideia do que estava acontecendo ali. A única coisa que conseguira absorver é que Rachel estava certa quando dissera que as fotos continham algo importante.

E que o mocinho era o vilão, no fim das contas.

- Eu não sei de nada. – ele respondeu, com a voz calma, antes de sentir um soco no estomago. Finn não pôde conter um gemido de dor, antes de abaixar a cabeça e deixar que o sangue corresse de seus lábios.

Antonio se afastou dele, transtornado, passando as mãos nos cabelos. Ele colocou a mão no bolso, tirando de lá uma arma nada amigável, e Finn sentiu as pernas tremerem.

- É a última vez que eu te pergunto, Finn Hudson. Tenha certeza que eu não hesitarei em meter uma porra de uma bala na sua cabeça. O que você sabe?

Agora não importava mais quem era o poderoso. Não importava mais ser forte. Antonio segurava uma arma e Finn estava apavorado com a possibilidade de morrer. Até aquele momento, não tinha percebido o quanto amava a sua vida: era bem sucedido, o amor havia lhe dado uma segunda chance e para completar o cenário, ele seria pai. E agora, quando a ponta gelada da arma tocava as suas têmporas sem delicadeza, a única coisa que ele sabia é que não era a sua hora. Não ainda.

Então ele fez a única coisa que sabia, enquanto torcia para que Rachel aparecesse e fizesse tudo ficar bem: ele jogou perigosamente sujo.

- Você é muito inteligente. O tempo todo, eu pensei que fosse o Giorgio.

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Rachel teclou o número da policia local, enquanto pisava fundo no acelerador da caminhonete preta, abandonada no pátio do motel velho. Encontrar o carro ali, sem Finn na direção, tinha sido a prova que ela precisava de que Antonio Amaro o havia encontrado.

Levara cinco minutos para que Rachel se decidisse para onde ir. No começo, havia ficado apavorada, não sabendo qual direção seguir: Ela sabia que precisava encontrar Finn, mas não tinha noção de onde começar.

Então o seu olhar inquieto caiu sobre as fotos de Antonio. Especificamente sobre o prédio cinza, de dois andares. Aquele prédio queria dizer algo, e ela não tinha certeza de que. Observando com atenção, conseguiu identificar, atrás do prédio sujo, um barco. Imediatamente lembrou-se da foto onde Antonio posava em frente ao mesmo barco, no que parecia ser uma marina. Depois de uma rápida pesquisa na lista telefônica, achou o telefone e endereço da Marina de Elba, e decidiu seguir até lá.

Rachel estava dando um tiro no escuro, e sabia disso, mas sua mente não conseguia apagar a voz desesperada de Finn, pedindo socorro. Ela amava aquele homem, ele era o pai de seu filho, e de forma alguma Rachel o abandonaria.

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Antonio Armano riu da expressão de surpresa do homem machucado à sua frente, retirando a arma de sua têmpora.

- Porque você fez aquilo, Antonio? – disse Finn, tentando enrolar o homem com uma conversa. Uma parte dele tinha esperanças de que Rachel chegasse nesse meio tempo.

- Porque eu incriminei o Giorgio? – perguntou o homem, e Finn assentiu. – Muito simples: Poder. Tudo é sobre o poder, Hudson. É óbvio que não foi fácil engana-lo, mas eu sei da minha capacidade. Quando toquei no nome de Juan e sua doença, ele perdeu a cabeça e ficou obcecado em achar uma cura. Irônico que o filho abandonado seja também o filho amado, não? A questão é que, enquanto ele estava trabalhando obsessivamente, eu estava espalhando alguns rumores sobre Giorgio ter perdido a sanidade. É engraçado... As pessoas tendem a acreditar em um homem de jaleco. Então, os rumores tomaram forma, e daí foi bem simples acusa-lo de roubo de informações.

“Eu me lembro até hoje, com certo orgulho, admito, de seu olhar decepcionado quando soube das acusações forjadas por mim. Com o Giorgio temporariamente fora de jogo, e com a sua sanidade sendo posta à prova e sua reputação sendo destruída, foi fácil tomar o seu lugar no hospital. Acredite, o poder é algo inebriante. E eu queria mais.”

“Por isso, quando pessoas próximas a Giorgio vieram me perguntar sobre a cura da Aids que ele estava desenvolvendo, eu percebi que me apossar daquele maldito remédio descoberto por ele seria a forma de chegar ainda mais longe. As pessoas tendem a pagar qualquer preço em prol de suas vidas, ou das vidas daqueles que elas amam. Você tem noção do poder que eu conquistaria com a cura em minhas mãos?”

“O plano era perfeito, obviamente, mas havia um pequeno porém: Giorgio não havia terminado de desenvolver a cura. Aquilo era um obstáculo. Eu tentei desenvolve-la sozinho, mas obviamente não consegui. E então, eu achei o caminho que deveria seguir: Juan”.

“Era óbvio que, adotando a criança secreta de Giorgio, ele estaria em minhas mãos. E foi isso o que eu fiz. Transformei Juan em Juan Amaro. Quando Giorgio saiu da cadeia e descobriu o meu pequeno feito, perdeu a sua mente, me acusando de ser um sociopata e dizendo que se eu encostasse um dedo no garoto, estaria perdido. Eu me aproveitei de seu transtorno, e lhe dei uma condição: Juan continuaria vivo, se Giorgio terminasse de desenvolver a cura e a desse em minhas mãos. Ele aceitou. Mas foi um verdadeiro erro deixar aquelas fotos comprometedoras naquele imóvel abandonado. Giorgio pagou um pequeno preço, mas eu não posso deixar você viver Hudson. Espero que entenda.” – disse Antonio, sorrindo com sarcasmo, e colocando as balas dentro da arma.

- Espera! – disse Finn, em uma última tentativa de sobreviver. – O que você faria com a cura?

Antonio arqueou as sobrancelhas.

- Porque eu te diria isso?

- Bem, você vai me matar, não é? – Finn sorriu, tentando esconder o nervosismo e ganhar ainda mais um pouco de tempo.

Antonio deu de ombros.

- Quando a cura ficar pronta, eu a mostrarei ao mundo. Obviamente a sociedade vai entrar em colapso, todos querendo um pouco da droga milagrosa que salvará vidas e exterminará da Terra um de seus maiores males nos dias de hoje. Eu serei idolatrado, e certamente conseguirei o que quiser. Simples assim.

De repente, um estrondo foi ouvido. Antonio, que estava de costas para a porta, virou-se, tirando a arma da cabeça de Finn e deixando-a apontada em direção ao tórax dele.

- Vão ver o que foi isso. – disse ele aos dois homens, que imediatamente obedeceram, saindo do galpão.

O coração de Finn batia forte. Talvez fosse Rachel. Parte dele estava aliviada e a outra parte em pânico. Quando barulhos estrondosos começaram a ser ouvidos, tudo o que Finn sentia era pânico. Aqueles homens não tinham piedade alguma, e ele temia pela vida dela e de seu filho. De repente, convenceu-se de que tinha sido uma péssima ideia ligar para a morena.

Ao perceber a respiração irregular de Finn, Antonio o olhou e franziu as sobrancelhas.

- Você foi idiota o suficiente para chamar a sua parceira aqui? Admito que foi um erro os garotos não terem a procurado quando te pegaram no hotel, mas eu pensei que você fosse mais inteligente que os brutamontes.

Finn sentiu a culpa batendo forte em seu peito. Se algo acontecesse com Rachel ou o bebê, ele nunca se perdoaria. Ele não pensava que pudesse suportar ser o culpado pela morte de alguém amado, novamente.

De repente, os estrondos pararam. Antonio arqueou as costas, sorrindo.

- Parece que eles já deram um fim na sua garota.

A boca de Finn se abriu, enquanto ele sentia cada parte do seu corpo pulsando dolorosamente, enquanto uma vertigem embalava-lhe a visão. Não... Ele não poderia perdê-la. Não ela. As lágrimas já estavam lhe invadindo os olhos quando a porta do galpão se abriu. Antonio e Finn olharam naquela direção, esperando ver os comparsas de Finn.

Mas, parada ali, com um rasgo sangrento na calça, segurando uma arma nas mãos, estava Rachel. Finn deixou que um soluço de alivio escapasse de sua garganta.

- Últimas palavras, Antonio?

O homem sorriu.

- Você vai se arrepender.

Simultaneamente, dois tiros ecoaram no galpão 5 da Marina de Elba.

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Rachel abriu os olhos após ouvir os disparos, sentindo as mãos tremerem. Em frente à cadeira onde Finn estava sentado, o corpo sangrando de Antonio jazia no chão, já sem vida, abatido por um tiro certeiro no crânio. Um pouco atrás dele, Finn tinha o rosto contorcido em uma careta de dor. Rachel viu, horrorizada, a camiseta branca de Finn manchada de vermelho na direção da barriga. Supriu um grito de horror antes de correr até ele.

- Me desculpa, Finn... – Rachel disse, desamarrando os braços e pernas dele, em meio a lágrimas teimosas.

- Não chora. – ele sussurrou, com dificuldade.

Após desamarra-lo, Rachel colocou os braços em torno de seu corpo, trazendo-o para o chão com certa dificuldade, arrumando forças em meio ao desespero. O sangue da barriga de Finn manchou a sua própria barriga, mas ela não ligava.

- Você vai ficar bem. A policia e o resgate estão a caminho. – ela disse, tentando reprimir as lágrimas, enquanto deitava a cabeça dele em seu colo. Com pressa, Rachel tirou o casaco que usava, colocando-o em cima do corpo gelado de Finn, pressionando levemente o sangramento. – N-nós precisamos te manter aquecido. Vai ficar tudo bem, eu-

Ela calou-se, ao ver Finn fazer um sinal de silêncio, colocando o dedo sobre os lábios arroxeados. Rachel inclinou-se sobre ele, colando os seus lábios, sentindo o gosto de sangue e de suas próprias lágrimas misturarem-se ao beijo doce.

- Eu tenho que ir agora. – disse ele. Rachel balançou a cabeça, negando. – Sim.

- Você não pode! Você não pode me deixar Finn! E não pode deixar o nosso filho! – Rachel gritava, com a voz embargada pelas lágrimas que caiam sem parada.

- Você vai ficar bem, pequena. Eu amo vocês dois. – ele sussurrava, tentando manter os olhos whisky abertos. Rachel chorava desesperadamente agora, por puro egoísmo. Ela sabia que Finn merecia descansar, mas não podia viver sem ele. Não mais.

Finn observou o rosto banhado por lágrimas de Rachel por mais alguns segundos. Os cabelos castanhos dela caiam por seu rosto, e conforme a sua visão ia embaçando-se cada vez mais, mais ele pensava que Rachel se parecia com um anjo. Com o seu anjo. A ideia de perde-la era assustadora. Ele não perderia só Rachel, entretanto. Ele perderia toda a sua gestação, perderia o primeiro choro de seu filho, seus primeiros passos, o seu casamento, os seus netos, envelhecer ao lado da mulher que amava. Mas ele achava, entretanto, que morrer nos braços dela era uma forma doce de descansar em paz. Ele sabia que estaria bem, aonde quer que estivesse, se a sua última visão fosse o rosto lindo da mulher que amava.

Os olhos de Finn se fecharam, e no meio da escuridão que se instalou, Finn pôde ouvir o barulho de sirenes próximas e a voz desesperada de Rachel dizendo que o amava. Não pôde deixar de sorrir levemente, antes de sentir todo o corpo relaxado. 


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Notas finais do capítulo

Yeeep, mais um capítulo e depois o epílogo. Coisas da vida.
Beijos e até logo ;@