Hurricane escrita por Rocker
Hurricane II
Capítulo 32
Eustáquio abriu os olhos e se deparou com folhas. Folhas secas que ele reconheceu quase imediatamente. Seria possível ele ter parado assim na Ilha de Ramandu? Ele se levantou, constatando que voltara a ser apenas um menino, e olhou em volta, à procura do leão. Passou a mão sobre seu tórax, constatando que não fora apenas fruto de sua imaginação. Virou-se e pegou a espada sobre um degrau de escada. Viu seu reflexo na lâmina intacta, e soube exatamente o que tinha que fazer.
~*~
A serpente passara a mastigar a vela do mastro principal, por algum motivo que ninguém tinha consciência. No momento, estavam procurando algum jeito de matá-la.
– Edmundo, você sabe o que tem que fazer. - disse Lena.
– M-mas, eu não sei se consigo... - ele murmurou, ainda amedrontado com a última surpresa que aquela serpente mostrou.
– Eddie. - Lena pegou o rosto dele entre suas mãos, e o olhou de modo firme. - Se você não fizer, eu farei. E como não é o meu medo, posso acabar morta antes de conseguir matá-la.
Edmundo surpirou, temeroso e angustiado, mas jamais a deixaria se arriscar assim.
– Temos que nos aproximar. - ele disse, se levantando como sentença final.
– Todos ao convés principal! - ordenou Drinian.
– Preparar arpões! - gritou Caspian.
– Edmundo! - Lena gritou a ele, antes que ele fosse. Ele se virou, ansioso, e foi pego de surpresa por um selinho rápido que ela lhe dera. - Volte vivo.
Edmundo abriu um sorriso leve. - Com certeza.
Ele correu e se jogou em uma corda solta que ligava ao mastro. Balançou-se até voltar e subir por outras cordas facilmente, enquanto Lena prendia a corda em um arpão, com o coração em mãos.
~*~
Eustáquio pulou sobre um muro e achou a tal ponte mencionada por Ripchip. Era o que precisava fazer. Não se importava por onde pisava. No momento, o que ele tinha em mente era colocar a sétima faca de carne na mesa do leão falante antes que as coisas se tornassem realmente feias. Ele não podia voltar agora até a Ilha Negra para ajudar os outros, mas havia algo que ele podia fazer.
Quebrar a maldição da névoa verde.
~*~
– Prontos? - perguntou Caspian.
Os marinheiros, que tinham seus arpões preparados e enfileirados do outro lado, lado a lado, responderam.
– Já!
Ao sinal de Caspian, os arpões foram ao ar, e acertaram a serpente. A serpente urrou, enquanto a pele sobre o metal dos arpões queimava.
– Tragam para cá! - ordenou Caspian e todos, ao mesmo tempo, puxaram as cordas e mantiveram o corpo do monstro mais próximo ao mastro, apenas esperando pelo sinal de Edmundo.
~*~
Eustáquio, apesar de seu descostume pelas pernas, continuou correndo enquanto pode, como se pressentisse que eles precisavam dele mais do que nunca. Passou direto pelo portal da árvore partida em duas, e se hesitou quando se aproximou da mesa. Enquanto se aproximava, as espadas sobre a mesa e a espada em sua mão começaram a brilha em um azul cintilante. O que faria agora? Depois de passar pela experiência de ser um dragão, esperaria qualquer coisa daquele lugar.
~*~
Edmundo finalmente colocou os pés sobre a vigia do mastro principal, finalmente encarando seu grande medo, que urrava e se remexia à sua frente, tentando livrar-se dos arpões.
– Puxem! - Caspian incentivava os outros marinheiros, que tinham dificuldades em manter a fera presa.
Os marinheiros puxaram com força e a serpente bateu contra o mastro, quase derrubando Edmundo, que logo recuperara o equilíbrio. Quando Eustáquio finalmente decidiu-se por pousar a sétima espada na mesa, a névoa verde o puxara para trás.
– Edmundo... - cantarolou a voz baixa da tentação.
Edmundo sentiu como se o tempo parasse, ou fluísse mais lentamente. Ele se virou, e finalmente a viu. O rosto em névoa verde que o atormentava há anos. Ali, novamente, bem à sua frente. Tentando-o e fazendo-o se esquecer de seu principal objetivo.
– O que está tentando provar? Que você é um homem? - ela disse, a voz encantadora, com um pingo de desdém e ironia.
Edmundo apertou os lábios, levantou o queixo e engoliu em seco. O que ele estava realmente tentando fazer? Ajudar, ou provar que é um homem? Talvez, mas ele achava que...
– Eu faço de você um homem. - dizia a Feiticeira, enquanto Edmundo ignorava todos os gritos à sua volta como se fosse sussurros. - Faço de você meu rei.
O que ele pensaria dessa oferta? Já ouvira uma vez e a situação não foi das melhores para ele. Mas havia algo mais que o fazia hesitar diante dessa promessa. Algo único e precioso para ele, mas... O que era?
– É só pegar a minha mão. - ela estendeu sua mão para ele.
Edmundo franziu o cenho, lutando para se recordar do que era que o prendia à realidade. As cordas se soltaram da lateral do barco e marinheiros foram aos ares, puxados pela força da serpente. E Edmundo mal se dava conta disso. Eustáquio lutava para conseguir colocar a espada sobre a mesa. Golpeava às cegas, lutando contra um inimigo que nem era sólido. Ele, por fim, conseguiu.
– É só pegar a minha mão. - disse a Feiticeira.
Quanta teimosia, parece até... Lena?
– Edmundo, agora! - e ele finalmente ouviu uma voz acima dos sussurros.
A voz que sempre o fazia se sentir bem, como nunca antes.
A voz da garota pela qual sonhava há quase dois anos.
A garota teimosa e insegura que ensinara-lhe o que era o verdadeiro significado de amor.
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