Hurricane escrita por Rocker
Hurricane II
Capítulo 31
O dragão voava para onde da Ilha Negra, dolorido e com dificuldade. Certa hora tentou arrancar a espada de sua carne com suas próprias garras, mas nada conseguiu. Estava cansado e seu corpo pedia por um repouso. Estava prestes a se deixar lançar na água cristalina que já tinha abaixo de si, até que viu um bom pedaço de terra estendido à sua frente, como um pedido convidativo para que lá pousasse. E assim ele o fez. Um pouso sem sucesso algum, e o dragão foi arrastado alguns metros pela areia limpa.
~*~
A serpente finalmente retornou. Urrando, e desceu. Isso por duas vezes, enquanto os marinheiros lutavam para remar com toda a força, e o ratinho os incentivava.
– Vamos, usem toda a força que tiverem! - dizia Ripchip.
A serpente apareceu novamente. Dessa vez, sem piedade e sem qualquer indício de distração. Ela estava furiosa. Ela passou por cima do barco, e caiu sobre a madeira, esmagando-o com o corpo pesado. Um marinheiro se jogou para o lado, impedindo que a serpente o carregasse para o mar.
– Gael, venha cá! Corre! - gritou Lúcia, puxando-a para longe do corpo da serpente, que dava sua segunda volta ao redor do Peregrino.
Edmundo correu da segunda volta do corpo da serpente, e se jogou contra Lena, fazendo-os cair longe e evitando que ela fosse esmagada.
– Você está louca?! - ele perguntou, desesperado.
– Eu estou procurando um bom ângulo! - Lena gritou a resposta por cima do barulho de cordas arrebendando, madeira se quebrando e água adentrando a embarcação.
– Por quê? - Edmundo perguntou, ainda com o corpo sobre o dela.
– Para acertar no olho daquele bicho! - Lena empurrou-o pelo peito, e recuperando o arco e flecha que fora parar não muito longe dali.
– Ei! Edmundo! - eles ouviram o grito de Caspian e rapidamente se viraram. - Vamos espetar a serpente, esmagar ela contra as rochas. - e meneou a cabeça em direção as rochas atrás do corpo da serpente.
– Vire a bombordo! - Edmundo gritou de volta. - Eu vou levar o bicho pra proa!
Caspian assentiu e Edmundo correu por entre os marinheiros em direção à cabeça do dragão. Lúcia procurava por Lena em todos os lados, atrás do arco e flecha que ela percebera ainda estar em sua posse. Lena, porém, corria pelo convés, desviando dos marinheiros atrapalhados e dos ataques esmagadores do corpo da serpente. Edmundo entrou na boca do dragão, e se equilibrou sobre a língua levantada e um dente alto. Pensou por alguns segundos, enquanto a serpente ainda fazia seus ataques.
O que eu faço? O que eu faço?, perguntava-se, desesperado.
Até que se lembrou das palavras de Lena, minutos antes da serpente reaparecer.
Um medo nunca vai embora até ser cortado pela raíz, dissera ela.
E o modo de cortar um medo pela raíz não seria encará-lo de frente? Edmundo sabe que sim. Mas ele conseguiria? Ele não tinha certeza, mas tentaria salvar a si mesmo e aos outros. E evitaria que Lena fizesse alguma besteira. Decidiu-se, então, por fim. Pegou a lanterna e mirou nos olhos da criatura, finalmente chamando sua atenção para ele.
– Venha me pegar! - gritava ele para a serpente, agitando a luz e enlouquecendo o animal. - Olha, eu estou aqui!
A serpente se adiantou e, segundos antes de arrancar a parte superior da cabeça, Edmundo recuou, salvando-se de ser engolido.
– Não! - gritaram Lúcia e Lena, desesperadas ao ver aquilo.
– Edmundo! - gritou Caspian, quase soltando o leme.
Mas o moreno estava inteiro.
– Droga. - resmungou Lena, correndo em direção ao garoto, na proa. - Depois a teimosa sou eu.
~*~
Lena pisou na proa, enquanto Edmundo escalava a madeira sobressalente do que um dia fora a parte superior da cabeça do dragão. Ela respirou fundo, tentando manter a calma enquanto Edmundo se colocava entre os chifres e a língua e a serpente preparava para outro ataque.
– Estou aqui! - gritou Edmundo com firmeza.
Lena pegou a flecha e a preparou. Finalmente sua estreia com aquele arco. Respirou fundo, quando a rocha se aproximava cada vez mais da serpente. Mirou e soltou a corda. A corda passou zunindo ao lado da cabeça de Edmundo, e se fixara no esquerdo da serpente. Ela tombou a cabeça para trás, sentindo a dor, e Edmundo apertou os lábios, virando-se e se deparando com Lena se aproximando dele, mas sendo impedida pelo corpo enrroscado da serpente.
– Edmundo, você vai ter que pular! - ela gritou.
– Se segurem! - gritou Caspian.
Edmundo pulou segundos antes de a serpente o atingir. Rolou por todo os seu corpo escamoso, e Lena correu até ele, procurando suavizar o impacto que ele teria com seu corpo. Acontece que ambos foram ao chão, rolando pela escada do leme e chegando inconscientes até o convés.
~*~
O dragão abriu os olhos para encontrar quem nunca imaginou existir realmente. O leão. Aslam, em pessoa, se aproximava dele com um sorriso no canto dos lábios. O dragão se colocou sobre os cotovelos e levantou a cabeça para poder vê-lo melhor. Lindo e majestoso, uma atração involuntária aos olhos do pobre dragão. O leão levantou a cabeça em um gesto decidido, e o dragão usou suas próprias garras para arranhar o peito. O que seria aquela queimação e dor que sentia? Era normal?
O leão levou sua pata esquerda à frente, e puxara a areia, deixando a marca de suas garras. O peito do dragão foi arranhado em sincronia, com marca longas, finas e avermelhadas. O que seria aquilo? Por que seu corpo começava a fervilhar? O leão puxou a areia uma segunda vez, e novas marcas apareceram no braço do dragão. Uma nova puxada na areia, e suas pernas ganharam a mesma marca. O que estava acontecendo com ele, afinal?
O leão abanou a cabeça e fechou os olhos enquanto abria sua boca para um forte rugido. Forte como o mar em uma tempestade, forte como o vento em um furacão. O dragão sentiu a areia em seu redor se levantando e mexendo-se ao redor. Seu corpo foi levantado ao ar, e ele fechou os olhos para sentir a sensação em seu mais puro êxtase.
E então, mais tarde, ele acordou como o menino Eustáquio, nas folhagens da Ilha de Ramandu.
~*~
Lena acordou com a cabeça rondando pelos gritos dos marinheiros e o urros da serpente ainda viva. Percebeu que estava sobre o corpo de Edmundo, e ao vê-lo abrindo os olhos com dificuldade, ela se lembrou que também ficara incosciente enquanto tentava amparar o corpo dele. Queria checar se ele estava bem, mas ainda não era hora de se preocupar com ninguém. Ela se levantou, e o ajudou a se levantar.
– Precisamos matá-la definitivamente. - ela disse, e se virou para ele. - Edmundo, você precisa enfrentá-lo!
– Eu?! - ele perguntou, ainda meio atônito depois de ter batido a cabeça.
– Para se apagar um medo, deve-se enfrentá-lo e superá-lo! - ela respondeu, enquanto eles se aproximavam de Caspian.
A serpente se desgarrou do barco, enquanto alguma coisa brilhava dentro amarelado dentro dela. E então, sua pele se separou em duas, revelando milhões de antenas e bracinhos. Edmundo ficou parado no lugar, estancado enquanto via seu maior medo se multiplicando. Seu lábio tremia, e Lena tentava a todo custo puxá-lo pelo braço, mas ele parecia preso algum tipo de super força gravitacional. Lena olhou para a serpente, percebendo que ambos eram os alvos de seus frios olhos negros. Ela voltou a olhar desesperada para Caspian e este raciocinou segundos antes do ataque. Jogou seu corpo contra Lena e Edmundo, e os três caíram a pouca distância de onde a serpente mordera o chão.
Caspian reagiu rapidamente, pegando uma espada jogada próxima dali, e cortando um dos milhões de braços da criatura. A serpente se afastou do barco, urrando com a fumaça que saia do que sobrara de seu membro arrancado, e o braço arrancado se transformou em fumaça.
– Dá pra matar. - murmurou Caspian.
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