Mesmo que negue, está bem aí. Em seu peito – Teito

Não pude suportar suas palavras. Pois, mesmo enquanto dizia palavras tão cruéis, a dor em sua expressão não diminuía. Nem um pouco.

Ele sofria com o que fez, só não podia admitir. Mas a dor estava ali. Clara como sua culpa. Ele se culpava – é verdade, era culpa dele – e se odiava por isso. Porque ele não devia sentir aquela dor. Era seu dever.

“Sim. Eu matei minha mãe, meu pai e Krom em Raggs”, ele admitiu, com uma voz embargada de dor. Mas, rapidamente, Verloren lhe assumia. Tomava aquela dor, usava-a como alimento. Porque mesmo que Ayanami – Krowell – sofresse com essas mortes, Verloren não sofria. E era ele que completava, com a voz fria:

“Desde que caí nesse mundo, até a Guerra de Raggs, por um longo tempo, quase um milênio, assim como fiz com Eve, eu tenho roubado almas”. Mas acho que nem ele acreditava que havia roubado a alma de Eve...

Não. Não creio. Porque sua voz tremia quando ele falava seu nome. Porque ele parecia tão frágil, mesmo como Verloren, quando falava dela.

Porque, claramente, ela lhe era especial.

Então, finalmente, minha pergunta foi respondida. Não por suas palavras, mas pela dor em seu rosto. Pela dor expressa em seus olhos. Quando perguntei se ele não possuía um coração para sentir piedade, ou qualquer afeição, eu cria piamente que a resposta era não.

Mas...

Mesmo que negue, o coração está ali. Em seu peito. Com todos os sentimentos possíveis: dor, afeição, amor, piedade.

Então sorri. Eu tinha um motivo para lhe impedir.

Claro, eu ainda o odiava. Mas, ao mesmo tempo, ele era minha família. Pois, mesmo tendo matado todos que me são importantes, ele sentia. Agora eu sabia disso. E, querendo ou não, isso me afetou.

Porque ele é meu tio. Minha família. E se corroía lentamente pela culpa das mortes que causou. Pelas vidas que tirou. Seja como Krowell, Ayanami ou Verloren: ele sente dor por isso, ele se arrepende de quem matou.

Eve. Meus avós. Meu pai.

Ele amou todos eles.

Mesmo negando, ele amou.

E sentia piedade. Sentia culpa. Sentia dor. Sentia tudo isso e ainda mais. Ele, mesmo não hesitando ao matar alguém, sentia as vidas pesando em sua lâmina.

Estava lá. Então, eu poderia salvá-lo. Mesmo que seja com sua morte, eu seria capaz de salvá-lo. Eu tinha razão para querer isso.

Eu iria salvar minha família, não importa o que.