Não importa quando, só apareça – Verloren

Você nunca me obedeceu. Nunca. E isso, ao invés de me irritar, acabava por me alegrar. Porque isso significava que você estaria ali, não importa o que. Mesmo quando eu lhe mandava embora, quando tentava expulsá-la à força, você sempre voltava.

Eu gostava.

Todo dia, apesar de minhas reclamações, eu sempre ficava ali a te esperar. No mesmo lugar de sempre, onde você já sabia chegar.

Quando eu te pedia para ir embora, era somente para disfarçar a vontade que eu tinha de lhe pedir para ficar. Porque isso seria errado – você não me pertencia, você era filha de Deus, você era boa demais.

E eu me remoía quando você ia. Porque, apesar de tudo, era seu sorriso que me fazia capaz de continuar feliz. Porque era você. Porque você era aquela luz brilhante e quente, que me tocava o coração. Era o sorriso honesto, os olhos gentis.

Você era minha Eve.

No “inverno”, quando a neve caía silenciosamente, amontoando-se pelo chão.

Na “primavera”, quando o vento soprava e as flores se abriam.

No “verão”, quando os dias eram brilhantes e cheios de vida.

No “outono”, quando a vida se esvaía, as folhas ficando amarronzadas.

Eu sempre ficava ansioso, esperando pela sua aparição; aquele sorrisinho que brincava em seus lábios, a voz doce falando sem parar, as mãos delicadas que gesticulavam incansavelmente, seus modos infantis e brincalhões. Eu esperava ver seu pequeno corpo surgindo por entre as árvores, já me chamando.

Exceto, claro, quando eu ia atrás de você, para lhe salvar de alguma enrascada – na qual sempre se metia, estabanada como era.

E, mesmo no dia em que morreu, eu lhe esperava.

Porque eu sei, você sempre aparece. Não importa o que, você sempre vai me ver.

Quando você me dizia que eu possuía amor em meu ser, que o amor havia me guiado pelo caminho certo, eu só podia pensar comigo mesmo:

Deve estar certo – isso que eu sinto por você certamente é amor. Mas, se eu amo, foi porque sua luz me guiou até isso. Sua luz me guiou pelo caminho certo... Só você.

E guardo meus pensamentos, negando sua afirmação. Mesmo sabendo que eu te amo, porque eu não podia me permitir tais erros.

Então eu só esperava, não importando como estivesse o tempo, qual fosse a estação, qual fosse o dia.

Porque, intimamente, eu sabia que te amava.