Chihiro P.O.V

Miaka era a minha única conhecida que podia entrar em minha casa, mas só até ás cinco horas ás terças, quintas e sábados. Era um dos sábados, já nem sabia há quanto tempo estava da castigo.

Estávamos no meu quarto, com as luzes apagadas e a ver um filme, enquanto íamos conversando sobre tudo. Até que a certo ponto do filme, Miaka me pergunta acerca de Haku.

-Que tem o Haku? – Perguntei, tentando disfarçar o meu nervosismo. Nós ainda falávamos na escola, mas era demasiado pouco tempo. E os sonhos tinham-se tornado mais intensos e mais reais.

Miaka sorriu, divertida.

-Vá lá, Chihiro… É óbvio que vocês tem ali qualquer coisa, a maneira como se olham e tocam-se. Parece quase que tem medo que ao tocar-se, percebam que um de vocês é uma ilusão. Para não falar que tu és super possessiva quanto a ele. – Aquelas palavras fizeram-me corar, nem sabia porque aquilo acontecia. – Já pensas-te que podes estar apaixonada por ele?

-Aii, Miaka… deixa de ser chata. Nós somos normais juntos, a tratar um com o outro. Isso são coisas da tua cabeça, por favor… - Exclamei, dando-lhe com a almofada na cabeça. – Agora presta atenção ao filme, se faz favor.

Miaka riu-se, dando-me um leve encontrão.

-Mas a sério… vocês parece que não se querem largar um do outro. – “Ok, essa parte até pode ser verdade, no que toca a minha parte” pensei, mas como é óbvio, não disse nada. – Alô, Chi? Não precisas de ficar assim tão pensativa quanto ao teu Kohaku fofo. – Aquilo fez-me irritar e mandei-lhe a almofada com demasiado força, fazendo-a cair da cama. Isto gerou uma crise de gargalhadas incontroláveis em mim, enquanto ela me olhava com cara de quem me iria matar, assim que tivesse a chance. – Ai, és mesmo bruta, Chihiro. És um monstro. Nem sei porque sou tua amiga. – Murmurou ela, sentando-se outra vez ao meu lado. – Mas digo-te uma coisa. – Até eu já estava a ficar com medo do que ela iria dizer. – O Haku é mesmo um gato. Miauu.

-Ai! Já me estás a fazer passar, Miaka Hongo! Olha que eu sei onde tu vives! – Gritei, dando-lhe uma chapada no braço.

***

O fim de semana passou rapidamente e quando dei por mim, o meu pai tinha o carro parado em frente da escola. Suspirei, saindo do carro e esperei para o meu pai desaparecer com o carro na curva que levava á cidade, para fazer sinal a Haku, que se encontrava atrás do carro do director. Fazíamos este exercício todos os dias, indo para as aulas juntos. Sentia que cada momento com ele era importante. Quando íamos para dentro do edifício, um rapazinho baixo e gordinho parou-nos, gritando num tom demasiado alto e estridente:

-Candidatem-se ao melhor par da escola, como Rei e Rainha do baile de inverno! – Estendeu o braço, entregando-nos um panfleto em que aparecia um rapaz e uma rapariga a dançar, num pano branco.

Eu e Haku entrámos no edifício, a rir-nos.

-Ele pensou que éramos um casal… - Murmurei por entre risos. – Podemos candidatar-nos, sempre quis fazer isso, mas nunca tive par. – Olhei para o expositor de troféus da equipa de natação escolar, vendo o nosso reflexo no vidro. Não ficaríamos nada mal.

Haku riu-se, olhando para o panfleto.

-E achas que eles votariam em nós? – Perguntou, fazendo cara séria.

-Claro que sim. Nós somos uns fofos. Vá lá, inscreve-te comigo! – Pedi, ele suspirou.

-Está bem.

-Yey! – Gritei abraçando-o fortemente, abri os olhos e quando vi, mesmo atrás de nós, estava Miaka a fazer um coração com as mãos. Recompus-me, largando Haku. – Bem, Oh, Olá Miaka! – Ela desfez o coração e sorriu para Haku. 

***

O dia acabou e tive de ir directamente para casa de carro, despedi-me de Haku ainda dentro do edifício escolar e dei boleia a Miaka.

-Hm…senhor Ogino, não vai fazer este fim de semana um mês que Chihiro está de castigo? – Perguntou Miaka com a sua voz á advogada, era tão bom tê-la como minha melhor amiga. O meu pai suspirou, pensativo e ao fim de alguns segundos, acabou por dizer:

-Sim, é. Mas a mãe dela quis prolongar mais uma semana.

-Oh, isso não é justo. Tenho estado a portar-me tãão bem! As minhas notas melhoraram e tudo! Mas está bem…está bem, só que daqui a duas semanas, vou ao baile de inverno. Só estou a avisar. – Murmurei, ao mesmo tempo que o meu pai pára o carro em frente do prédio de Miaka. – Até amanhã Mia! – Exclamei, ao mesmo tempo que ela saia, ela piscou-me o olho e entrou dentro do prédio.

O caminho até casa foi silencioso, apenas com a música baixa proveniente do rádio.

Quando cheguei a casa cumprimentei a minha mãe e fui jogar um pouco consola com o meu irmão. Precisava de descontrair um bocadinho e esquecer-me um pouco de tentar lembrar-me o que acontecera quando me perdera depois do túnel.

Depois, decidi que era altura de fazer algo normal de adolescente, como me meter no quarto, de porta fechada a ouvir musica e a pensar na minha vida. Ou melhor num episódio da minha vida… que estava a tornar-se complicado. Porque é que eu me esquecera de algo que eu sentia que era tão importante para a pessoa que eu era hoje. E Haku, porque parecia que ele significava tanto para mim?

As perguntas andavam á minha volta, freneticamente. O que se andava a passar comigo? Será que estaria a endoidecer?