Chihiro P.O.V

Tudo começa com um dragão branco rasgar o céu azul límpido, enquanto eu estou sentada na relva verde e fresca. Ele desaparece tão rápido como aparece, procurou desalmadamente pelos céus, gritando um nome que não sai da minha boca. Até que ele aparece á minha frente, os olhos verdes dóceis, a sua boca parecia abrir-se num sorriso. O seu nome não me recordava, mas sabia quanto ele era importante para mim. Abracei o seu pescoço, sentindo o seu pelo. E quando voltei a abrir os olhos, era Haku que estava lá.

“BIIIIIIIIIIP”

Acordei, assustada e sem me lembrar de como fora o sonho, só sabia que sonhara com o céu azul e algo a voar nele.

-Sonho mais estranho…- Murmurei para mim mesma, levantando-me da cama e indo para a casa de banho. Procurei pelo meu elástico, que tinha á seis anos e que nunca me desfizera dele, por alguma razão que não me recordava, mas não o encontrei. Suspirei, pegando numa mola e apanhei o cabelo cumprido, indo tomar um duche.

Saí e vesti o uniforme da escola, indo a pé a comer uma sandes de fiambre. Tinha os phones nos ouvidos e ia cantando baixinho pelo caminho. Estava calmamente a acabar a minha sandes quando senti uma mão no meu ombro, tirei os phones e olhei para o meu lado esquerdo. Lá estava Haku, com um sorriso tímido.

-Como é que apareces-te aqui? – Perguntei, sorrindo. – Não me digas que vies-te a voar? – Ri-me, nem sei porque tinha feito aquele comentário. Mas parecia que lhe estava associado. Ele sorriu-me, como percebendo o que eu estava a pensar.

-Talvez tenha sido isso. – Murmurou para si mesmo.

A escola já estava a vista, o que me fez ficar triste, queria mais um tempo ao lado de Haku.

-Olha, depois das aulas, queres vir dar uma volta comigo? – Ele parecia que me lia os pensamentos, olhei para ele surpreendida e depois olhou para o chão, sorrindo.

-Claro.

***

Incrivelmente, o professor de geografia mudara a planta de turma e colocou-me a mim e a Kohaku ao lado um do outro. Por um lado ficara triste, porque não estava ao pé de Miaka mas por outro podia começar a conhecer melhor Haku.

Depois da última aula, que terminara as quatro da tarde, Miaka fora para casa com o seu pai. Ao que parecia estava de castigo por ter gasto demasiado dinheiro com chamadas telefónicas, e eu e Haku ficáramos sozinhos.

-Então, queres ir passear para onde? – Perguntei, ao ver que ele se dirigia ao bosque. – Se eu fosse a ti, não ia por aí… uma vez, eu e os meus pais perdemo-nos no bosque, indo por uma estrada secundária e depois… - E depois, o que tinha acontecido? É como se tivessem passado uma borracha pela minha memória, lembrava-me de termos entrado por um túnel. – Ah… depois… não me lembro. – Ele olhava para mim com toda a atenção, á espera que eu dissesse alguma coisa de importante. – Já não me lembro, foi á algum tempo.

-Mas nós não nos vamos perder. Prometo. – Algo na sua frase fez-me tremer por dentro, mas continuei a andar como se não fosse nada, e continuei a segui-lo bosque a dentro. Ia muito bem a andar, tentado acompanhar o passo apreçado de Haku, não estava habituada a andar assim tanto e tão rapidamente, quando tropecei numa raiz de uma árvore, o meu coração disparou enquanto via o chão a aproximar-se cada vez mais e é quando sinto uma mão a agarrar-me pelo braço e puxa-me para cima. Haku olhou para mim, algo sério.

- Começo a achar que a minha vida é salvar-te. – Murmurou alegremente, olhei para ele sem perceber o comentário. – Ah… esquece. – A sua mão agarrou a minha, provocando um aceleramento do meu coração e continuamos a andar. Aquele toque quente não me era estranho de todo.

Ao fim de alguns minutos sentámo-nos numas pedras.

-Ah…Haku, acreditas que duas pessoas já se tenham conhecido numa outra altura mas, por algum motivo, já não se lembram? – A pergunta saio-me tão naturalmente, como respirar. Haku mandou uma pedra para longe de nós, encolhendo os ombros.

-Sim… acredito.

Ficámos a olhar um para o outro durante longos segundos.

-Sabes, dá-me a sensação que te conheço… de um tempo passado… - Olhei para ele e comecei a rir-me. – Mas esquece isso.