Chihiro P.O.V

Hoje tinha acordado com uma sensação estranha como se alguma coisa me estivesse a faltar.

O dia já ia a meio, mas tinha ficado mais um tempo na escola com Miaka, a minha melhor amiga, na biblioteca a fazer os trabalhos de casa.

-Bem, Chihiro, vou ter de ir embora. Os meus tios vão jantar lá a casa e a minha mãe quer-me lá antes de eles chegarem. – Disse Miaka, levantando-se. – Ficas?

-Sim, eu fico aqui mais um pouco. Até amanhã. – Ela sorriu-me e saiu da sala.

As luzes já começavam a ser acesas, enquanto eu me agarrava aos livros de matemática, ao fim de uma hora, já tinha acabado os trabalhos de casa. Fechei os livros e decidi sair.

Os corredores, estavam vazios, com os alunos a terem a última hora de aulas. O silêncio instalou-se e com ele um incómodo no meu interior, mas algo interrompeu os meus pensamentos. O som de um piano a ser tocado delicadamente, a melodia era harmoniosa e ecoava por todo o corredor. Decidi ir até á sala de música, que à aquelas horas estava vazia.

Um rapaz estava sentado a tocar no piano preto de cauda, tinha um sorriso carinhoso no rosto, uns grandes olhos verde secos e um cabelo preto liso que ia até ao queixo. O seu rosto provocou-me uma sensação de familiaridade estranha. Encostei-me ao umbral da porta, deixando-o acabar a sua música.

O som foi parado abruptamente e o rapaz ficou a olhar para mim, os seus olhos abriram-se numa expressão de surpresa, como se me reconhecesse. Arregalei os olhos, ficando demasiado nervosa para dizer alguma coisa. Nem sabia porque estava assim.

O rapaz fez um fraco sorriso.

-Olá, sou o Kohaku. – O nome fez-me arrepiar, como se o conhecesse de um outro tempo ou vida. Tive de mudar a minha posição, tentando manter-me confortável, mas ele deixava-me nervosa, como se aquele momento em que nos olháramos pela primeira vez fosse realmente importante.

-Olá, sou a Chihiro. És novo aqui, não és? – Perguntei, sentando-me ao seu lado no piano. Quando chegara a esta nova cidade, seis anos atrás, aprendera a tocar piano, mas ao fim de um ano desistira.

-Sou, entrei hoje. Mas não tive aulas. Sou do 10º B.

Olhei-o com surpresa.

-Então somos colegas de turma, Haku. – Nem sei porque o chamei assim, mas ele parecia surpreendido de uma forma agradável. Escondi a boca com a mão. – Espero que não faça mal, ter-te chamado de Haku. Na realidade nem sei porque te chamei isso… desculpa.

O sorriso que ele fez mostrou-se brando e simpática, por momentos pensei que o reconhecia de algum lado.

-Não tem problema. Por acaso, foi a minha alcunha durante muitos anos, muitos anos mesmo.

Sorri, e comecei a tocar o piano. Acompanhado por Haku.