Alex e Owen se encaravam, calculando a capacidade um do outro. Os outros se amontoavam nas bordas, com os olhos vidrados. Qual dos dois sairia vitorioso?

– Eu não posso lu... - Alex estava préstes a dizer quando Eric sinalizou para começarem. O que ele queria dizer era: Eu não posso matá-lo. Não tinha nenhuma garantia de que seus surtos não viriam á tona, como no treino em que Quatro lhe apontou a arma e acabarem em uma tragédia. Mas Eric não entenderia. Ninguém entenderia, de fato.

Para seu alívio, Owen não avançou. Ao invés de pancadaria, os dois continuavam no mesmo estado inicial, parados, subestimando e escaneando um ao outro, a procura de uma brecha na armadura.

O líder praguejou, irritado.

– Se as maricas não ouviram - Disse, rosnando - a luta já começou.

Owen aproveitou o segundo de vantagem que Alex gastou para voltar sua atenção á Eric chutando a parte detrás de seus joelhos, o desequilibrando. Percebeu seu erro quando a pele de Alex começou a se avermelhar, como manchas febris, rosnando em seguida. O garoto mal tinha suado e ele nem era tão alvo assim para elas aparecerem tão cedo e estranhou. Até mesmo seu rosnado parecia não humano.

A imagem do mesmo som engasgado que seu pai fizera quando atacou sua irmã.

A raiva da lembrança subiu, e lhe desferiu um soco múltiplo, fazendo o outro rosnar mais alto, como se não doesse, porém o deixasse mais irritado. Alex se levantava lentamente, pegando impulso para o bote

Quando atacou o coração de sua mãe.

O outro soco atingiu a testa de Alex com tanta força que pensou ter quebrado algo dentro de seu crânio.

Quando Hawk atacou seu coração.

O outro soco seria letal, como se o nó de seus dedos estivessem revestidos por titânio ao invés de pele, porém Alex o interceptou. O rosnado aterrorizante eclodindo em sua garganta. As íris dilatadas e engolidas pela pupila e Owen viu a sombra de uma besta jorrar do caroço que o soco anterior atingiu, entre as sobrancelhas do garoto.

– Eric! - O berro de Quatro soou distante, como se estivesse submergido e a água bloqueasse seus ouvidos. Sua voz tinha um tom desesperado e ao encarar os olhos amorfos de Alex soube que estava tão desesperado quanto. Nunca vira olhos tão assissinos quanto aqueles desde que Hawk os fechou.

O careta empurrou o seu peito, que levou as costas ao encontro do chão e Owen sentiu costelas começarem a ceder. O golpe se repetiu mais duas vezes. Já sentia que havia quebrado no mínimo umas duas.

Os berros ainda contornavam a luta, quando se deram por conta de que o careta estava possuído e que estava inclinado a não apenas desacordar seu adversário, mas sim deixá-lo assim para sempre.

Quatro entrou correndo no ringue, mas não a tempo de interceptar a mão de Alex repousar sobre o pescoço de Owen e o ergué-lo, suspendendo seu corpo e deixando suas pernas se debateram contra o ar. Ele estava estrangulando-o.

Um grito mais agudo que os outros varreu os ouvidos doloridos e enfermos por falta de circulação de Owen e pensou ter sido o de uma garota. Já estava com a visão embaçada e esbranquiçada, quando sentiu a pressão em suas veias se esvair e desabar sobre o ringue.

Quatro estava do outro lado do círculo e tinha uma arma de choque em uma das mãos. A carga prendida em dois furos rasos na base da nuca de Alex que se encontrava desacordado, logo em seus pés.

Massageou o pescoço, sentindo o gosto amargo da morte próxima secar sua garganta. Mas o quê diabos tinha acontecido?

Seu oponente tentara mesmo lhe matar?

– Vamos levar ele pro Selp averiguar - Quatro anunciou com a voz falha, desencaixando a carga ainda presa na nuca de Alex - Parece que temos um iniciando perigoso este ano.