POV Peeta.

Novamente as sombras de um hospital sendo dopado por morfina sempre que tento reagir, e novamente sendo privado de notícias.

A cerca de duas semanas atrás eu acabei novamente por ver mais um dos vídeos da Katniss, mais uma cortesia do presidente Snow. Nesse dia, Simila chegou em nosso quarto e viu a TV ligada e eu, desesperado e em pânico, em um canto do quarto.

Aquele vídeo foi com certeza pior do que o primeiro, pois ao contrário do primeiro, além da tortura, se era capaz de ouvir os gritos de Katniss. E isso com certeza fez com que tudo se torna-se ainda mais real, ainda pior, e principalmente mais desesperador.

Isso além do fato de estar completamente sozinho, o que reforçava a realidade e o desespero de tudo aquilo.

Sei que Simila tentou esconder o ocorrido o máximo que conseguiu para que eu não fosse levado para o hospital, como Finnick presumia, mas eu mesmo não conseguia esquecer, não conseguia deixar de pensar que a qualquer momento Katniss poderia estar sendo torturada, que a qualquer momento ela poderia estar morta. E nenhum desses pensamentos me faziam ter esperança que um dia, tudo poderia ficar bem.

É como procurar uma gota de esperança em um mar de tragédias, e mesmo que se fosse achada, seria tão ínfima que o mínimo de esperança poderia se esvair, como se pudesse escorrer pelos seus dedos de um segundo para outro.

Não demorou muito para que percebessem que havia algo errado, e foi mais rápido ainda que ligassem o fato com o vídeo de Katniss. Então de um dia para o outro, acabei sendo transferido para o hospital.

-Peeta? -Delly que está sentada na cadeira próxima a minha cama chama a minha atenção.

-Ah, desculpe Delly. - digo. - estava meio distraído.

Olho para a pulseira medica presa em meu braço, que agora está novamente me classificando como mentalmente perturbado.

-Imagina. - ela sorri gentil.

Tenho recebido visitas, ao contrário da minha primeira vez por aqui agora tenho permissão para tais. Assim como Simila e Finnick, Delly tem me visitado frequentemente, e sempre que vem aqui tenta de alguma maneira me animar. Mas tanto eu como ela sabemos que é uma tarefa difícil, mas ela nunca desiste.

-Do que você estava falando mesmo? -pergunto, mas realmente sem muito interesse.

-Estava falando que Simila teve que arrumar meu quarto ontem à noite, ele perdeu uma aposta nos treinos. Apostamos quem acertava mas vezes e eu venci. -ela fala. -e você tem tido alguma novidade aqui?

-Você sabe que ninguém me conta nada por aqui.

-É verdade, força do habito.

-E você, tem alguma? -Delly me encara com os olhos negros e logo depois desvia o olhar, mordendo os lábios, como se tentasse decidir algo. -Delly?

-Eu não devia lhe contar nada. -ela olha em volta, provavelmente checando se não somos observados.

-Por favor Delly, eu preciso saber o que está acontecendo. -digo.- principalmente se diz respeito a mim, eu sei que diz.

Ela ainda alguns segundos me analisando, como se se perguntasse qual seria a minha reação, como se testasse possibilidades.

-Você tem razão. - Ela decide por fim e suspira- eu estava passando pelo corredor, indo chamar o Simila para os treinos hoje de manhã, então eu acabei ouvindo uma conversa entre Haymitch e Coin. E eles falam sobre você Peeta, e sobre a Katniss também.

Flash back Delly.

Me encolho contra a parede escondida entre as sombras com a ajuda da pouca iluminação do ambiente, tentando não ser vista pelas duas figuras que discutiam sem imaginar estarem sendo observadas.

-Você viu o estado do garoto! -A primeira sombra facilmente reconhecida como Haymitch fala com uma raiva facilmente percebida na voz. -quanto tempo você espera que ele aguente ver a esposa sendo torturada pela televisão?

-A questão, Haymitch, é que nós não podemos fazer nada para mudar essa situação. -fala mais calmante a segunda pessoa, que reconheço como a presidente Coin, que apesar de não ter a voz mais elevada como a de Haymitch também, a tem carregada de raiva.

-Você apenas manda ele gravar mais e mais vídeos para você, você acha que ele vai conseguir gravar vídeos na cama de um hospital sendo dopado por morfina?

-O que você espera que eu faça?

-Eu espero que você resgate a Katniss, a tire da capital em segurança e libere o Peeta do hospital. Nem a capital, nem um hospital é o lugar deles.

-Isso está completamente fora de questão. -ela diz. -estamos em guerra, não podemos simplesmente invadir a Capital para salvar uma refém! E o garoto está definitivamente transtornado e perturbado!

-Isso tudo por culpa sua! Deveria ter resgatado ela a muito tempo!

-Isso não é um jogo de culpas Haymitch, estamos em guerra.

-Uma guerra a qual um dos símbolos está sendo torturado em rede nacional e o outro na cama de um hospital sendo drogado! -ele fala. -Como espera que isso de certo?

-O comando dessa guerra é problema meu.

-Se o problema é seu então o resolva. -ele fala. -faça alguma coisa.

-Eu estou fazendo! Estou governando a revolução, não tenho tempo nem recursos para salvar o relacionamento de um casalzinho!

-Você não governa a revolução para ajudar o povo, ou por que quer melhorar o governo do pais! Você está fazendo tudo isso por pura cobiça pelo poder, e isso ainda vai acabar com você!

-Meus problemas e minha vida dizem respeito apenas a mim.

-E a vida da Katniss e do Peeta, também dizem respeito a você? Por que se o seu conceito é esse, eles deveriam ter o direito de cuidar das próprias vidas e decidir por eles.

Coin que já estava vermelha de raiva, o que poderia ser visto mesmo escondida pela pouca claridade, abre a boca para falar mais. Infelizmente nesse comento eu acidentalmente em uma lata de lixo próxima a mim, fazendo um barulho percebido pelos dois.

-Tem alguém ai? -Coin pergunta.

-Acha mesmo que se tivesse alguém escondido ali iria te responder? -Haymitch fala com ironia pra Coin que lhe manda um olhar de reprovação.

Fleck Back off

-Então eu aproveitei o momento que eles estavam distraídos e corri dali. -Delly termina de contar a história.

-Por que não me contou isso antes? -eu pergunto.

-Foi só uma conversa escutada atrás da porta. -ela diz. -não quero que você pense que talvez a proposta que Haymitch fez a Coin seja pra valer, não queria que...

-Que eu tivesse falsas esperanças? -eu a interrompo. -Pode deixar, não tenho tem falsas nem verdadeiras esperanças.

-Quem clama pela esperança pode encontra-la em qualquer lugar- ela fala. -lembra disso? Você costumava me dizer antigamente.

-Se eu soubesse que as coisas terminariam assim eu nunca teria dito algo desse tipo.

-Isso ainda não terminou, o fim só chaga quando nós o determinamos.

-Essa frase também é minha? -digo tentando mudar de assunto.

-Não, é de minha autoria. -ela diz.- e você devia pensar nisso.

-Delly...

-Olha Peeta, eu sei que o que está acontecendo por aqui não é fácil, nem pra você nem pra ninguém. A guerra, Katniss, as bombas do 4, torturas...

-Espera um pouco. -Delly se cala. - você disse bombas do 4?

Ela me olha espantada e de olhos arregalados.

-Espera, você realmente não soube disso?

-Delly, eu já lhe disse, e vivo lhe dizendo, ninguém aqui me conta nada por aqui. -eu falo pausadamente. -Pelo amor de Deus me explique isso.

-Pelo que eu soube, durante a batalha do 4, a Capital estava perdendo e Snow resolveu intervir com bombas.

-Iguais a do distrito 12?

-Não, a do distrito 12 eram bombas de “perdas totais”, como eles falam.- Delly desvia o olhar, mas posso notar seus olhos razos d’água ao lembrar da tragedia.- a bomba do 4 foi menor, mas perdemos boa parte dos soldados. Felizmente o 4 contava com uma certa vantagem e mesmo assim venceu a guerra, o distrito 4 não está mais em combate mas as perdas foram muitas.

-O Finnick soube?

-Foi um dos primeiros a ser informado.

-Annie..? -Delly balança a cabeça negativamente.

-Não temos notícias.

-Meu Deus.

-Coin disse que iram fazer uma escolta resgatando feridos para montar um hospital no próprio 4, ela diz que se Annie estiver viva será trazida junto com alguns chefes rebeldes para o 13.

-Quando eles virão?

-Em 2 dias.

-Como Finnick reagiu?

-Mais ou menos da mesma maneira que você quando viu os vídeos.

-Quer dizer que...

-Sim, Finnick também foi internado no hospital.