Srta. Juliette Anne Cooper

O envelope dizia, com letras douradas a chamativas. Parecia um convite de casamento. Mas de quem? Não consegui pensar em ninguém. Abri correndo e li. Dizia que, em dois meses, haveria um baile pra comemorar os cinco anos desde que minha turma saiu da escola, em Londres. Sentei no sofá e fiquei encarando o convite. Reunião da minha turma. Isso significava encontrar muitas pessoas que eu gostaria de rever. E muitas que eu não gostaria. Lembrei dos meus amigos daquela época. Não eram muitos, na verdade. Só cinco. Jack, Timmy, Rick, Fred e o Harry. Os quatro primeiros e eu vivíamos uns na casa dos outros. Tínhamos uma banda. Ganhamos os 3 festivais de música que a escola fez. Nosso gosto musical sempre foi o mesmo, e eles eram incríveis.

Mas, infelizmente, não lembrei só deles. Jennifer e seus dois clones, Victoria e Kelly. E, bem, Joe. Lembrar desse último me fez sentir um aperto no coração. Cinco anos e eu ainda me sentia do mesmo jeito. Joguei o envelope para o outro canto do sofá. Não vou nesse baile. Não acho que esteja pronta pra encarar o Joe ainda. Quando o envelope bateu no braço do sofá, um papel caiu dele. Não era o convite. Peguei o papelzinho do chão e o li.

Vamos relembrar os acontecimentos mais importantes dos três anos em que vocês estudaram aqui, e o festival de música é um deles. Portanto, sua presença é essencial. Está dispensada do uso obrigatório de um vestido, venha como desejar. Ass.: Louise.

Sorri ao ler. Louise era a representante da turma na minha época, ela sabe muito bem que odeio vestidos. Mas, bem, agora eu tenho que ir. Ir e encarar o Joe. Não iria ser nada fácil.

*****

Consegui convencer Nate a ir comigo no baile. Não foi tão difícil, na verdade. Ele não tinha nada planejado (até porque ninguém faz planos pra dois meses, não é?), então aceitou ir comigo. Andy e Liam disseram que queriam ir também, mas, infelizmente, eles não estudaram comigo. Não podia fazer nada. Agora eu já tinha um par. Faltava decidir a roupa, o que fazer com o cabelo, a maquiagem... nada com que eu me preocupe muito.

*****

Finalmente o dia do baile chegou. Ele só começava às 8:30pm, mas às 9:00am eu já estava acordada e indo para o cabeleireiro. Infelizmente, as mudanças que eu ia fazer demoravam um certo tempo pra ficarem prontas. Duas horas e mais um pouquinho. No tempo que eu esperava, acabei pintando as unhas de preto. A roupa já estava escolhida e o cabelo ficaria pronto assim que eu saísse de lá. Não sei se o Nate ia gostar muito, mas eu já estava pensando nisso há algum tempo. E, por favor, eu não sou movida à opinião do Nathan.

Assim que saí do cabeleireiro, fui pra casa. O cabelo estava do jeito que eu tinha imaginado mesmo. Diminuí bastante o comprimento, o que antes batia no meio das minhas costas, agora bate nos ombros. Também estava mais desfiado, e tinha uma mecha azul-turquesa. Mas a mudança mais radical foi a da cor, com certeza. Não, eu não pintei meu cabelo de loiro. Pintei de preto. Sim, preto. Combina muito mais comigo do que o ruivo meio desbotado. Pensei em pintar de um tom mais laranja, estilo Hayley Williams, mas o preto me agradou mais. Não quero nem imaginar a cara do Nate quando vir isso.

Uma hora antes do que combinamos para ele ir me buscar, eu comecei a me arrumar. Tomei um banho, sem molhar o cabelo. Ele estava perfeito assim. Vesti a roupa que havia escolhido há algum tempo atrás: casaco de couro azul, blusa branca com uma caveira dourada enorme, calça jeans escura e rasgada nos joelhos e coturnos. Coloquei também meu cordão com a Triad* e passei para a maquiagem. Olhos bem pretos e gloss. Nada de mais. Mentira, era de mais sim. Eu nunca saía pra lugar nenhum assim. Mas, bem, hoje era um dia especial. Fiquei pronta dez minutos antes da hora combinada. Logo ele me ligou, dizendo que já estava chegando e eu desci. Ele me levaria de carro até Londres.

Quando o carro dele estacionou não muito longe de mim e ele saiu, fiquei boquiaberta. Nunca o tinha visto tão... incrível. É, não fui a única que se esforçou pra se arrumar. Ele não me reconheceu, o que já era esperado. Ficou esperando há uns poucos metros de distância. Fui até ele e o abracei, beijando sua bochecha.

– Com licença, eu te... Julie? - ele perguntou, assustado. - Seu cabelo...

– É, eu sei. Gostou?

– Ficou... nossa, ta tão... nem parece você - ri.

– É, eu sei. Vamos? Não quero me atrasar.

– Você não tinha que ir de vestido? É um baile e...

– Digamos que me liberaram dessa tortura. Vem, vamos logo.

Entramos no carro e ele acelerou. Ainda parecia perplexo. Tudo bem, eu sei que foi uma mudança muito drástica, mas ficou muito bom. A viagem foi bem tranquila, nós conversamos, cantamos junto com o rádio, rimos bastante. O tempo passou tão rápido que, quando percebi, já estava em Londres. Falei o endereço do local e ele o encontrou sem problemas. Mesmo tendo nascido em Liverpool mesmo, ele conhecia Londres muito bem. Quando cheguei, a maior parte das pessoas já estava lá. Todas as garotas com seus vestidos impecáveis, sua maquiagem cuidadosamente perfeita, seus cabelos milimetricamente arrumados... não me imagino daquele jeito nunca.

Não demorou muito para ver Jennifer. O vestido dela era o cúmulo de ser vadia. Tomara que caia, a parte de cima completamente colada ao corpo e a "saia", que começava pouco abaixo da cintura, era cheia e bem curta. Não chegava à metade da coxa dela. Se ela ficasse parada na esquina por cinco minutos, um caro aparecia, pensei, rindo. Vi também meus quatro companheiros de banda, que não demoraram a me ver também, e vieram na minha direção. Como haviam mudado.

Timmy estava mais alto e seu cabelo em um tom de castanho um pouco mais escuro. Os olhos azuis pareciam quase brancos. Rick parecia ter saído de uma revista de modelos. Estava enorme. Os cabelos loiro-escuros e os olhos castanho-esverdeados continuavam os mesmos, e o sorriso radiante também. Jack parecia outra pessoa. Os cabelos, antes pretos e bem longos, agora estavam curtos e tingidos da mesma cor dos seus olhos: um tom de azul idêntico ao do céu, quando não tem nenhuma nuvem. Sempre pensei que ele fosse fazer alguma maluquice assim quando ficasse mais velho. Fred estava como sempre: parecendo meu irmão mais velho. Os cabelos eram ruivos e os olhos verdes como os meus. Por ser mais alto do que eu, já foi confundido várias vezes como sendo meu irmão mais velho. Eles me abraçaram, me apertaram, beijaram minha bochecha, elogiaram meu cabelo, minhas roupas... e eu fiz o mesmo com eles. Só depois notei que Nate estava ficando de lado.

– Nate, esses são Rick, Timmy, Jack e Fred, meus amigos - falei, indicando cada um ao dizer seu nome. - Viados, esse é o Nate, meu... amigo.

Não, eu e o nate não estávamos namorando. Continuávamos com aquela coisa de "amigos com benefícios".

– Amigo, sei - Fred disse, rindo. - Me diz, cara, uma coisa que eu sempre quis saber: ela é boa de cama?

É, vejo que a personalidade irritante continua a mesma.

– FRED! - dei um tapa bem forte no ombro dele, fazendo com que ele risse mais ainda, sendo acompanhado pelos outros.

– Poxa, Ju, você nunca quis nos mostrar... perguntar não ofende - Rick disse.

– O canto mais quente do Inferno ta reservado pra vocês quatro - fuzilei-os com o olhar.

– Só vai ficar mais quente se você estiver lá, gatinha - Jack piscou, me fazendo rir. É sério, eu ainda vou matar esses quatro.

– Nate, não é bom ficar na companhia desses idiotas. Vamos procurar alguém melhor pra conversar.

– Tipo o Sr. Eu-Sou-o-Fodão-da-Escola Harris? - Timmy perguntou, revirando os olhos.

– Não me diga que o Joe já chegou - reclamei.

– É, chegou. E fez questão de vir se exibir. "Eu vou receber um prêmio por ter sido o rei do baile nos três anos consecutivos e blábláblá" - Jack o imitou, com uma perfeição que só ele consegue.

– Aposto que a vadia-mor já veio se exibir também, não é? Pelo que eu lembre, ela foi a rainha nos três anos.

– É, foi. O casal-perfeição do colégio. Ergh.

– Espero que nossa apresentação venha depois da "premiação" deles. Vamos arrasar igual no último ano. Lembram? - falei, com um sorriso vitorioso no rosto.

– Como esquecer? Você botou a Jen no lugar dela. E aposto que quer fazer isso outra vez, não é? - Rick perguntou, sorrindo malicioso.

– Se eu quero? - ri. - Eu estou esperando há dois meses pra isso.