Roommate escrita por Lyandra Delcastanher


Capítulo 2
#2




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Se me perguntarem qual foi o dia que eu percebi que estava apaixonado, saberei exatamente responder. O dia, o lugar, o momento e a sensação, e principalmente, a pessoa que roubou meu coração. Estar apaixonado é se ver sem saída. Você pensa na pessoa todos os dias, e em todos os lugares que olha acha um motivo para se lembrar dela. Você sorri quando pronunciam seu nome e sente seu cheiro em qualquer lugar. Isso é estar apaixonado e eu tenho plena certeza que estou.

Kurt. Esse é seu nome. Kurt me conquistou de um jeito que nunca pensei que poderia ser conquistado. Me lembro bem quando disse que não era bom com romance, e eu realmente não sou, mas Kurt é, e faz valer a pena.

Acordei com o vento soprando pela janela coloquial aberta do meu quarto. Me certifiquei que Nick estava no banho e lentamente sentei na cama, sem tirar o sorriso no rosto com qual eu acordei. Havia sonhado com Kurt. Não foi o primeiro sonho, nem o melhor deles, mas foi o sonho que me fez perceber o quanto eu precisava daquele garoto.

“Aposto que irá acordar tarde. Bom dia, estou com saudades.” Dizia a mensagem de Kurt enviada há algumas horas no meu celular. Tratei de responder também com um “Estou com saudades também! Está no seu quarto?”, e por incrível que parecia, eu estava com saudades. Mesmo horas atrás eu estar ao lado de Kurt, eu sentia sua falta agora.

Levantei da cama esfregando os olhos e retirando toda a preguiça do meu corpo com um espreguiçar longo. Chequei meus horários e sorri ao ver que tinha uma aula com Kurt, mas para minha infelicidade era Arte Contemporânea e a professora nunca nos deixava sentar juntos.

“Estou sim, venha me fazer companhia.” Após ler a mensagem do meu namorado e checar o horário, faltava duas horas para as aulas começarem, tirei meu pijama azul-marinho de flanela ali mesmo, já que Nick usava o banheiro e tratei de colocar roupas descentes. Escolhi dentre as roupas que estavam naquele pequeno guarda-roupa marrom uma camiseta branca e uma calça com um jeans escuro, mas chequei a janela lá fora e todos pareciam usar seus cachecóis e casacos, o clima estava esfriando mais que o normal. Por cima da camiseta acabei jogando um moletom azul bebê surrado de quando eu era do time de handebol do colégio. Não esqueci é claro, do gel.

– Nick, vou sair por um tempo. Tudo bem? – Peguei meu celular e estava a caminho da porta. E nesse intervalo de tempo Nick saiu do banheiro vestindo seu uniforme da Dalton. O cheiro de banho invadiu o quarto junto com o vapor que saiu lá de dentro. Era um banheiro ou uma sauna? Acho que Nick não sabia diferenciar os dois.

– Tudo bem, Blainers. – Meu colega de quarto sorriu ao me chamar pelo apelido que havia sido me dado enquanto estávamos no time de handebol. Nós dois éramos implacáveis juntos, mas saímos do time no fim da temporada.

Assim que abri a porta do quarto já senti o vento frio que soprava por ali. Coloquei as mãos no bolso a fim de aquecê-las, já que havia esquecido minha luva e fui caminhando até o fim do corredor, aonde ficava o quarto de Kurt. Ao caminhar pude ver o campus vazio. Era difícil avistar alunos pelos corredores quando o clima era frio.

Finalmente chegando ao quarto de Kurt, abri a porta sem bater. Já éramos íntimos o suficiente para essa formalidade, certo? Abri a porta me deparando com um cômodo aconchegante. Não era como se eu nunca tivesse entrado lá antes, eu até tinha ido muitas vezes, mas é que era a primeira vez que Kurt tinha um colega de quarto.

Kurt estava sentado na cama à esquerda lendo um livro que eu poderia ler a capa se quisesse, mas nem prestei muita atenção aos detalhes. Ao me ver entrar deixou o livro no criado mudo e abriu o maior sorriso que ele podia dar.

– Blaine Anderson... – Falou enquanto se levantava vindo até mim. Lembra todo aquele lance que eu falei sobre estar apaixonado? Eu estava. Um sorriso inconscientemente se abriu em meu rosto assim que vi Kurt. Dei alguns passos também até alcançar Kurt e passar meus braços por sua cintura e o puxar mais pra perto para um selinho demorado que depois foi separado por conta do meu sorriso que não pude conter.

– Kurt Hummel. – Falei roubando mais um selinho daquele cara que me deixava louco.

– Douglas está no chuveiro... Você se importaria de irmos para o telhado?

– Tudo bem.

Peguei a mão de Kurt, tentando ignorar o fato de que meu namorado dividia o quarto com outro cara, e que esse cara estava no banho no mesmo espaço que Kurt. Assim que saímos do quarto e a mesma brisa gelada passou por nós Kurt estremeceu e agarrou meu braço. Continuamos andando até as escadas que ficavam no outro canto do corredor. Subimos em silêncio, pois apenas a presença era necessária até ali.

Fui obrigado a soltar de Kurt para colocar um tijolo impedindo a porta de se fechar e nos trancar ali e quando me virei vi Kurt me olhando com o mesmo olhar de sempre, aquele olhar que me dava calafrios de tão bom que era sentir aquela sensação de ser amado.

O vento lá era pouco, mas ainda assim gelado. Algo indicava que logo começaria a temporada de neve e que os gorros deveriam ser tirados do guarda-roupa. Pude ver Kurt esfregar os braços tentando se aquecer, trabalho que a blusa preta de mangas não fazia muito bem. Inclinei a cabeça um pouco e sorri, chegando perto novamente de Kurt.

Enlacei meus braços em volta de sua cintura novamente e o puxei para perto. Aquela era a melhor sensação do mundo. Ter a respiração de Kurt perto da minha, sentir seu calor me aquecendo naquele dia de frio e ver seu sorriso enorme aberto somente pra mim. Alguém imaginaria que naquele dia que eu briguei com todos os Warblers por fazerem uma performance improvisada sem antes me avisar seria o dia que eu conheceria Kurt.

Ainda abraçados, foi Kurt quem quebrou nossa distância selando nossos lábios em um simples e terno selinho. Meus olhos acabaram se fechando lentamente com a situação e minha boca foi pedindo por mais de Kurt, e ele mais de mim.

– Ainda temos aula hoje. – Kurt suspirou após nossos rostos se separarem por um instante.

– Quisera eu que não. – Falei roubando mais um beijo de Kurt que foi pego desprevenido. – Temos mesmo que voltar? – Falei franzinho o cenho em desaprovação e criando um beicinho em meus lábios que eu sabia que Kurt adorava.

– Se não quiser ver o Sr. Theodore acabando com seu futuro... – Kurt disse se separando do abraço e se agarrando em meu braço novamente.

– Sr. Theodore? Não tenho aula com ele hoje.

– Blaine, hoje infelizmente ainda é terça-feira. – Deixamos o terraço do prédio juntos. Eu deveria ter me confundido ao ver os horários hoje de manhã. Bufei e continuei o caminho acompanhado de Kurt.

Por que em tempos de frio tudo fica mais aconchegante e romântico? Até chegarmos no quarto de Kurt vimos dezenas de casais juntos. Terças-feiras as visitas eram liberadas e as namoradas dos alunos vinham aproveitar o dia ao seu lado. Sorte a minha que a única pessoa que eu preciso está bem aqui ao meu lado.

Chegamos ao quarto de Kurt e ficamos um pouco ao lado de fora antes de resolver entrarmos. Encostei Kurt na parede e fiquei segurando suas mãos enquanto olhares eram trocados. Não sabia distinguir se esse era o melhor dia ao lado dele, ou se eu estava cada vez mais apaixonado pelo castanho.

– Sei que estamos juntos, mas nada foi oficialmente pedido... – Falei dando um passo e ficando mais perto dele. – Eu queria saber se você daria a honra de ser meu namorado.

Kurt arregalou as sobrancelhas com o pedido. Era certo que estávamos juntos e podíamos nos referir ao outro como namorados, mas não havíamos conversado sobre isso. Nos dias de hoje deve ser meio brega pedir o outro em namoro, mas eu sou das antigas, e creio que Kurt também.

– Eu adoraria. – Kurt suspirou ao falar e eu dei um sorriso sem dentes sincero, encarando a profundidade de seus olhos azuis esverdeados, foi naquele momento que eu soube que estava perdidamente apaixonado por Kurt. Nossos rostos foram chegando perto e meu sorriso só aumentava com isso e todo aquele papo de “Eu não sou muito bom em romance.” era passado. Antes de nossos lábios se tocarem, a porta que Kurt se encostava foi aberta.

– Cuidado. – Douglas disse enquanto segurava Kurt a centímetros do chão, impedindo que o castanho caísse. Eu nunca fui do cara ciumento, e foi por isso que eu não me incomodei nem um pouco em ver aquele cara com os braços em volta de Kurt. Com o rosto perto de Kurt. Tirando um sorriso de Kurt. Ou talvez eu tenha me incomodado um pouco. – Mais cuidado, baixinho. – E logo Kurt estava em pé novamente.

– Blaine. – Disse Ash enquanto passava no corredor e parando ao meu lado. – Preciso conversar com você, me acompanha?

– Um minuto, Ash. – Ash era meu melhor amigo na época que eu jogava no time do colégio, mas acabamos nos distanciando. Não éramos mais melhores amigos, mas com certeza existia uma amizade ali. Conversávamos todos os dias durante as aulas, sorte a minha, porque tínhamos quase os horários iguais. O amigo concordou e ficou me esperando um pouco a frente no corredor.

Virei meu olhar e vi Kurt conversando com Douglas. Sem querer ser mal-educado nem nada, apenas dei um beijo em sua bochecha e fiz sinal que estava saindo. Ele concordou com a cabeça e voltou a conversar com seu colega de quarto, enquanto eu e Ash sumíamos no corredor.

– Acho melhor você tomar cuidado com esse tal de Douglas... – Alertou Ash parando e se sentando num banco que ficava antes da sala de anatomia, o acompanhei.

– Qual o problema?

– Você não viu nada de mais quando Kurt caiu? Eles estavam perto, e quando eu digo perto, eu digo muito perto mesmo.

– Eu não sou do tipo ciumento, Ash. Kurt lutou pra ficar comigo e eu acho que agora que estamos juntos ele não me trocaria por qualquer um.

– Não estamos falando de qualquer um. Estamos falando de um filho de uma estilista famosa. De um cara que vai passar todos os dias ao lado do seu namorado por serem colegas de quarto. De um garoto que não tem nenhuma amizade aqui dentro e vai acabar querendo pedir para Kurt ficar mais tempo ao seu lado... Eu lembro quando você e Kurt ainda eram apenas amigos, lembro de você me falando o quão carente Kurt era... Talvez isso seja um problema.

– Talvez seja um problema pro Kurt do passado, Ash. Eu aprecio sua preocupação, aprecio mesmo e sei o quanto você se importa comigo e com Kurt, mas eu acho que posso lidar com Kurt fazendo novas amizades.

– Então porque você não é amigo desse Douglas? Digo, se você e seu namorado são cúmplices o suficiente, por que você não pode conversar com eles? Você deveria me agradecer que te tirei de lá, senão eles iam começar a conversar e você ficaria totalmente perdido.

Olhei em direção ao fim do corredor e ainda via Kurt e Douglas conversarem animadamente sobre algo do lado de fora do quarto. Será que Ash estava certo?

– Eu não fui com a cara dele desde que o vi pela primeira vez. – Respondi voltando o olhar a Ash, que já havia se levantado para seguir para a aula.

– Então ele não é tão legal assim como você diz. Você não tem sido feliz assim faz tempo, Blaine. Quando foi a última vez que você deu um sorriso igual o que deu para Kurt hoje? Eu só não quero que isso mude, ok? Pense no que te falei, bro.

Ash me deu um soquinho no ombro – era como nós do time nos cumprimentávamos – e seguiu caminho a sala de aula. Balancei a cabeça tentando absorver todas as informações que eu havia pego com Ash e voltei o olhar para o quarto de Kurt, que dessa vez não havia mais ninguém ao lado de fora.

Coloquei as mãos no bolso tentando negar para mim medo e dizer que talvez Ash estivesse errado, mas ele não estava completamente errado. Algo do que ele me disse era certo, mas eu não sabia o quê. Me levantei do banco e me encolhi conforme a brisa fria passava por mim, coloquei minhas mãos no bolso e senti no mesmo instante meu celular vibrar.

“Já estou sentindo saudades de você. Até o intervalo. Xx” Li a mensagem de Kurt e abri um sorriso na hora. Talvez eu não devesse me preocupar. Ash estava totalmente errado.


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Notas finais do capítulo

Ou talvez não esteja tão errado assim, Blaine.



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