Atena saiu do banho preocupada com o que vestir. Como Poseidon tinha tomado um banho em velocidade flash ele se ofereceu para fazer o jantar enquanto ela se arrumava. Ela veria aquilo como um pedido de desculpas por ter jogado a deusa no mar, mas vindo de Poseidon ela não imaginava que pudesse ser uma prova de arrependimento. Mesmo assim ela não reclamou. O problema agora seria encontrar a roupa “menos ruim” da mala de Afrodite.

Depois de (quase em desespero) procurar entre lingeries, mini saias e vestidos que faziam a deusa se perguntar se mais decente que ela achou. Era um azul marinho justo, mas confortável. O decote em V era um problema (N/A: não para Poseidon, claro), mas se ela não se mexesse muito não seria nada preocupante. No entanto, o vestido ia só até dois palmos do joelho, detalhe que fez Atena surtar.

*.*

Poseidon já estava ficando impaciente com a demora de Atena. Se ela demorasse mais, a pizza esfriaria e ele iria lá arrombar a porta do quarto. Alguma coisa nele gostou de imaginar uma Atena só de toalha pega de surpresa. E enquanto ele pensava aquilo, a loira descia as escadas. Quando ela entrou em seu campo de visão os pensamentos de Poseidon travaram.

“Por Hades, onde ela escondia esse corpo?!” Pensou ele, observando cada movimento da deusa, os lábios entreabertos. Ao perceber isso Atena abaixou a cabeça, envergonhada.

-Então, o que tem pro jantar? – perguntou ela.

-Hem? – foi o melhor que ele conseguiu dizer, ainda fora da sua linha de raciocínio.

-O que você fez para nós jantarmos? – Atena deu uma pequena risada ao ver a cara de bobo dele.

-Hum... Fiz pizza. Gosta?

-Depende. De que é?

-Quatro queijos – ele deu de ombros.

-Quatro queijos... É extremamente calórico e gorduroso, nada saudável – Poseidon suspirou. Era impossível agradar aquela mulher! – Mas tudo bem, é gostoso e eu gosto. – Ela sorriu, ao que ele suspirou aliviado. Finalmente acertara em algo.

-Que bom então, já que foi o melhor que eu consegui fazer. Não dá pra ser perfeito em tudo, sabe? – ela riu, rolando os olhos.

-Aham, perfeito, claro.

-Você ainda vai admitir isso, Atena. Mas enquanto você fica aí mentindo pra si mesma, decida se prefere comer na mesa ou no sofá vendo TV.

-Hum, por mim tanto faz, Senhor Perfeição. – eles riram da ironia, enquanto Poseidon pegava um pedaço de pizza e se acomodava no sofá, ligando a televisão. Atena fez o mesmo, e começou a assistir ao filme que Poseidon assistia concentradamente, até perceber qual era o filme.

-Por que você está assistindo “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” se já sabe como a história termina? Você estava lá, e além de tudo sabe que essa história não tem nada a ver com a original.

-Porque, por mais que seja muito diferente, não deixa de ser interessante. Fora o fato de que é sempre bom recordar como meu filho salvou o Olimpo.

-Sim, e daí? Poderia ter sido Thalia ou Nico. Percy que os tirou do jogo.

-Que jogo o quê, criatura? Cada um de nós estaria extinto hoje se não fosse por meu filho. Isso não era um jogo.

-Mantenho minha palavra que poderia ter sido Thalia ou Nico.

-Aí seria pior, pois seria Zeus ou Hades se gabando disso eternamente.

Ela deu de ombros, assistindo o filme. Ele, no entanto, não conseguia ficar calado. Poucos minutos depois ele começou a falar de novo:

-Olha, os mortais ridiculamente mudaram muita coisa na história, tipo o cara que interpreta Poseidon no filme. Ele deveria ser mais bonito, mas vai ver que não encontraram nenhum mortal tão lindo quanto eu pra substituir esse ator...

-Ele nem é tão feio assim, Poseidon. Estranho foi me colocarem como morena. Eu não sou morena. E a atriz que interpreta Annie parece mais com a filha de Ares, Clarisse. Dá pra entender isso?

-Mas olha, você nem aparece no filme, sua presença era tão irrelevante que nem se importaram com a cor do seu cabelo nem nada, Palas. – ela rolou os olhos - Mas absurdo foi eles colocarem alguém bonito pra interpretar Zeus. Tá vendo o quão longe da realidade eles estão? - ele riu.

-O ator que interpreta meu pai não é bonito, Poseidon. 

-Qualquer coisa fica bonita se comparada a Zeus, Atena.

-Você não.

-Isso é uma calúnia – ele protestou, com o ego terrivelmente machucado.

-Pouco importa. Onde você conseguiu o filme?

-Afrodite teve bondade de deixar alguns DVDs aí. O problema é que a maioria deles é romântico.

-Nunca que eu vou assistir algo romântico com você – ela cruzou os braços.

-Bom, ela deixou um pornô aí também. Se quiser assistir comigo... – ele sorriu, sarcástico. Argh, ela odiava aquele sorriso.

-Nem pense nisso.

-Eu quase esqueci que estava falando com uma virgem puritana. Qualquer mulher ficaria mais que feliz com essa proposta. Aliás, por que você quis ser assim? Por que fez o juramento?

Ela ficou séria de repente, deixando o clima da sala pesado. Olhando para o chão, ela murmurou:

-Não te interessa, Poseidon.

-Se eu perguntei é porque sim, me interessa, Atena. – retrucou ele – Quero dizer, por que alguém decide se abster da melhor coisa que já existiu? E não falo só do sexo, mas do amor também. Tem que haver algum motivo. Até Ártemis tem o dela, que é um nojo esquisito pelos homens. Mas não você. Você não tem nojo nenhum, só decidiu e pronto. Por quê?

Atena levantou os olhos, dando a ele tempo suficiente para perceber que os mesmos estavam enevoados, e ela estava prestes a chorar.

-Isso realmente não é da sua conta, Poseidon. – ela falou, com a voz embargada pelo choro contido, e saiu correndo até o quarto, se trancando no banheiro.

*.*

Ele não entendeu nada. Jogou a louça suja na pia, mas não observou tempo suficiente para vê-la sumindo numa fumaça cor-de-rosa. Subiu até o quarto, trocou de roupa e se sentou na cama, ouvindo Atena chorar no banheiro.

Ficou assim por um tempo que para ele pareceu se arrastar, até vê-la sair do banheiro e apagar a luz do quarto, sentando-se na cama, ao lado dele. Pela luz da lua ele pôde perceber como os olhos dela estavam vermelhos, assim como a ponta de seu nariz, mas ela não chorava mais. Ele tinha uma pergunta idiota na ponta da língua, a mais estúpida possível para ser feita, mas ainda assim acabou soltando:

-Tudo bem?

Ela olhou para ele, dando um fraco sorriso de canto e respondendo:

-Sim... Por enquanto eu só quero dormir, tá bom?

Ele assentiu, mas antes de deitar e dormir se inclinou para perto dela. Sentindo a respiração dele tão perto de si, Atena ficou estranhamente nervosa, mas permaneceu imóvel. Poseidon fechou os olhos e deu um beijo demorado na testa dela, aspirando um cheiro doce que vinha da deusa.

-Boa noite, Atena. E... Me desculpe. – Ele murmurou, deitando antes de poder ver a expressão confusa que ficou no rosto dela e o leve tremor que percorreu o corpo de Atena antes que esta também se deitasse e murmurasse:

-Boa noite, Poseidon.