*Trim Trim Trim*
Fui acordada pelo barulho de meu celular. Olhei para o lado, Josh dormia do meu lado e já eram nove da manhã. Olhei no visor do meu celular e vi que era a minha mãe, hora do sermão.
– Alô?
– Que tipo de desnaturada você é?! Por que não voltou para casa?!
– Nossa, chamem os jornais! Minha mãe se preocupa comigo! - falei irônica.
– Pare de gracinha! Onde está?
– Não te interessa...
– Por favor não me diga que virou prostituta...
– Ah, claro, mãe... Decidi dar a bunda para ganhar dinheiro... Óbvio que não!
– Onde você está, Nathalie?
– Na casa de um amigo...
– Que amigo? Você não tem amigos!
– É um amigo novo, okay? Tenho que ir...
– Vai voltar para casa dessa vez?

– Vou...
Desliguei o telefone. Uma mãe normal diria para eu voltar para casa agora e me deixaria de castigo durante meses, mas quando ela não se importa com você, é diferente. Senti algo se mexer e vi que Josh havia acordado.
– Quem era?
– Minha mãe...
– Ela quer que você volte?
– Não, na verdade, acho que ela só quer saber onde estou para a polícia não acusá-la de abandono...
– Nossa, sua mãe não pode ser tão ruim assim.
– É claro que pode! - me levantei e me olhei no espelho que havia no armário, eu estava péssima. - Você tem copos aqui?
– Tenho sim, dentro do armário.
– Obrigada.
Abri o armário e vi duas taças de vidro. Peguei uma delas e a quebrei contra a parede. Catei desesperadamente o maior pedaço e forcei um corte contra o meu braço, passei o vidro em minha língua bebendo o pouco de meu sangue que havia ali. Nunca me senti tão aliviada, olhei para Josh e ele sorria.
– Você, definitivamente, é encarnação da Beatrice...
– Acha mesmo?
– Eu não acho, tenho certeza...
Sorri e desci as escadas para comer algo, que não estivesse estragado, do andar debaixo e Josh me seguiu. Cheguei na cozinha e abri a geladeira, havia metade de um sanduíche, melhor que nada, o comi e Josh me disse que não estava com fome.
– Então, qual é a aventura de hoje? - perguntei.
– Encontrar Samara.
– Faz ideia de onde ela se esconde?
– Um poço, só sei disso.
Então me lembrei, havia um poço perto da casa de minha avó, no qual eu brincava quando era pequena e os vizinhos diziam ter visto coisas estranhas por ali, mas nunca acreditei.
– Sei onde ela está.
– Onde?
– Ilha Moesko...
– Onde fica isso?
– Longe, uns dois dias de viagem.
– Então, precisamos de um carro.
– Também sei onde encontrar.
***
– Onde estamos? - ele perguntou.
– Minha casa.
– O que estamos fazendo aqui?
– Apenas fique em silêncio.
Olhei pela janela de minha casa e percebi que meus pais estavam na sala vendo televisão, não iriam ouvir. Abri a porta da garagem e lá estava a BMW de meus pais. Tirei a chave debaixo do tapete, sim, meu pai escondia a chave reserva debaixo do tapete, e abri a porta do carro entrando no banco do motorista. Josh esperava do lado de fora como se ainda não tivesse processado a informação.
– Tá esperando um convite oficial? Vamos! - falei e ele se apressou a se sentar no banco da frente. - Se segura...
Dei marcha ré e fui contudo para fora da casa de meus pais. Eu tinha carteira de motorista, mas é claro que nunca me deixaram dirigir o carro. Segui para a Ilha Moesko, eu me lembrava do caminho como se eu o frequentasse todos os dias.
– Você é mesmo maluca...
– Eu sei, mas é melhor assim, evita decepções e falsas esperanças...
“Bom trabalho, Nathalie...” O que foi isso? Podia jurar que ouvi essas palavras ecoando pela minha mente, mas era impossível, quem poderia ser? Podia ser Alessa, mas ela não me parabenizaria.
– Josh?
– Sim?
– Palavras ecoaram na minha mente... - falei assustada e ele riu.
– Samara está falando com você...