- Você tá maluco... - falei me levantando, mas ele agarrou o meu braço.
- Alessa vai atrás de você essa noite...
- Como sabe?
- Apenas sei. Por favor, não durma em casa hoje, é perigoso.
- Supomos que eu seja a nova reencarnação de Beatrice, por que ela me mataria?
- Porque foi Beatrice que causou toda essa ira e morte, tem que dormir em algum lugar seguro...
- Onde?
- Pode dormir na minha casa.
- Tá maluco?! Eu nem te conheço e meus pais não vão deixar, além do mais, você pode ser um estuprador ou um traficante. - ele riu.
- Tenho mesmo cara de ser assim? Eu não estou mentindo, Nathalie...
- Ah, sei lá, eu... Espera, como sabe o meu nome se eu não te contei?
- Alessa me contou muito sobre você...
Já estava ficando aflita com toda essa história, mas pare para pensar. Ele não saberia disso tudo por uma razão qualquer, até porque ele sabe de coisas que nunca contei à ninguém, isso me dá calafrios. Essa Alessa matou as únicas pessoas que me importavam na vida e eu vou atrás dela, eu quero vingança, Josh é a prova viva de que ela existe e que eu não estou maluca. Meus pais não vão nem sentir a minha falta, foda-se o mundo.
- Está bem, eu vou.
***
- Você mora aqui? - perguntei quando chegamos na porta de sua casa. Parecia uma casa completamente abandonada, velha e suja, como se não entrassem aqui há anos.
- Sim, por que?
- Nada não...
Ele tirou a chave do bolso e abriu a porta. A primeira coisa que notei foi o rangido que a porta fez ao ser aberta, parecia aqueles rangidos de filme de terror. E também tinha as teias de aranha que bloqueavam a passagem para dentro da residência, mas mesmo assim, passei. Móveis velhos, empoeirados, estragados, usados e pude jurar que vi um rato correndo por uma das prateleiras. Sério que vou dormir aqui?
- Gostou? - ele disse me olhando e devo ter feito uma cara de muita reprovação, pois ele riu. - Relaxa, não vivo aqui embaixo...
- Como assim?
- Vamos subir e eu te mostro.
Começamos a subir escada a cima e a sujeira ia diminuindo a cada degrau que eu subia, como se estivéssemos entrando em outra casa. Quando chegamos no segundo andar, tive uma surpresa. Tudo estava novo, limpo, organizado, não parecia nem um pouco com o andar debaixo. Que sentido isso faz?
- Não entendi... - falei confusa.
- O andar debaixo é velho e empoeirado daquele jeito para poder afastar visitas, as pessoas pensam que está abandonada...
- E como paga conta de luz, telefone...?
- Não pago, afinal, não uso.
- Como assim?! Quer dizer que não tem eletricidade aqui?!
- Não.
- Vamos dormir no escuro?
- Sim, por que? Tem medo?
- Na verdade, tenho. E muito mais agora que você me contou essa história maluca...
- Fica tranquila, Alessa não pode entrar aqui.
- Como não?

- Está vendo o sal nas frestas da porta? - assenti. - Espantam demônios e espíritos perturbados.
- Wow...
- Bem, vamos dormir? Amanhã teremos um dia cheio...
- Claro, mas você poderia ao menos acender uma vela? Não me sinto segura na escuridão.
- Está bem, vou pegar lá embaixo, não saia daí!
- Ok!
Ele desceu as escadas e eu fiquei ali em pé, no meio do corredor, na pura escuridão. Não vou dizer que estava um breu total, porque não estava, eu enxergava as coisas por causa da iluminação que os postes davam lá de fora. Ouvia os passos de Josh no andar de baixo, provavelmente, procurando a vela e a cada segundo que se passava, mais eu desejava que ele se apressasse.
- Nathalie...
Meu coração disparou, minhas pernas ficaram bambas e o meu sangue congelou. Quem disse isso? Não era Josh, a voz era feminina e estava perto de mais. Tive vontade de chorar, mas me contive.
- Está com medo, Nathalie?
Por pouco, não berrei, podia jurar que alguém havia sussurrado essas palavras no meu ouvido. Olhei para o final do corredor, procurando me distrair... péssima ideia. Tinha a silhueta de uma garota de longos cabelos negros, alta e magra, era ela. Ela começou a andar em passos lentos em minha direção e eu mal conseguia respirar.
- Acha que vou deixar barato, Beatrice? Você acha?!
Com medo, me virei para correr para o lado oposto, mas assim que o fiz, dei de cara com ela. Ela agora estava com o rosto a menos de cinco centímetros de distância do meu, seus olhos azuis brilhantes encaravam os meus sem se mover, eu estava paralisada.
- Não vai conseguir fugir de mim, não vai ganhar de novo...
Meu coração já estava quase saindo pela boca, até que ouço barulhos de alguém subindo as escadas, quando me viro, vejo que é Josh. Eu ia mostrar Alessa para ele, mas ela já havia ido embora, agora, definitivamente, confio no que ele me disse.
- Aconteceu alguma coisa? Você não parece bem...
- Eu estou bem, Josh... Só quero dizer que... - suspirei.
- Sim...?
- É melhor trocar o sal por outra coisa, porque não tá funcionando...