Mais tarde na loja, ela estava trabalhando como um zumbi, seu corpo estava lá mas sua mente estava longe. Ela pensava em tudo que tinha passado com Raphael, em tudo que tinham passado separadamente e que no final os uniu.

De repente se viu encostada numa estante da loja e começou a chorar. Chorar por Raphael. Por ela. Por todos que havia perdido. Por todos que á julgaram e que no fundo estavam certos. Ela não era nada, era só uma rebelde qualquer que culpa a família por seus problemas. Afinal, como podiam ama-la se ela havia tirado a vida do próprio irmão?

Se deixou cair no chão e por um instante voltou a pensar que devia ter sido ela, e não Miguel que devia ter morrido. Seria melhor, ela só trazia problemas pra todos, todos que ela nem se quer amava.

Maria se aproximou dela e perguntou o que havia acontecido. Angélica apenas continuou chorando. Maria se sentou ao lado dela e simplesmente á abraçou, a principio Angélica não aceitou o abraço. Mas Maria era realmente carinhosa, e logo Angélica se rendeu após parar de soluçar. Explicou tudo á Maria, que após um tempo refletindo sobre o assunto, arrumou uma mecha do cabelo de Angélica e disse;

-Eu vou te ajudar meu anjo.

-Como?

-Espera um pouco.

Maria saiu e Angélica limpou as lagrimas, mas ficou sentada no mesmo lugar. Quando, um tempo depois, Maria voltou e pra sua surpresa, Raphael veio logo atrás.

-Eu disse que ia te ajudar. –Disse Maria saindo. Angélica se levantou, mas não conseguiu dizer nada, enquanto Raphael apenas á observou. Até que ela disse:

-Me desculpe. Eu sei que fui uma idiota e que não mereço você, mas... Eu não aguento mais isso... –Disse chorando novamente.

Ele apenas á abraçou e disse:

-Eu sei...

Ela encostou a cabeça no peito dele, e Raphael continuou:

-Mas você podia ter confiado em mim. –Ela olhou nos olhos dele. –Eu sei que tudo isso que está passando é muito difícil. Mas eu posso te ajudar. Você sabe disse não sabe?

-Sei, mas...

-Mas nada. A gente consegue.

Ela respirou fundo e disse:

-Não quero ficar sem você.

Ele sorriu, passou a mão pelos cabelos dela, e disse:

-Eu também não. –Dizendo isso ele á beijou delicadamente.

-E agora? –Disse ela se afastando pouco depois.

-Agora você vai ficar bem boazinha na sua casa, e depois a gente pensa em algo mais “abrangente”.

-Não vai ser nada fácil com a Natália me provocando o tempo todo.

-Você tem que tentar.

Angélica revirou os olhos e disse:

-Tá.

-E quando as coisas estiverem difíceis demais e você achar que não vai suportar... Lembra que eu te amo, e sempre estarei aqui por você.

-O que? –Disse surpresa e emocionada.

-Sempre te amei. E nunca te esqueci. Por isso te beijei quando éramos crianças. Eu sabia que meu destino era você.

Ela sorriu, mas não conseguiu dizer nada.

-A gente se vê mais tarde tá?

Ela assentiu com a cabeça. A emoção do momento e talvez o medo que estava sentindo á impediram de dizer que também o amava. Se beijaram mais uma vez e Raphael foi embora.

Um pouco mais feliz, ela voltou ao trabalho e conseguiu se distrair um pouco. Estava finalmente bem com Raphael, o que á deixou nas nuvens por alguns momentos. Eles só tinham que decidir o que fazer dali em diante.

Ao chegar em casa, Raphael contou tudo á mãe. Diferente da mãe de Angélica, Erika, era a bondade e serenidade em pessoa:

-Parabéns filho. Ela é ótima. –Disse após ter ouvido tudo pacientemente.

-Eu á amo muito. Mas não vai ser fácil, com a vó dela...

-É só um obstáculo a ser superado. –Disse animando o filho.

Ele riu, se sentindo um garotinho de 5 anos, com a doce ilusão de que a mãe podia resolver todos os seus problemas com um simples abraço. Mas ficou triste ao lembrar que Angélica talvez nunca havia sentido isso, e quis no mesmo instante correr para abraça-la.

-Falso!!! –Gritou Amélia entrando na sala, ela tinha escutado toda a conversa. –Você não pode ficar com ela!

-Amélia...

-Como pôde? Ela não merece você! você sabe o que dizem dela!

-E o que dizem de mim!

-Ela vai embora! Logo! Como sempre vai! Vai voltar pra vidinha dela e esquecer você!

-Chega Amélia! –Disse a mãe.

-Eu odeio você! –Disse Amélia para o irmão.

-Eu vou falar com ela... –Falou Erika saindo. E Raphael ficou pensando em tudo aquilo.

Angélica chegou em casa exausta, após  dia de trabalho e oscilações emocionais. Se lembrou do que Raphael disse e tentou ser gentil com todos. E por mais estranho que parecesse, gostou disso. Não era fácil com todos os olhares desconfiados, mas quando questionada sobre, apenas disse: “Dançando conforme a musica”. A vó logo aceitou essa hipótese e tentou pensar que finalmente a nea estava tomando um rumo na vida.

Mas Natália não foi tão ingênua, e mais tarde, quando ficaram á sós no quarto ela afirmou:

-Tá acontecendo alguma coisa.

-Como?

-Você boazinha não me convence.

-E o que te convence? –Perguntou sem medo.

-Que isso é só uma distração.

-Distração de que?

-Você está com ele.

Angélica não respondeu.

-Por que ele quer você? –Perguntou Natália, agora visivelmente magoada. –Eu sempre estive aqui. Sou respeitada por todos. Sempre fui uma boa amiga pra irmã dele. Me dediquei...

Angélica continuou calada. Mas se sentiu culpada, Natália tinha razão, ela sempre fi melhor, por que Raphael não á queria?

Natália saiu do quarto e só voltou quando se certificou de que Angélica estava dormindo.