Angel escrita por Dayane Alves de Oliveira


Capítulo 31
Capítulo 31




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No dia seguinte, para seu alívio, estava chovendo, e ela teve o privilégio de não ir à escola. O dia seria ótimo, tudo bem que ela não se encontraria com Raphael na cachoeira, mas nada que um bom livro não resolvesse, pensou ela.

De pijama, sem maquiagem, e se sentindo incrivelmente leve, se sentou na cadeira de balanço do avó perto da janela e começou a ler.

Mas a medida que o tempo passava, o livro não conseguiu distraí-la como ela esperava. Ansiosa, ela se pegou olhando a janela de cinco em cinco segundos para ver se Raphael estava também na janela. Não devia sentir tanto a falta dele – pensou – mas a verdade é que ela não conseguia mais ficar sem falar com ele. Sem perceber, ela foi deixando que a amizade com ele se tornasse uma necessidade. Era inegável que ele a entendia e acalmava. Mesmo quando ele mostrava que ela estava errada, ela queria continuar o ouvindo. Talvez não fosse nem pelas palavras, mas pelo tom de voz firme porém empático dele. Fechou os olhos por um instante e foi absorvida pela sensação do abraço dele, mas antes que a mente vagueasse mais, ela se levantou e foi para o quarto dormir.

Como na maioria dos pesadelos que tinha, este começou com uma lembrança muito normal:

Ela devia ter uns sete anos e Raphael ia completar nove. Estavam brincando perto do rio que nascia da cachoeira onde eles se encontravam agora. Estavam pulando corda, eles dois e Natália, até que um grupo de crianças, amigos de Raphael, se aproximaram querendo brincar. Pelo numero de pessoas resolveram brincar de esconde e esconde. Depois de outros dois garotos, foi a vez de Angélica contar. De frente para uma arvore, e a cabeça encostada nos braços, começou a contar.

-46, 47, 48, 49, 50... lá vou eu! – ela gritou.

Mas ao se virar para começar a procurar, foi surpreendida por Raphael que estava atrás dela. Ela se assustou e achou que ele ia correr e bater no pique. Ao invés disso ele segurou o rosto dela e roubou um selinho. Ela ficou ainda mais assustada e Raphael saiu correndo.

Foi quando o pesadelo invadiu as lembranças:

Ela saiu correndo atrás de Raphael, mas ao segui-lo acabou se perdendo na mata em volta do rio. Gritava por ele, mas a única coisa que ouvia era uma risada de Natália que dizia coisas do tipo “eu vi” ou “ele é meu”. Quando pôs as mãos no ouvido pra tapar o som da voz enjoada de Natália, viu a vó parada na sua amarrando uma corda numa arvore que ela identificou que era para prende-la.

-Não!!! – Angélica acordou gritando.

Natalia que estava se maquiando na penteadeira, borrou o batom com o susto.

-O que foi?? – disse ela com raiva.

-N-Nada... – respondeu Angélica, ofegante.

-Ui, tabom!- antes de se virar para o espelho, completou apontando para o rosto manchado de batom – Saiba que eu vou me vingar por isso!

-Cachorra que late não morde! – provocou Angélica.

Felizmente, Natália se poupou de dar uma resposta. Limpou o batom e terminou de se arrumar.

-Tchau. –Disse ela saindo.

-Você vai sair?

-Cinema com meu namorado. Diferente de você eu tenho vida social.

Angélica também não respondeu. Ficou na cama, tentando entender o sonho / pesadelo. Ela entendeu que o começo era uma lembrança, mas acordada, ela nunca havia se lembrado de ter beijado Raphael. Então como até a parte do pesadelo era muito real pra ela, decidiu que tudo foi fantasia da cabeça dela.

Depois, adormeceu novamente e acordou somente no outro dia com o despertado á obrigando ir para escola já que tinha parado de chover.

Enquanto se arrumava viu que sua sombra preta estava acabando. Olhou na carteira e viu que tinha apenas 10 reais, e como ela tinha que comprar também outras coisas,teria que recorrer a vó:

-Posso ir na cidade hoje depois da aula?

A vó olhou calmamente por cima dos óculos e disse:

-Pra que?

-Preciso comprar algumas coisas.

-Vou fazer compras amanhã, eu trago pra você.

-É pessoal...

A vó respirou fundo e disse:

-E você tem dinheiro?

-Esperava que você fosse me dar.

-Esperou errado.

-O que??

-Eu não sustento você. Você apenas mora aqui.

-Mas...

-Ligue para a sua mãe e discuta isso com ela.

Angélica falou impaciente:

-Eu vou poder ir ou não?

-Se você voltar antes de anoitecer e não fazer nenhuma besteira.

-Ótimo. - Angélica agradeceu e saiu para a escola.

Mas durante a aula, só pensou em como faria para conseguir o dinheiro, sem precisar falar com a mãe.

Depois da aula, ela estava andando sem rumo pelas ruas de pedra da pequena cidade. Andou, andou, andou, parou para tomar um sorvete, andou mais e se sentou num banco na praça e ficou olhando um velhinho dando migalhas de pão aos pombos. Ela sorriu e ficou mais pouco.

Quando atravessou a rua para ir embora deu de cara com uma típica loja de armarinhos. Onde você encontra tudo que quiser por R$ 1,99. E foi exatamente isso que aconteceu. Numa folha de sulfite amarelo e com letras azuis (as cores características da loja) estava escrito que estavam admitindo atendentes com ou sem experiência. Sem hesitar, ela arrancou o papel do vidro e entrou na loja alegre como se tivesse achado uma mina de ouro.

A loja era muito maior do que ela tinha imaginado do lado de fora. Tinha prateleiras em todos os lados, ela foi se encaminhando para um dos caixas e disse:

-Oi, eu quero falar com o gerente.

-Maria! –Gritou a mulher do caixa.

-Sim? –Disse a gerente, saindo de uma porta atrás da atendente.

-Essa moça quer falar com você.

-Pois não? –Disse olhando para Angélica.

Angélica á analisou um pouco. Era uma senhora de uns 45 anos com o rosto exageradamente maquiado e cabelo solto tingido de vermelho fogo. Usava brincos e pulseiras do tipo maxi, e unhas afiadas. Ela quis rir, afinal, uma cidadezinha dessas era lugar para uma mulher tão extravagante? Angélica se desprendeu desse pensamento e foi direto ao ponto:

-Eu quero a vaga! –Disse sacudindo o papel.

-E você é...?

-Angélica. –Disse estendendo  a mão.

-Muito prazer... você quer a vaga por que?

-Você precisa não é?

-Quantos anos você tem mesmo?

-16. Mas faço 17 daqui três meses.

-Meio jovem.

-Não vai se arrepender.

Maria sorriu:

-Você precisa fazer uma ficha e aguardar a entrevista.

-Não tenho tempo pra isso! E acho que você também não. –Angélica apontou para a loja cheia de clientes.

-Então quer começar agora?

-Posso fazer uma experiência.

Maria riu divertida e disse:

-Vai lá. –Ela apontou com a cabeça para uma senhora que parecia perdida.

Angélica foi sem medo. A senhora estava procurando botões de forrar. Angélica olhou rapidamente entre os corredores e orientou a senhora para o lugar certo. Olhou vitoriosa para Maria que sorria satisfeita.

-Segunda á sábado das 8 ás 5. –Disse Maria.

-Segunda á sexta das 1 ás 6.

-Como é que é garota?

-Eu ainda estudo. Só posso á tarde.

-E o sábado?

-É a minha folga, já que vou ficar até as 6.

-Como você é petulante garota.

-É pegar ou largar.

Maria pensou um pouco e disse com ar superior:

-Ok, mas como você vai trabalhar meio período... eu te pago meio salario.

Angélica já ia discutir, mas como meio salario era melhor que nada ela disse:

-Fora os benefícios?

-Fora os benefícios.

-Ok. Até amanhã.

-Até. Espera! - Angélica se virou. –Vem comigo.

Angélica entrou na sala de onde Maria tinha saído antes. Ela lhe entregou um par de camisetas da loja e disse:

-Seu uniforme.

-Obrigada.

Angélica saiu por ali mesmo, nos fundos da loja. Mas se arrependeu na mesma hora, ao ver que saiu na rua que era fundo da maioria dos outros comércios.


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