A Biblioteca escrita por Amber Brownie


Capítulo 2
O Assassino


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!
Musicas que inspiraram o capítulo:
_Forgotten - Avril Lavigne (Album Under My Skin)
_Lux Aeterna - Clint Mansell (tema do filme "Réquiem Para um Sonho")



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O ser soltou um grito alto e estrangulado de dor. Aquela dor alucinante que queima e consome o corpo deixando-o em estado de alerta, um escape rápido para sobrevivência mesmo sabendo que seria inútil, ainda lhe restava alguma esperança no inconsciente, buscando em desespero a fuga do perigo. Abri um sorriso sombrio lentamente quando vi o corpo cair em um baque surdo, tremendo no piso frio de mármore. Me agachei brincando com o brilho da lâmina em minhas mãos, indiferente.

Com a faca brilhante em punho suavemente a rocei no rosto pálido de terror causando alguns cortes, mas que eram estreitos o bastante para que finas gotas de sangue deslizassem pelo rosto da vítima, como lágrimas em seus olhos arregalados que gritavam em silêncio. Ela arfava, seus olhos se mexiam inquietos procurando a minha face, porém para a sua infelicidade eu estava oculto pelas trevas do labirinto. O temor era intenso que ela não conseguia se mover, era com se estivesse presa dentro de um quarto sem saída. Um pássaro engaiolado que não podia cantar.

Ri baixo, com júbilo.

Então, aquele era o poder. Aquilo era o que me ajudaria a sair. Fitei a vítima desdenhoso, havia cansado de brincar. Olhei para a faca em minhas mãos estudando qual seria o metódo mais rápido de acabar com aquilo. Findar em definitivo a dor. Ela reluzia na minha mão como um diamante precioso e perfeito, espelhando de forma precisa o temor na face do indivíduo que ainda estava no chão tentando se arrastar e fugir enquanto o sangue pingava do seu rosto, garganta e abdomen de forma dolorosa, manchando o piso de mármore branco como neve.

Me aproximei e a vi hesitar tomada pelo pânico, os lábios entreabertos tremiam e o corpo ficou inerte ouvindo o baixo som dos meus passos contra o chão. Ela enrijeceu automaticamente quando me aproximei ainda mais do seu corpo colocando um joelho no chão. As lágrimas brilhavam como flocos de gelo no amanhecer contra o reflexo da lâmina afiada da faca quando a deslizei por seu rosto lívido e assombrado descendo até o pescoço de forma sinuosa causando mais alguns cortes. Continuei descendo a lâmina que também cortou o pouco da roupa escura e suja revelando a pele clara do peito. Fiz com que ponta perfurasse a pele fazendo o sangue deslizar para fora sujando a roupa, traçando desenhos em vermelho no branco puro.

Finquei a faca brilhosa no coração da vítima com força, trincando os dentres e comecei a sentir o sangue se esvair com rapidez se impregnando nas minhas mãos, procurando ansioso uma nova fonte para dar-lhe seu calor em desespero. Houve apenas mais um grito alto e sôfrego, de surpresa e dor enquanto o sangue fluia do corpo e se espalhava hesitante pelo chão frio que absorvia sua cor com piedade e o acolhia com compaixão.

Aquele era o seu último suspiro.

Os olhos sem vida da vítima permaneceram abertos, o terror e a surpresa estampados no rosto sujo com lágrimas salgadas e de sangue. Dos lábios entreabertos não saía mais nenhum som, porém os gritos estrindentes continuaram ecoando na minha mente como agulhas finas de gelo cravando-se cada vez mais fundo.

E então, quando pisquei meus olhos, parecia que eu estava em outra dimensão. Aquele era realmente eu? O que havia feito e porquê? Meu corpo travou em uma batalha interna enquanto minha mente confusa tentou processar o que estava acontecendo, o que eu estava fazendo. Foi quando eu vi que segurava algo pontudo que reluzia contra a fraca iluminação da biblioteca. Percebi o corpo estirado no chão e as minhas mãos sujas de sangue, um arrepio involuntário se chocou contra o meu estado paralizado.

Eu estava no labirinto.

O sangue pingou, deslizando sinuosamente da faca que eu segurava. Meus olhos se arregalaram pelo choque, sentia como se meu corpo estivesse petrificado, apesar das mãos sujas de sangue tremerem levemente como se tivessem acabado se ser mergulhadas em um lago congelado. O choque me travessou de forma mais veloz do que a constatação do que havia acabado de fazer e tomado pelo súbito pânico, soltei a faca e dei alguns passos para trás. Vi a faca cair no chão em um baque, mas logo ela brilhou como o livro que havia aberto há pouco tempo. E ela simplesmente sumiu.

Finalmente o remorso me acometeu.

Gritei, dessa vez assustando-me com o fato que agora tinha a real consciência do meu feito. Havia matado. Havia matado uma pessoa. Não outra pessoa, sim, aquele minutos atrás era eu, frio e calculista apenas pensando em mim. Minha respiração se tornou pesada, enquanto o sangue antes quente nas minhas mãos começava a esfriar aderindo a minha pele, como uma nova camada me acusando do meu erro, do meu crime. A poça de sangue puro deslizava sobre o piso branco sugando vagarosamente a cor dos cabelos dourados do corpo sem vida.

Tudo aconteceu tão rápido que as estantes frias e empoeiradas pareciam ter começado a girar a minha volta me enlouquecendo com os gritos, multiplicando o meu pesar. Sabia que não deveria ter entrado no labirinto, esse foi o maior erro de todos que havia cometido até agora. Sim, devia ter ficado no meu escoderijo, isolado de outras pessoas que também deviam ter ficado presas nesse inferno. Pelo menos assim tinha certeza de que conseguiria sobreviver.

Mas, ainda assim, entrei no labirinto sabendo que as pessoas podem mudar drasticamente lá dentro. Afinal, em um lugar como aquele a sobrevivência era o mais importante para se ter uma chance de sair.

O que está feito, está feito.

O que eu poderia fazer agora? Queria fazer algo pelo corpo que havia acabado de matar sem dó nem piedade, agindo como se aquela vida não tivesse nenhum significado. Mordi meu lábio inferior travando mais uma batalha interna comigo mesmo. Estavamos na biblioteca. Eu não poderia enterrar o corpo. Não poderia fazer nada. A angústia era amarga e seca, quando eu finalmente decidi. Antes que pudesse cometer qualquer outra loucura, precisava sair do labirinto e recobrar minha consiência definitivamente.

Se eu continuasse ali poderia fazer coisas piores.

Coisas que eu jamais imaginaria poder fazer.

Foi o que fiz, dando as costas ao cadáver e fitei o sangue seco nas minhas mãos como se fosse uma luva negra de culpa. Fechei os olhos e as mãos com força.

Algum dia, eu seria punido pelo meu pecado.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora! Essa cena foi um pouco complicada de escrever já que é do ponto de vista de alguém que matou por influência do labirinto. No próximo capítulo os personagens de verdade irão aparecer, então talvez demore um pouco para atualizar. Adorei todos os comentários, e tentei diminuir alguns erros o máximo que pude!
Beijos, comentem e até o próximo!